Eletromobilidade

“Projeto para seduzir o passageiro e dar orgulho a quem usa o coletivo”: bonde elétrico sobre pneus é tema de debate na Arena ANTP 2025

 

Painel reuniu Gilson Santos, da AMEP,  o consultor Sérgio Avelleda e o vice-presidente da ANTP, Cláudio de Senna Frederico, para discutir o BUD – Bonde Urbano Digital, modal elétrico sobre pneus que o Paraná testará em corredor de 10 km entre Piraquara e Pinhais

ALEXANDRE PELEGI

“O BUD é um projeto para seduzir o passageiro e dar orgulho a quem usa o coletivo.”

A frase do consultor Sérgio Avelleda, ex-secretário de Transportes da cidade de São Paulo, marcou o tom do painel que discutiu o Bonde Urbano Digital (BUD) — novo veículo elétrico sobre pneus desenvolvido pela chinesa CRRC — durante a Arena ANTP 2025, em São Paulo.

O debate destacou o potencial do modal para revalorizar o transporte público, aliando sustentabilidade, conforto e imagem positiva. O Governo do Paraná será o primeiro a testar o sistema em um corredor de 10 quilômetros entre Piraquara e Pinhais, com trecho autônomo e guiagem magnética no asfalto.

Gilson Santos: “Um projeto embrionário e simbólico”

O presidente da Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná (AMEP), Gilson Santos, apresentou o projeto como um marco pioneiro para o Estado e para o país. “É um veículo inovador, uma junção do ônibus com o VLT. Tem a capacidade de um trem leve e a versatilidade de um ônibus”, disse.

Segundo ele, o custo de implantação é cerca de um terço do valor de um VLT tradicional, com prazo menor e menos impacto de obras. “Não precisa de trilhos nem de segregação total da via, o que reduz custos e acelera o cronograma”, afirmou.

O projeto-piloto será implantado em uma linha de 10 km, com terminal e oficina em Piraquara e cooperação de universidades para avaliação independente. “Piraquara tem 98% do território em área de manancial e fornece 85% da água de Curitiba. Queremos conciliar inovação e preservação ambiental”, completou.

Avelleda: “Projeto para seduzir o passageiro e dar orgulho a quem usa o coletivo”

Para Sérgio Avelleda, o BUD representa uma oportunidade de reconquistar a confiança do público e mudar a percepção sobre o transporte coletivo. “O BUD junta a flexibilidade do ônibus à atratividade do VLT. É rápido de implantar e, sobretudo, um projeto para seduzir o passageiro e dar orgulho a quem usa o coletivo.”

O consultor criticou a falta de estratégia de comunicação no setor: “Acabou o tempo do usuário cair por gravidade. Nós não comunicamos o transporte público. Nenhum centavo é gasto para mostrar que andar de ônibus é bom. É preciso mostrar que o coletivo é moderno, limpo e eficiente.”

Aveleda também destacou a importância de criar identidade e pertencimento para os sistemas. “Curitiba tem o Expresso, Bogotá o Transmilênio, Cidade do México o Metrobus. Isso cria cultura e orgulho. O transporte precisa ser visto como parte do cotidiano urbano, não como castigo.”

O especialista lembrou ainda que o BUD reduz riscos operacionais e aumenta a resiliência das redes. “Um modal sobre pneus contorna obstáculos e mantém o serviço. Em cidades com alagamentos e manifestações, isso é uma vantagem enorme. E é um sistema que entrega resultado rápido — obra que entrega rápido conquista o cidadão.”

Cláudio de Senna Frederico: “O que importa é o passageiro dizer ‘quero mais’”

O ex-secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Cláudio de Senna Frederico, atual vice-presidente da ANTP, afirmou que o êxito do projeto depende da aceitação do passageiro e da qualidade percebida do serviço. “É irrelevante discutir se é ônibus ou bonde. O que importa é o passageiro dizer, no dia seguinte, ‘quero mais’. É isso que mede o sucesso de qualquer sistema.”

Frederico destacou que o BUD tem base ferroviária, o que o torna mais robusto e com vida útil até três vezes maior que a de um ônibus convencional. “Por seguir normas ferroviárias, o veículo é mais durável e oferece conforto superior.”

Ele alertou, no entanto, que o modal precisa de condições adequadas de operação. “Veículo moderno parado em congestionamento é fracasso anunciado. O BUD precisa de corredor exclusivo e operação de classe A. O metrô mostrou isso: lugar público limpo e bem cuidado é símbolo de respeito.”

Frederico sugeriu que São Paulo poderia ser uma vitrine para o novo modal. O Expresso Tiradentes (ex-Fura-Fila) é o local ideal para testes. Tem infraestrutura e permitiria operação automática tipo ATO. Seria uma vitrine nacional.

