OPINIÃO: A quem interessa a desinformação ?

 

Francisco Christovam (*)

 Em meados de março, a imprensa noticiou uma informação vazada pelo Tribunal de Contas do Município de São Paulo – TCM sobre irregularidades contratuais praticadas por dois consórcios de empresas que operam o sistema de transporte por ônibus em São Paulo. A notícia ganhou destaque não pelo conteúdo da análise realizada pelos técnicos da mencionada Egrégia Corte de Contas do Município; mas, pelo valor de R$ 1 bilhão que, segundo a decisão dos Conselheiros do Tribunal, deverá ser devolvido aos cofres públicos pelas empresas que compõem os dois consórcios.

 

No começo de abril, mais um jornal de grande circulação, em seu editorial, também repercutiu a decisão do TCM, inferindo considerações e conclusões sobre os contratos e sobre as empresas operadoras de ônibus. Infelizmente, o texto se baseia unicamente nas análises e ilações feitas e não na realidade dos fatos.

 

Começa o editorial falando do alto custo da prestação dos serviços e dos subsídios que não param de aumentar, sem mencionar que o custo operacional está diretamente relacionado às condições da infraestrutura (estado do pavimento, espaçamento entre pontos e abrigos e tempo de abertura dos semáforos) e do nível de congestionamento das vias por onde circulam os ônibus. Por outro lado, o montante do subsídio aumenta na exata proporção das gratuidades concedidas aos usuários e não para cobrir ineficiência das empresas.

 

Com relação às principais irregularidades apontadas pelo Tribunal e comentadas pelo editorialista vale destacar que as empresas operadoras, em atendimento ao contrato firmado em 2003, montaram seus respectivos Centros de Operação da Concessionária – COC. Entretanto, as concessionárias não puderam investir nos terminais de integração porque a São Paulo Transporte S/A – SPTrans manteve-os sob sua gestão, até meados de 2015, não repassando nenhuma remuneração a esse título. Somente a partir dessa data e por meio de aditivo contratual, as empresas assumiram a responsabilidade pela limpeza, segurança e administração dos terminais, cujos serviços vêm sendo sistematicamente elogiados pelos usuários desses equipamentos.

 

Com relação à renovação da frota, as empresas vêm substituindo os seus veículos com mais de dez anos de uso, mesmo com os sucessivos adiamentos do processo licitatório que as deixam sem saber qual tipo de ônibus adquirir. Os veículos que superaram a vida útil prevista não são mais depreciados na planilha de custo e, quando necessário, passam a fazer parte da chamada “reserva técnica” das empresas para, em situações emergenciais, como vandalismo e incêndios criminosos – não raros – dos ônibus, substituir os veículos aptos à operação.

 

Quanto ao pagamento dos tributos e encargos sociais incidentes na prestação dos serviços, as empresas são obrigadas, por força de contrato, a apresentar, regularmente, documento de comprovação da sua situação tributária perante os fiscos municipal, estadual e federal.

 

Vale lembrar que a empresa Ernest & Young entregou à SPTrans, no final do ano de 2015, um relatório de auditoria que produziu, após oito meses de intenso trabalho, examinando, à exaustão, lançamentos e resultados contábeis, bem como procedimentos operacionais e questões relacionadas à gestão das frotas e das instalações fixas das empresas concessionárias e das permissionárias, desde 2003. O relatório apresenta algumas sugestões de melhoria da gestão dos contratos; mas, não aponta nenhuma das irregularidades mencionadas na análise do TCM.

 

Assim, trocando em miúdos, para plagiar o editorialista, as empresas procuram cumprir, religiosamente, suas obrigações contratuais e buscam prestar o serviço com a melhor qualidade possível, apesar do ambiente em que trabalham e das condições que lhes são oferecidas. A maioria delas, é bom que se diga, não é e não está sob a responsabilidade das empresas operadoras.

 

Por outro lado, dizer que as empresas operadoras mantém com a Municipalidade uma relação contratual cheia de irregularidades é sugerir que a administração pública, por meio da São Paulo Transporte – SPTrans, não está realizando a gestão desses contratos de maneira eficiente, rigorosa e responsável.

