Melo sanciona lei que privatiza a Carris de Porto Alegre

Edital que prevê a venda dos bens da companhia e a concessão das linhas operadas pela Carris deverá ser lançado em março de 2022

ADAMO BAZANI

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, sancionou nesta sexta-feira, 03 de dezembro de 2021, a lei que prevê a privatização da Carris, atualmente a empresa pública de transportes mais antiga e maior em operação.

Segundo a prefeitura, por meio de nota, o edital que prevê a venda dos bens da companhia e a concessão das linhas operadas pela Carris deverá ser lançado em março de 2022.

“A desestatização faz parte de uma série de medidas para melhorar o transporte público que faliu antes mesmo da pandemia. Além do pacote que inclui a redução das isenções, extinção gradual dos cobradores e repactuação com as concessionárias, estamos trabalhando em conjunto com outros prefeitos para que Estados e a União auxiliem com a criação do SUS do Transporte Público” – disse Melo na mesma nota.

A prefeitura afirma oferecer cursos de capacitação para os funcionários e um Plano de Demissão Voluntária (PDV).

Para a “desestatização” da Carris, a gestão Sebastião Melo alega que o custo da transportadora pública é 21% maior do que o das outras empresas de ônibus, “o que contribui para que a Capital tenha uma das passagens mais caras entre as capitais”. A

Estimativas informadas pela prefeitura é que até o final deste ano a prefeitura terá aportado mais de meio bilhão para cobrir os prejuízos da Companhia.

COBRADORES:

Como mostrou o Diário do Transporte, em 24 de novembro de 2021 refeito de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Sebastião Melo, sancionou uma lei que permite a extinção gradativa da função de cobrador na cidade. O período de transição será de quatro anos, ou seja, até dezembro 2025.

A justificativa da Prefeitura para a medida é “contribuir para a redução dos custos da tarifa”, além de “modernizar o sistema de transporte coletivo da capital”.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2021/11/24/porto-alegre-rs-sanciona-lei-que-permite-extincao-gradativa-da-funcao-de-cobrador/

A CARRIS:

Carris tem quase 150 anos de existência

A Carris, responsável pela operação de 22 linhas de ônibus – entre elas, todas as transversais -, mais 19 linhas do sistema de transportes de Porto Alegre, transporta mais de 110 mil passageiros por dia.

Criada por um decreto assinado por Dom Pedro II em 19 de junho de 1872 (Decreto nº 4.985), a companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense.

Em seu portal, a empresa reúne um cronograma com os principais fatos de sua história.

19/06/1872 – Fundação da Cia. Carris de Ferro Porto-Alegrense.

05/01/1873 – Primeira viagem de um bonde da Carris em Porto Alegre, na linha Menino Deus.

1874 – Fim da Revolta dos Muckers – Carris doa 100 mulas para exército.

15/01/1893 – Fundação da Carris Urbanus (linhas Moinhos, Floresta e Partenon).

24/03/1906 – Da fusão da Cia. Carris de Ferro Porto-Alegrense e da Carris Urbanus nasce a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense.

10/03/1908 – Primeiro bonde elétrico entra em circulação.

1914 – Circula o último bonde puxado a mula.

1926
 – Primeiro ônibus circula em Porto Alegre, de propriedade de Amador dos Santos Fernandes e Manoel Ramirez. A Cia Força e Luz Porto-Alegrense vende suas usinas para a CEERG, criada em 1923, de propriedade do grupo Electric Bond & Share e passa a se chamar Cia Carris Porto-Alegrense.

13/09/1928 – A Carris passa a ser administrada pela empresa norte-americana Electric Bond & Share, integrante do grupo liderado pela General Electric.

1929 – Primeiro Auto-ônibus da Carris entra em circulação, modelo Yellow Coach.

1939-1944 – Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou por vários períodos de racionamento de combustível. Os veículos que necessitavam de óleo e gasolina são obrigados a reduzir suas atividades. O transporte de bondes fica sobrecarregado e a Carris coloca 16 carros reserva em funcionamento, aumentando a frota de 85 para 101 veículos. É também durante o período da Segunda Guerra que grande parte das tripulações da companhia é requisitada pelo Exército. A Carris tenta então contratar mulheres para o serviço de condutor (cobrança de passagem) mas a medida é vetada pelo Ministério do Trabalho do governo Getúlio Vargas.

1952 – Sucessivas greves e o evidente desinteresse dos norte-americanos da Bond & Share em manter o transporte por bondes levam a Prefeitura a intervir na companhia. Assume como interventor José Antonio Aranha, irmão do ministro Oswaldo Aranha.

1953 – Durante uma greve no serviços de bondes da Carris, o músico Lupicínio Rodrigues – que havia trabalhado em 1930 na companhia como aprendiz de mecânico – inspira-se para compor o Hino do Grêmio, cujos versos iniciais se referem à falta do transporte para levar os torcedores até o estádio: “Até a pé nos iremos; para o que der e vier; Mas o certo é que nós estaremos; Com o Grêmio onde o Grêmio estiver”.

29/11/1953
 – Após o período de intervenção, a Prefeitura, na gestão de Ildo Meneghetti,  encampa a Carris, assumindo o controle acionário. Lei 1069, que determina a encampação, é aprovada por 17 votos a dois na Câmara de Vereadores.

1956 – Carris encerra o serviço de transporte por ônibus, transferindo seus veículos para o Departamento Autônomo de Transportes Coletivos (DATC).

1964 – Carris começa a operar sistema de troleibus (ônibus elétricos), inicialmente com cinco veículos e depois com mais quatro. No entanto, problemas de adaptação da voltagem na rede impedem o bom funcionamento do serviço

29/09/1966 –Companhia retoma o transporte por ônibus. Três bondes da Linha Duque são substituídos por ônibus a diesel, iniciando o processo que culminaria com o fim dos bondes elétricos.

