OPINIÃO: Rio de Janeiro e perda de passageiros de ônibus – uma lição para outras cidades

Ônibus alimentadores em terminal de BRT. Racionalização de linhas espantou passageiros, dizem especialistas

Viações e prefeitura dizem que o motivo foi a crise econômica e obras que deixaram o trânsitp ruim, mas metrô e trem registraram aumento de demanda. Supressão de linhas espantou passageiros

ADAMO BAZANI

Todo candidato, todo gestor, todo especialista em transportes ou mesmo aventureiro quase que de forma unânime dizem que melhorar um sistema de transportes significa eliminar sobreposições de linhas e criar sistemas tronco alimentados.

É verdade. Isso faz com que os transportes sejam mais dinâmicos, com custos menores e atendendo a mesma quantidade de pessoas ou até mais. Os BRTs bem elaborados são exemplos disso.

No entanto, supressão de linhas e criação de sistemas em que os atuais trajetos são cortados por serviços troncais, principalmente de ônibus BRT, devem ser feitas com cuidado e critério técnico.

Se for só buscar redução de custos e aumentar lucro de dono de empresa de ônibus, pode ser um verdadeiro tiro n’água.

É justamente isso que o sistema de transporte de ônibus do Rio de Janeiro tem vivido.

Matéria divulgada nesta semana pelo jornal O Globo mostra que enquanto o número de passageiros de ônibus teve uma redução de quase 50 milhões de pessoas entre janeiro e setembro de 2015 e o mesmo período de 2016, passando 969 milhões de embarques nos coletivos municipais para 920 milhões, o número de passageiros de metrô subiu no mesmo período de 7,5 milhões para 8 milhões e dos trens da SuperVia de 5,8 milhões para 6 milhões.

A Prefeitura do Rio de Janeiro, responsável pelo gerenciamento dos serviços, e as empresas de ônibus atribuem a queda do número de passageiros à crise econômica brasileira.  As viações ainda acrescentam que a piora do trânsito por causa das obras das Olimpíadas também contribuiu para a queda.

Com mais desemprego, menos pessoas usam serviços de transportes para se deslocar.

No entanto, a crise não afetou o trem e o metrô?

Será que no Rio de Janeiro o problema está mais em relação à concepção do sistema e à qualidade de serviços do que propriamente dito à suposta causa da crise?

É o que apontam os especialistas que foram ouvidos pela reportagem e também, claro, os passageiros.

Para se ter uma ideia, em outubro de 2015, as linhas municipais sofreram transformações radicais. Foram extintas 51 linhas, criadas outras 25 no lugar e 26 tiveram trajetos encurtados.

Diversos passageiros deixaram de utilizar os ônibus e preferiram caminhar um pouco mais até o metrô e o trem.

O problema disso para as empresas de ônibus é que muitas dessas pessoas adquiriram o hábito e mesmo que uma linha semelhante à extinta seja criada de novo, muita gente não vai voltar mais consumir o serviço desta viação.

Além disso, a violência mais proeminente nos ônibus do que no metrô e trem tem espantado passageiros.

De acordo com o Instituto de Segurança Pública, houve 1433 assaltos a ônibus de janeiro a março deste ano contra 1183 no mesmo período de 2015 – alta de 17%. As autoridades de segurança devem se mexer também para oferecer o mínimo esperado por aqueles que andam de ônibus.

ENXUGAMENTOS POUCO INTELIGENTES:

Para determinar a preferência de um usuário a um determinado meio de transporte ou mesmo do transporte individual para o transporte coletivo, deve-se oferecer praticidade, rapidez, comodidade e segurança para os passageiros.

É muito interessante que as pessoas deixem os sistemas de transporte sobre pneus para os trilhos, isso porque, os trilhos são mais rápidos, mais confortáveis e trazem um impacto para redução do trânsito maior do que sistemas de ônibus.

Mas o que se vê no Rio de Janeiro é que as pessoas optaram pelo trem ou metrô porque com as tais racionalizações, parte dos serviços de ônibus ficou ruim, deixando de ser uma opção.

O ônibus deve ser bom ou ótimo porque por melhor que sejam os trilhos, não dá para levar linhas de metrô e trem para toda a parte, tanto pelo custo e tempo maior para implantar sistemas metroferroviários como pela impossibilidade técnica em diversas regiões. É outra ilusão achar que Metrô é a solução para tudo.

Enquanto uma cidade fica comemorando ou lamentando a migração entre formas de transporte coletivo, o trânsito continua sendo um dos grandes problemas.

