Aumento em mortes no trânsito desafia gestão Doria

Foto: ilustração Número de mortes de ciclistas foi o único que aumentou em 2017 no trânsito da capital.

Mortes aumentaram 7% em março em comparação ao mesmo período do ano passado; atropelamentos subiram 50%

ALEXANDRE PELEGI

O prefeito João Doria elegeu como bandeira de sua administração o aumento das velocidades nas Marginais Tietê e Pinheiros. A percepção da população a partir daí foi a de que a velocidade do automóvel não necessariamente implica em aumento da acidentalidade nas vias. Dentre vários especialistas que contestam essa percepção está o diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Dirceu Rodrigues Alves Junior, que afirmou ao jornal Folha de SP: “um achólogo vem e fala que o aumento de velocidade nas marginais não influencia no número de mortes por acidente. Isso é um absurdo, um despreparo. É necessário que as autoridades obedeçam o que a ciência e a física comprovam em estudos de anos, e não focar em achismos”.

Os dados do Infosiga também começam a contestar a pretensa convivência pacífica entre aumento de velocidade e redução de acidentes. O banco de dados do Governo Estadual anunciou ontem que o número de vítimas fatais no trânsito da capital aumentou no último mês de março em comparação com o mesmo período de 2016. Se em março de 2016 foram registrados 81 óbitos, em 2017 este número subiu para 87, alta de 7%.

Antes de assumir, o secretário de Transporte e Mobilidade de São Paulo, Sérgio Avelleda, afirmou que iria retomar as ações exitosas do Programa de Proteção ao Pedestre, realizadas na gestão Kassab e interrompidas na gestão Haddad. Pois bem: outro desafio. Os dados do Infosiga também revelam que a violência no trânsito afetou mais para quem caminha pela cidade: o atropelamento foi o tipo de acidente mais comum, com 43 mortes, alta de 50% em relação a março de 2016.

Os motociclistas vêm em seguida como as grandes vítimas, com 27 mortes só no último mês. A bicicleta teve quatro vítimas, o dobro do registrado em março do ano passado.

Quando se analisa o agregado do primeiro trimestre vê-se que 221 pessoas já morreram no trânsito da capital paulista neste ano. Pior: os dados do Infosiga sinalizam uma perigosa tendência de aumento no número de mortes, mês a mês. Em janeiro: 60 vítimas fatais; fevereiro: 74; Março: 87.

Ciclovias como alvo

Enquanto o transporte ativo – pedestres e ciclistas – conforma o segmento mais vulnerável do trânsito da capital, segundo indicam os dados do Infosiga, a gestão João Doria anuncia mudanças nas ciclovias implantadas pelo ex-prefeito Haddad. Essas mudanças, na prática, resumem-se a remanejamentos e troca de parte das pistas exclusivas por ciclorrotas. Ou seja: ao invés da separação das bicicletas do restante do tráfego, os ciclistas irão se misturar ao tráfego de carros.

A Vila Prudente é o primeiro alvo dessa nova mentalidade, e a proposta de alteração deve ser apresentada ao prefeito regional e aos ciclistas. Outra ciclovia que deverá ser radicalmente alterada é a da rua da Consolação, no centro da capital. Para o secretário Avelleda, que também é ciclista, esta ciclovia é “extremamente arriscada na descida”.

A retirada da segregação das bicicletas será acompanhada com medidas como sinalização, velocidade reduzida e lombofaixas. Isso, Avelleda garante, permitirá uma melhor convivência com os demais veículos.

Mas o “ciclista-secretário” terá de dialogar muito com os “ciclistas-ativistas”. Ouvido pelo jornal Folha de SP, Rene Fernandes, da Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de SP), afirmou que “seria um retrocesso” a diminuição das ciclovias. Para Renê, as ciclovias são a “única garantia” de segurança dos ciclistas, ao passo que as ciclorrotas “só seriam efetivas se forem acompanhadas de medidas eficientes de redução do limite de velocidade e mecanismos de acalmamento do trânsito”.

Como Avelleda garante que só implantará as ciclorrotas em lugar de algumas ciclovias somente após as medidas apontadas por Rene Fernandes – sinalização, velocidade reduzida e lombofaixas, para ‘acalmar o trânsito’ –, não há motivos para o diálogo não prosperar. O que seguramente poderá atrapalhar o diálogo com os ciclistas (e com as associações de pedestres, que reclamam seguidamente da ausência de programas consistentes para melhorar a segurança e o conforto de quem caminha na cidade), são justamente os dados do Infosiga. Até aqui estes dados demonstram que, apesar de todo o discurso da atual gestão, a violência do trânsito paulistano, que vinha caindo, voltou a subir sem trégua.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Emerson Cavalcanti disse:

    Tudo indica que o aumento de velocidade foi uma medida eleitoreira, como muitos candidatos gostam de adotar, indepentende de partido. Junto como a manutenção do valor da passagem de ônibus, estas políticas estão causando mais problemas do que ajudando. Infelizmente, precisaremos ainda de muitas outras mortes para, quem sabe, serem revistas as políticas voltadas para o trânsito na capital. O prefeito, neste caso, não irá querer assumir o grande erro que foi esta promessa durante sua campanha. E vale uma ressalva, não é exclusividade dele ou deste partido, mas de uma grande parte de nossos políticos a capacidade de ignorar o que especialistas dizem sobre trânsito. A melhoria do trânsito deveria ser uma ação conjunta das esferas municipal, estadual e federal. Os índices de mortes no Brasil, como um todo, são assustadores.

  2. Marcos disse:

    Mas o aumento da velocidade foi só nas marginais não foi? E a violencia no trânsito foi aumentada em toda a cidade…entao não foi a culpa do aumento da velocidade nas marginais que causaram esse aumento e sim imprudencia e falta de fiscalização…..encheram a cidade de radar para pegar excesso de velocidade e reduziram os guardas de trânsito que pegam outras situações, como trafegar sem dar setas, dirigir bêbado……motoqueiros andandando na calçada, carros andandando na ciclofaixa e motoristas recem habilitados subindo em cima da calçada…motoqueiros empinando suas motos, tem de tudo….o que esta faltando são guardas de transito que multem essas infrações e não só velocidades…..esses dias presenciei uma motoqueira foi querer passar entre um caminhao e um onibus na via Anchieta, no trecho urbano…a mesma perdeu equilíbrio e entrei embaixo do caminhao e a roda passou por cima…….poderiam proibir o corredor e multar como infração grave…..são varios fatores e que falta e quer resolver o problema…

  3. Realino disse:

    João Doria prefeitinho de Sampa tropeça nos seus 4 primeiros meses de GESTÃO RESPONSÁVEL!!!!
    A vida dos indivíduos não tem valor!!! Será?

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