FRETADOS NO CONTEXTO DA MOBILIDADE URBANA

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Claudinei Brogliato, presidente da Fresp, (de camisa branca) e José Boiko, presidente da Expresso Line Tour (de camisa esverdeada) dizem que São Paulo errou ao restringir os fretados e que regulamentar os serviços não é apenas proibir e sim organizar e incluir o fretamento num plano amplo de mobilidade. Conversa com candidatos a prefeitura é esperança. Foto: Cláudio Lopes / Eduardo Pinto

Falta coerência nas administrações públicas ao não possibilitar fretados
Setor ainda se ressente de medida da administração de Gilberto Kassab que restringiu a circulação dos ônibus de fretamento. Empresários discutiram com candidatos medidas para preparar a cidade de São Paulo para demanda maior
ADAMO BAZANI – CBN

Às vésperas de eventos mundiais de grande porte, como a Copa do Mundo de 2014, que vai aumentar a circulação de grupos de turistas não só para verem os jogos de futebol, mas para conhecerem a cidade; e numa situação na qual o trânsito e a poluição deixam a qualidade de vida em patamares insustentáveis, a administração municipal de São Paulo não sabe tirar proveito dos benefícios que o transporte coletivo de passageiros por fretamento pode trazer se ele, logicamente, for bem organizado e operado com responsabilidade e competência.
O assunto foi recorrente na 13º Encontro da Fresp – Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo, realizado no último final de semana no Guarujá, Litoral Paulista, e que teve cobertura do Blog Ponto de Ônibus e do Canal do Ônibus.
Os empresários querem que o poder público da Capital Paulista corrija o que, no mínimo, pode ser considerado um erro da prefeitura que em vez de organizar o serviço de ônibus fretado decidiu escolher o caminho mais fácil ao simplesmente proibir a circulação dos veículos de transportes coletivos em 2009.
Apesar de entre 2010 e 2011, o setor ter apresentado crescimento de 5% e de este ano ter uma estimativa de fechar com elevação de 3% nos negócios, de acordo com o Transfretur – (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros por Fretamento e para Turismo de São Paulo e Região), o golpe dado pela administração de Gilberto Kassab fez com que muita gente deixasse o ônibus fretado e voltasse para o carro de passeio. Uma parte menor decidiu usar transportes públicos
Em 2009 , eram transportados 370 mil passageiros em veículos fretados por dia em São Paulo e Região Metropolitana. Depois da restrição, o número caiu para 250 mil pessoas. A demanda deve crescer nos próximos anos para 330 mil passageiros.
No mínimo uma questão de falta de coerência em relação à tão propagada mobilidade urbana cujas políticas precisam tirar carros em excesso das ruas e ao mesmo tempo oferecer alternativas para os cidadãos se deslocarem.
FRETAMENTO É TRANSPORTE PÚBLICO OU PRIVADO?

Para o presidente da Fresp, Claudinei Broglitato, as administrações públicas não levam em consideração as vantagens do serviço de fretamento e até confundem suas características com as dos serviços comuns.
“Nós somos transporte privado, mas na hora de fazer a legislação, aí nós somos transporte público. Na hora de cobrar, somos transporte público , mas somos privados e o poder público confunde muito isso. Ele quer mandar no setor privado de tal jeito que não há condições. Isso ocorre por erro mesmo deles (do poder público)” – disse Claudinei.
Ele concorda que o transporte de passageiros por fretamento tenha regras de operação dos ônibus, inclusive com definições de rotas e pontos de embarque e desembarque. Mas para o executivo, uma coisa é organizar e outra é simplesmente proibir.
Com um crescimento no setor de turismo e na expectativa de eventos como Copa do Mundo, a circulação de ônibus de fretamento eventual, ou seja, que não são de linhas fixas, mas que atendem a demandas e trajetos que variam, é vítima de um burocrático sistema de liberação de autorizações que engessam o tráfego de veículos, mesmo em locais onde ocorrem problemas como enchente e acidentes.
“Ele (Gilberto Kassab) quis fazer uma coisa no contínuo que afetou o turismo. Tem de pedir autorização até um dia antes e até o meio dia. Isso não existe em país nenhum do mundo, em lugar nenhum. Ele pegou o contínuo (tipo de fretamento diário) e atirou no eventual, no turismo. Se você entrar com pedido, você consegue, mas a Prefeitura não tem controle nenhum disso aí. É só papelada, papelada, não tem estatística, nada. Prá que foi feito isso? Prá nada! Se você precisa desviar de uma rota, por causa de um acidente, é multa. Só serve para isso, para arrecadar dinheiro” – destacou o presidente da Fresp.
O diretor-executivo do Transfretur, Jorge Miguel dos Santos, diz que a prefeitura errou ao proibir os fretados, mas que o baque serviu para o setor se organizar ainda mais.
“O impacto não foi bom. Houve perda de negócios e depois dos primeiros meses, o trânsito nas regiões de onde os fretados foram tirados não melhorou, em alguns casos houve até piora. A restrição foi um diagnóstico errado do problema de trânsito e diagnóstico errado acaba com remédio errado. Foi uma análise mal feita. Mas serviu para o setor se unir, se profissionalizar e até dialogar mais com o poder público” – disse Jorge Miguel dos Santos.
O presidente da empresa Expresso Line Tour, José Boiko, diz que o ônibus fretado deve entrar nos planos de transportes e trânsito, inclusive no atual contexto da Lei de Mobilidade Urbana.
“O ramo de fretamento está para somar, para ajudar a mobilidade urbana e é este o trabalho que nós estamos desempenhando. Ainda existem autoridades que não entenderam o objetivo das empresas de fretamento, ou seja, tirar o carro da rua. E tirar com profissionalismos” – informou Boiko.
Para o diretor-presidente da Ipojucatur, Silvio Tamelini, o fretamento é opção justamente para o passageiro que dificilmente usaria o transporte público.
“Anteriormente, o transporte fretado veio para suprir uma lacuna deixada pelos serviços de transportes públicos. As fábricas cresciam, aumentavam os turnos, inclusive os de madrugada, e os transportes públicos não acompanharam todo esse processo. Hoje, mesmo com a rede maior de serviços públicos, há carências ainda. Mas o público principal do fretado é o que usaria carro de passeio. Não é só ajudar o empresário, que pensa claro em seu negócio, mas aproveitar esse serviço para bem da cidade” – disse Silvio Tamelini.
Um estudo de caso, coordenado pela própria Fresp, dá o exemplo do fretamento para transporte de funcionários de uma empresa apenas: a Mercedes Benz, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
De acordo com o levantamento, se os trabalhadores hoje transportados em fretados fossem para o serviço de carro, a emissão anual de gás carbônico subiria das atuais 5,2 mil toneladas para 19,7 mil, ou seja, 14,5 mil toneladas a mais de poluentes no ar.
Um ônibus fretado, dependendo do porte e do tipo de serviço, transporta o mesmo que 40 carros de passeio transportariam.
Usando o exemplo da fábrica da Volkswagen em Resende, no Rio de Janeiro, o consumo de energia se todos os trabalhadores deixassem de ser transportados em fretados e fossem de carro, subiria de 2,4 TEP – toneladas equivalentes de petróleo por dia para 15,9 toneladas.
REUNIÃO COM OS CANDIDATOS À PREFEITURA DE SÃO PAULO
Com base nestes dados e na necessidade de São Paulo se preparar para o aumento do número de turistas que deve ocorrer nos próximos anos é que o setor reuniu os principais candidatos a Prefeitura de São Paulo para discutir a necessidade de novas legislações mais abrangentes e menos restritivas para os serviços.
“A cidade e toda a região metropolitana precisa de flexibilização na legislação, mas não só isso. Precisa de estrutura também. Pontos de parada, bolsões para os ônibus serem guardados, definição clara das rotas e alternativas, não queremos que só permita o fretado e pronto. Estamos dispostos a sentar e conversar, ceder no que for possível. Os candidatos nos receberam muito bem. Espero que a discussão avance” – disse Claudinei Brogliato, proprietário da Susantur e presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo.
MEIO AMBIENTE:

