Mobilidade e Modernidade: Como está o relacionamento do setor de transportes com a imprensa?

Painel do Arena ANTP recebeu jornalistas especializados e constatou: a comunicação avançou, mas precisa evoluir muito ainda. Comunicação visual de letreiros, paradas e até se pinturas de ônibus devem ser padronizadas ou não foram também debatidos

 

O relacionamento do setor de transportes com a imprensa teve evoluções ao longo dos anos, mas ainda precisa avançar muito.

Esta foi uma das constatações do painel “A mídia e o transporte público: O olhar vivo diário do jornalismo”, no Arena ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), que ocorreu nesta semana na capital paulistas.

Participaram os jornalistas especializados em transportes e mobilidade Adamo Bazani/Diário do Transporte, Ana Paula Rodrigues/Rede Bandeirantes, Rafael Balago/Revista Exame e Roberta Soares/Jornal do Comércio. A mediação foi de Alexandre Pelegi.

Num mundo em que a comunicação é cada vez mais importante e num setor no qual a concorrência aumentou, a maior parte das empresas de transportes, em especial de ônibus, parece ainda achar que dá para se escorar na muleta das concessões e falar somente com a bolha, se escondendo dos jornalistas que dão voz às demandas dos chamados clientes dos transportes, os passageiros.

“Tem empresa de ônibus que não responde quando a imprensa procura sobre um problema, sequer tem um profissional de comunicação para dar o lado da companhia em assuntos negativos e para passar o que é positivo de forma proativa. Aí quando publicamos reportagens com fatos, documentos e entrevistas, passam meses e aparece um advogado dessa mesma empresa com as tais notificações extrajudiciais. Tudo para intimidar. Por que não responde na hora que foi procurada? Lembro que um dia noticiamos investigações da Receita Federal sobre uma suposta lavagem de dinheiro do crime organizado por uma empresa de ônibus da zona Leste de São Paulo que surgiu de cooperativa de transporte. Ninguém sequer atendia os telefonemas para o outro lado. Mas a Receita confirmou as investigações e a matéria tinha documentos oficiais. Passaram uns meses, aí o advogado dessa empresa procurou o site. Poxa, não é assim, precisamos dar um UP nessa comunicação” – lembrou Adamo Bazani

“Transparência é fundamental. Muitas vezes, é o ouvinte que relata o problema primeiro. Aí vamos checar com a empresa ou gestora sobre o que ocorreu, mas há demora para a resposta, para a atualização das informações nos canais oficiais de comunicação. Isso vai tirando a credibilidade e a confiabilidade sobre o serviço de transporte. É muito mais que relacionamento com a imprensa, mas com o passageiro. Nem sempre é fácil obter um posicionamento na velocidade que a população precisa. O cidadão tem o direito de se informar e programar sua vida no dia” – comentou Ana Paula Rodrigues.

“Existem muitas coisas positivas no setor de transportes, que empresas e gestores fazem no dia a dia, e isso não chega ao público. É possível, por exemplo, numa rede social, colocar um conteúdo simpático, leve, e também informações de momento, de prestação de serviços. A comunicação hoje é fundamental e precisa ser vista como um investimento. Informação fideliza o usuário também” – disse Rafael Balago.

“Vocês, operadores e gestores, têm de ser os primeiros a informar alguma ocorrência e suas redes sociais, não a população reclamar ou termos de descobrir, mas prestar serviços. E falar também a realidade que afeta os serviços, muitas vezes situações que fogem do controle do operador, como a falta de prioridade ao transporte coletivo na cidade, trânsito e até segurança pública. A população trocaria tudo para chegar rápido, ter viagens rápidas e confiáveis” – disse Roberta Soares.

A plateia também participou.

Um dos presentes, o diretor-executivo (CEO) da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), que reúne as companhias de ônibus urbanos e metropolitanos de todo o País, Francisco Christovam, disse não ter dúvidas de que uma empresa de ônibus ter uma área de comunicação, com um profissional, é essencial para o setor em todos os aspectos e para todos os fins: tanto para se posicionar diante de uma situação não favorável, mas que pode ocorrer, como também para propagar o que há de bom no setor.

Mas, segundo o executivo, há muito o que avançar.

Christovam, que já foi presidente do SPUrbanuss, sindicato que representa as empresas de ônibus da cidade de São Paulo, disse que até hoje não compreende o fato de, no maior sistema de transportes municipais da América Latina, entre 26 empresas, somente duas ou três terem profissionais de comunicação.

Outro integrante da plateia que comentou, o representante de mobilidade da Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), Rafael Calabria, destacou que comunicação é transparência e transparência é um direito do cidadão, do consumidor.

Calabria lembrou de questões que se ocorresse uma comunicação rápida e eficiente, os impactos negativos de uma situação.

Comunicação visual de letreiros, paradas e até se pinturas de ônibus devem ser padronizadas ou não foram também debatidos.

Para os jornalistas, o consenso é que deve haver uma adequação à realidade e aos hábitos dos passageiros de cada região.

É possível criar uma identidade de um sistema como um todo, passando a mensagem de que o transporte é uma rede integrada e pertence à região, mas ao mesmo tempo, sem omitir a identificação do operador.

O gerenciamento é da prefeitura ou Estado, o sistema é da população, mas a operação é da empresa concessionária. Na comunicação visual, tudo isso deve ser informado claramente.

EMPRESAS CIUMENTAS

Também foi citada a realidade das “empresas ciumentas”. São aquelas que reclamam do fato de reiteradas vezes pautas positivas de determinadas companhias serem publicadas, principalmente em mídias especializadas, e pouca coisa sair da “reclamona”.

Ocorre que, na maior parte das vezes, a empresa ciumenta não tem uma assessoria de imprensa, não tem uma ação proativa, prefere vazar assuntos bons para não profissionais de comunicação e, em vez de investirem, ficam de reclamaçãozinha quando saem pautas positivas das companhias que investem em comunicação.

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