 

Por derradeiro, antes de alardear números e situações que só tem o objetivo de denegrir a imagem das empresas e de criar instabilidade jurídico-administrativa, há que se buscar nas instituições e nos órgãos de fiscalização, bem como nos formadores de opinião, um mínimo de compromisso com a realidade dos fatos, sob pena de se enveredar pelo mundo das inverdades e do descompromisso com a informação crível e correta.

 (*) Francisco Christovam é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo – SPUrbanuss. É, também, vice-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo – FETPESP e da Associação Nacional de Transporte Público – ANTP.

Comentários

Comentários

  1. João Luis disse:

    Parabéns a SPURBANUSS, pois tem a coragem de vir a público e mostrar a realidade dos fatos
    Essa imprensa(*) (marrom) e sensacionalista vive de matérias que lhe rendam audiência
    Muitas vezes faltando com a verdade por desconhecimento e até mesmo por interesses
    Temos que combater esse tipo de notícia, só que infelizmente muitas pessoas não atentaram para o fato que hoje são as empresas de ônibus e amanhã podem ser outras as categorias que serão execradas por parte da imprensa.

  2. JOAO LUIS GARCIA disse:

    agora que o ví obrigado

  3. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite.

    Li e reli, mas ainda tenho uma duvida.

    Qual e a realidade dos fatos ??

    Ate hoje nao entendi o que a auditoria independente fez e qual o seu conteudo.

    O trabalho da Auditoria nao se confunde com o trabalho do TCM, principalmente por um ser privado e o outro publico.

    Continuamos desinformados, mas uma coisa e certa, buzao em Sampa da lucro.

    Att,

    Paulo Gil

  4. João Luís Garcia disse:

    Engraçado como esse BLOG só posta aquilo que lhe convém
    Cadê o comentário feito pela minha pessoa no dia de ontem
    Cada vez mais me decepciono com a imprensa

    1. Dá para esperar, caro INTERNAUTA?
      Ontem estivemos numa cobertura e estamos aos poucos aprovando o material de ontem.
      Essa mania de perseguição a alguns personagens do setor já ficou chato….

  5. MARCOS NASCIMENTO disse:

    O Sr. Francisco Christovam foi um dos melhores presidentes que a estatal CMTC teve e saindo do setor público encontrou um espaço dentro do setor privado na presidência do sindicato das empresas de ônibus, posto antes que era ocupado por muitos anos pelo saudoso José Sérgio Pavani, proprietário da empresa TUPI uma das mais antigas da cidade de São Paulo e que sobreviveu ao longo dos anos com o festival de extinção de empresas que ocorreu em 1978, 1998 (na época do Pitta) e 2003 (já na época da MarTaxa Suplício) que implantou o Interligado regularizando o serviço pirata dos perueiros que passaram a ser denominados de cooperativas de ônibus e hoje e desde 2015 foram promovidas à empresas de ônibus pelo ex-prefeito Fernando Malddad. Agora que são empresas o que não dá para entender é esta quantidade de micros & micrões em muitas linhas onde deveriam ser necessários apenas Ônibus. Lembro que SÃO PAULO já teve apenas ônibus no serviço, isso foi em 1996 quando a cidade tinha 54 empresas de ônibus individuais (não existiam estes horríveis consórcios) e a soma da frota era de 11.951 ônibus. Na época existia apenas o Bairro a Bairro que era um serviço à parte operado pelas atuais cooperativas e que também em sua maioria tinham somente Ônibus com um total de 795 ônibus. Hoje os ex-perueiros 21 anos depois tem quase 6.000 veículos e as empresas (a maioria dentro de consórcios) somam quase 9.000 ônibus.Se fossem apenas ônibus seriam algo pouco superior a 12.000 ônibus ou seja basicamente a mesma quantidade de frota que existia há 21 anos atrás quando o sistema tinha 11.951 ônibus.

  6. Gilberto disse:

    Esse editorial está cheio de chavões , e coloca a sutilmente empresa de fiscalização em dúvida (sp Trans), como que querendo , colocar em dúvida se a empresa faz um serviço adequado . Olha em minha opinião , de usuário de transporte público, que existe um problema de honestidade nessas empresas ninguém duvida.

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