Eletromobilidade

MP vai pedir à prefeitura de São Paulo esclarecimentos sobre proibição de novos ônibus a diesel na cidade

Objetivo é saber impactos aos cofres públicos; empresas de ônibus falam em necessidade de subsídios e tarifas maiores

ADAMO BAZANI

A proibição repentina da inclusão de ônibus novos movidos a óleo diesel no sistema municipal de linhas da capital paulista despertou a atenção do MPSP (Ministério Público de São Paulo).

A Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social vai querer saber os critérios que embasaram a circular enviada às viações pela SPTrans (São Paulo Transporte) com a proibição.

Além disso, o Ministério Público quer saber quais os impactos aos cofres públicos e verificar a possibilidade da existência de improbidade administrativa, caso seja constatado algum indício de que verbas municipais podem ser utilizadas sem atendimento aos interesses da população.

O Diário do Transporte divulgou em primeira mão no sábado, 15 de outubro de 2022, que na sexta-feira (14) a SPTrans enviou às companhias uma circular, com a rubrica da Superintendência de Contratos do Sistema de Transporte, proibindo a inclusão de novos ônibus a diesel nas linhas municipais a partir desta segunda-feira (17).

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/10/16/sptrans-proibe-inclusao-de-onibus-novos-a-diesel-na-cidade-de-sao-paulo-a-partir-de-segunda-17-veja-o-documento-confirmado-oficialmente/

Nesta segunda-feira (17), a gerenciadora esclareceu ao Diário do Transporte que a proibição não afeta neste primeiro momento os ônibus de menor porte (micro-ônibus e mídis/micrões), cujo mercado não oferece muitas opções de modelos. Para os ônibus menores, será criado um novo cronograma. A proibição já afeta ônibus de tamanho convencional e articulados.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/10/17/onibus-eletricoas-micros-e-midis-eletricos-terao-cronograma-especifico-empresas-de-onibus-dizem-que-foram-pegas-de-surpresa-por-circular-da-sptrans-que-proibe-inclusao-de-novos-coletivos-a-diesel-na/

O presidente do SPUrbanuss, entidade que representa as empresas de transportes da capital paulista, Francisco Christovam, em entrevista na trade desta segunda-feira, 17 de outubro de 2022, ao Diário do Transporte, que a determinação da SPTrans (São Paulo Transporte) que proíbe que a partir desta segunda-feira, 17 de outubro de 2022, sejam incluídos novos ônibus a diesel no sistema de linhas da capital paulista vai aumentar os custos de produção dos serviços de transportes na cidade e, com isso, os subsídios e as tarifas devem aumentar. Os ônibus a diesel em circulação não serão retirados podendo operar até o fim da idade permitida.

Dos quase 14 mil ônibus, municipais, a cidade de São Paulo conta hoje com 219 ônibus elétricos, sendo 201 trólebus (conectados à rede aérea operados pela empresa Ambiental do Consórcio TransVida) e 18 movidos a bateria (operados pela Transwolff, na zona Sul de São Paulo).

Christovam diz que, em média, um ônibus elétrico custa três vezes mais que um modelo similar a óleo diesel e que os custos operacionais são hoje entre 10% e 15% maiores que dos ônibus à combustão tradicional.

Segundo o presidente da entidade, contratualmente, as empresas devem ser remuneradas pelos serviços prestados e pelos custos. Sendo assim, se os custos sobem, logo sobem os recursos necessários para bancar os serviços; estes recursos hoje são proveniente da tarifa e dos subsídios.

“O custo de produção do serviço vai aumentar. São veículos que custam três vezes mais caros e o custo operacional é de 10% a 15% maior que do diesel. Custo de investimento maior e custo de operação maior. Isso traduz em necessidade de remuneração maior para que as empresas possam ter todos os seus custos cobertos. Do outro lado da equação, estes custos são cobertos por tarifa ou subsídio. Se mantiver a tarifa, tem de aumentar o subsídio. Se subir um pouco a tarifa, o subsídio poderá ser menor, mas essa decisão é do prefeito.” – disse Christovam

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/10/17/entrevista-proibicao-de-onibus-novos-a-diesel-vai-resultar-em-tarifas-e-subsidios-maiores-no-transporte-da-cidade-de-sao-paulo/

Em nota, a prefeitura de São Paulo informou que a ordem visa o cumprimento da Lei de Mudanças Climáticas e a redução da emissão de poluentes na cidade

A Prefeitura de São Paulo, por meio da SPTrans, visando o cumprimento da Lei de Mudanças Climáticas e a redução da emissão de poluentes na cidade, determinou que somente ônibus movidos a tecnologias sustentáveis poderão ser incluídos para operar no sistema de transportes da cidade a partir desta segunda-feira (17).

