EXCLUSIVO: ViaMobilidade iniciou operações das linhas 8 e 9 com 65% da frota de trens da CPTM com revisão vencida, aponta documento

Um dos trens que tiveram incêndio nos rodeiros

Situação pode explicar parte dos problemas operacionais que prejudicam passageiros. Entre os trens com a revisão vencida que aparecem nesta lista, está o de prefixo Q088, da série 7000, que bateu contra a contenção da plataforma da linha 8-Diamante da Estação Júlio Prestes no dia 10 de março de 2022

ADAMO BAZANI

Colabrou Willian Moreira

Um levantamento feito pela própria ViaMobilidade em resposta a questionamentos sobre os constantes problemas operacionais envolvendo trens das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda do sistema de trilhos metropolitanos em São Paulo mostra que a concessionária começou a operar com aproximadamente 65% da frota com a revisão vencida.

O processo interno, ao qual o Diário do Transporte teve acesso com exclusividade, revela que alguns trens foram recebidos da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) com mais de 2,03 milhões de quilômetros sem a revisão no rodeiro, que é o conjunto das rodas dos trens.

No documento, a ViaMobilidade deixa claro que 65% da frota entregue pela CPTM está com pendências de manutenções vitais para o seu bom funcionamento

O material, cujo trecho é reproduzido ao fim desta reportagem, traz a relação dos trens.

Técnicos ferroviários que atuam na CPTM e na ViaMobilidade dizem que, nestes casos, os manuais dos fabricantes dos trens indicam que as revisões devem ser feitas a cada 1,2 milhão de quilômetros.

Os trens são das séries 7000 e 7500, sendo que a maioria das composições com revisão vencida é da série 7000, que entrou em operação em São Paulo no ano de 2010.

Entre os trens com a revisão vencida que aparecem nesta lista, está o de prefixo Q088, da série 7000, que bateu contra a contenção da plataforma da linha 8-Diamante da Estação Júlio Prestes no dia 10 de março de 2022, quase dois meses depois de a ViaMobilidade ter assumido a operação da linha.

Ninguém se feriu, mas o maquinista foi demitido.

De acordo com a relação de trens com a revisão pendente, a composição acumulava 1,79 milhão de quilômetros sem este tipo de manutenção.

A série 7000, feita pela empresa de capital espanhol CAF (Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles), foi fabricada entre 2009 e 2011.

Trens com 12 anos de uso não são considerados velhos e podem ser usados sem problemas desde que obedecidos os prazos de manutenção.

Os outros trens são da série 7500, adquiridos pela CPTM em 2011 e são considerados “evoluções” dos anteriores.

Com a CPTM, as linhas 8 e 9 eram operadas com trens mais novos, mas com a  concessão, as composições das séries 7000 e 7500 foram repassadas para a ViaMobilidade e os trens que estavam nestas duas linhas foram para outras ligações.

De acordo ainda com os técnicos das duas empresas, a estatal e a concessionária, ouvidos pela reportagem do Diário do Transporte sob condição de anonimato, a falta de revisão no tempo indicado pelas fabricantes pode explicar problemas de frenagem, tração e até mesmo início de incêndio nos rodeiros, todos que já foram registrados frequentemente nas composições de ambas as linhas.

A concessão para a ViaMobilidade está prestes a completar 100 dias, tendo iniciado de forma compartilhada com a CPTM em 27 de dezembro de 2021 e integralmente com a concessionária a partir de 27 de janeiro de 2022.

A concessão é de 30 anos, prevê investimentos de R$ 3,8 bilhões, entre os quais, a compra de 36 trens novos.

O primeiro deve chegar em janeiro de 2023 ao pátio Presidente Altino (espécie de sede operacional das linhas). O treinamento deve ir até 31 de março, com início das operações efetivas em abril de 2023.

O Diário do Transporte procurou a STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos), responsável pelo acompanhamento da concessão; a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que repassou os trens; e a concessionária VilaMobilidade.

A CPTM diz que seus trens passam por revisões regulares e que o processo de transferência para a ViaMobilidade  foi devidamente validado por Auditoria Independente.

A estatal não rebate o documento.

A CPTM é a empresa operadora de trens metropolitanos com a frota mais nova de todo o Brasil. Todos os trens dispõem de ar-condicionado e contam com a mais moderna tecnologia disponível no mercado. O mesmo acontece com os trens que foram emprestados à ViaMobilidade Linhas 8 e 9, cuja idade média da frota é de 11 anos. A vida útil de um trem é de 40 anos.

Além disso, todos os trens, tanto os que operam na ViaMobilidade quanto na própria CPTM, passam por manutenção regular para a garantia da segurança dos passageiros e colaboradores.

O processo de transferência dos trens da CPTM à concessionária foi devidamente validado por Auditoria Independente, sendo que a CPTM atendeu ao especificado no edital de concessão e, inclusive, destacamos que o corpo técnico da concessionária foi treinado ‘in loco’ nas revisões preventivas e atendimento de falhas.

Em nota, a ViaMobilidade também não nega o documento e diz que o Poder Concedente, no caso o Governo de São Paulo, também recebeu o relatório sobre o estado dos trens, bem como os possíveis efeitos na prestação de serviço.

Após o processo de transição operacional das Linhas 8 e 9, e conforme previsto em contrato, a ViaMobilidade recebeu um relatório do auditor independente informando as condições da frota. O Poder Concedente também recebeu o relatório sobre o estado dos trens, bem como os possíveis efeitos na prestação de serviço.

A ViaMobilidade Linhas 8 e 9 já comprou 36 novos trens. Cada um terá oito carros e capacidade para transportar até dois mil passageiros. O primeiro trem será entregue no segundo ano de concessão (2023), seguindo cronograma definido no contrato de concessão. A nova frota faz  parte do pacote de melhorias e obrigações assumidas pela concessionária.

Veja o documento:

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. J disse:

    No edital havia a informação de que havia trens que a concessionária deveria fazer a revisão. Então continua sendo problema da concessionária. Porque não fez a revisão ainda?

  2. Gerson Paulo disse:

    Eles assumiram toda a responsabilidade. Não adianta empurrar o problema para a CPTM. Aliás, quando era público, funcionava muito bem. Isso mostra que a privatização só lesa o cidadão que deixa de usufruir daquilo que ele mesmo construiu com o dinheiro do seu imposto.

  3. FR disse:

    Que engraçado…
    São os mesmos trens que a CPTM operava e não tinham tantos problemas…O mesmo aplica-se a linha5. A Via Mobilidade é incapaz de assumir suas responsabilidades jogando culpa nos outros. Sistema metroferroviario requer experiência acima de tudo.

  4. Antonio Cassimiro disse:

    Em se tratando de transporte público,os ônibus metropolitano em Carapicuíba, também não estão cumprindo seus horários, principalmente a linha 283 cidade Ariston/ vila iara, após as 16:00 horas, pois dependendo do mesmo todos os dias, pois trabalho em Osasco no horário noturno.

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