ÁUDIO: Diretor da CPTM diz ao MP que foram feitas 99,4% das revisões programadas nos últimos cinco anos nos trens repassados à ViaMobilidade

Presidente da concessionária não negou documento em que ViaMobilidade diz que 65% dos trens foram entregues com revisão vencida, mas na frente dos promotores disse não saber precisar quantidade

ADAMO BAZANI

O diretor de Operações e Manutenção da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), Luiz Eduardo Argenton, disse em depoimento ao Ministério Público de São Paulo que a estatal entregou os trens à ViaMobilidade para operar as linhas 8-Diamente e 9-Esmeralda com plenas condições de operação em segurança.

Como mostrou o Diário do Transporte, os promotores Silvio Antônio Marques (Promotoria do Patrimônio Público e Social da Capital) e Luiz Ambra Neto (Promotoria do Consumidor) ouviram nesta quinta-feira, 19 de maio de 2022, além de Argenton, o presidente da ViaMobiliade, Francisco Pierrini.

Segundo Argenton, no depoimento ao qual o Diário do Transporte teve acesso, nos trens entregues à ViaMobilidade, foram feitas 99,4% das revisões programadas nos últimos 5 (cinco) anos.

Um documento da própria ViaMobilidade apontava que 65% dos trens para operar as duas linhas foram entregues pela CPTM com revisão vencida.

O Diário do Transporte também teve acesso ao depoimento de Pierrini aos promotores.

O presidente da ViaMobilidade não negou no MP o documento, mas cara-a-cara com os promotores, disse que não saber precisar quantidade de trens sem revisão.

O promotor Silvio Antonio Marques disse que Argenton garantiu que tem como provar que os trens tinham seguido a revisão e que estes documentos comprovando que as composições estavam em dia foram entregues à ViaMobilidade.

“Nós questionamos claramente sobre o documento e perguntamos ‘Vocês estão dizendo aqui que 65% dos trens não estavam com revisão. Afinal, estavam ou não estavam com revisão?’ O presidente [da ViaMobilidade] desconversou e disse que não tem condições de afirmar se estavam ou não com revisão. A CPTM [Argenton] falou que tem como provar que a ViaMobildiade recebeu os documentos demonstrando que as revisões foram feitas” – explicou o promotor.

OUÇA:

Como os depoimentos de CPTM e ViaMobilidade foram muito conflitantes, o MP vai convocar o presidente da Comissão de Monitoramento de Concessões e Permissões da Secretaria dos Transportes Metropolitanos, Paulo Shibuya, responsável pelo acompanhamento deste contrato.

Veja alguns pontos dos depoimentos.

Luiz Eduardo Argenton

Esclarece que a vida útil de um trem é de cerca de 40 anos, dependendo do material de fabricação. As revisões devem ser feitas em cada trem quando este atinge 12.500 km, 37.500 km, 150.000 km, 300.000 km, 600.000 km, 1.200.000 km e 2.400.000 km. Dos trens entregues à ViaMobilidade, foram feitas 99,4% das revisões programadas nos últimos 5 (cinco) anos. Todos os documentos e indicadores das revisões foram entregues à ViaMobilidade.

O edital e o contrato deixavam claro que uma pequena parcela (0,6%) deveria se submeter a revisão, inclusive para que a empresa se preparasse para a revisão tão logo assumisse a operação das duas linhas. A CPTM se comprometeu a realizar a manutenção de 1.2 milhão km em 12 trens, mas a efetivou em 14 trens.

Francisco Pierrini

Para o declarante, provavelmente a CPTM deixou os trens piores para a Concessionária para que esta fizesse a sua recuperação. O declarante não se recorda quantos trens dos 55 mencionados estavam operando nas linhas 8 e 9, atualmente sob responsabilidade da Concessionária.

Apesar da reportagem do Diário do Transporte de 5 de maio de 2022, o declarante não tem informação sobre possíveis revisões vencidas em trens entregues pela CPTM. Pode afirmar que um trem deve se submeter a revisão a cada 1.2 milhão de km rodados. Todavia, a Concessionária recebeu muitos trens com mais de 1,2 milhão km rodados. De qualquer forma, não tem como informar se a CPTM fez a revisão em tais trens.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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