História

Problemas Brasileiros: Avanços e entraves crônicos da mobilidade urbana

Caio Bela Vista em São Paulo nos anos 1970. Tecnologia dos ônibus avançou mais rapidamente que infraestrutura para o transporte coletivo na cidade. Imagem retirada do Filme Joelma 23º andar/Texto: Adamo Bazani (Diário do Transporte)

Artigo com mais de 30 anos do consultor em transportes e que esteve à frente de empresas como Metrô de São Paulo e SPTrans, Frederico Bussinger, traz questões atuais, o que mostra que ainda falta muito do básico a fazer

ADAMO BAZANI

A era atual é da tecnologia voltada à mobilidade de pessoas e cargas e, neste quadro, surgiram termos que viraram moda, muitos nem em nossa língua: “on demand”, “apps”, “ações disruptivas”, “experience”, Mobilidade-como-um-Serviço (MaaS), entre outros.

Claro que a tecnologia é uma ferramenta importantíssima para tornar as mudanças necessárias mais rápidas e novas posturas e ideias devem ser muito bem-vindas.

Mas há questões tão crônicas, antigas e até mesmo óbvias que mostram entraves históricos nas questões mais básicas dos deslocamentos. A principal delas é que o transporte coletivo ainda não é prioridade não apenas no espaço urbano, mas nos investimentos e na cultura de como querer viver nas cidades.

Na onda dos aplicativos e do “transporte sob demanda” será que as discussões da mobilidade não estão indo na contramão da real necessidade de se viver coletivamente nas cidades?

Perceba: a discussão vai além de se deslocar de forma coletiva, mas viver desta maneira, algo que vai é muito mais que as pessoas dividirem um mesmo espaço na rua, no comércio ou dentro de um ônibus ou trem.

O Diário do Transporte traz um artigo do consultor em mobilidade Frederico Bussinger, do “IDELT – Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transporte e Meio Ambiente”, na edição de novembro/dezembro de 1988 da tradicional Revista “Problemas Brasileiros”.

Bussinger esteve à frente de empresas como SPTrans – São Paulo Transporte, CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, Metrô de São Paulo, RFFSA – Rede Ferroviária Federal S.A., CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos, entre outras.

Publicado um mês depois da promulgação da Constituição, o artigo mostra que houve um desenvolvimento na mobilidade, como a criação de empresas de gestão e planejamento urbano, a instituição do Vale-Transporte como lei e a disseminação da mensagem que mobilidade não é serviço apenas, mas um direito do cidadão.

Também mostra exemplos que comprovam que a solução para os deslocamentos está no básico: ampliação de redes de metrô e de estruturas que ampliem a velocidade dos ônibus, modal que nunca deixará de ter sua importância, mesmo com o avanço dos trilhos.

Toda vez que se investiu em trilhos e ônibus, a situação dos deslocamentos em grandes conglomerados urbanos melhorou. O problema é que estes investimentos nunca foram constantes e se submeteram mais a decisões político-partidárias que técnicas.

A mobilidade coletiva nunca foi o centro dos investimentos, tanto é que em 1987, técnicos constataram que seriam necessários US$ 600 milhões por ano em investimentos “para os transportes coletivos na Região Metropolitana de São Paulo para que pudéssemos entrar no século XXI com um sistema ofertando serviços em condições aproximadamente iguais às atuais. Isto significa quase três vezes o pico anual de investimento já havido e a implantação de um sistema quase igual o atual” – Isso em 1988, segundo o artigo.

Já entramos no século XXI e tanto a oferta, a qualidade e os investimentos em mobilidade coletiva estão bem abaixo das atuais necessidades e do crescimento histórico da frota de veículos e da população das cidades. E o pior: com um pensamento individual disfarçado de compartilhado. A moda é: “compartilhar, mas um de cada vez, sozinho”.

Acompanhe o artigo na íntegra:

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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