Metrôs da América Latina têm a maior presença de micróbios resistentes

Pesquisadores coletaram amostras nos sistemas de metrô e transporte urbano de São Paulo. Foto: Alexandre Pelegi

Pesquisa analisou 3.741 amostras de corrimões, máquinas de vendas de bilhetes e paredes de estações em 58 cidades ao redor do mundo.

ALEXANDRE PELEGI

Você já deve ter reparado (se não for já um adepto do hábito) naquelas pessoas que carregam consigo pequenos frascos com álcool gel em suas viagens diárias no transporte público.

Mais que um excesso de zelo por limpeza, elas na verdade estão fazendo aquilo que todas as pessoas deveriam fazer para proteger sua saúde.

Locais com grandes aglomerações são ideais para a proliferação de infecções e doenças, principalmente quando o inimigo é impossível de ser visto a olho nu.

Estamos falando de um caso de saúde pública de dimensões mundiais. O Fórum Econômico Mundial (WEF, sigla em inglês) divulgou relatório há dois anos afirmando que possivelmente hoje o maior risco à saúde humana está nas bactérias resistentes aos antibióticos.

Pois saiba que o transporte público na América Latina tem a maior presença de micróbios resistentes, de acordo com recente estudo realizada por uma equipe de 600 pesquisadores em 58 cidades ao redor do mundo.

Os pesquisadores usaram amostras para identificar bactérias, vírus e fungos – conhecidos coletivamente como microbiota – para analisar variações nas características genéticas e na resistência a antibióticos.

Foram colhidas 3.741 amostras de corrimões, máquinas de vendas de bilhetes (ATM) e paredes de estações, a fim de criar um atlas de comunidades urbanas de microrganismos.

Considerado um problema global, a resistência antimicrobiana vem preocupando cada vez mais os gestores de saúde. Estima-se que até 2050 o número de vítimas de infecções associadas à resistência antimicrobiana ultrapasse os 10 milhões ao ano.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu em 2015 uma plataforma de uso global para vigilância da RAM (resistência antimicrobiana), o GLASS (Global Antimicrobial Resistance Surveillance System). O Ministério da Saúde do governo brasileiro se comprometeu a integrar e repassar dados ao sistema.

No estudo, que foi realizado em várias cidades do planeta, foram identificadas 4.242 espécies conhecidas, das quais 1.445 foram detectadas em mais de 70% das amostras, sendo que 61 espécies presentes em mais de 95% das amostras não fazem parte da microbiota humana normal que habita a pele e o trato respiratório, nem o solo.

O levantamento científico foi conduzido por um consórcio de cientistas da África, América, Ásia, Europa e Australásia, e publicado no BioRxiv, uma plataforma de acesso aberto na internet que permite aos estudiosos disponibilizar suas descobertas imediatamente à comunidade científica.

Na América Latina, os pesquisadores coletaram amostras nos sistemas de metrô e transporte urbano de São Paulo, Rio de Janeiro, Bogotá e Santiago. A prevalência de genes de RAM encontrados nesses ambientes foi entre 10 e 20 vezes maior do que nas cidades de outras áreas do mundo.

Rio de Janeiro e Bogotá, por exemplo, tinham 10 vezes mais genes de RAM do que Paris, Baltimore ou Cingapura.

Diante da gravidade dos resultados, fica a sugestão aos gestores e operadores de transporte público do país, a começar pelos trens, metrôs e ônibus das grandes cidades brasileiras: que tal uma campanha constante que, além de esclarecer, estimule os usuários a seguir medidas básicas de higiene?

Pode parecer simplista, mas implementar práticas reconhecidas de prevenção de infecção hospitalar, como manter as mãos sempre limpas, é uma rotina que deveria ser estimulada para todos aqueles que circulam diariamente pelos diferentes modos de transporte público das cidades brasileiras.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Desde 2017 venho acalentando essa idéia de ficar pós catraca, como se fosse um mordomo, com um frasco de alcool gel,,para a turma se tocar…Isso hj em dia é vital…a turma do banheiro lava mal a s mãos seja ele e ela, Pega dinheiro que passa de mão em mão, que toca celular, que cumprimenta, que beija, que coça ali, aqui acolá….já viu né? Agora se vier o mototáxi, quem vai acepciar o capacete,,,piolho é fácil de pegar.

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