ENTREVISTA: Marcopolo lança 11 modelos de ônibus para o mercado externo durante a pandemia de covid-19

Novidade mais recente é o Viale BRT para o México. Foto: Divulgação.

Lançamentos, que incluem um veículo elétrico, foram realizados na Argentina, México, Colômbia, África do Sul, China e Austrália

JESSICA MARQUES

A Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus, lançou 11 modelos para o mercado externo durante a pandemia de covid-19, incluindo um veículo elétrico.

A informação foi divulgada em entrevista exclusiva ao Diário do Transporte com o diretor de Operações Internacionais e Vendas da empresa, André Armaganijan.

Os lançamentos foram realizados na Argentina (Torino), no México (Viale BRT, Senior e Viaggio 800), na Colômbia (New Audace, New Senior 800 Elétrico e New Senior 680 Facelift), na África do Sul (Andare Facelift e Torino Light, que é uma versão menor do Torino), na China (Audace Facelift) e na Austrália (Optimus Elétrico, com chassi Volvo).

“A Marcopolo tem uma presença muito forte em toda a América Latina. É histórico isso. Na década de 60, a empresa fez sua primeira exportação para o Uruguai. Está no DNA da Marcopolo vender para o mercado internacional. Nós estabelecemos uma rede de vendas e pós-vendas bem forte neste mercado. A gente tem bons parceiros comerciais estabelecidos nos principais mercados da América Latina”, ressaltou o executivo.

LANÇAMENTO MAIS RECENTE

O modelo lançado mais recentemente foi o Marcopolo Viale BRT no México. A unidade foi apresentada na última semana e o veículo foi o número 35.000 produzido pela Marcopolo México, na planta García, em Nuevo León.

De acordo com a fabricante, o modelo traz uma configuração urbana aerodinâmica, que atende a todas as exigências dos sistemas de embarque do país, cumprindo as normas do segmento de transporte coletivo.

RESULTADOS

A Receita Líquida da Marcopolo foi de R$ 757,6 milhões no terceiro trimestre de 2021, o que representa queda de 9,4% em comparação com o mesmo período de 2020, quando foram apurados R$ 836,5 milhões.

Relembre:

Receita da Marcopolo cai 9,4% no terceiro trimestre e produção fica 50,6% menor no Brasil

Confira a entrevista com o diretor de Operações Internacionais e Vendas da empresa, André Armaganijan, que comenta estes resultados e detalha a atuação da Marcopolo no exterior:

Diário do Transporte – A que fatores se deve o desempenho da Marcopolo no exterior?

André Armaganijan – O início de retomada do mercado, vacinação ampliando nos países, a reabertura de fronteira, aumento do nível de confiança dos nossos operadores, uma perspectiva positiva de quarto trimestre com o turismo retomando. Há um movimento positivo realmente de início de uma retomada, quando a gente olha esse período comparado ao que a gente tinha um ano atrás. O segundo fator é que no terceiro trimestre do ano passado a gente estava em um momento de baixa importante.

Diário do Transporte – Já as exportações no terceiro trimestre de 2021 tiveram queda expressiva em comparação ao mesmo período de 2020. Por quê?

Quando a gente começou esse terceiro trimestre deste ano, a gente teve que parar nossa operação na fábrica do Brasil. Essa parada, que foi muito recorrente da dificuldade de obtenção de alguns materiais, sem dúvida afeta o resultado. Ficar quatro semanas sem poder produzir tem um impacto muito grande. Então, eu diria que este foi o principal fator.

No ano passado, quando a gente chegou no mês de setembro, principalmente nas exportações, a gente tinha começado o ano com uma visão positiva. O primeiro trimestre de 2020 foi um período pré-pandemia.

No primeiro trimestre do ano passado, a gente tinha uma carteira de pedidos disponível. A gente tinha feito negócios no pré-pandemia e quando a gente compara as vendas que a gente tinha programado sendo realizadas no ano passado versus esse ano que começa com menos vendas e uma parada de fábrica, isso impacta no resultado.

