VÍDEO: Serviço de aplicativo de transporte coletivo sob demanda de Goiânia tem atraído usuários de carros e pretende ampliar área de atuação e frota

Veículos possuem o padrão visual utilizado pelos ônibus da rede. Foto: Adamo Bazani (Diário do Transporte) – Clique para ampliar

CityBus.20 é operado por uma das empresas de ônibus do sistema, a HP Transportes. Serviço ainda não se paga, mas crescimento de demanda faz viação continuar apostando no modelo de operação. Diário do Transporte e Via Trólebus fizeram viagem nos veículos que são solicitados no mesmo estilo do Uber, mas não há tarifa dinâmica

ADAMO BAZANI

Com início de operação no dia 11 de fevereiro, um serviço de vans na configuração miniônibus solicitado por aplicativo tem registrado aumento no número de passageiros em Goiânia.

São cerca de 50 mil cadastros realizados desde então no CityBus 2.0, que faz parte da concessão do transporte coletivo e é operado pela HP Transportes, uma das viações do sistema.

A frota que começou com 15 vans miniônibus já está com 29 veículos, todos com ar-condicionado, bancos de couro e tomadas para carregadores de celulares e notebooks.

A área de atuação, que começou com 17 quilômetros quadrados já está com 40 quilômetros quadrados e a empresa tem planos de expandir a frota e a extensão da cobertura.

Durante Seminário Nacional da NTU – Associação Nacional de Transportes Urbanos, em Brasília, realizado entre os dias 20 e 21 de agosto de 2019, com cobertura do Diário do Transporte, a CityBus exibiu um levantamento que mostra que 85% das pessoas que fazem uso dos serviço da empresa vieram do transporte individual, sendo 62% de táxis e carros de aplicativo e 18% do carro próprio.

De acordo ainda com os dados divulgados, 15% dos passageiros do CityBus 2.0 vieram do ônibus convencional, 3% se deslocavam somente a pé, 2% de bicicleta e 1% usava motos antes.

O passageiro baixa o aplicativo no celular e solicita o veículo de maneira semelhante ao que faz com o Uber e 99, por exemplo. Mas o miniônibus solicitado embarca e desembarca os passageiros em pontos virtuais, estabelecidos próximos da origem e do destino da viagem, normalmente em esquinas. O pagamento da viagem pode ser feito com cartões bancários ou com dinheiro no momento do embarque. É possível fazer a solicitação para um total de um a 14 passageiros de uma só vez. A viagem começa em R$ 2,50, mas o preço varia de acordo com a extensão do trajeto. Diferentemente do que ocorre com os aplicativos de carros particulares, não há a chamada “tarifa dinâmica” cujo preço varia de acordo com a demanda de solicitações e horário de atendimento.

Segundo a HP Transportes, o valor das viagens vai ser o mesmo, independentemente de horários ou quantidade de chamadas.

Os veículos são autorizados a circular pelos corredores de ônibus, mas não realizam embarques e desembarques em pontos tradicionais.

Os motoristas são contratos da HP Transportes, passam por um mês de treinamento na empresa e têm carga horária definida. Por meio de um acordo com o sindicato local dos trabalhadores, foi criada para estes profissionais a categoria de motorista de DRT – Demand Responsive Transport, que é justamente para transportes sob demanda.

Atualmente existem aproximadamente seis mil pontos virtuais para embarque e desembarque.

Os trajetos são flexíveis, realizados de acordo com as solicitações dos passageiros, sempre respeitando limites de desvios de trajetos para as viagens não serem demoradas.

Recentemente, para atender mais passageiros, o serviço CityBus flexibilizou estes limites, ampliando as possibilidades de desvios das rotas traçadas pelos chamados e da necessidade de o passageiro caminhar até o local de embarque.

O 2.0 na extensão do nome CityBus foi uma solução para adequar o serviço dentro do contrato de concessão da rede de ônibus. O contrato previa atendimento complementar à rede principal de transportes, que já existia e se chamava CityBus. O 2.0 foi para especificar que as solicitações e o modelo de operação fazem uso de novas tecnologias, como dos aplicativos.

A diretora-executiva da HP Transportes, Indiara Ferreira, em entrevista ao Diário do Transporte e Via Trólebus, admitiu que o transporte coletivo passa por uma das maiores crises de sua história, com perdas de passageiros e concorrência por outras formas de deslocamento. Para ela, o transporte coletivo, que ainda é a principal solução contra os congestionamentos e poluição, só vai sobreviver se o poder concedente e empresas de ônibus sentarem juntos e tentarem encontrar soluções.

“Nosso contrato de concessão prevê serviços complementares diferenciados. Em cima disso, nós fizemos uma proposta para o poder público que foi muito bem aceita porque na realidade hoje, o transporte público coletivo vive uma crise muito grande. As concessionárias de serviços ou inovam ou vão sair do mercado. Essa é a realidade. O poder público é um parceiro neste sentido porque ele entende também que a única solução para melhorar a qualidades das cidades, reduzir o trânsito e a poluição é com o transporte público coletivo. É claro que não é uma proposta que vai resolver o problema da cidade, mas é um novo conceito de transporte público coletivo que atende às necessidades de curta distância que pode ser ampliado para a cidade toda” – disse a executiva que contou que ainda o serviço não se sustenta financeiramente, mas que a HP Transportes vai continuar apostando no modelo pelo crescimento do interesse da população em pouco tempo de operação.

