Presidente da CPTM diz que ViaMobilidade pagou R$ 25 mil por funcionários em cooperação e que estatal não teria mão de obra para reassumir linhas 8 e 9

Funcionários da CPTM afirmaram em depoimento que foram designados para manutenção de trens porque trabalhadores da ViaMobilidade não tinham condições técnicas de resolver sozinhos os problemas, que concessionária não estava pronta para assumir as linhas, que treinamento foi insuficiente e que houve transferência de peças entre trens para que composições não ficassem paradas; Concessionária não tinha equipamentos de reposição

ADAMO BAZANI

Colaboraram Arthur Ferrari e Alexandre Pelegi

O Ministério Público de São Paulo ouviu no dia 29 de setembro de 2022 uma série de depoimentos no inquérito que investiga a concessão das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda para a ViaMobilidade. O Diário do Transporte teve acesso a estes depoimentos nesta quinta-feira, 13 de outubro de 2022.

Como tem mostrado o Diário do Transportes, diversos problemas marcam a operação destas duas linhas, em especial no início da concessão, com situações que iam desde atrasos e falhas em trem, até um funcionário morto eletrocutado na linha 9 e uma composição da linha 8 que bateu contra o limite da plataforma na estação Júlio Prestes, ambos os casos no dia 10 de março. A concessão com operação única da ViaMobilidade começou em 27 de janeiro de 2022.

Uma das pessoas que prestou depoimento foi o presidente da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), Pedro Moro.

Os promotores questionaram pontos como funcionários da estatal consertando trens concedidos à ViaMobilidade, total de frota e se a estatal teria condições de reassumir as linhas em caso de rompimento de contrato com a concessionária.

Pedro Moro disse aos promotores Silvio Antônio Marques e Luiz Ambra Neto que a ViaMobilidade pagou R$ 25 mil pelos funcionários cedidos pela CPTM para consertar trens operados pela concessionária

Em relações aos fatos mencionados pela Testemunha A, informa que, de fato, alguns funcionários da CPTM foram designados para a prestarem serviços de manutenção de 4(quatro) trens que deveriam ter sido entregues em condições de uso para a VIAMOBILIDADE. Também sabe que alguns funcionários foram designados para atuar pontualmente no reparo de dois trens operacionais. Os serviços prestados nos trens circulantes (operacionais) foram cobrados pela CPTM. Não se recorda exatamente qual foi o valor cobrado da VIAMOBILIDADE, mas acredita que o total atingiu cerca de R$ 25.000,00, por 295 horas de trabalho Pode afirmar que a designação de funcionários para a auxiliar a VIAMOBILIDADE não causou qualquer prejuízo à CPTM, pois foi cobrado e não desfalcou a equipe da estatal

Segundo Moro, não haveria mão de obra suficiente caso estatal reassumisse as linhas em eventual rompimento de contrato.

Caso a CPTM seja obrigada a reassumir as linhas, não haverá mão de obra imediata para suprir as necessidades, ou seja, será necessário

contratar funcionários de forma emergencial. Esclarece que desde a assinatura do contrato (junho de 2021) a CPTM abriu um plano de desligamento incentivado (PDI) pelo qual mais de 1.300 funcionários se desligaram da Estatal

O presidente da CPTM disse ainda que quando a operação da malha de trens metropolitanos era só estatal, havia a vantagem de remanejar trens entre diferentes linhas

Contudo, quando a CPTM operava nas duas linhas referidas, poderia alocar trens de outras linhas, se necessário em razão de manutenção daqueles que já estavam operando

Os promotores também ouviram funcionários da área de manutenção da CPTM.

Um deles disse ao MP que a ViaMobilidade precisou de funcionários da estatal porque os trabalhadores da concessionária não tinham condições técnicas de resolver sozinhos os problemas das linhas e dos trens.

Acredita que a designação de funcionários da CPTM para consertar trens operacionais ocorreu porque os empregados da ViaMobilidade não tinham condições técnicas de resolver sozinhos os problemas.

O mesmo profissional disse que a concessionária não estava preparada para assumir as linhas e que o treinamento para os funcionários da ViaMobilidade não foi suficiente.

Acredita que a ViaMobilidade deveria ter se preparado melhor antes de assumir as duas linhas. Sabe que os funcionários da ViaMobilidade. durante o período de transição (meados de 2021 a janeiro de 2022). receberam treinamento e acompanharam a solução de problemas que ocorriam nos trens, que na época estavam alocados nas linhas 7 e 10 da CPTM.  Aparentemente, o treinamento não foi suficiente para que os empregados da ViaMobilidade obtivessem conhecimentos práticos suficientes.

Outro funcionário disse em depoimento aos promotores que houve transferência de peças, equipamentos de controle e tecnologia entre trens na ViaMobilidade para que composições não ficassem paradas. Concessionária não tinha equipamentos de reposição.

No dia 20/7/2022. o declarante novamente foi designado para prestar serviços à VIAMOBILIDADE pelo Engenheiro RAUL  SÉRGIO, mas no trem Hotel-568 (ou H568), da Sério 8.500 da CAF. O trem H568 apresentou o mesmo problema do trem H536. O declarante constatou que os empregadods a VIAMOBILIDADinEs talaramn o trem H568 o equipamento de ATC retirado do H536. Não sabe se a VIAMOBILIDADE reparou o módulo retirado do trem H536 antes de instalar no trem H568. Mas os sintomas apresentados eram os mesmos. Informa que o módulo de ATC usado no trem H536 foi retirado de um trem “doador” de número Hotel-564, também da série 8.500 da CAF. O módulo usado no trem H568 foi retirado do trem Hotel-516, que estava imobilizado em razão da necessidade de troca de disco dos freios. Assim, o trem “doador” H564 e o trem H516 ficaram parados Não sabe se tais trens foram recuperados recentemente. Além de não possuir os módulos de ATC para a reposição, a VIAMOBILIDADE também não possuía a ferramenta especial denominada “módulo calibrador de acelerômetro”.

Como havia mostrado o Diário do Transporte, o Ministério Público do Estado de São Paulo não tem mais dúvidas: vai pedir à Justiça uma indenização “multimilionária” contra a ViaMobilidade pelas falhas e transtornos constantes nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, principalmente no início da concessão.

De acordo com o promotor Silvio Antônio Marques, o pedido de indenização é uma certeza ao fim das investigações. Só falta definir o valor, que será alto.

Já a rescisão de contrato é ainda encarada como uma possibilidade pelo Ministério Público.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/09/19/indenizacao-desvio-viamobilidade-mp-adamo-bazani-diario-do-transporte/


Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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Comentários

Comentários

  1. ROBSON DA SILVA SOUZA disse:

    Que babado

  2. David disse:

    Operação é realmente horrível até o momento, vão ter que transferir a galera de outro local e abrir concurso público

  3. Junior disse:

    Agora no final de outubro a CPTM anunciou cancelamento da licitação para realização de concurso público, há defasagem de funcionário principalmente na área administrativa. Ou abrirão licitação emergencial para concurso público em caso de rescisão de contrato ou vão ajustar junto à concessionária que é o que acredito que aconteça tendo em vista haver um novo processo de concessão da linha 7 em andamento, rescindir agora não seria bem visto, creio eu, por empresas que se interessariam em participar de um pregão iminente.

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