Gilson Santos: “É uma inversão de valores necessária”

Na etapa final do painel, Gilson Santos criticou o contraste entre os investimentos destinados ao transporte individual e os aplicados no coletivo. “Quando o poder público investe milhões em um viaduto, ninguém questiona. Mas quando é para o transporte coletivo, sempre perguntam se é caro. Precisamos inverter essa lógica.”

Ele lembrou que o sistema metropolitano de Curitiba transporta 400 mil passageiros por dia com tarifa social de R$ 5,50, subsidiada pelo Estado. “Cada real investido no coletivo retorna em qualidade de vida e sustentabilidade. O BUD é mais uma ferramenta para reencantar o cidadão e valorizar o transporte público.

Mobilidade integrada e olhar para o futuro

Encerrando o painel, Paulo Benites destacou que o BUD se soma aos demais modais no desafio de modernizar o transporte coletivo brasileiro. “O BUD não é concorrente do VLT, do BRT ou do ônibus elétrico. São tecnologias complementares. A mobilidade do futuro é multimodal, limpa e conectada, e o Paraná mostra que é possível inovar com responsabilidade.”

Os testes do BUD devem começar nas próximas semanas, com monitoramento técnico independente e participação de operadores locais. Caso os resultados confirmem o desempenho esperado, o modelo poderá avançar para Curitiba e inspirar novos corredores urbanos no país.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

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Comentários

Comentários

  1. Luiz Costa disse:

    Numa sociedade individualista que priorizar o automóvel, andar de ônibus equivale a assumir o papel de um fracassado.
    É preciso valorizar o transporte coletivo com oferta de qualidade, é o suficiente.

  2. Santiago disse:

    Não precisa sedução e nem orgulho!
    Basta entregar praticidade, confiabilidade e agilidade, que muitas pessoas deixarão o carro em casa pra retornar à rotina do transporte público. E quem tem apenas a opção do transporte público, não precisará mais se angustiar por isso.
    Melhor ainda, pode-se empregar ônibus normais mesmo. Não precisa trazer ônibus disfarçados de “vlts”.

  3. Denilson disse:

    Se a AMEP realmente se importasse com o usuário do transporte metropolitano, começaria PRIMEIRO melhorando o serviço na ponta, trocando a frota sucateada de alimentadores que atualmente possui centenas de ônibus com mais de 10 anos de uso em péssimo estado de conservação e não permitiria as empresas que ali operam terem comprado ônibus usados para “reduzir” a idade média da frota (não é raro de se ver ônibus quebrado todos os dias no meio do caminho, em alguns casos mais grave pegando fogo e com cheiro de lona de freio forte e em outros casos não tão graves com os bancos quebrado, campainha sem funcionar e chovendo dentro do carro).

    Além disso, muitas linhas foram agrupadas sem aumentar a quantidade de veículos nas linhas, ocasionando superlotação e intervalos muito longos, sem contar nos finais de semana que a situação é ainda pior.

    Não adianta relatar nos portais de atendimento, pois eles não ligam para o usuário, só falta te chamarem de insensato e mentiroso, cheio de dados e números que não correspondem com a realidade de quem o usa todos os dias!!

    Pra mim esse bonde digital é só um biarticulado de luxo, que por aqui a Volvo já faz muito bem e já possui modelo elétrico, com ar condicionado e tudo mais….

  4. rebU disse:

    Como esse pessoal ficou encantado com o VLP (Veículo Leve sobre Pneus)!
    A CRRC deve ter bons vendedores ou serviu um jabá muito gostoso!
    E, como sempre, o discurso de cada um deles foca no custo para ter e não no custo para manter a coisa funcionando.
    Sem perceber, eles seguem esta interessante citação: “a ânsia de ter e o tédio de possuir”.
    Querem economizar em gastos com implantação de trilhos, rede de alimentação elétrica, Centro de Controle Operacional, etc.
    Eles fizeram as contas de quantas vezes precisarão trocar pneus, fazer a manutenção do asfalto em comparação com os trilhos e rodas de aço de um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), por exemplo?
    As únicas vantagens que eu vejo nesse BUD é ele poder subir ladeiras e rampas muito inclinadas que um VLT com suas rodas e trilhos lisos não conseguiriam e contornar curvas mais fechadas que um ônibus articulado.
    E não são essas condições que me parece haver naquele trecho entre o terminais Pinhais e Piraquara.
    Teria sido melhor a CRRC ter escolhido a capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, para testar esse veículo já que é uma cidade com uma topografia mais irregular.

    1. Santiago disse:

      O pessoal de BH não vai gostar que você tenha sugerido a cidade deles pra isso…

  5. Rodrigo Zika disse:

    Esse Vlp é uma piada e enganam a população.

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