Lucro líquido da Marcopolo cai 56,4% no 3º trimestre e lucro bruto sobe 222,5% no período
Publicado em: 3 de novembro de 2022

Produção cresceu 84,6% ante o terceiro trimestre de 2021, com 4,079 unidades, sendo 2.082 urbanos – elétricos e articulados são a aposta; G8 ajuda no crescimento
ADAMO BAZANI
Colaborou Arthur Ferrari
O lucro líquido da fabricante de carrocerias de ônibus e de VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) Marcopolo, de Caxias do Sul (RS), teve queda de 56,4% no terceiro trimestre de 2022 (3T22) ante o terceiro trimestre de 2021 (3T21).
Enquanto que no 3T22 o lucro líquido da Marcopolo foi de R$ 46,7 milhões, no período do ano passado, chegou a ser de R$ 107,1 milhões.
Já no acumulado dos três trimestres finalizados do ano, em 2022, o lucro líquido da Marcopolo caiu 41,5% ante os três trimestres de 2021.
De janeiro a setembro de 2022, o lucro líquido da Marcopolo foi de R$ 171,5 milhões e, nos nove primeiros meses do ano passado, foi de R$ 293,2 milhões.
O lucro bruto, entretanto, cresceu 222,5% no terceiro trimestre de 2022, totalizando R$ 232,2 milhões, ante os R$ 72 milhões do terceiro trimestre de 2021.
As informações foram divulgadas nesta quinta-feira, 03 de novembro de 2022, pela Marcopolo aos investidores.
Segundo a fabricante de ônibus, a diferença do lucro líquido de 2022 e de 2021 é explicada porque o “resultado do 3T21 havia sido beneficiado em função do êxito de ações judiciais referentes a não incidência de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre a atualização monetária de indébitos tributários, bem como por ação judicial que discutia a não incidência do IRPJ e CSLL sobre a atualização monetária atrelada a aplicações financeiras”.
Já o Ebitda, que é o lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (foi R$ 90,5 milhões no 3T22, número 4,9% em relação ao período de 2021.
PRODUÇÃO:
A Marcopolo ainda revelou que a produção no terceiro trimestre de 2022 foi de 4.079 ônibus. No Brasil, a produção atingiu 3.561 unidades, 135,2% superior à do 3T21, enquanto no exterior a produção foi de 518 unidades, 25,6% inferior às unidades produzidas no mesmo período do ano anterior.
A encarroçadora diz que a comparação trimestral dos volumes de produção foi afetada pela fraca base de produção do 3T21 quando teve de paralisar temporariamente as atividades no Brasil por causa da falta de insumos e componentes, especialmente semicondutores e chassis. A produção do 3T22 foi normalizada, sem impactos representativos em função de afastamentos, fator de que afetou negativamente volumes no 1T22, ou falta de componentes, também com impacto representativo na produção do 1T22 e do 2T22.
Ainda de acordo com a Marcopolo, dos 4.096 ônibus produzidos no terceiro trimestre de 2022, tanto no mercado interno quanto no exterior, 572 foram modelos rodoviários, 2.082 urbanos, 203 micro-ônibus e 1.239 miniônibus Volare.
Somente para o mercado interno, no terceiro trimestre de 2022, foram 2.993 ônibus, dos quais, 342 rodoviários, 1.284 urbanos, 156 micros e 1211 Volares.
Já no acumulado entre janeiro e setembro de 2022, a produção Global da Marcopolo foi de 10.590 ônibus, dos quais 7.492 para o mercado interno e 3.098 para o mercado externo.
No caso dos 7.492 ônibus para o mercado interno em nove meses de 2022, 930 foram rodoviários, 3.032 urbanos, 362 micro-ônibus e 3.168 Volares.
PARTICIPAÇÃO NO MERCADO:
Ainda de acordo com a Marcopolo, a participação de mercado na produção brasileira de carrocerias caiu um pouco, sendo de 53,1% no 3T22 contra 53,5% no 2T22.
Mas a empresa destaca como positivo o desempenho dos modelos rodoviários, com a recuperação do mercado de rodoviários pesados, após a normalização no fornecimento de chassis no segmento. Rodoviários pesados, associados às atividades de turismo e linhas de longa distância, responderam por 60% da produção de rodoviários da Marcopolo direcionados ao mercado brasileiro (11% no 3T21), enquanto os rodoviários leves, normalmente aplicados na atividade de fretamento, responderam pelos demais 40% (89% no 3T21), segundo comunicado da empresa.
O QUE DIZ A MARCOPOLO SOBRE SEUS NÚMEROS
Ao fim do documento de balanço, a Marcopolo se diz otimista com o cenário de recuperação e destaca que o setor de rodoviários já vem correspondendo bem às expectativas na retomada da pandemia e aposta nos modelos de maior valor agregado dos urbanos articulados e elétricos. Mais uma vez o Programa Caminho da Escola, do Governo Federal, ajudou a indústria.
A recuperação da produção na indústria brasileira de ônibus seguiu firme no 3T22, aproximando-se dos volumes pré-pandemia na comparação com o 3T19.
A ausência de impactos significativos associados à falta de componentes e chassis permitiu crescimento acelerado nas operações domésticas da Companhia e a normalização do ambiente de mercado contribui com boas perspectivas também para o 4T22, em todos os segmentos. O mercado de ônibus rodoviários continua sua trajetória de qualificação do mix, com maior concentração de vendas em modelos de maior valor agregado.