A gente enxerga uma perspectiva bastante positiva para o quarto trimestre e para os trimestres consequentes.

Diário do Transporte – Como está a questão de falta de peças e insumos nas operações externas? Qual tipo de produto está mais em falta?

Nós tivemos dificuldades com diversos itens, os principais itens do ônibus, como plásticos, alumínio, aço. Todos os fabricantes sofreram com essa redução e a gente trabalhou muito forte, de forma interna, buscando substituir alguns destes componentes por outros, para ter o impacto minimizado ao máximo. A gente conseguiu minimizar e realmente não tivemos que fazer grandes paradas de operação por falta de materiais. A gente conseguiu contornar bem a situação. Hoje, a gente tem o impacto da falta de chassis, ou seja, uma diminuição da oferta nesses momentos, principalmente nas fábricas do exterior, mas bem contornável.

A gente tem trabalhado de forma bem ativa para mitigar ao máximo esses impactos. Seja produzir os ônibus em PKD, que é montar antes de receber o chassi e quando chegar se acopla ele, seja substituindo alguns materiais. Então, o impacto tem sido pequeno, mas o desafio tem sido gigante.

Componentes eletrônicos também é uma questão global e a gente tem sofrido, como todos os players do segmento automotivo, mas a gente tem conseguido contornar bem a situação. Em linhas gerais, as dificuldades são gigantes, mas as ações da Marcopolo têm sido positivas no contexto de mitigar ao máximo e ter o menor impacto possível na produção da empresa.

Diário do Transporte – Qual é influência do câmbio atual no desempenho da Marcopolo para o mercado externo?

O câmbio ajuda em termos de competitividade, por um certo momento. A gente, logicamente, com nossas vendas em dólares, traz mais reais para a Marcopolo, com o real desvalorizado. O que a gente tem que cuidar com isso é que muitas vezes tem o impacto também de materiais. Muitos itens que são globais aumentam os custos, sejam itens importados ou itens comercializados com preços internacionais. Então, tivemos um benefício do câmbio sim, mas temos tido vários desafios que são os aumentos de custos de matérias-primas, que são produtos globalizados e sofrem a influência da desvalorização do real.

Diário do Transporte – Como esses dois fatores se equilibram?

Nós temos tomado ações para garantir esse equilíbrio: continuar promovendo o nosso crescimento internacional, porque a gente continua trazendo mais dólares para a operação com o real desvalorizado. A empresa tem expandido no mercado internacional, tanto no mercado latino-americano quanto no mercado africano, no Oriente Médio e Ásia. Nas questões de custos, é trabalhar muito eficiência interna, substituição de alguns materiais e até negociações com fornecedores. Trabalhar todas as frentes: fornecedor, melhoria de eficiência operacional e substituição de materiais. São ações que a gente tem feito desde o começo da crise para tentar mitigar ao máximo os impactos. A empresa tem tido sucesso em conseguir essas ações e essa mitigação dos desafios que têm acontecido há um ano e meio de pandemia. A gente tem contornado muito bem isso, com várias ações internas sendo feitas neste contexto.

MODELOS E PAÍSES

Diário do Transporte – Em quais países a Marcopolo tem mais atuação e por quê?

A Marcopolo tem uma presença muito forte em toda a América Latina. É histórico isso. Na década de 60, a empresa fez sua primeira exportação para o Uruguai. Está no DNA da Marcopolo vender para o mercado internacional. Nós estabelecemos uma rede de vendas e pós-vendas bem forte neste mercado. A gente tem bons parceiros comerciais estabelecidos nos principais mercados da América Latina.

A empresa hoje tem mais de 40% de tudo o que se vende na América Latina, considerando Marcopolo e Volare. Tudo isso é fruto de um trabalho construído no decorrer de muitos anos: proximidade, relacionamento com o cliente, entender suas reais necessidades, desenvolver o produto certo para atender essas necessidades. É um processo construído há muitos anos.

