Tarifa é o principal problema do transporte coletivo, revela pesquisa nacional

Carta de Brasília cobra priorização do espaço urbano destinado ao transporte coletivo

De acordo com levantamento que ouviu 7825 pessoas em 35 cidades, 62% dos entrevistados que largaram os sistemas de ônibus voltariam caso houvesse redução do preço da passagem

ADAMO BAZANI

Enquanto diversas cidades aumentam as gratuidades no transporte público sem fonte externa de custeio, a não ser pelo próprio passageiro pagante, e com o achatamento da renda do brasileiro, a tarifa no transporte coletivo se tornou o principal problema da mobilidade.

Os subsídios não contemplam todos os sistemas e, mesmo onde existem, é necessária reformulação.

É o que revela uma pesquisa inédita realizada em parceria entre a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU, que reúne mais de 500 empresas de ônibus no País, e a CNT – Confederação Nacional do Transporte.

De acordo com o levantamento, que consistiu em 3100 entrevistas realizadas em 35 cidades com mais de 100 mil habitantes entre os dias 12 e 23 de junho de 2017, em domicílios, 64,5% das respostas classificaram a tarifa como principal problema dos transportes públicos no Brasil, superando até mesmo a falta de segurança, com 55% das respostas, que foram múltiplas.

Ainda segundo o levantamento, entre as pessoas que abandonaram os ônibus como principal forma de deslocamento, 62% voltariam para o transporte coletivo se o valor da passagem fosse menor.

Para o presidente da NTU, Otávio Cunha, o resultado mostra que a mudança das políticas tarifárias no Brasil é algo mais que urgente.

A tarifa hoje afasta os passageiros e não remunera os sistemas. É necessário encontrar formas externas de financiamento, a começar pelas gratuidades que hoje são arcadas pelos passageiros pagantes. A Cide Municipal (um imposto sobre os combustíveis dos carros que seria direcionado às cidades com o objetivo de reduzir as tarifas) é uma das formas mais democráticas, isso porque, o transporte privado individual ajuda a financiar os deslocamentos coletivos” – disse Otávio Cunha no Seminário Nacional NTU 2017, que teve cobertura do Diário do Transporte e ocorre em conjunto com a Transpúblico, feira de mobilidade urbana que termina nesta quinta-feira, 31, na zona Sul de São Paulo.

“Não basta apenas criar receitas. Também é necessário reduzir custos. Isso implica em várias medidas, como menos carga tributária sobre a atividade do transporte coletivo e aumentar a eficiência e a velocidade dos ônibus, que também resulta em gastos operacionais maiores. E as soluções já são conhecidas pelos especialistas e gestores. Precisamos de políticas públicas” – disse o presidente da ANTP – Associação Nacional de Transporte Público, Ailton Brasilense.

No evento, o secretário Municipal de Mobilidade e Transporte de São Paulo, Sérgio Avelleda, defendeu transparência nos números do setor para que a sociedade em geral participe mais dos debates sobre os financiamentos de tarifas.

“As soluções, nós sabemos. Mas o debate precisa extrapolar as mesas dos especialistas e chegar à sociedade em geral, de forma simples e objetiva. Para isso, são necessárias informações claras e transparentes sobre os custos de cada sistema de transportes” – disse Avelleda que garantiu que haverá mais transparência nestes dados após a licitação do sistema de ônibus da cidade.

Entretanto, a minuta do edital do certame, que deveria ter sido concluído em 2013, só deve sair, segundo Avelleda, após a alteração numa lei de 2009, que determina 100% de ônibus movidos com outros combustíveis, sem ser o diesel, até 2018. A lei não será cumprida e a meta precisa ser modificada. Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2017/08/30/edital-de-licitacao-dos-transportes-de-sp-so-saira-apos-alteracao-na-lei-de-mudancas-climaticas-afirma-avelleda/

A pesquisa mostra também que o principal motivo de as pessoas deixarem os ônibus está relacionado a itinerários e horários que não satisfazem suas necessidades. O segundo motivo, é a tarifa considerada alta seguida de falta de conforto

A NTU e a CNT creditam tanto o fato de as redes ainda não atenderem aos anseios da população como as altas tarifas, a falta de prioridade ao transporte coletivo no espaço urbano, que limita os serviços e aumenta os custos operacionais.

O modo ônibus deixou de ser utilizado por parcela considerável da população. Entre os entrevistados, 38,2% deixaram de utilizar o ônibus como meio de transporte público, sendo que 16,1% deixaram de utilizar totalmente e outros 22,1% diminuíram o uso. Ainda de acordo com os dados, 56,3% ainda optam pelo serviço de transporte público por ônibus para realizar as viagens. Comparativamente com o cenário identificado na pesquisa realizada em 2006, , houve um aumento de 24,2% dos brasileiros que diminuíram ou deixaram de utilizar totalmente o ônibus para deslocar-se nos municípios. Certamente, a falta de priorização do transporte público, a queda de velocidade operacional e o custeio dos serviços unicamente com os recursos oriundos das tarifas, que é a política tarifária adotada na maior parte dos municípios brasileiros, são as principais causas para a perda de demanda e migração dos usuários para outros modos.