Quem usa carro não se sente estimulado a fazer viagens de ônibus ou por meio de sistemas e trilhos. Assim, o que há mais é troca de ônibus pelo metrô e, em São Paulo, em muitos casos, o inverso. Mas do carro para o ônibus, do carro para o metrô ou, o mais ideal, do carro para o transporte coletivo integrado, ainda os avanços são quase nulos nas cidades brasileiras.

O Rio de Janeiro tem de ser uma lição neste aspecto para ser aprendida, porém não replicada.

Na hora de se fazer racionalizações dos sistemas, é necessário ter inteligência e, acima de tudo, pensamento para o coletivo e para uma malha de transportes que satisfaça os cidadãos.

Reduzir apenas para aumentar lucro do empresário faz mal para todo mundo: para os passageiros, para o gestor e para o próprio empresário.

— Eu passei a usar o metrô porque, de uma hora para outra, fiquei perdida no meio de tantas mudanças — conta a publicitária Fernanda Assumpção, que usava a linha 413 (Muda-Leblon), que virou 213 (Muda-Castelo).

Já a aposentada Odete Ramos Batista, que mora em Vila Isabel, afirma que o tempo de espera depois das mudanças dos ônibus aumentou.

— Quando estou com pressa, não fico no ponto esperando. Pego um táxi até o metrô e de lá sigo para a Zona Sul — diz a aposentada.

— O usuário quer praticidade. Se a mudança o prejudicou, ele vai procurar uma saída o mais rapidamente possível para que sua mobilidade não seja alterada — diz Edmilson Varejão, pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da FGV. — Em muitos casos, não adianta voltar a atrás depois que o passageiro se acostumou à nova realidade. – são alguns dos exemplos citados na reportagem.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Marcos Paulo disse:

    Aqui em Sampa nao é diferente, seccional linhas troncais bem demandadas jogando os passageiros em linhas troncais que nem Brt sao, superlotadas….um passageiro que saia do extremo da cidade pegava no maximo 2 onibus, para ir hoje pega 4 e se somar o tempo de espera dessas baldeaçoes, o passageiro gasta 40 minutos so pra trocar de onibus…..sendo assim houve apenas reducao dos intervalos nas linhas troncais principais……o tempo que se ganha nela perde-se na espera e baldeaçao para as linhas alimentares….deixando as viagens mais demoradas…. pois muitas vezes forma 3 ou 4 filas para embarcar na conduçao…….sendo assim, em sao paulo a baldeacao tem apenas por objetivo reduçao de custos para as empresas tendo como meta a redução dos subsidios…….pouco se importando com os passageiros…..um absurdo…

  2. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia.

    O buzão não atrai o passageiro, espanta.

    BRT de Sampa, alguém acha que o passageiro está errado ???

    Buzão operado assim já era em qualquer planeta.

    https://www.youtube.com/watch?v=O.yDPcHRc0Ek

    Att,

    Paulo Gil

  3. por mais modernos que sejam os veiculos de hoje, o conforto é minimo, escadas, piso baixo x biso alto no mesmo veiculo, bancos espremidos, altos com degraus , barulhentos, sem ar, motoristas mal preparados, paradas em desnivel, asfalto então não da nem pra contar, tem alguns pontos que o veiculo novo chega ao seu terminal parecendo uma broca de tanto que a carroceira torceu. Então desse jeito, usamos onibus somente por falta de opção.

  4. Daniel Duarte disse:

    Se contar a quantidade de pessoas que adentram os BRTs do Rio e não pagam passagem, acredito que o número de passageiros deva ser bem maior, mas deram brexas para os espertos, agora estão aí os números.

  5. Rafael disse:

    A reportagem ignora o fato que o transporte do Rio ganhou uma nova linha de metrô (justamente na zona sul e Barra da Tijuca, onde as linhas de ônibus foram cortadas) e outra de VLT (à qual as linhas foram integradas no centro). Também não considera o fato do sistema Supervia ter recebido acréscimo de passageiros pela integração ao novo BRT TransOlímipico (afora o próprio fluxo anormal trazido pela Olimpíada nesse modal). O crescimento do metrô, aliás, é pífio diante do investimento que foi realizado.

    Os sistemas de transporte perderam passageiros nacionalmente e isso já foi noticiado nesse site, inclusive. Analisar a situação do Rio e atribuir a queda a uma racionalização supostamente malfeita é ignorar que houve avanço da multimodalidade.

  6. Eduardo ALves disse:

    Esses problemas que os ônibus estão enfrentando na região de Sapopemba se deve as obras do Metro, por isso a PMSP teve que realizar desvios no trânsito, porém, como vimos, só pegaram o mapa e traçaram o trajeto do desvio, sem ter ido ao local para conferir se seria possível o trafego de ônibus no local. Como vimos, não é viável qualquer tipo de ônibus por esse desvio.

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