O que a gente vem fazendo é buscar esse mesmo trabalho em outros continentes. A gente tem crescido nossa presença no continente africano e temos trabalhado também para crescer a nossa presença no mercado asiático. Esses são os principais fatores de consolidação de uma posição internacional forte que a Marcopolo vem construindo por muitos anos.

Diário do Transporte – A Marcopolo pretende abrir mais plantas próprias ou operações fabris em parceria em países onde ainda não tem base? Quais?

Além das operações que nós temos no Brasil, nós temos fábrica na Argentina, na Colômbia, no México, na África do Sul, na Austrália, na China e temos ainda uma participação no Egito e somos investidores em uma operação nos Estados Unidos.

Nossa proposta é continuar crescendo estas operações. A gente melhorou muito o lado operacional inteiro das fábricas, para buscar eficiência, qualidade, competitividade e a gente já está aproveitando este momento difícil para olhar para dentro e melhorar os nossos processos, investimentos em equipamentos, ferramentas, a gente tem feito esse trabalho.

Sobre a instalação de uma fábrica hoje, a gente está sempre olhando para o mercado. A Marcopolo é uma empresa grande, global, e quer crescer no mundo. Agora, não temos uma meta de abrir uma operação. Nós temos o interesse de continuar crescendo no mercado internacional. Se isso deve ser feito aproveitando as operações que nós já temos ou através de parcerias com players locais ou através de um investimento em uma nova fábrica, depende muito da oportunidade que surge e do momento que a Marcopolo estiver vivendo. Estamos olhando para tudo. Estamos olhando com carinho para nossa expansão global, seja ela novos investimentos, seja ela aproveitando a estrutura atual da empresa.

Diário do Transporte – Quais os modelos que mais vendem nas operações externas e em quais segmentos?

Nós temos uma presença muito forte no segmento rodoviário. O ônibus de dois pisos, o double decker, é um produto de alto valor agregado que a Marcopolo vende em países como Argentina, Chile, Peru, Bolívia, além do brasileiro, outros mercados compram estes produtos. Ele tem uma aceitação bastante forte nestes países. Ainda no segmento rodoviário, temos uma venda contínua e relevante do Paradiso 1200, que é o nosso carro-chefe neste segmento.

No urbano, a gente tem uma presença muito forte. Torino tem sido um produto de destaque no segmento. E temos atuação também no micro. O que a gente viu durante esse período de pandemia é que o segmento rodoviário foi o mais afetado pela questão de as fronteiras estarem fechadas, de o turismo estar desfavorecido. Por outro lado, a gente viu crescimento de urbanos e fretamento, principalmente no Brasil.

Diário do Transporte – Para fretamento, qual é o modelo de destaque?

O Ideale e nós lançamos recentemente o Viaggio 800 para atuar neste segmento. A gente aproveitou que havia uma necessidade. As empresas começaram a precisar de espaçamento maior dos funcionários. Isso requer mais ônibus para transportar a mesma quantidade de pessoas.

A gente tinha um produto que era o Ideale e a gente tem um segundo produto que é o próprio Audace, mas a gente teve a oportunidade de lançar um carro mais alinhado com a necessidade do mercado. Nasce o Viaggio 800, com uma largura maior, que gera mais conforto interno para o passageiro.

Diário do Transporte – De que forma a Marcopolo faz a adequação dos modelos para atender as demandas das empresas do mercado exterior?

Primeiro de tudo, proximidade com o cliente, para entender a necessidade do cliente. Esse exemplo do Viaggio 800 é um deles, pois a gente viu que havia necessidade de um veículo mais largo, com maior conforto de poltronas. Esse tem sido o carro-chefe na decisão de novos lançamentos: entender o mercado e estar muito próximo dos clientes para desenvolver os produtos certos.

