Indenizações pelo DPVAT caem 15% em 2018, diz relatório de seguradora

Motocicleta é meio de transporte envolvido em maior número de acidentes, mas frota cresceu 101% em dez anos. Foto: Divulgação / Corpo de Bombeiros

Representando apenas 27% da frota nacional, as motocicletas foram responsáveis por cerca de 75% das indenizações pagas em 2018, acumulando mais de 246 mil pagamentos; transporte coletivo correspondeu a 1% dos desembolsos

ADAMO BAZANI / JESSICA MARQUES

Em todo o ano de 2018, o DPVAT (seguro obrigatório) pagou 328.142 indenizações para vítimas de acidentes de trânsito e ou beneficiários. O número representa uma queda de 15% em relação aos 383.993 pagamentos realizados em 2017.

O balanço faz parte de um relatório da Seguradora Líder, responsável pela operação e administração do DPVAT.

As motos continuam sendo as grandes responsáveis pelo uso dos recursos. De acordo com o relatório, representando apenas 27% da frota nacional, as motocicletas foram responsáveis em torno de 75% das indenizações pagas em 2018, acumulando mais de 246 mil pagamentos.

Por sua vez, os acidentes com ônibus, vans e micro-ônibus, que representam uma pequena parcela da frota do País, mas que transportam a maior parte das pessoas nas cidades, geraram 5.748 pagamentos, em torno de 1% do total.

Para o professor Creso de Franco Peixoto, especialista em transportes do Centro Universitário da FEI, em São Bernardo do Campo, o uso do transporte público não recebe o incentivo necessário por parte das prefeituras.

“As contas de fechamento que as Prefeituras têm que pagar são sensivelmente altas e, desta forma, o custo em aberto faz com que, de forma até constrangida, os municípios prefiram que as pessoas comprem carro ou até moto, mesmo sabendo do risco altíssimo que já foi medido inclusive em entidades brasileiras sobre o uso da motocicleta em vez do transporte público”, disse.

FROTA DE VEÍCULOS NO BRASIL

Em dez anos, a frota de automóveis no Brasil cresceu 73%, enquanto a de ônibus, micro-ônibus e vans aumentou 62% de 2008 para 2018, segundo dados divulgados pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).

O número de motocicletas no país é quase a metade do de automóveis, mas mesmo assim apresentou um crescimento expressivo de 101%. Ou seja, a frota mais que dobrou neste período de dez anos.

Na proporção, a frota de carros é 56 vezes maior do que o número de veículos comerciais de transporte de passageiros.

Confira os números, na íntegra:

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Na visão do especialista em mobilidade Creso Peixoto, os incentivos que foram dados, em particular na primeira década do atual século, acabou gerando uma cultura de incentivo à aquisição do carro.

“Esse fato fica muito claro e justificado também em relação à necessidade de aumentar as vendas dos automóveis para garantir uma eficiência financeira maior em um modelo econômico brasileiro que ainda é muito dependente das montadoras. Desta forma, mesmo com a crise que tivemos em meados desta década, ainda permaneceu esta cultura”, avaliou o especialista.

“Em paralelo, como o congestionamento das vias públicas aumentou de forma considerável, pode parecer um tanto quanto paradoxal, mas a diferença de tempo de viagem ainda gera o interesse em chegar mais cedo indo com o próprio carro, o que fica claro que a confiança no transporte público é reduzida ainda. Portanto, fica em uma situação hoje onde o uso do carro acaba sendo ainda privilegiado, dificultando a eficiência, confiança e uso do transporte público”, completou.

Para Peixoto, as desonerações cresceram muito nos últimos anos e o custo da passagem do ônibus urbano acaba sendo influenciado de forma considerável pelo uso excessivo do automóvel para transporte individual.

“Temos o reflexo do modelo de uma política que ainda não conseguiu se afastar da dependência das montadoras e criou um crescimento maior que o transporte público”, finalizou o especialista.

Jessica Marques para o Diário do Transporte

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