O Gestor de Inteligência de Mercado da CityBus 2.0, Thiago Araújo, disse que o objetivo do serviço é oferecer mais uma opção e não concorrer com a rede de ônibus de maior capacidade.

“O CityBus 2.0 foi desenhado no conceito de ‘micro transit’ para pequenas distâncias no centro da cidade. A primeira região é o centro expandido. Nós fizemos um piloto com o serviço por aproximadamente cinco meses e, desde o dia 15 de julho, nós consolidamos, expandido a área de atuação para 40 quilômetros quadrados na região central de Goiânia e, sem dúvida, em breve expandiremos para outros bairros também” – disse Thiago, que ainda contou que para a implantação, consolidação e expansão dos serviços têm sido necessários investimentos em comunicação em três frentes: para os usuários, para os funcionários e com a imprensa.

A motorista Débora Araújo Nogueira, uma das sete mulheres que dirigem as vans, disse que entre os passageiros há quem veio do carro e dos ônibus.

“A gente tem três públicos, o que de fato cansou de estar no transporte coletivo [ônibus] devido à demora, à lotação. A gente tem o cliente que já é fixo, assim que ele solicita, a gente já sabe o local onde ele está. A gente tem também o cliente que está deixando o carro e casa devido à agilidade que a gente tem, o serviço que é confortável, o deslocamento é bem mais rápido, fora o estacionamento para ele que fica bem mais complicado com o carro particular” – disse a condutora.

Os motoristas recebem as chamadas em um tablet que fica afixado no painel da van e podem se comunicar com os passageiros.

Há ainda um funcionário que atua como controlador, monitorando o atendimento.

 A VIAGEM

No dia 22 de agosto, o Diário do Transporte e o Via Trólebus estiveram em Goiânia e testaram o serviço.

A solicitação foi feita para um grupo de 14 pessoas, que faziam parte de uma comitiva da NTU – Associação Nacional de Transportes Urbanos, entidade que reúne em torno de 500 empresas de ônibus no País.

A viagem durou das 8h45 às 9h02, contando com o tempo de espera, que foi de cerca de cinco minutos. O trajeto começou na esquina da Rua 9 com a Rua 22, na região central, próximo de onde fica o Hotel Hilton Graden Inn Goiânia, onde o grupo estava hospedado.  O final da viagem foi na Avenida C, 197, perto no Centro Educacional do Sesc, onde foi realizada a apresentação. De acordo com o Google Maps, a distância é de aproximadamente três quilômetros.

O custo total da viagem para as 14 pessoas foi de R$ 18,40, o que daria R$ 1,32 para cada passageiro.

A reportagem usou um código promocional oferecido pela CityBus 2.0.

Se fosse solicitar individualmente, cada passageiro pagaria em torno de R$ 5.

O veículo era novo, com 22 mil km de quilometragem, tinha banco de couro, ar-condicionado e carregadores USB. Por opção da CityBus, que alega ter feito análises dos perfis de deslocamento, que são rápidos, não havia sinal de wi-fi na van do tipo miniônibus. O destaque negativo é que os veículos não têm equipamentos de acessibilidade.

Mesmo não havendo gratuidades no CityBus 2.0, pessoas com deficiência poderiam se interessar pelos serviços, mas sem plataforma elevatória, o uso fica praticamente impossível por estes passageiros, mesmo com eles se proponho a pagar como qualquer outro usuário.

Veja o vídeo sobre a viagem:

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. O.Juliano disse:

    De um dia para o outro, a HP optou por cancelar o serviço “Citybus” que atendia a todos os públicos em micro-ônibus executivo com ar-condicionado que, atualmente, pra dizer a verdade, já estavam velhos e com má conservação (uma característica da HP), mas aceitava o cartão Passe Livre, ou seja, atendia a estudantes e demais pessoas portadoras do cartão que dá benefício de x tarifas zero. O dinheiro que nega existir para a melhoria dos ônibus convencionais, conseguiu comprar 29 veículos 0km para compor o Citybus 2.0 e jogou as linhas do antigo citybus para os ônibus convencionais cada vez mais velhos e mal conservados. Este é a forma do capitalismo sempre se apoderar dos serviços à população.

    Adamo, uma experiência interessante teria sido você pegar alguns ônibus de linhas convencionais para ver que até mesmo os ônibus novos da HP, além de não terem NADA de novo em atrativos (como suspensão a ar ou pneumática, ar-condicionado, bancos de espuma, etc.) têm sérios problemas de conservação, sem contar os ônibus que nem são tão velhos, mas de tão mal conservados parecem ser da década de 1970. A comparação entre o serviço comum da HP e o “uberizado” é gritante e revoltante.

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