A recuperação do turismo e das linhas de longa distância promovem a renovação das frotas, com a consolidação dos modelos double deck da Geração 8. O segmento segue aquecido e os modelos pesados continuam ganhando representatividade frente aos modelos mais leves também no 4T22. O segmento urbano mantém boas perspectivas, com investimentos diretos realizados pelo poder público indicando a retomada de vendas de modelos de maior valor agregado, incluindo ônibus articulados e elétricos.
O início da produção em série do modelo Attivi também configura passo importante na direção da eletrificação da frota urbana, em sinal claro de que a Companhia está pronta para atender a demanda.
O programa Caminho da Escola também ajuda o segmento urbano, com o início das entregas da licitação de 2022 tendo se iniciado nesse 3T22.
O negócio Volare segue se destacando e ganhando representatividade no segmento de micros, tanto em vendas para o varejo, como participando e vencendo licitações.
No 3T22, a Companhia entregou 1.221 unidades para o programa Caminho da Escola, destes 736 urbanos e 293 modelo Volare associados à licitação de 2021 e 87 urbanos, 52 micros e 53 modelo Volare da licitação de 2022. Ao somarmos essas unidades com os volumes já entregues, ainda restam 580 unidades da licitação de 2021 para entrega em 2022, e 2.858 unidades das 3.050 unidades da licitação de 2022 para entrega entre 2022 e 2023. A Companhia espera entregar um pequeno volume remanescente da licitação de 2021 no 4T22, com as entregas da licitação de 2022 ganhando tração.
As exportações mostraram forte reação nesse 3T22 ante a fraca base do 3T21. O câmbio beneficia as vendas, porém fatores macroeconômicos e políticos locais impactam negativamente novos negócios em mercados importantes como Chile e Argentina.
Os mercados africanos e a reabertura pós-pandemia contribuem para manutenção de volumes no 4T22. O sucesso do lançamento da Geração 8 nos principais mercados externos também incentiva compras e promove um mix mais pesado. Nas operações internacionais, produção e vendas sofrem à medida que os impactos da inflação e da falta de componentes também são sentidos.
A Marcopolo México (Polomex) vem promovendo a mudança do mix de vendas, com altos volumes de urbanos sendo substituídos gradualmente por um maior volume de ônibus rodoviários.
O amadurecimento da linha G8 contribui para o equilíbrio dos resultados da operação e as perspectivas são positivas para o restante do ano. A Marcopolo Austrália (Volgren) mostrou recuperação de resultados a partir do incremento de volumes nesse 3T22. A operação continuará buscando ganhos de eficiência e sinergias associadas a uma carteira mais longa de pedidos também no 4T22. A Marcopolo China (MAC) sofre com os baixos volumes ainda associados às restrições de locomoção e alta competição nos potenciais mercados. Tais desafios seguem também no 4T22.
A controlada argentina Metalsur, a exemplo do que ocorreu no 2T22, tem seus resultados pressionados por dificuldades operacionais no ramp-up de produção que postergam entregas, potencializando os efeitos da inflação de custos crescente.
A carteira de pedidos longa, com preços antigos que subdimensionaram a inflação local, vem se traduzindo em perdas recorrentes e deverão afetar também os resultados da Companhia no 4T22. Com a depuração da carteira, através da entrega dos pedidos antigos e renovação dos preços para novos pedidos, a expectativa é de gradual recuperação dos resultados. A Companhia reafirma a importância do mercado argentino como base de produção local e importante destino de exportações.
Entre as coligadas, a colombiana Superpolo sofre com os efeitos da falta de componentes e da inflação.
A Companhia espera uma amenização desses efeitos já no 4T22, com normalização dos impactos no médio prazo.
A canadense NFI Group Inc. experimenta problemas semelhantes, com impactos na cadeia de suprimentos e postergação de entregas. No 3T22, as operações brasileiras da Companhia experimentaram o primeiro trimestre livre de impactos negativos derivados da pandemia, sem efeitos relevantes decorrentes do afastamento de colaboradores ou da falta de componentes, como foi o caso do 1S22.
A estabilização da inflação associada ao controle de despesas e o adequado repasse de custos permitiu o amadurecimento das margens, elevando resultados no Brasil. A Companhia observa que esse movimento vem ocorrendo também em suas operações internacionais, com o ciclo de inflação alta se assemelhando nos mais diversos países e sendo corrigido de forma cada vez mais rápida. As perspectivas seguem positivas para o 4T22 nas operações brasileiras, com volumes e composição de mix de vendas próximos aos vistos no 3T22. A Companhia não deverá realizar férias coletivas considerando a robusta carteira de pedidos também para o 1T23.
A substituição de entregas da licitação de 2021, com preços corroídos pela inflação, pelas unidades dos ônibus licitados em 2022 do Caminho da Escola, com preços atualizados a partir dos repasses de custos, auxiliam a recomposição de margens nos segmentos de urbanos, micros e Volares.
A gradual evolução da performance da Companhia reforça a correção da estratégia de reestruturação adotada, permitindo a retomada da rentabilidade mesmo com volumes ainda inferiores aos patamares históricos. Há ainda muito espaço para crescer a partir da consolidação da retomada dos mercados tradicionais que ainda buscam alcançar a produção de 2019, do amadurecimento do ciclo de repasses de custos e normalização da entrega de componentes nas operações internacionais, e da exploração de novas oportunidades através de novos modais através da Marcopolo Rail e formas de propulsão alternativas. A recuperação está apenas começando.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Colaborou Arthur Ferrari