A medida inovadora permite que São Paulo avance na melhoria da qualidade do ar e se alinha às políticas públicas mais modernas existentes no planeta em relação à mobilidade urbana. A utilização de tecnologias sustentáveis irá modernizar a frota da cidade, tornando as viagens mais silenciosas, confortáveis e impactando diretamente a saúde de toda a população da região metropolitana, ao reduzir a emissão de gases poluentes.

Com a mudança, as concessionárias não poderão mais comprar ônibus movidos a diesel, somente com tecnologias que atendam o cronograma de redução de emissão de poluentes previsto na Lei 16.802/2018 e nos contratos vigentes, como os elétricos. A determinação foi comunicada às empresas na última sexta-feira (14).

A medida está alinhada, também, com a meta da gestão municipal de ter 20% da frota da cidade composta por veículos 100% elétricos até 2024. Hoje, os ônibus movidos a bateria representam o modelo que melhor atende os termos da legislação de combate à poluição. A cidade de São Paulo conta, atualmente, com 219 ônibus elétricos, sendo 201 trólebus e 18 movidos a bateria.

Veja a circular

PROMESSA DE 2,6 MIL ÔNIBUS ELÉTRICOS ATÉ O FIM DE 2024

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes tem citado em várias oportunidades a promessa de que até o fim de 2024, a capital paulista terá ao menos 2,6 mil ônibus elétricos operando nas linhas municipais.

Empresas de ônibus apontam algumas dificuldades, como infraestrutura nas garagens, tempo de recarga e autonomia das baterias, além do custo de aquisição que pode ser até o triplo em comparação a um modelo do mesmo porte a diesel.

O diretor de Operações da SPTrans, Wagner Chagas Alves, disse em novembro de 2021, durante a apresentação de um novo modelo de ônibus elétrico, que a gestão estuda alternativas para as viações atenderem a meta e o leasing é uma delas.

“Questão do leasing está aventada como outras opções. Por enquanto, não risco de atraso de ter os 2600, pois a meta contratual não pode ser desconsiderada”

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2021/11/11/sptrans-estuda-leasing-para-onibus-eletricos-testes-com-modelo-higer-vao-durar-seis-meses/

Segundo a prefeitura, o programa de metas prevê que 20% da frota seja composta por ônibus elétricos até o fim de 2024, como parte das ações municipais para cumprimento da Lei de Mudanças Climáticas, que prevê a redução da emissão de gás carbônico fóssil em 50% até 2028 e a erradicação deste tipo de poluente até 2038.

Os contratos com as empresas de ônibus, assinados em setembro de 2019, também preveem uma frota menos poluente, mas não estipula a tecnologia que os coletivos devem ter, trazendo metas anuais de redução de poluição.

Estas metas, inclusive, foram suspensas entre 2020 e 2022 por causa da pandemia de covid-19, que afetou a demanda de passageiros e o ritmo de atividades das indústrias de veículos.

MENOS DE 2% DE ÔNIBUS ELÉTRICOS:

Atualmente, de acordo com os indicadores da SPTrans, a cidade de São Paulo tem uma frota contratada de 13.806 ônibus de diferentes portes.

Apenas 229 são não poluentes na operação, ou seja, menos de 2%; sendo 19 elétricos à bateria, operados pela Transwolff na zona Sul; e 201 trólebus (conectados à rede área), da Ambiental Transportes (Consórcio TransVida), que ligam a zona leste ao centro e parte das zonas Oeste e Sudeste.

