História

HISTÓRIA: A época em que a Ferraz circulou em Santo André

Viação Ferraz auxiliou o crescimento econômico de parte da Grande São Paulo e Capital Paulista. Acervo: Carlos Peruche / Colaboração Mário Custódio / Texto: Adamo Bazani

De acordo com pesquisador Mário dos Santos Custódio, experiência do DER durou pouco, mas foi uma das marcas na busca para integrar ainda mais a Grande São Paulo pelos transportes

ADAMO BAZANI

A Viação Ferraz, uma das empresas de ônibus que ficaram na história dos transportes da Grande São Paulo, nasceu da necessidade de integrar o município de Ferraz de Vasconcelos, na região metropolitana, à capital paulista, no início dos anos de 1960, em caminhos que fossem além da linha do trem.

Aliás, o nome da cidade tem muita relação com os transportes.

O mineiro José Ferraz de Vasconcelos, nascido em 1880, projetou a estação Vila Romanópolis, da Estrada de Ferro Central do Brasil, correspondente ao local de origem do município.

Os primeiros investimentos locais que se tem registro foram da família Leite, os fruticultores pioneiros na região que depois ficou conhecida como bairro Tanquinho. Nos anos 1920, a Cia. Agrícola e Territorial Romanópolis comprou um grande lote de terra na região ao longo da ferrovia.

A população local, com crescimento do número de moradores e das atividades econômicas, passou a exigir da Central do Brasil a criação da Parada da Vila Romanópolis, mas a empresa ferroviária não atendeu ao pedido.

A própria Cia. Agrícola e Territorial Romanópolis então construiu a estação que no dia 29 de julho de 1926 foi inaugurada, e em homenagem póstuma ao Engenheiro Ferraz de Vasconcelos, chefe do 2º. Distrito do Tráfego da E.F.C.B – Estrada de Ferro Central do Brasil, recebeu este nome.

Antes disso, a área correspondente a hoje Ferraz de Vasconcelos, pertencia a Mogi das Cruzes e era passagem de tropeiros que levavam alimentos, lenha e carvão para o centro da cidade de São Paulo, passando pela região conhecida hoje como bairro do Lageado, em Guaianases, no extremo leste da capital.

A localidade começou ganhar importância econômica e atrair população também com a construção da fábrica de lixas Gotthard Kaesemodel, que faz cola, lixas e papéis com a marca “Tatu” , de acordo com o Almanaque Histórico de Ferraz.

A importância econômica local começou a crescer e moradores queriam emancipar Ferraz de Vasconcelos entre os anos de 1940 e 1950.

O primeiro passo foi se tornar um distrito da jovem Poá, pela lei estadual nº 233, de 24-12-1948. Em divisão territorial datada 1-VII-1950, o distrito de Ferraz já figurava no município de Poá.

Foi elevado à categoria de município com a denominação de Ferraz de Vasconcelos, pela lei estadual nº 2456, de 30-12-1953 e desmembrado do município de Poá, de acordo com registro histórico da prefeitura.

Do caminho de tropeiros, a cidade com nome de engenheiro de ferrovia, Ferraz de Vasconcelos tinha uma vocação e uma necessidade de transportes que somente os trens não satisfaziam.

Neste contexto surgia a Viação Ferraz, que teve origem na Viação Itaquera Ltda, com participação de José Romano, empresário que atuava também no ABC Paulista.

Uma história extra oficial da empresa dá conta que tudo começou em 1964, quando o então prefeito de Ferraz de Vasconcelos, José Antonio Fares, foi ao DER – Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, solicitar uma linha de ônibus da cidade para a capital paulista, via zona Leste. Naquele mesmo ano, Romano havia feito o pedido para oferecer o serviço.

O DER na época cuidava das linhas intermunicipais, hoje atribuição da EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos.

Ainda em 1964, passaram a funcionar duas linhas ainda com o nome ainda da Viação Itaquera: uma saindo do município de Poá para São Miguel Paulista via Ferraz de Vasconcelos e outra com partidas de Ferraz de Vasconcelos para o Parque Dom Pedro II.

Em 18 de junho de 1965, o nome da empresa para estas linhas muda oficialmente para Viação Ferraz para criar uma maior identificação maior com a cidade.

A empresa ajudou a desenvolver a região economicamente já que, ainda antes de uma melhor infraestrutura no local, oferecia à população que se instalava em áreas mais afastadas da ferrovia, acesso ao emprego e renda pelos transportes.

