VÍDEO: Diário do Transporte testa como funciona a tarifa zero em São Caetano do Sul (SP), no ABC

É a maior cidade da Grande São Paulo por enquanto a adotar gratuidade irrestrita aos passageiros; Reportagem usou duas linhas das oito do sistema municipal

ADAMO BAZANI

Colaborou Vinícius de Oliveira

Passageiros satisfeitos e motoristas trabalhando com mais tranquilidade.

Essa foi uma das principais impressões que a reportagem do Diário do Transporte teve ao usar duas das oito linhas de ônibus de São Caetano do Sul, no ABC Paulista.

Na quarta-feira, 1º de novembro de 2023, a cidade adotou tarifa zero de forma irrestrita para todos os passageiros que usam os ônibus da concessionária Vipe (Viação Padre Eustáquio).

Não é necessário portar cartão do sistema de transportes da cidade e nem precisa ser morador de São Caetano. Mas todo mundo que embarca, a não ser que tenha alguma limitação física, deve passar pela catraca do coletivo. É para a prefeitura ter controle da quantidade de passageiros, já que a Vipe é remunerada com base nos usuários transportados.

A estimativa é de um custo mensal aos cofres públicos na ordem de R$ 2,9 milhões. (Veja abaixo das fotos todos os detalhes)

Vale ressaltar que a reportagem esteve no sistema fora do horário de pico (o primeiro embarque foi por volta de 9h) e na sexta-feira, 03 de novembro de 2023, “emenda” de feriado de Finados, que foi na quinta-feira (02).

A demanda de passageiros, pelo horário e por ser emenda de feriado, estava considerável. Os dois ônibus usados não levaram ninguém em pé, mas quase todos os assentos estavam ocupados em grande parte das viagens.

Os veículos eram do tipo convencional, ou seja, não eram micros e nem micrões.

Segundo o motorista de um destes coletivos, o movimento estava acima do que era registrado neste horário e em emendas de feriado quando a tarifa era cobrada. Até 31 de outubro de 2023, a tarifa era de R$ 5.

Informalmente, a reportagem conversou com 11 passageiros. Todos aprovaram e cinco deles falaram que não usariam o ônibus na emenda de feriado se fosse cobrada a tarifa. Dois disseram que nem sairiam de casa.

O que foi possível perceber é que alguns passageiros ficavam pouco tempo no ônibus, desembarcando dois ou três pontos depois do embarque.

Foram duas linhas utilizadas:

IDA:

Linha 03 – Circular Barcelona – o embarque foi por volta de 9h00 no terminal central ao lado da estação de trens da linha 10 Turquesa/Serviço 710 da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) – ônibus prefixo 1648 era convencional, com tomadas USB para celulares (que funcionavam nos assentos que a reportagem testou); sem ar-condicionado. Veículo tem elevador central para cadeira de rodas, estava limpo e bem conservado. O desembarque foi no ponto final, cerca de 35 minutos depois do embarque.

VOLTA:

Linha 02 – Circular Gerty (divide o ponto final com a linha 03) – o embarque foi pouco antes de 10h. – o ônibus de prefixo 2053 era convencional com ar-condicionado e tomadas USB para celulares que estavam funcionando nos bancos testados. O coletivo é mais novo que o da ida. Veículo tem elevador central para cadeira de rodas, estava limpo e bem conservado. O desembarque foi na Avenida Goiás, perto do portão central da fábrica da General Motos (GM), cerca de 30 minutos depois do embarque. O único ponto que desagradou no veículo é que foi adesivado de forma extravagante com a propaganda do Tarifa Zero. Externamente, não ficou feio, mas internamente, atrapalha muito a visão porque não é um tipo de adesivo com transparência. Em alguns bancos, a visão era completamente prejudicada. Para ver onde o ônibus estava, era necessário esticar o pescoço para outra janela.

PARADAS:

Outro detalhe que chamou a atenção foram as paradas ao longo da Avenida Goiás, a principal da cidade, que é até apelidada pelos moradores de Avenida Paulista de São Caetano, em alusão a um dos cartões postais da capital de São Paulo.

As estruturas são novas, iluminadas, protegidas com vidros, com assentos, e têm um design que inspira modernidade, na cor amarela.

Há também apoios para guardar bicicletas.

Não havia informações ainda sobre as linhas nestas novas paradas, mas as estruturas tinham apoio para fixação de painéis eletrônicos informativos.

Nos bairros, os pontos eram simples, mas pelo menos onde os dois ônibus passaram, aparentemente estavam em bom estado.