ELETROMOBILIDADE

Diário do Transporte – Quais são os projetos da Marcopolo para o mercado externo considerando a eletromobilidade?

Nós estamos trabalhando em várias frentes. A gente lançou um ônibus elétrico com chassi europeu na Austrália, estamos participando de vários projetos e ganhamos algumas licitações de veículos elétricos com soluções chinesas. No Brasil, também vendemos unidades com soluções chinesas.

Estamos produzindo neste ano mais de 400 veículos com chassi elétrico chinês na Colômbia, estamos conversando com nossos principais parceiros europeus, que começam a fazer um movimento positivo de entrada no mercado brasileiro e latino com soluções elétricas. É um movimento que vem um pouco depois da onda dos asiáticos, mas estão entrando na América Latina e estamos conversando sobre vários projetos.

Estamos testando também uma solução própria nossa no mercado. Aqui vale ressaltar que, sobre esta solução, a gente a enxerga como aprendizado, conhecimento, oportunidade para a empresa e possivelmente uma complementariedade em outras vendas. A gente não enxerga isso como uma transformação do modelo de negócio onde a gente passe a ter o carro monobloco e não vá trabalhar com os parceiros europeus ou chineses e asiáticos que estejam neste segmento.

Realmente, a oferta de soluções elétricas aumentou bastante e a Marcopolo tem como um de seus maiores benefícios como empresa uma carroceria diferenciada e adaptada aos mais distintos tipos de chassis. A gente tem preservado esse modelo e essa ampliação de gama de produtos. Esse tem sido o movimento da Marcopolo.

A gente tem feito algumas vendas para o Brasil, Colômbia, Austrália. São mercados para os quais a gente já vendeu soluções elétricas, usando parceiros, e estamos com várias frentes abertas em projetos de eletrificação porque a demanda tem aumentado.

Diário do Transporte – Em sua opinião, quais são os fatores que levam os países a investirem cada vez mais em eletromobilidade?

Sem dúvida, a preocupação com o meio ambiente. Este tem sido o principal fator para o desenvolvimento destas soluções. A gente vê uma onda positiva neste sentido, a preocupação com a redução de emissão de poluentes. É uma tendência crescente, sem dúvidas.

O que eu vejo é que cada vez mais nós vamos ter a preocupação com o meio ambiente e cada vez mais as novas gerações crescem com essa mentalidade e essa preocupação. Vai ser necessário que as empresas desenvolvam soluções alternativas de emissões verdes, ou seja, qualquer tipo de emissão.

Hoje fala-se em vários tipos de soluções, como o hidrogênio como alternativa ao diesel. Então, soluções estão surgindo e há um movimento crescente e positivo neste sentido. Eu acho que a velocidade pode variar muito de mercado a mercado, alguns têm um processo mais lento. As oportunidades também são distintas. Países que emitem altos níveis de poluentes têm oportunidades de redução mesmo antes da eletrificação.

VLT E PEOPLE MOVER

Diário do Transporte – A Marcopolo também tem projetos para o mercado externo no que diz respeito a VLT e people mover?

Sim. A gente começou muito forte no Brasil e a gente vem participando de vários projetos. A gente abriu várias frentes também em países da América Latina. O foco realmente hoje tem sido vendas no mercado nacional, mas a gente tem uma estrutura no mercado internacional e conhecimento nestes mercados onde a gente quer explorar cada vez mais estas oportunidades.

Estamos olhando negócios em vários mercados, olhamos para Chile, Peru, mas hoje, efetivamente, as principais vendas estão iniciando no mercado brasileiro. Mas estamos sim olhando a estrutura de trens da Marcopolo, que tem esse foco também internacional. Mas ainda é cedo para a gente trazer projetos que serão enviados nos próximos meses. Como prospecção, a gente vê bastante ação principalmente na América Latina.

Jessica Marques para o Diário do Transporte

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