História

FOTOS: Fundação da Itapemirim completa 70 anos nesta terça 04 de julho: História marcada por glórias, fim melancólico e esperança na força da marca

Arrendamento é alternativa que Justiça entendeu como a mais viável em curto prazo, mas mercado ainda olha situação com dúvidas

ADAMO BAZANI

Há exatos 70 anos, em 04 de julho de 1953, era fundada por Camilo Cola a que seria a maior empresa de transporte rodoviário da América Latina, a Viação Itapemirim, que em 21 de setembro de 2022 teve um fim melancólico na atuação tendo a falência decretada pela Justiça após denúncias de crimes financeiros e fraudes já na gestão de outro empresário, Sidnei Piva de Jesus.

A marca Itapemirim, que já antes da falência deixava as estradas, retomou às pistas em 04 de março de 2023, quando a Suzantur, do ABC Paulista, começou retomar as linhas com a Nova Itapemirim, empresa criada para as operações autorizadas pela Justiça em forma de arrendamento judicial.

Apesar da retomada gradual e de investimentos, com a compra de ônibus 0 km e seminovos, o mercado ainda olha a situação com dúvidas.

Para comemorar a fundação, a Suzantur pintou um ônibus, que se reveza em linhas, com um dos designs mais tradicionais da empresa que leva as cores creme, amarelo e branco.

O futuro do nome Itapemirim ainda é indefinido.

O arrendamento foi a alternativa que Justiça entendeu como a mais viável em curto prazo para que os credores vejam alguma parte do dinheiro que têm direito.

O Grupo Itapemirim, que estava em recuperação judicial desde março de 2016, tem dívidas que chegam a R$ 2,2 bilhões.

Este arrendamento pode durar um ano sendo prorrogado por outro ano.

Aí marca Itapemirim e estruturas irão a leilão. A Suzantur terá preferência para arrematar, com desconto do que foi investido.

Mas até lá, muita coisa pode acontecer. Outras empresas rodoviárias, como a Viação Garcia, são contra o arrendamento para a companhia do ABC Paulista, e até mesmo Sidnei Piva de Jesus tenta reverter a falência.

Porém, nada disso pode apagar as glórias da marca Itapemirim ao longo da história.

O INÍCIO DE UMA GIGANTE:

Povos com culturas, realidades e costumes diferentes interagindo de forma intensa, trocando experiências, conhecimentos, dificuldades e oportunidades. Foi assim que cresceu o Brasil, assumindo sua mundialmente característica acolhedora e de calor humano.
O desenvolvimento do País se deu de forma desigual, se concentrando, principalmente após os anos de 1950, com a intensificação da industrialização, nas regiões Sul e Sudeste. Assim, eram necessários pioneiros que vencessem as barreiras de um País ainda em crescimento e assumissem o desafio de proporcionar o direito de as pessoas cruzarem territórios e procurarem melhores condições de vida.
E um destes pioneiros foi o empreendedor Camilo Cola, fundador da Viação Itapemirim.
Depois de ter enfrentado a Segunda Guerra Mundial, onde esteve na Itália como integrante da Força Expedicionária Brasileira, Camilo Cola foi à batalha do desenvolvimento do País pelo ramo de transportes.
Em 1948, após ser transportador de cargas em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, Camilo Cola se associou a comerciantes locais dando origem a ETA – Empresa de Transportes Autos, que com apenas um ônibus ligava os municípios de Castelo e Cachoeiro do Itapemirim. A ETA, que crescia junto com a elevação do número de passageiros, era o embrião da Viação Itapemirim, criada oficialmente em 4 de julho de 1953.

A marca foi um dos expoentes do transporte rodoviário brasileiro: se tornou uma das maiores companhias da América Latina, fabricou chassis e carrocerias, nasceu do ideal de Camilo Cola em prosperar, lançou (ou ao menos popularizou) o conceito de ônibus de três eixos e, acima de tudo, uniu o Brasil, ao cobrir no passado mais de 70% do território nacional.

Chegou a ter propagandas em TV, aparecer em filmes até terminar em reportagens sobre fraudes.

Porém, uma data como esta não pode passar em branco.

IMAGENS DE MOMENTOS E MODELOS MARCANTES:

O ÔNIBUS DE 70 ANOS:

VÍDEO (com detalhes e entrevistas) e VÁRIAS FOTOS

ENTENDA:

Contando tributos e débitos com fornecedores, bancos e trabalhadores, o Grupo Itapemirim, que estava em recuperação judicial desde março de 2016, tem dívidas que chegam a R$ 2,2 bilhões. Depois de ter o proprietário afastado, Sidnei Piva de Jesus, suspeito de crimes falimentares e gestão fraudulenta, envolvendo supostas transferências de recursos ilegais das empresas de ônibus para fundar a ITA (Itapemirim Transportes Aéreos), o Grupo Itapemirim teve a falência decretada pela Justiça em 21 de setembro de 2022.