TIRE AS PRINCIPAIS DÚVIDAS SOBRE COMO FUNCIONA O TARIFA ZERO EM SÃO CAETANO DO SUL:

O Diário do Transporte questionou a prefeitura como funciona esta gratuidade.

Veja e tire as principais dúvidas:

Precisa ter cartão do transporte municipal?

Não haverá cartão. Segundo a prefeitura, é só subir no ônibus e seguir viagem.

Só vale para moradores de São Caetano do Sul?

Não. A prefeitura explica que o Tarifa Zero vale para todos os passageiros, independentemente da idade, moradores de São Caetano ou não.

Em quais linhas funciona o Tarifa Zero?

Em todas as municipais operadas pela Vipe (Viação Padre Eustáquio).

Nas linhas intermunicipais da NEXT Mobilidade (EMTU) e nos trens da CPTM que passam na cidade (linha 10/Serviço 710), a tarifa continua sendo cobrada.

Quais dias e horários?

A gratuidade é em todos os dias da semana e em todos os horários.

Há um limite de número de viagens para cada passageiro?

Não há limitação de quantidade de embarques e desembarques por pessoa.

E quem tem crédito já comprado no cartão de transporte da cidade?

De acordo com o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Diego Vido Faria, todos os passageiros do sistema que ainda têm créditos em seus cartões serão restituídos. Os detalhes sobre o ressarcimento dos valores ainda serão informados pela VIPE (Viação Padre Eustáquio), concessionária responsável pela operação dos coletivos na cidade.

Quem banca o tarifa-zero em São Caetano do Sul?

Os cofres do município. No decreto que institui a gratuidade são descritas algumas fontes, como multas de trânsito, vendas de créditos de carbono pela cidade e publicidade em ônibus, pontos e terminais.

Quanto vai custar?

Cerca de R$ 2,9 milhões por mês que serão pagos à Vipe pelas operações.

Segundo a prefeitura, já foi colocado no Orçamento de 2024 o custeio do Tarifa Zero. Em média, o programa vai custar R$ 2,9 milhões por mês. Para 2024, a prefeitura separou R$ 35 milhões, o que equivale a 1,44% do orçamento total para 2024, de R$ 2,434 bilhões. A prefeitura ainda diz que o programa será custeado com recursos já previstos no orçamento municipal, como multas de trânsito, exploração de ações publicitárias envolvendo o sistema de transporte e dotações orçamentárias próprias de fontes relacionadas à mobilidade urbana e à sustentabilidade socioambiental.

A frota atual vai dar conta?

Atualmente, a Vipe opera com 48 ônibus. A prefeitura espera que a demanda de passageiros cresça em 50%. A empresa vai colocar entre cinco e sete ônibus a mais dependendo da procura.

No Estado de São Paulo, há mais cidades com gratuidade no transporte coletivo?

Entre os 645 municípios do Estado de São Paulo, 20 contam com a gratuidade todos os da semana e para todos os usuários.

No Estado de São Paulo, São Caetano do Sul é a cidade de maior população conceder o passe livre (possui 165.655 habitantes, de acordo com o Censo de 2022).

Além de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, concede passe livre irrestrito a cidade de Vargem Grande Paulista, que tem cerca de 54 mil moradores.

Outras cidades na Grande São Paulo possuem gratuidades para todos os passageiros em dias específicos, como Ribeirão Pires, nos ônibus municipais da Suzantur, aos domingos e feriados.

CAPITAL PAULISTA

Já na capital paulista, um sistema que transporta mais de seis milhões de passageiros em 12 mil ônibus por dia, está ainda em andamento o estudo para concluir a viabilidade de um programa de tarifa zero para todos os passageiros.

Como mostrou o Diário do Transporte, no projeto de Orçamento para 2024, o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes, prevê subsídios de R$ 5,1 bilhões para a operação dos ônibus gerenciados pela SPTrans (São Paulo Transporte), já não considerando tarifa zero para todos os passageiros.

O custo total do sistema de ônibus, entre subsídios e o que é arrecadado nas catracas, neste ano é de cerca de R$ 10 bilhões e, estimativas da prefeitura, trabalham com um valor entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões para o ano que vem.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2023/10/04/orcamento-sem-tarifa-zero-nunes-preve-r-51-bilhoes-em-subsidios-para-onibus-em-2024/

CADUNICO E TARIFA ZERO GRADATIVA:

Vereadores da Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara Municipal de São Paulo apresentaram em 15 de junho de 2023, o projeto de lei 340/2023, que cria “Vale Transporte Social” na capital paulista para conceder tarifa zero para a população de baixa renda e aos desempregados.