A Viação Ferraz circulou até a licitação da EMTU para a Grande São Paulo em 2006 e teve diversas linhas importantes:

026 – Poá (Nova Poá) x São Paulo (São Miguel Paulista)

026VP1- Poá (Calmon Viana) x São Paulo (Estação Guaianazes)

205 – Ferraz x São Paulo (Parque Dom Pedro II)

205BI1 – Ferraz (Margarida) x São Paulo (Parque Dom Pedro II)

269 – Cidade Kemel (Margarida) x São Paulo (Metrô Itaquera) – via Planalto

327 – Poá (Cidade Kemel) x São Paulo (Metrô Itaquera) – via Progresso

328 – Poá (Nova Poá) x São Paulo (São Mateus)

435 – Itaquaquecetuba (Estação Manoel Feio) x São Paulo (Estação Guaianazes)

Mas há uma página da memória da empresa, que se funde à história do desenvolvimento da região Leste da Grande São Paulo, que poucos conhecem.

A empresa chegou a operar no ABC Paulista, nos anos 1970.

Segundo o pesquisador de transportes, Mário dos Santos Custódio, foi um teste do DER que durou pouco tempo.

“Houve uma experiência do DER e tanto a São José de Transportes quanto a Ferraz operaram por um tempo a linha Santo André-Ferraz de Vasconcelos, sempre com ônibus modelo Caio Bela Vista. Eu tomei esses ônibus para pesquisar a linha. O eixo era Estrada do Oratório, Estrada do Iguatemi e Estrada. de Poá”. – diz

O caminho era bem longo e não deu certo, mas foi prova de que nesta época, diante das necessidades de mais transportes devido ao crescimento populacional, eram necessários estudos para ampliar a oferta de mobilidade.

“No final o que vingou foi a linha Guaianazes-Santo André, operada pela empresa Santa Rita, com ônibus de modelo Caio Jaraguá e Caio Bela Vista com carroceria alongada”. – concluiu

Somente depois desta época é que a empresa adotou a pintura das letras estilizadas VF em faixas, da Viação Ferraz, uma das que marcaram a paisagem entre Poá, Ferraz de Vasconcelos e parte da Capital Paulista. Reprodução: Documentário da Emplasa / Texto: Adamo Bazani (Diário do Transporte) / Clique para Ampliar

As tradicionais cores branca, azul e amarelo da empresa certamente coloriam as páginas da história do crescimento de parte da capital, de Poá e Ferraz de Vasconcelos.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

 

Comentários

Comentários

  1. Belda disse:

    Beleza! Quem não conhece o passado não consegue prever o futuro😉Mudando um pouco o assunto: muitas projeções dos estudos urbanos e de transportes usavam o ano 2020 como ano-meta de referência: Agora é o próximo ano! PERGUNTO: Será realizada uma avaliação prospectiva das projeções feitas? Belda R

  2. Aparecido disse:

    Muito legal essa história da viação Ferraz, empresa está que conheci ainda quando tinha meus 7 anos de idade, e assim como contado na história vi ela ir embora
    Vale lembrar que a viação Ferraz tbm fez história em Itaqua no servico municipal pois a mesma operou por algum tempo la antes da Júlio simoes assumir as linhas.
    Parabéns pela matéria, se possível faça com outras empresas q movimentaram o crescimento da região do Alto Tietê como a Eroles, viacao Suzano, viacao Poá ( Está pertencente ao grupo da viacao Ferraz ).

  3. Pedro disse:

    A linha Ferraz que tinha termino no Pq. Dom Pedro foi a primeira empresa que tinha na sua frota a maioria de ônibus novos diferente da CMTC que so tinha tranqueiras, era mais cara a passagem mais valia a pena, ônibus novos, limpos e rápidos, esta deixou saudades.

  4. Nelson disse:

    Qdo. Será que a Ferraz passou para o grupo Ruas?

  5. EDINEI SOARES HORTA disse:

    Eu morei muitos anos perto da antiga garagem da Viação Ferraz na divisa Ferraz / Poá, minha mãe nos levava até o Pq.D.Pedro nas lojas Ducal para comprar roupas, nós pegávamos o ônibus logo na saída da garagem, o trajeto da volta parecia que não tinha fim de tão longe (1h40 a 2h), trânsito intenso e busão lotado, só esvaziava no centro de Ferraz. Passava no bairro do Tatuapé, Carrão, onde hoje levo minha esposa para trabalhar, passo nas ruas dirigindo e bate a nostalgia. Esse ônibus com a pintura VF eu me lembro logo que me mudei para Poá em 1978. Bons tempos que não voltam mais….

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