Mesmo com a perda de passageiros, os ônibus continuam sendo o principal meio de transportes dos brasileiros, com 45,2% dos deslocamentos, seguido de carros e trajetos realizados a pé.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia.

    Me desculpem, mas eu discordo.

    Parem de colocar a tarifa como BOI DE PIRANHA.

    “A tarifa hoje afasta os passageiros e não remunera os sistemas”

    Com esta colocação nem ALBERT EINSTEIN resolve esta equação.

    Estamos diante de mais um efeito Tostines do buzão.

    Será possível termos uma tarifa que satisfaça o cidadão e remunere as empresas.

    A resposta é NÃO, nem precisa fazer conta.

    Por que ?

    Porque o Barsil é um país atípico onde o “Delta” não baterá nunca, por vários fatores que nem preciso elencar aqui.

    Mas vamos colocar um exemplo basiquinho.de um “DELTA”.

    Ou o salário mínimo é baixo e a tarifa do buzão é alta;

    Ou a tarifa do buzão é baixa e o salário mínimo é alto.

    Isso não tem solução, pois não se consegue equilibrar essas contas.

    Um dos motivos é o desperdício do dinheiro público, não necessita de flar mais nada.

    Pode instituir mais uma fonte custeio social pro buzão; mesmo instituindo a TAXA DO BUZÃO, via CIDE MUNICIPAL, ou qualquer outra T.O. (Taxa do Otário), o buzão NÃO VAI MELHORAR e a sua taxa de ocupação ou USO também NÃO VAI AUMENTAR.

    Esse papo de transparência de planilha de custo é inútil, pois se o custo real ou sureal for
    R$ “X”, não tem escapatória, a tarifa terá de ser R$ “Y”, “doa a quem doela”.

    E tomem cuidado, pois se a planilha que será “aberta” estiver com gordura, ai sim que o tiro sairá pela culatra.

    Pois alguém paga o articuladinho trucadinho batendo lata por Sampa, milagre ninguém faz, nem Santo nem Tubarão.

    O passageiro tem de se deslocar do ponto A ao ponto B, pronto isso não tem escapatória.

    Então, seja a tarifa R$ 5 ou R$ 10, ele vai ter de pagar, não há escapatória.

    Gente, por favor sem hipocrisia, esta é a realidade.

    Porém, o que tem de ser considerado ninguém considera ou fala

    Vou fazer um exemplo quase que desenhado.

    Quem gosta de peixe; vai comer Robalo ou sardinha ??

    Quem gosta de carne vermelha, vai comer Filet Mignon ou Músculo ??

    Claro que em tese as respostas serão Robalo ou Filet Mignon.

    Porém na prática o que será consumido, será o que estiver de mais fácil acesso físico e o que estiver de acordo com o bolso da pessoa ou lhe proporcionar o melhor custo benefício.

    Com o buzão é a mesma coisa.

    Quem de sã consciência troca os trilhos pelo buzão, NINGUÉM.

    Por que o buzão não funciona.

    Como eu fui na Transpúblico ?

    De buzão ? NUNCA.

    De carro, sem saco.

    De CPTM é lógico.

    Altino: 16:14 hs Santo Amaro:16:42 hs

    Santo Amaro: 20:44 hs Altino: 21:10 hs

    **** Mas SEM BUZINHO DE TRANSLADO CPTM – TRANSAMÉRICA

    Em que pese a pesquisa realizada, o que realmente invalida o uso do buzão são duas questões principais.

    O BUZÃO não FUNCIONA ou não atende os cidadãos.

    O aumento da eficiência dos trilhos.

    O buzão pode passar a ter uma tarifa de R$ 0,50 subsidiada seja por qual T.O (Taxa do Otário) for, o seu uso NÃO aumentara.

    Por uma simples questão, o modus operandi do buzão está FALIDO.

    Mudem o FOCO, façam o buzão funconar só isso.

    Acabem com as linhas Penha Lapa, caranguejadas zigzagueada, coloquem os micros vapt vupt ligando Terminais e pontos de grande movimento aos trilhos e por ai vai.

    Ai sim, o passageiro volta pro buzão só o dia que ele passar a funcionar.

    Simples assim.

    Ataquem a ferida do problema e não as divagações teóricas elocubratórias.

    Apliquem um novo modus operandi no buzão que ele voltará a ser útil, hoje ele é inútil.

    Att,

    Paulo Gil
    “Buzão e Emoção é a Paixão”

    .

    1. Paulo Gil disse:

      Amigos, bom dia.

      Sem contar mais um desconforto, além da carroceria sem ergonomia, O RELAXO DA MANUTENÇÃO DA FAIXA DO BUZÃO PELA PMSP

      Assistam é real.

      https://www.youtube.com/watch?v=h19CTnBjzBA

      Att,

      Paulo Gil
      “Buzão e Emoção é a Paixão”

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