Seria uma forma, segundo os parlamentares, de instituir gradativamente a tarifa zero em toda a cidade, começando pelas pessoas que têm a maior parte da renda comprometida pelos transportes.

Por ser um projeto municipal, a ideia só engloba os ônibus e trólebus gerenciados pela SPTrans (São Paulo Transporte), uma vez que trem, metrô e monotrilho são de responsabilidade do Governo do Estado.

Pela proposta, para ter direito ao benefício, os passageiros devem estar inscritos no Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) ou desempregados que estejam na relação do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

As pessoas nestas condições vão receber uma cota mensal de 44 viagens. Cada crédito de passagem correspondente ao da tarifa pública vigente no sistema de transporte público coletivo por ônibus da Cidade de São Paulo.

Os recursos para cobrir as gratuidades viriam do Orçamento.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2023/06/17/projeto-que-cria-tarifa-zero-nos-onibus-de-sao-paulo-vinculada-ao-cadunico-e-protocolado-na-camara/

DÚVIDAS SOBRE O TARIFA ZERO NA CIDADE DE SÃO PAULO:

São diversas dúvidas sobre a viabilidade ou não de a cidade de São Paulo ter um programa de tarifa nos ônibus para todos os passageiros, entre as quais:

1 Tarifa zero vai aumentar em quanto a demanda de passageiros dos ônibus?

2 Vai ter de aumentar a frota em quanto?

3 Este aumento de frota vai significar um custo total do sistema maior que os R$ 12 bilhões de hoje em quanto?

4 Mas não é só a frota: a cidade está preparada para receber (de forma eficiente – destaca-se) mais ônibus? – Terá de reformular linhas? Os terminais e corredores de ônibus atuais são suficientes para uma frota maior?

5 Vai ter migração de passageiros do metrô, trem e ônibus metropolitanos se estes não tiverem tarifa zero? Por exemplo, hoje, como Bilhete Único, o passageiro pode pegar o sistema de trilhos e ônibus de forma integrada. Se os ônibus forem de graça e o metrô/trem não, será que as pessoas não vão preferir usar mais linhas de ônibus, mesmo que demore mais, para não pagar o deslocamento.

6 Antes de pensar em tarifa-zero, não seria melhor tornar o sistema de ônibus mais racional (não confundir com meros cortes de linhas) para não se subsidiar a ineficiência?

7 O debate de tarifa zero não está sendo um “colocar a carroça antes dos bois”, deixando para trás questões mais urgentes, como reorganizar as linhas e os serviços, ampliar a tecnologia de gerenciamento e monitoramento e também aumentar a qualidade e dar mais infraestrutura para os ônibus que não fluem porque ficam presos no trânsito e possuem pouca prioridade no espaço urbano pela quantidade de frota e de pessoas atendidas (que vai aumentar com uma eventual tarifa zero)?

8 São Paulo está trocando ônibus a diesel por ônibus elétricos que custam até três vezes mais e necessitam de uma infraestrutura de recarga e distribuição de energia que não existe na cidade. Até a consolidação de uma frota elétrica, isso vai representar um custo muito alto para o sistema vai demandar financiamento só para este fim. Quanto seria este custo e será um dinheiro só para financiar a aquisição, implantação de infraestrutura e operação dos ônibus elétricos?

9 O custo dos terminais a mais necessários para uma demanda e frota maiores terão financiamento próprio ou entram na conta do tarifa-zero?

10 Como será o controle de demanda? Haverá uma bilhetagem específica com cotas mensais (como é dos idosos entre 60 anos e 64 anos) para coibir fraudes e uso irresponsável do sistema de ônibus?

Um grupo de especialistas, que defende a viabilidade da gratuidade para todos os passageiros em São Paulo, é categórico em afirmar que o programa “tarifa zero” deve ser concomitante para ônibus e sistema de trilhos para não haver a migração entre diferentes meios de transporte coletivo.

Os especialistas não só defendem a gratuidade total nos trilhos e nos ônibus municipais da capital paulista (SPTrans), mas também em regiões metropolitanas; o que envolveria no caso de São Paulo, 39 prefeituras e o Governo de São Paulo, não somente com metrô, monotrilho e trem, mas ônibus e trólebus (Corredor ABD), gerenciados pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos).

As respostas são assinadas por Lucio Gregori, que foi secretário de transportes na gestão da prefeita da capital paulista Luiza Erundina, além de Mauro Zilbovicius, José Jairo Varoli e Marcia Sandoval Gregori.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2023/05/17/tarifa-zero-especialistas-defendem-que-gratuidade-seja-em-trilhos-e-onibus-para-nao-haver-migracao-entre-meios-de-transporte-coletivo/

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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