Redução da frota de transportes aumenta risco de contágio e linhas expressas são alternativas, diz estudo da Fapesp
Publicado em: 16 de junho de 2020
De acordo com trabalho, que reuniu mais de 40 pesquisadores, um dos grandes erros dos gestores de transportes tem sido tratar periferia e região central da mesma forma na pandemia
ADAMO BAZANI
Quanto menor a oferta de transportes coletivos, ainda mais na retomada de alguns setores da economia, proporcionalmente é maior o risco de contágio pela Covid-19 de acordo com um estudo divulgado nesta terça-feira, 16 de junho de 2020, e concluído no dia 11, pela Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo.
Foram mais de 40 pesquisadores da Rede de Pesquisa Solidária, formada por diversas instituições, que analisaram sistemas como de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.
Segundo o levantamento, o corte de frota não pensou, na maior parte dos casos, nas características de demanda de cada região.
Uma coisa, por exemplo, é reduzir os ônibus onde também tem metrô e trem e outras linhas de ônibus. Mas em muitos casos, a redução de frota ocorreu em locais onde só tem o ônibus. E, em diversos sistemas, a periferia onde só tem uma determinada linha de ônibus foi tratada da mesma maneira que uma região onde tem ônibus e trilhos.
O resultado, segundo a pesquisa, é que com cortes de linhas, as que sobraram, andaram mais lotadas que o normal. E quantidade de linhas suspensas não foi pequena.
“Mais de 300 linhas foram suspensas na Grande São Paulo e quase 600 na Grande Rio, por exemplo. No entanto, dentro de cada área urbana, a demanda e a oferta caíram em proporções diferentes e de forma não homogênea. Parte das linhas de ônibus que circulam na periferia registrou aumento da demanda. Essas rotas atendem a população que enfrenta condições de trabalho mais precárias, recebem menor remuneração, se deslocam por mais tempo e em piores condições.”
ESTRATÉGIAS:
Os pesquisadores concluíram que, neste processo de retomada, além de colocar 100% das frotas de ônibus e trens em operação, as secretarias de transportes devem tomar medidas inteligentes de gestão e operação dos sistemas, como a utilização de veículos adicionais em trechos de maior lotação, linhas expressas entre locais de grande concentração e terminais e também identificar as origens e destinos mais comuns no processo de retomada e, assim, impedir a superlotação e reduzir os custos operacionais ampliando a oferta onde as pessoas mais precisam. “Isso pode criar pontos de alívio e reduzir os custos associados ao maior número de veículos em operação” – diz o estudo.
O que não se pode agora é ficar engessado a uma estrutura de linhas que foi pensada num cenário no qual ninguém imaginava a situação de uma pandemia como esta.
Além da criação de serviços expressos troncais (de terminais a terminais ou entre ônibus maiores e trens ou metro), o estudo mostra que as linhas alimentadoras ou distribuidoras, denominadas na pesquisa de capilares, devem ter reforço e estratégias operacionais nos horários mais procurados, que podem ser diferentes do “pico habitual”, já que pode haver escalonamento da entrada e saída de trabalhadores.
“O estudo indica que é importante olhar a cidade como um todo, mas não apenas de forma agregada. As ações devem considerar as diferenças presentes no território para atuar de forma condizente com a realidade de cada região, em busca de minimizar o impacto das desigualdades socioespaciais”, afirma Giannotti, na nota.
A PERIFERIA FOI A QUE MAIS SOFREU, DE NOVO:
O trabalho mostrou que, diferentemente do que dizem as autoridades de transportes, que usam dados de todo o sistema para divulgar a queda do número de passageiros, nas regiões periféricas, a procura aumentou com a redução de frota.
Na capital paulista, as linhas de ônibus da região central tiveram redução de 68% de passageiros e de 61,3% no número da frota circulando. Já na região leste, a demanda de passageiros foi reduzida em 63,6% e a oferta de ônibus em 61,6% (…)as alterações feitas no sistema de transporte durante a pandemia elevaram em até 80% a frequência nas estações nas regiões periféricas. “A redução da circulação de ônibus provoca lotações, aglomerações e aumenta, assim, o risco de contágio da população. As desigualdades sociais e de raça nos deslocamentos urbanos aumentam o risco de contágio em moradores das periferias”, afirmam os pesquisadores, de acordo com nota da assessoria de comunicação da Fapesp.
Nas regiões mais afastadas, a lotação dos ônibus se mantém muito próxima dos altos níveis observados antes da pandemia. “Nesse cenário, em que a redução da oferta é proporcional à redução da demanda, a lotação estimada para grande parte das linhas periféricas seria maior do que seis passageiros por metro quadrado, o que corresponde a uma distância entre pessoas muito menor do que os dois metros recomendados pelas agências e organizações de saúde, resultando em altíssimo risco de contaminação pelo vírus”, alertam os pesquisadores.
MENOS ÔNIBUS, MAIS GENTE LOTANDO TRENS E METRÔ:
O corte de linhas de ônibus, além de sobrecarregar os coletivos em circulação, também gerou uma pressão sobre as redes de trilhos.
O estudo usa os exemplos do Rio de Janeiro e São Paulo.
“A frequência às estações de metrô e trem em São Paulo e Rio de Janeiro no início de maio, por exemplo, estava em 30% do usual nas regiões centrais, onde as condições sociais para o isolamento social são maiores. Nas regiões periféricas, a demanda seguiu os padrões anteriores à pandemia e, em alguns casos, chegou a ser até 80% maior”, concluiu.
ISOLAMENTO E FROTA:
As medidas de relaxamento, que devem incentivar a redução do isolamento social, terão de levar em conta o tempo necessário para os transportes se adequarem, antes mesmo de pressões de empresários e comerciantes que querem ver seus negócios funcionando, mas que não pegam ônibus, trens e metrô lotados como seus empregados.
A uma taxa de isolamento na ordem de 45%, por exemplo, a recomendação é de aumento da oferta de ônibus em circulação em relação à operação anterior à pandemia, de modo a garantir deslocamentos mais seguros em termos do risco de contaminação. No centro, a frota poderia ser reduzida a níveis mais baixos, porém deveria manter a garantia de uma frequência horária mínima.
Já na simulação de um quadro pós-isolamento social e com a retomada de 100% dos deslocamentos, foi adotado como critério a taxa de lotação máxima de dois passageiros por metro quadrado para garantir algum espaço entre passageiros em pé.
Nesse cenário a recomendação é igual à anterior, mas grande parte das linhas que servem as regiões periféricas teria que receber mais do que o dobro do número de veículos que operam usualmente, ou contar com alternativas complementares de transportes como vans ou similares. – explica a nota da Fapesp.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
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Eu cheguei a conclusão que SP não tem jeito, ou fica em casa e more de fome, ou sai pra trabalhar e corre o risco, não temos opções, e infelizmente poderemos ser os primeiros logo mais com mais mortes diárias no mundo.