Na decisão pela falência, o juiz João Oliveira Rodrigues Filho, do Tribunal de Justiça de São Paulo, autorizou o arrendamento de linhas e estruturas operacionais da Itapemirim e da Kaissara para a Suzantur, empresa que atuou no ramo de fretamento e opera ônibus urbanos em quatro cidades do ABC Paulista (Santo André, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires) e no município de São Carlos, no interior do Estado de São Paulo. A empresa atuava até 2020 no ramo de fretamento também (Relembre o fim da Suzantur no fretamento https://diariodotransporte.com.br/2020/06/29/exclusivo-grupo-comporte-da-breda-e-piracicabana-vai-assumir-servicos-e-onibus-da-suzantur-fretamento/  )

Contestaram o arrendamento das linhas para a Suzantur, a ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestre (sargumentando, entre outros pontos, que linhas de ônibus pertencem ao poder público e não podem ser considerados ativos de uma empresa), a Viação Garcia (empresa de ônibus rodoviários do Sul do País que tinha interesse nas mesmas linhas e que alega que ofereceu propostas melhores) e o próprio Grupo Itapemirim (administrações Sidnei Piva – último dono –  e da Transconsult – que fez uma rápida intervenção nas companhias). A Associação dos Credores da Itapemirim, grupo que diz representar uma parte dos credores, também não queria que a Suzantur operasse as linhas.

O Grupo Itapemirim é formado pelas seguintes empresas:

– Viação Itapemirim S.A (CNPJ: 27.175.975/0001-07);

– Transportadora Itapemirim S.A (CNPJ:33.271.511/0001-05);

– ITA Itapemirim Transportes S.A.(CNPJ:34.537.845/0001-32);

– Imobiliária Bianca Ltda. (CNPJ: 31.814.965/0001-41);

– Cola Comercial e Distribuidora Ltda.(CNPJ: 31.719.032/0001-75);

– Flecha S.A.Turismo, Comércio e Indústria (CNPJ: 27.075.753/0001-12);

– Viação Caiçara Ltda.(CNPJ: 11.047.649/0001-84) – marca fantasia: Kaissara

A Suzantur, originária do setor de fretamento, tem como sócio principal o empresário Claudinei Brogliato.

Atualmente a empresa opera linhas urbanas nas seguintes cidades:

– Santo André (Grande São Paulo): Sistema tronco-alimentado de Vila Luzita – em caráter provisório desde 2016 porque a prefeitura ainda não lançou uma nova licitação para conceder este sistema que era operado pela Expresso Guarará. O sistema Vila Luzita, individualmente, atende a maior demanda de passageiros de Santo André;

– Diadema (Grande São Paulo): Todas as linhas municipais por concessão (aquisição das operações da Benfica e MobiBrasil);

– Mauá (Grande São Paulo): Todas as linhas municipais por concessão;

– Ribeirão Pires (Grande São Paulo): Todas as linhas municipais por concessão (aquisição das operações da Rigras);

– São Carlos (Interior de São Paulo): Todas as linhas depois de operações emergenciais com a saída da empresa Athenas Paulista em 2016. O Grupo Suzantur foi considerado vencedor na licitação do sistema em 1º de setembro de 2022, para assumir contrato de 10 anos prorrogáveis por mais 10 anos. O Grupo participou da concorrência com o nome da Rigras, de Ribeirão Pires. Em 1º de maio de 2023, entretanto, a empresa deixa de operar e assume as linhas a Sacentur (Santa Cecília Transportes e Turismo) – SOU.

O dia 04 de março de 2023, um sábado, marcou o retorno oficial da Itapemirim/Kaissara pela Suzantur por meio de arrendamento autorizado pela Justiça. A primeira viagem foi de São Paulo a Curitiba, saindo do Terminal Rodoviário do Tietê, na zona Norte de São Paulo às 7h. O Diário do Transporte acompanhou a saída do ônibus às 5h30 da garagem de Santo André, no ABC Paulista, que fica na Avenida Queirós dos Santos com a Rua Luís Pinto Fláquer, no centro, próximo da linha 10-Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). O primeiro ônibus de prefixo 50126 é um Marcopolo Paradiso de dois andares, com categoria leito na parte inferior e semi-leito na parte superior. O Diário do Transporte conversou com o motorista Francisco Carlos Alves, que já trabalhou por 10 anos na viação Itapemirim, ainda na administração da família de Camilo Cola, e agora está neste retorno. O profissional também atuou em grandes empresas como Gontijo e Cometa.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2023/03/04/em-primeira-mao-video-confira-o-primeiro-onibus-e-o-primeiro-motorista-que-marcam-o-retorno-da-viacao-itapemirim-kaissara-sobre-arrendamento-da-suzantur/

OS PRIMEIROS EURO 6:

A Suzantur confirmou ao Diário do Transporte de forma oficial em 14 de abril de 2023, a compra para a Itapemirim/Kaissara das primeiras seis unidades de chassis de ônibus que seguem o padrão de motores Euro 6.

Os veículos deste padrão emitem, em geral, 75% menos de poluição e conseguem ter um consumo menor de óleo diesel e um desempenho melhor em relação aos modelos da tecnologia anterior Euro 5. O novo padrão internacional se tornou obrigatório no Brasil em janeiro deste ano.

Os chassis já recebem na Marcopolo, em Caxias do Sul (RS), carrocerias do modelo Paradiso 1800 DD (de dois andares) G8 (oitava geração).

As linhas que receberão os novos ônibus ainda serão definidas.

De acordo com a companhia do ABC Paulista, as seis unidades são da marca Scania, modelo K 410 – 6X2 (três eixos, seis rodas com tração em duas delas).

A Suzantur, que possui sede em Santo André (SP), opera as linhas que eram de responsabilidade da Itapemirim/Kaissara, que faliram, por meio de arrendamento judicial.

Ádamo Bazani, jornalista especializado em transporte

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