MP vai investigar se condizem com a verdade respostas do Metrô e do CMEL sobre queda de parte de viga de monotrilho em ciclovia

Estutura com a parte de comcreto caída e logo depois sendo consertada

Tanto estatal como concessionária descartaram risco aos passageiros, mas técnicos do Ministério Público vão elaborar laudo em 45 dias

ADAMO BAZANI
Colaboraram Arthur Ferrari, Alexandre Pelegi e Willian Moreira

O Metrô de São Paulo e o CMEL (Consórcio Monotrilho Expresso Leste) responderam no último dia 07 de outubro de 2022, os questionamentos do promotor Silvio Antonio Marques, do Ministério Público de São Paulo, a respeito da queda do pedaço de uma viga do monotrilho da linha 15-Prata sobre a ciclovia na Avenida Professor Luís Inácio de Anhaia Melo.

O acidente ocorreu na noite de 22 de setembro de 2022 na estrutura do pilar 45 que fica entre as estações Oratório e São Lucas.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/09/27/ministerio-publico-protocola-questionamentos-ao-metro-e-ao-consorcio-cmel-sobre-queda-de-pedaco-de-viga-de-monotrilho/

Tanto a estatal como a concessionária alegaram que o fato não significa que passageiros e operações estão em risco.

A veracidade das alegações do Metrô e do CMEL serão agora investigadas pela área técnica do MP, como explica o promotor.

“As respostas não interferem na análise que os técnicos do MP vão fazer. O CAEx – Centro de Apoio Operacional à Execução do MPSP  deverá entregar o Parecer Técnico que solicitei em 45 dias aproximadamente” – disse Silvio Marques.

Segundo o Metrô, o que se soltou foi um pedaço de concreto que fica entre as extremidades da viga, não sendo uma parte estrutural.

Neste sentido, salientamos, a fim de que não paire quaisquer dúvidas que neste caso isolado do desprendimento do concreto, não se trata da viga pré-fabricada da estrutura do Monotrilho da Linha 15 – Prata, e sim de um fechamento entre as extremidades, realizado no local, conforme citado anteriormente, não devendo ser objeto de dúvidas quanto à segurança do modal.

O Metrô ainda classificou a queda do concreto na ciclovia como fato atípico, mas não negou a ocorrência.

Ressalta-se que, a ocorrência do dia 22/09/2022 foi um fato atípico e

tratou-se de um reparo superficial executado para solucionar uma fissuração superficial do concreto, não tendo influência sob a condição estrutural da via permanente.

O CMEL também classificou a queda como fato isolado e disse que prontamente fez o conserto.

Inicialmente, este Consórcio consigna que o quanto narrado nas reportagens se trata de fato isolado e pontual que não está relacionado à investigação original objeto do presente Inquérito Civil, de forma que, com todas as vênias, deve ser excluído deste

procedimento até para se evitar eventuais confusões quanto aos temas que tem origem

distinta.

Ademais, o item objeto das matérias jornalísticas foi prontamente solucionado pelo Consórcio, sem qualquer impacto na operação da Linha 15 – Prata do Metrô e aos usuários do Sistema Monotrilho. Ratifica-se, assim, que o episódio não trouxe riscos aos usuários da via, aos transeuntes e a quem quer que seja, tanto é assim que nada consta nas mencionadas

reportagens em sentido oposto, até mesmo porque a questão já foi reparada, segundo atestam as fotos abaixo consignadas e o RDO de mesma data (doc. 01)

TÉCNICOS APONTAM RISCOS:

Técnicos em construção civil ouvidos pelo Diário do Transporte disseram que há riscos em casos de desprendimentos de concreto que foi nítido que o que caiu na ciclovia pedaço de viga e não era excesso de cimento, como tentou alegar o Metrô de São Paulo.

OUÇA: “É nítido que caiu pedaço e não era excesso de cimento”, dizem especialistas sobre viga de monotrilho de SP; “Há riscos”

OUÇA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA AQUI:

Funcionários do sistema apontam que ao longo da linha 15-Prata têm ocorrido também de mais pedaços se soltarem indo ao encontro de conclusão do MP sobre defeitos nas vias do Monotrilho

ADAMO BAZANI

O Diário do Transporte noticiou em primeira-mão nesta sexta-feira, 23 de setembro de 2022, que uma parte da viga do monotrilho da linha 15-Prata se soltou e caiu sobre a ciclovia na Avenida Luís Inácio de Anhaia Mello, entre as estações Oratório e Parque São Lucas, na zona Leste de São Paulo.

De acordo com o relatório interno de ocorrências do Metrô, parte do concreto se soltou por volta de 21h desta quinta-feira (22).

21h23- Informação – Por meio do COPOM CCS foi informado de queda de pedaços de estrutura no monotrilho – foi solicitado ronda com a VTR nas proximidades entre ORT e SLU e foi constatado queda de pedaços do Pilar 45 na ciclovia – SO2 Buissa ciente para as tratativas

Problemas como este têm sido relatados constantemente por funcionários da linha e vão ao encontro do que o Ministério Público de São Paulo concluiu em outubro de 2021 sobre o estouro da parte interna da roda de um monotrilho que resultou na paralisação por 100 dias do sistema no início de 2020.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/09/23/imagens-mostram-que-parte-de-viga-do-monotrilho-da-linha-15-prata-se-soltou-relato-tecnico-interno-da-conta-que-pedacos-cairam-em-ciclovia-na-noite-de-quinta-22/

Na resposta ao Diário do Transporte, o Metrô de São Paulo admitiu a situação, mas disse que não havia danos estruturais e que tinha sido realizado um trabalho para a retirada do “excesso de cimento” na viga.

