Aplicativo em cidades mineiras fideliza usuário do transporte coletivo e diminui perda de passageiros do sistema

Foto: Divulgação (site Econobuz)

Ecobonuz funciona como um programa de milhagem de ônibus urbano, trocando pontos por recompensas como recargas de celular e de passagens

ALEXANDRE PELEGI

Integrar transporte coletivo e varejo através de um aplicativo que dá pontos para quem utiliza os ônibus municipais. Ou, se preferir, um programa de milhagem para os usuários do transporte coletivo urbano.

Assim como ocorre na cidade italiana de Bolonha, onde o aplicativo Bella Mossa premia ciclistas e usuários do transporte coletivo com a distribuição de cervejas, ingressos de cinema, sorvetes e outros “brindes”, em Minas Gerais a empresa Ecobonuz desenvolveu ideia similar.

Em plena atuação em importantes cidades do interior mineiro desde o mês de novembro de 2017, a iniciativa, inédita no Brasil, segue o mesmo princípio do aplicativo da cidade italiana.

São ideias que surgiram quase que simultaneamente, e com uma forte semelhança em seus propósitos: estimular o uso do transporte público.

O programa tem funcionamento simples: após realizar um cadastro gratuito no site ou aplicativo da Ecobonuz, o cliente do transporte das cidades de Ipatinga, Varginha, Coronel Fabriciano, Lavras, Itaúna e Timóteo acumula pontos toda vez que utiliza o cartão de ônibus em sua cidade.

Pela plataforma do programa na internet ele consegue trocar os pontos acumulados por recompensas, como recargas de celular, recarga de passagens e até mesmo pagamento de contas de água e luz.

O programa de recompensa alcança o varejo das seis cidades, oferecendo pontos para quem compra em lojas online e físicas, parceiras do programa. Para se ter ideia do universo alcançado, essas cidades, juntas, somam mais de 800 mil habitantes.

Contando com uma inteligência de dados, o programa consegue mapear a jornada de consumo da população que utiliza o transporte coletivo e que, muitas vezes, não tem iniciativas desse tipo à sua disposição.

Matheus Ganem, sócio-fundador e idealizador da Ecobonuz junto com Túlio Lessa e Daniel Rosa, explica o que suscitou a criação do programa: “As empresas focavam muito nos mesmos lugares: viagens aéreas, restaurantes e supermercados de luxo. Nosso objetivo é transformar o dia a dia de uma população que não tinha acesso a benefícios na sua experiência de consumo. Queremos contribuir para algo que faz parte da vida das pessoas e que pode mudar a forma como elas enxergam o transporte coletivo”, destaca.

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Site oficial da Ecobonuz

A IMPORTÂNCIA DA FIDELIZAÇÃO DO CLIENTE DO TRANSPORTE COLETIVO

Assim como na experiência de Bolonha, onde o programa tem um foco estritamente ambiental, a iniciativa implantada em Minas também alcançou uma significativa adesão: com uma base de mais de 50 mil cadastrados, o Ecobonuz gerou a fidelização dos clientes do setor de transporte coletivo.

Matheus Ganem garante que a iniciativa contribuiu com o aumento de receitas e melhora da imagem pública das empresas parceiras. E no caso do transporte coletivo, quando comparado com anos anteriores, ele garante que, graças à fidelização, o sistema conseguiu interromper a curva crescente de evasão de passageiros em todas as cidades integrantes do programa. Essa situação contrasta com a da maioria das cidades brasileiras, aonde o sistema de transporte coletivo por ônibus vem sistematicamente perdendo passageiros há alguns anos. Além disso, garante Matheus, a Ecobonuz propiciou um aumento do ticket médio na recarga de bilhete eletrônico.

Em uma realidade em que 85% das pessoas que utilizam o transporte coletivo querem usar outro tipo de transporte, tais resultados representam um caminho a ser seguido nos próximos anos”, destaca Tulio Lessa, parceiro de Matheus na Ecobonuz.

Os dados, enviados ao Diário do Transporte pela assessoria de comunicação da empresa, são alvissareiros: a procura dos clientes do transporte público pelo cartão de ônibus (bilhetagem eletrônica) registrou aumento em mais de 300%. Com isso, diminuiu em 7% o fluxo de papel moeda no interior dos coletivos, aumentando a segurança dos passageiros.

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Print do site da empresa Autotrans, que atua no transporte coletivo de cinco das seis cidades que aderiram ao programa de milhagem da Econobuz

Para Túlio Lessa, o setor precisa se adequar a esta nova realidade de grande competição entre os serviços de transporte coletivo e os serviços de transporte individual. Como? Segundo ele, “oferecendo incentivos e tratando as pessoas que utilizam o transporte coletivo como clientes e não meros usuários”. Dessa forma ele acredita ser possível fidelizar esse público e conhecer sua jornada de consumo. “É isso que nós propomos com a Ecobonuz”, finaliza.

Pelos números mostrados até aqui, o que se pode concluir é animador: soluções baratas podem, sim, promover melhorias no transporte.

Além disso, afirmam os criadores do programa, a iniciativa garantiu mais um canal de comunicação das pessoas com o transporte. A Econobuz registra cerca de 50 atendimentos por dia com elogios, reclamações, denúncias, solicitações, sugestões, etc.

A aposta agora é expandir o programa para outras cidades brasileiras em 2019. “Temos a convicção de que as empresas do setor darão valor a esta iniciativa, que é pioneira no país”, afirma Túlio Lessa.

Apesar de o programa estar implantado atualmente em cidades do interior de Minas, a sede da empresa está localizada no bairro central da capital Belo Horizonte (MG), e já conta com 30 funcionários. O desafio, segundo seus diretores, é chegar aos sistemas de transporte de grandes cidades brasileiras.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

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