19/05/1969 – Circula o último troleibus.

05/06/1969 – Bondes da Avenida Assis Brasil são substituídos por ônibus

26/10/1969 – Linhas Petrópolis e Gasômetro-Escola também trocam os bondes por ônibus

08/03/1970 – Circulam os últimos bondes elétricos nas linhas Partenon, Glória e Teresópolis. Houve solenidade de despedida, à qual compareceram o Prefeito e autoridades. Toda a população pôde viajar gratuitamente. Às 20h30, o último elétrico foi recolhido ao depósito de bondes.

1973 – Em fevereiro, a Carris transfere sua sede para a Rua Albion, na Zona Leste de Porto Alegre.

1974 – Empresa cria a Escola de Motoristas.

1976 – Início da operação das linhas transversais: T1, T2, T3 e T4.

1976-1979 – Implantação dos corredores de ônibus de Porto Alegre.

1977 – Implantação da linha Campus-Ipiranga, ligando o recém-inaugurado Campus do Vale da Ufrgs, com o Centro da cidade, passando também em frente da PUC.

13/10/1980 – Instituída a tarifa única em Porto Alegre. Linhas de ônibus são redistribuídas entre as operadoras do sistema.

1982 – Inicia o tráfego de duas linhas circulares no Centro.

1989 – Criada a linha T5 e  a sala da Memória Carris, na sede da Companhia.

1990 – Em operação a linha T6.

1995 – Implantada a  linha T1 Direta.

1997 – Começa a circular a linha T2A.

1998 – Inicia tráfego da T7.

1999 – Criada a linha T8.

2000 – Inauguradas as linhas T9, T9 IPA e T10.

2003 – Criação da Linha Turismo, com o roteiro Centro Histórico.

14/11/2006 – Carris começa a operar a linha T11 3ª Perimetral, que cruza toda a extensão da mais importante obra viária de Porto Alegre, do Aeroporto Salgado Filho, na Zona Norte, até o Bairro Teresópolis, na Zona Sul da cidade.

2007 – A frota da Carris passa a operar com o sistema de Bilhetagem Eletrônica.

09/08/2007 – Os ônibus da Carris começaram a circular abastecidos por Biodiesel, um combustível menos poluente.

21/06/2008 – Entrega oficial da sede de funcionários da Carris.

19/04/2009 – Instalação das primeiras televisões nos ônibus da Carris.

2010 – Criação de duas linhas sociais para atender grupos escolares e entidades sociais, adesivados com a linha do tempo da Carris.

2010 – Inauguração da linha social Territórios Negros. A linha realiza roteiro histórico sobre pontos da cidade representativos da cultura afro-brasileira.

2011 – Entrega do primeiro ônibus para a linha social Bicho Amigo. Através de parceria com a Secretaria Especial dos Direitos dos Animais. O veículo funciona como clínica itinerante para esterilizações.

2011 – Entrega de mais um veículo para a linha Bicho Amigo. O ônibus transporta animais de famílias em vulnerabilidade social.

11/04/2011 – Institucionalização da Unidade de Documentação e Memória da Carris (UDM).

16/12/2011 – Início da operação da Linha C4 balada segura.

03/09/2012 – Início da operação da Linha T11A.

11/01/2013 – A Carris entrega 13 novos ônibus articulados à comunidade.

26/09/2013 – Carris investe na qualidade de trabalho de seus funcionários e inaugura o terminal T3 e T4 Sul.

22/08/2014 – Carris reforça segurança nos ônibus com a instalação de 1.484 câmeras.

26/11/2014 – A Companhia Carris Porto-alegrense recebe a certificação de Empresa Cidadã, do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro.

09/03/2015 – Carris entrega 50 novos ônibus (35 convencionais e 15 articulados) à população de Porto Alegre.

22/02/2016 – Carris inicia operação das linhas transversais T12, T12.1, T12A e T13.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. laurindo junqueira disse:

    Que lástima! O Prefeito de PAlegre não tem como auditar os custos das empresas privadas para fazer esse tipo de comparação… Além disso, elas não assumem custos (ditos “generalizados” e “externalizados”, pelos economistas sérios). Nós, em Campinas (EMDEC) e em São Paulo (CMTC) alcançávamos índices de desempenho maiores do que os das empresas privadas. Apregoar que as tarifas praticadas pelos privados serão menores do que as alcançadas pelas empresas públicas, não passa de mera ladainha para boi dormir … O que estaria acontecendo com os briosos gaúchos? Renderam-se – todos – ao inimigo que ataca as fronteiras do Direito Público! Cadê vocês, meus irmãos?!

  2. carlos souza disse:

    Deu Mel(da),como diria o Cebolinha.Ok,ele não fala palavrão,mas o trocadilho valeu.O Sr.(im)prefeito Sebosthião Mel(da) era vice de outra gestão criminosa em POA,a do (IN)Fortunatti.Como vice ele e o (IN)Fortunatti tentaram extinguir a Carris e agora o Mel(da) quer extingui-la de vez.A desculpa é a mesma:o poder público e estatal só dá prejuízo à cidade.Quer passar a (falsíssima) ideia do que só existe credibilidade,e,principalmente,legitimidade na iniciativa privada.Só falta entregar o governo à iniciativa privada.Que mentira mais esfarrapada que roupa de pobre.Já vimos esse filme antes e o resultado,ó…a bosthy@ de sempre.Qualidade zero,ética zero,credibilidade zero,legalidade zero….

  3. Emerson Silveira Vargas disse:

    Mas está mais que na cara que quando houve paralisação e os empresários ” tamparam buracos” notaram que são linhas que carregam muitas pessoas e geram lucro. Agora querem tomar conta de tudo.

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