CORREDORES:

Como mostrou o Diário do Transporte, em 05 de novembro de 2021, durante anúncio de parceria do Estado de São Paulo e da Prefeitura em investimentos em mobilidade, o prefeito Ricardo Nunes e o então governador João Doria disseram que os novos corredores de ônibus da cidade serão servidos apenas por modelos elétricos.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2021/11/06/ouca-novos-corredores-de-onibus-de-sao-paulo-serao-operados-com-onibus-eletricos-diz-doria/

O Plano de Mobilidade Urbana da Cidade prevê 27 obras que totalizam mais de R$ 5,5 bilhões, entre a implantação de 11 novos corredores de ônibus, o que representa mais de 95 km de novas vias, 30 km de requalificação de corredores já existentes, além da construção de quatro novos terminais.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2021/11/05/prefeitura-de-sao-paulo-anuncia-brts-e-corredores-de-onibus-dentro-de-pacote-de-mobilidade-que-soma-r-55-bilhoes/

CENÁRIO DA INDÚSTRIA:

Apesar de os veículos elétricos também serem impactados pela falta de insumos e equipamentos, como também ocorre com automóveis a combustão, a demanda pelos modelos não poluentes tem aumentado.

No Brasil, já existem opções de produtos em plena atividade, algumas que apresentarão modelos e outras que estão se estabelecendo (por ordem alfabética):

BYD: Indústria de origem chinesa, com planta em Campinas (SP), que fabrica ônibus elétricos de diversos portes: micros, padrons e articulados, além de rodoviários, produzindo as baterias, tecnologia e chassis. Está entre as maiores produtoras mundiais na área de mobilidade elétrica e produz também no Brasil placas de energia solar. Existem diversas cidades que operam com ônibus BYD no Brasil, inclusive São Paulo.

CaetanoBus: A empresa portuguesa CaetanoBus trouxe para testes no sistema de transportes da cidade de São Paulo o chassi e.CC 100 C5845 E.E, 100% elétrico. O modelo recebeu carroceria Caio, de produção brasileira. O e.CC 100 pode ser receber carrocerias de comprimento mínimo de 9.5 metros e máximo de 12.7metros.

Eletra: Indústria 100% nacional, do Grupo ABC/Next Mobilidade, com planta em São Bernardo do Campo (SP). A empresa foi inaugurada oficialmente no dia 22 de agosto de 2000. Faz toda a integração e tecnologia para ônibus elétricos à bateria, trólebus, híbridos (motores elétricos e à combustão no mesmo veículo), Dual Bus (mais de um tipo de tração elétrica em mesmo ônibus, por exemplo: trólebus+baterias ou baterias+híbridos). Não produz os chassis e baterias. O BRT-ABC, entre São Bernardo do Campo e São Paulo, é uma concessão à Next Mobilidade terá ônibus 100% elétricos de 22 metros cada com tecnologia Eletra, chassis Mercedes-Benz e carroceria Caio. A Eletra anunciou para 2022 cinco tipos de ônibus elétricos para carrocerias com 10 m, 12,5 m, 12, 8 m ,15 m e 21,5 m. Ainda em 2022, para o BRT-ABC, a Eletra anunciou também o E-Trol, um veículo de 21,5 metros, com chassi Mercedes-Benz, que em parte do trajeto vai operar como trolébus e em outra parte, como ônibus elétrico a bateria. De acordo com presidente da Eletra, Milena Braga Romano, o corredor terá trechos com rede aérea como a dos trolébus. Enquanto estiver operando nesses trechos, o veículo carrega as baterias. Nos trechos sem a rede aérea, o funcionamento é com o banco de baterias já carregado.

Segundo a diretora comercial da Eletra, Ieda Oliveira, entre as vantagens é que não haverá necessidade de carregamento dos ônibus nas garagens, dispensando as caras estruturas de recarga.

Higer: Empresa de origem chinesa que apresentou um modelo elétrico de ônibus padron neste mês de novembro de 2021 na capital paulista. Um modelo de 12 metros de comprimento está sendo testado e passou por cidades como São Paulo, Rio de Janeiros, Curitiba e São José dos Campos. Diz que trará ao Brasil também vans, ônibus articulados elétricos. Apresentou também um ônibus de fretamento com baterias. Os modelos são monoblocos (chassi, motores e carroceria formando um bloco só).

Marcopolo: Tradicional fabricante de carrocerias de Caxias do Sul (RS), testou em parceria com a empresa Suzantur, operadora de transportes de Santo André (SP), um ônibus 100% elétrico, projeto integral da Marcopolo. O modelo é padron com piso baixo. O veículo circulou sem passageiros entre o Terminal Vila Luzita (bairro populoso de Santo André) e o terminal principal da cidade no centro (Terminal Santo André Oeste). Já homologado, o modelo está sendo comercializado.