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Antônio Gaspar de Oliveira, Consultor Ambiental da Fresp, coordena o programa de sustentabilidade da entidade. Para ele, investir no meio ambiente é respeitar a vida, mas também trazer maior lucratividade e visibilidade para o negócio. Foto: Cláudio Lopes / Eduardo Pinto

Se o transporte coletivo já traz vantagens ambientais ao contribuir para a diminuição do excesso de veículos de passeio nas ruas, as companhias de ônibus dizem que podem fazer mais.
Algumas empresas do setor aderiram, de forma espontânea, o Programa Fresp Ambiental, pelo qual a Federação fornece aos empresários, orientações de como conduzir os negócios de forma eficiente e aumentar a lucratividade diminuindo os impactos no meio ambiente.
“Quando se fala em ônibus, logo se pensa na poluição durante a operação. Mas as práticas ambientais começam nas garagens. Por exemplo, a manutenção e a limpeza dos veículos também geram resíduos, como óleo lubrificante, tinta e outros materiais que degradam o meio ambiente. Nosso papel é mostrar que todos têm responsabilidade quanto à preservação do planeta, pois tratar mal o planeta é tratar mal a si mesmo.” – explicou Antônio Gaspar Oliveira, consultor ambiental da Fresp.
Ele disse que, apesar de haver legislações ambientais, parte do empresariado é resistente às práticas que podem contribuir para uma melhoria das questões relacionadas com a natureza. No entanto, ele ressalta que hoje uma empresa que investe em práticas de sustentabilidade tem maior visibilidade no mercado e retorno financeiro.
“Para lavar um ônibus, são gastos 500 litros de água. Se o empresário investir num sistema de reuso de água, ele vai acabar tendo uma boa lucratividade. O que ele vai economizar em água, com o tempo ele paga a máquina e o custo de lavação será com certeza bem menor. Além disso, muitas empresas de diversos setores tentam certificações como ISO 14001 (meio ambiente) e outras. Tais certificações exigem que os prestadores de serviços, o que inclui os fretados, também tenham boas práticas ambientais. Assim, se não se atualizar nessa questão da sustentabilidade, muito dono de ônibus pode perder cliente” – complementou Antônio Gaspar de Oliveira.
Várias empresas já têm iniciativas que as qualificam como respeitadoras do meio ambiente.
“Nós somos a única empresa do ramo no País que neutraliza o carbono que emite. Fazemos relatórios anuais das emissões e realizamos a conservação e plantio para captação de carbono numa APP – Área de Preservação Permanente, além de termos outras práticas que nos resultam em bOa imagem, negócios e na sensação de fazermos nossa parte” – explicou Danilo Tamelini, diretor da Ipojucatur.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Comentários

Comentários

  1. Hamilton disse:

    A prefeitura de São Paulo tira os ônibus para dar mais espaço para os carros, criaram algumas linhas para disfarçar a tirada dos fretados más já desativaram todas. e paulistano que não tem carro além de pagar pela passagem mais que 1 litro de gasolina tem que pegar 2,3,4 conduções para chegar ao seu destino.

  2. Gustavo Cunha disse:

    Boa noite.

    Quem usa fretado, somos apenas nós, reles mortais.

    Porque, quem usa helicóptero se preocuparia conosco ?

    Torçamos pelo retorno da coerência e do bom senso.

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