O técnico em edificações formado pela Escola Técnica Getúlio Vargas e arquiteto e urbanista pela FIAM FAAM (FMU), Raphael Toscano, realizou estudos para sua monografia, justamente sobre o monotrilho da linha 15-Prata.

O especialista comentou o caso tecnicamente com o Diário do Transporte e foi categórico em afirmar que o que as imagens da viga do monotrilho mostram não evidenciam que foi retirada do “excesso de cimento”, como tentou argumentar o Metrô.

“Este excesso de concreto não existe quando a gente fala de estrutura. Esta viga do monotrilho é usinada, é pré-moldada, já vem pronta. Como está evidenciado nestas fotos, houve a quebra deste concreto” – explicou

O técnico diz que as imagens mostram que o que ocorreu foi uma quebra da viga.

“O que a gente que é da área pode perceber é que houve uma quebra na aba superior dessa viga de concreto pré-moldado. E é justamente na parte de cima da viga que o concreto recebe a maior compressão de esforços do material rodante, que no caso, é o monotrilho”

“Claramente vemos que a viga sofreu danos de ambos os lados, e na obra, ou posteriormente na instalação, refizeram a viga apenas para manter seu aspecto do perfil. Não há excesso de concreto em uma estrutura. Ou ela não estaria ali.”

O especialista ainda diz que não se trata de um simples “pedacinho” que faltou. Segundo explicou, toda viga tem um tamanho desenvolvido justamente para suportar determinados pesos e determinadas forças e pressões. Quando há esta quebra, há uma diminuição da área, que não é benéfica, mesmo havendo uma espécie de “margem de segurança” nos cálculos.

Toscano ainda explicou a gravidade deste tipo de problema em um sistema como o do monotrilho da linha 15.

“Ter um pedaço da viga desprendida, é como ter um buraco na rua enquanto você anda com um carro. Só que nesse caso, há vários metros do chão. Alguma peça pode quebrar e cair abaixo, na rua, em um sistema que não tem proteção nenhuma”.

O técnico explica ainda que este tipo de problema com a viga pode causar danos e riscos aos trens.

“A viga do sistema possui uma reentrância na terça parte da sua altura que recebe o acoplamento das rodas estabilizadoras laterais do trem, que o equilibram durante a rodagem. Essa aba quebrada de cima faz com que essa aba desapareça, deixando o perfil reto podendo a roda deslizar para cima em caso de movimento brusco do trem. E essa roda deslizando para cima durante o movimento, ao continuar o percurso e encontrar a aba da viga mais à frente, funciona como a roda estabilizadora lateral encontrar um degrau. Quebra na certa.”

O especialista disse ainda que se há alguma quebra da viga ou queda de pedaço, não basta colocar cimento para cobrir a área que falta, o que seria apenas uma solução estética.

Tratam-se de vigas que suportam muito peso e pressão com o movimento dos trens. É necessário fazer um trabalho de restauração de fato, muitas vezes tirando todo o material de concreto até as ferragens internas da estrutura e colocando uma nova concretagem para que toda a peça se torne eficiente e segura de novo.

Raphael Toscano alerta para riscos reais para os passageiros, funcionários e para quem trafega na avenida embaixo, seja a pé, de bicicleta, carro ou ônibus, mesmo estes veículos sendo mais fortes.

“Pode haver uma redução brusca de velocidade do monotrilho e os passageiros caírem justamente pelas rodas do monotrilho passaram por perfis diferentes na viga. Para quem está embaixo, é pior ainda. Imagine um pedaço desse concreto atingindo o para-brisa de um veículo. A altura de onde se solta o pedaço de concreto é outro fator. Ao cair, pela força empreendida sobre o pedaço, peso pode ser tornar dez vezes maior. Dependendo do tamanho deste pedaço, ele pode chegar embaixo com um tal peso capaz de perfurar facilmente o teto de um ônibus, mesmo sendo este um veículo com uma estrutura mais forte que outro carro menor” – explicou.

Também técnico em construção civil, Márcio Augusto Camargo, da ABC Estrutural, consultado pela reportagem, disse que a versão da Companhia do Metrô de São Paulo precisa ser melhor investigada.

“É nítido que caiu pedaço e não era excesso de cimento” – disse o especialista.

Para Camargo, não é comum que após um suposto trabalho de remoção como alegado pelo Metrô, fique uma falha como mostram as imagens

“Tinha de ficar tudo nivelado e dá pra ver que tá faltando mesmo uma parte – opinou

O técnico ainda diz que acha estranho haver remoção de “excesso”, como alegou o Metrô numa obra já feita há muito tempo.

“Normalmente, os excessos são retirados ainda com o cimento antes da cura [fresco] ou pouco tempo depois. Só se teve um reparo recente, mas se teve um reparo recente, é porque teve um problema. Nas imagens, bem no local de onde está faltando uma parte da viga, nada evidencia que tinha sido feito naquela ocasião, um trabalho de manutenção”

O técnico também aponta para outras situações que evidenciam as imagens.

“Há remendos que indicam tempos diferentes de consertos, no lado oposto de onde teria se soltado o pedaço, na mesma viga, o cimento está mais escuro, mais novo aparentemente que o resto da viga. Então, foi feita uma coisa aí. Fora que essa parte que se soltou já tinha sido colocada depois da construção, dá para ver a emenda. Claro, é uma análise só de fotos, mas está muito evidente que esses desgastes precisam ser melhor esclarecidos, assim como o que o Metrô está alegando”

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo e Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários) dizem que já apontaram diversos problemas sobre o monotrilho, e que estes relatos foram ao encontro de especialistas que opinaram que o projeto não seria adequado para o perfil de traçado e demanda da região.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Veja as imagens:

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

 

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