Uber tenta combinar redução de perdas com crescimento rápido e expansão de serviços
Publicado em: 16 de agosto de 2018

Foram quase 900 milhões de dólares de prejuízo no segundo trimestre, inferior ao mesmo período do ano passado. Sob nova direção, plataforma continua mirando expansão, e almeja abrir capital em 2019
ALEXANDRE PELEGI
A Uber apresentou prejuízos de 891 milhões de dólares (cerca de 3,5 bilhão de reais) no segundo trimestre do ano. O valor foi mais baixo do que o registado no mesmo período do ano passado (1,1 mil milhões de dólares).
O prejuízo, no entanto, foi mais alto que os 550 milhões de dólares do primeiro trimestre deste ano, quando se desconsidera os ganhos de US$ 3 bilhões com a venda das operações da empresa no Sudeste Asiático e na Rússia.
Investindo em novos negócios, a Uber está aumentando seus gastos em serviços como a entrega de comida e a locação de scooters.
Para Dara Khosrowshahi, presidente-executivo da plataforma, a empresa teve outro grande trimestre, “continuando a crescer a um ritmo impressionante para um negócio de nossa escala”.
O CEO da gigante multinacional enumerou as apostas da empresa: “estamos a investir no futuro da nossa plataforma: apostas como Uber Eats, meios de transporte mais ecológicos, como Express Pool, e-bikes e scooters; mercados com alto potencial, como o Médio Oriente e a Índia, onde estamos a consolidar a nossa posição de liderança”.
Enquanto a empresa busca crescimento em serviços e em mais cidades do mundo, crescem também os desafios regulatórios, competitivos e operacionais, que podem colocar em xeque a estratégia da plataforma.
É o caso recente (e emblemático) ocorrido na última semana, quando o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, assinou um pacote de leis que congelam a concessão de novas licenças para carros de transporte pago de passageiros na cidade (relembre). A nova legislação determina ainda um pagamento mínimo para os motoristas naquele que é o maior mercado da empresa nos Estados Unidos.
Outra cidade americana que quer seguir na trilha de Nova York é Seattle, que também considera criar um patamar mínimo de renda para os motoristas de aplicativos.
Outros problemas afetaram a imagem e o ganho da Uber, como o atropelamento fatal por um dos carros robotizados da companhia em março deste ano (relembre). A divisão de carros autônomos sofreu um duro baque, levando a Uber a fechar centenas de empregos para motoristas de teste após encerrar suas operações no Arizona.
Afora isso, o mercado começa a ser disputado por outros concorrentes, que ameaçam a posição de mercado da Uber. A concorrência cresce nos Estados Unidos, país de origem da companhia, aonde a Lyft vem ganhando mercado. A plataforma rival arrecadou US$ 600 milhões em capital, dobrando a avaliação de seu valor de mercado para US$ 15,1 bilhões.
A disputa entre as companhias envolve não somente a oferta de viagens por automóvel, como também uma diversificação nos serviços, o que tem levado as rivais a investir bilhões de dólares em pesquisas e testes de veículos autônomos, na aquisição de tecnologias e de concorrentes de serviços de bicicletas e scooters para locação em percursos curtos de grandes cidades, por exemplo.
Mas a maior fatia do bolo da lucratividade da Uber decorre das comissões que a empresa abocanha do valor de cada corrida. Gastando menos dinheiro com descontos aos passageiros e incentivos aos motoristas, a empresa conseguiu aumentar sua receita líquida para 23% do valor total de cada corrida (bookings), ante 20% em 2017.
A multinacional pretende agora abrir capital no segundo trimestre de 2019. Com valor de mercado em estimados 70 bilhões de dólares, a operação, caso aconteça, deverá ser uma das maiores do mercado americano e mundial dos últimos anos.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes