HISTÓRIA: Uma foto antiga e várias raridades dos transportes do ABC que “conversam” com você
Publicado em: 23 de julho de 2023

Imagem dos anos da década de 1970 não só é um passeio na história, mas um convite a entender como uma das cidades mais importantes da Grande São Paulo se desenvolveu
ADAMO BAZANI
Santo André se constituiu numa das cidades mais importantes da Grande São Paulo. Atualmente com mais de 700 mil habitantes segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sua principal vertente econômica são os serviços, mas até meados dos anos 1990, a predominância foi da indústria, principalmente a metalurgia.
Tanto é que uma das principais vias da cidade se chama Avenida Industrial, hoje com quase nenhuma indústria.
Os transportes sempre foram fundamentais no crescimento econômico do ABC, região a qual pertence Santo André, e nas transformações vivenciadas por sua população.
Uma foto antiga em que ônibus, bondes e trens aparecem não é apenas uma lembrança, mas um estudo, uma oportunidade de conhecer melhor o presente por meio do passado.
A imagem do Museu Octaviano Gaiarsa, que o Diário do Transporte reproduz, é um exemplo desta realidade.
E nada melhor que um estudioso e que ao mesmo tempo vivenciou à época para ajudar no aprofundamento.
O memorialista e pesquisador de mobilidade Mario dos Santos Custódio, a convite do Diário do Transporte, analisou a imagem.
Custódio é de Santo André. Conhece bem o local retratado, que é a Avenida Queirós dos Santos com Rua Bernardino de Campos, na estação de trens de Santo André, na região central. O pesquisador conhece bem seus ônibus. Afinal, antes mesmo de estudá-los, os utilizou como passageiro comum.
Viação Estoril, Viação São José de Turismo e Viação Padroeira do Brasil são os três personagens que “conversam” com Mario Custódio que, por sua vez, conta essa prosa para você.
A imagem tecnicamente é estática, afinal, é uma foto, mas seu conteúdo é fluido e dinâmico e pode narrar a história. Mario Custódio dá essa voz.
“Aos leitores deste prestigiado Diário do Transporte. A convite do amigo Adamo Bazani, analiso a foto por ele enviada a mim, cuja origem é o conceituado Museu de Santo André Octaviano Gaiarsa, que entre vários benefícios trouxe à cidade de Santo André, estão inúmeras fotos e o eterno livro “A Cidade que Dormiu Três Séculos”.
Enfim, vamos à análise da foto sob o prisma do transporte coletivo, sem desmerecer os veículos de transporte privado que aparecem na referida imagem, particularmente um Aero-Willys, um Dkv-Vemag e duas Kombis. Na foto aparecem três ônibus:
– um Caio Jaraguá com frente de Caio Bela Vista;
– um Caio Jaraguá
-um Caio Bela Vista.
São três exemplares de carrocerias que marcaram época no final dos anos 60 até meados dos anos 70, pelo menos.
A foto foi tirada da passarela da antiga Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, sendo que o local é o cruzamento da Avenida Queirós dos Santos com Rua Bernardino de Campos, na Estação de Santo André, ao lado das antigas porteiras.
O ano da foto não sei precisar, mas pelo ônibus que está na frente é do início dos anos da déca de 1970.
Explico:
1º Ônibus: O coletivo que está na frente é da VIAÇÃO ESTORIL, que fazia a linha Vila Helena – Parque Dom Pedro II, depois Jardim do Estádio – Parque Dom Pedro II, empresa sucessora da AUTO VIAÇÃO ANDREENSE e que foi sucedida pela VIAÇÃO ESPLANADA. Ocorre que a Viação Esplanada, em meados de 1970, comprou ônibus O-362 Mercedes-Benz, com pintura branca, verde e preta em listras verticais, que ficaram famosos sob o termo “zebrinha” (quem é de Santo André daquela época deve se lembrar). Portanto, o primeiro ônibus da foto é anterior a meados dos anos 70.
2º Ônibus: O segundo ônibus, um Jaraguá, pela análise do veículo e das cores, arrisco dizer que se trata de um ônibus da VIAÇÃO SÃO JOSÉ DE TURISMO (ainda não era Viação São José de Transportes). E pela cor era das linhas municipais da empresa à época, quais sejam, Estação – Cata Preta, Estação – Clube de Campo ABC (por estrada de terra), Estação – Jardim Guarará (linha recente), Estação – Cata Preta e Estação – Represa (Represa do Baraldi, por estrada de terra). As citadas estradas de terra eram a Estrada do Pedroso e a Estrada do Clube de Campo.
3º Ônibus: Quanto ao terceiro ônibus, não tenho dúvidas de que seja um Bela Vista da VIAÇÃO PADROEIRA DO BRASIL. Pela listra vermelha abaixo da janela é um ônibus da linha bairro Paraíso – Vila Império (ainda não havia o prolongamento até a Trol, mas já havia o prolongamento após Rudge Ramos, pois a linha anterior era Paraíso – Rudge Ramos). E não é da linha municipal Jardim Estela – Jardim Bom Pastor via Jardim Oriental (era esse o letreiro da época), pois a listra acima da janela seria azul e não vermelha.
Análises finais: o Jaraguá poderia ser também da Viação São Camilo ou da Viação Santa Terezinha, mas eu ainda fico com a Viação São José. E o Bela Vista poderia ser da Empresa Auto Ônibus Santo André – EAOSA ou da Viação Ribeirão Pires, empresas que usavam esse tipo de ônibus naquela época (com roda na frente do chassi), mas o design e as cores eram outras. Se algum leitor quiser ajudar, é de grande valor para a história do transporte de Santo André que o faça. Agradecemos. Mario Custódio.”
Veja a imagem completa:
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Mario dos Santos Custódio, pesquisador e memorialista de transportes
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