Mercedes-Benz: A gigante alemã lançou em 25 de agosto de 2021 o chassi de ônibus elétricos eO500U, de piso baixo, para carrocerias de até 13,2 metros, justamente os padrões de São Paulo. O modelo será produzido em São Bernardo do Campo (SP) e em 2022 já serão vistas as primeiras unidades. Para a capital paulista, já há um mercado previsto para ser iniciado com cerca de 150 unidades com carroceria Caio.  A empresa planeja lançar em breve ônibus articulados e superarticulados.

Volvo: A gigante sueca produz em Curitiba (PR) um modelo de ônibus elétrico híbrido. O ônibus tem um motor a combustão, que gera energia, e o elétrico que atua na maior parte da tração. A tecnologia é híbrida paralela, quando o ônibus está parado, freia e até 20 km/h a atuação é do motor elétrico. A partir de 20 km/h, entra em operação o motor a combustão. Há unidades em circulação em Curitiba, Foz do Iguaçu e Santo André (Suzantur), por exemplo. Em agosto de 2022, a Volvo apresentou seu primeiro chassi de ônibus totalmente elétrico para exibição no Brasil, o BZL. Não havia até então previsão de o veículo ser comercializado no Brasil. Com zero emissões, o Volvo BZL pode ser equipado com 3 a 5 baterias de lítio níquel cobalto óxido de alumínio (NCA) de 94kWh cada, dependendo da aplicação a que for destinado

Scania: Não descarta a produção de elétricos, mas investe na tecnologia de ônibus a gás natural e biometano.

Volkswagen: Em 2018, a Volkswagen apresentou um modelo de médio porte elétrico, o e-Flex com um sistema pode aliar diferentes formas de recarga e abastecimento para ônibus elétricos. Um pequeno motor à combustão gera energia para o elétrico, sendo um propulsor 1.4 turbinado flex de 150 cv de potência. Em novembro de 2018, a montadora prometeu que o modelo já estaria nas ruas em seis meses, o que não aconteceu. Um ano antes, em 2017, a Volkswagen anunciou que a partir do chassi do caminhão 100% elétrico e-Delivery, desenvolveria um micro-ônibus de 11 toneladas elétrico, o que ainda não se concretizou.

Iveco: Em agosto de 2022, a Iveco apresentou um modelo a gás natural/biometano, o 17.210G, para carrocerias de até 12 metros. O ônibus possui seis cilindros a gás, 80 litros cada um, que oferece autonomia de 250 quilômetros. Foi mostrado, mas não para o mercado nacional, apenas como conceito, ônibus elétrico Iveco E WAY, de 20 toneladas.

O modelo, é um monobloco de 12 metros, piso baixo total, com oito packs de bateria. A autonomia é de 300 quilômetros, aproximadamente.

O elétrico não será comercializado, inicialmente, no Brasil e a Iveco pretende oferecer para o mercado brasileiro chassi elétrico para encarroçamento de fabricantes locais.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. ANDERSON ALESSANDRO OLIVEIRA ARAUJO disse:

    A curto prazo veremos a quantidade de ônibus mais velhos começarem a aumentar pois eles não poderiam ser substituídos de forma imediata; a médio prazo, a tarifa vai aumentar sob pretexto de se “ter uma frota melhor e sustentável” e a longo prazo as periferias não terão transporte público decente pois os ônibus elétricos não irão percorrer os bairros, sendo limitados a vias regionais e ligação aos terminais, restando somente os micros e midi-bus que, na atual situação e demanda, já andam cheios mesmo fora de horário de pico. Resumindo: pagaremos caro para andar em veículos pequenos de forma desconfortável em nome da “sustentabilidade” de alguns poucos…

  2. EVERTON SILVA disse:

    E os ônibus movidos a álcool ?!? Iniciaram os testes anos atrás e caiu no esquecimento… Até hoje não se sabe o resultado disso.

    1. Fabio Almeida disse:

      E os ônibus a gás, que já tinha desde a época da CMTC

  3. Rodrigo Zika disse:

    MP querendo passar pano pras empresas, nesse casos pra novas compras não vejo nada demais, fora que o dito MP não olhou que as empresas compraram novos padrons e articulados desde o começo do ano tudo a diesel, mesmo sabendo que precisam aos poucos comparem menos poluentes, piada.

  4. Valdo de Oliveira disse:

    Muita coisa errada tem de investigar o presente da câmera de vereadores

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