História

HISTÓRIA: As empresas que “inauguraram” a “Rodoviária da Luz”, no centro de São Paulo

Ônibus da Viação Cometa nas imediações do Terminal da Luz – Clique na foto para ampliar

Estrutura foi marcante e trazia o requinte que marcava o transporte rodoviário, mas com o tempo, espaço ficou pequeno para a demanda e se degradou

ADAMO BAZANI

Certamente uma das obras voltadas para área de transporte mais bonitas da história de São Paulo foi Terminal Rodoviário da Luz.

Inaugurado em 25 de janeiro de 1961, aniversário da cidade, as obras tiveram início na gestão do governador Ademar de Barros, e contaram com o apoio da prefeitura de São Paulo e pareceria dos empresários Carlos Caldeira Filho e Octávio Frias de Oliveira, dono da Folha de São Paulo.

O local era requintado e entre os destaques estavam o chafariz no hall central e os conjuntos de pastilhas coloridas nas paredes internas, além de vitrais.

Na primeira metade dos anos 1970, o Terminal Rodoviário da Luz foi um dos primeiros locais públicos da cidade a receber aparelhos de TV em cores. Um dos programas dos paulistanos na época era assistir jogos de futebol “em imagens coloridas” na rodoviária.

Área de espera do Terminal , com bandeira do Brasil destacada e, no vão da cobertura, visão da parte superior de um ônibus da Viação Cometa

Pastilhas e vitrais deixavam ambiente claro. Ao fundo, parte da área dos guichês

Entretanto nem tudo é brilho na história da “Rodoviária da Luz”.

Desde antes de ser construído, o terminal já despertava polêmica, principalmente pela escolha do local, bem no centro da cidade, que já nesta época sofria com os problemas de congestionamentos.

A degradação da região da Praça Júlio Prestes foi em parte atribuída por urbanistas à falta de tratamento do entorno da rodoviária.

Segundo relatos que integram o acervo da FEA/USP – Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade de São Paulo, logo no primeiro mês de funcionamento, moradores da região de Campos Elíseos diziam que a criminalidade no local havia aumentado por causa da rodoviária.

Por dia, passavam em torno de 2,5 mil ônibus rodoviários pelo terminal que, ainda segundo reportagens da época analisadas pela FEA/USP, demoravam uma hora para percorrer duzentos metros.

A CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos teve de remanejar, em 1977, várias paradas de ônibus urbanos da Praça Júlio Prestes para a Praça Princesa Isabel, a dois quarteirões da rodoviária.

As gestões seguintes, vendo os impactos negativos da rodoviária no centro, correram para descentralizar as partidas e chegadas dos ônibus. Em 1977, foi inaugurado o Terminal Intermunicipal Jabaquara e, em 09 de maio de 1982, Paulo Maluf, à frente do Governo do estado de São Paulo, inaugurou o Terminal Rodoviário do Tietê, desativando assim a rodoviária da Luz.

Ônibus realizando manobras na região das plataformas.

Justiça histórica seja feita, o objetivo do Terminal Rodoviário da Luz foi organizar os embarques e desembarques dos ônibus intermunicipais e interestaduais na região central, que ocorriam nas ruas. As empresas tinham agências espalhadas pela área. Os ônibus paravam no meio-fio e as calçadas se transformavam em plataformas.

Com virtudes de defeitos, a rodoviária foi um dos cartões postais da cidade de São Paulo e, por mais de 20 anos, porta de entrada para aqueles que vinham à capital paulista em busca de uma vida melhor e ponto de partida e chegada de muitas viagens motivadas por sonhos, paixões e conquistas.

Diversas empresas de ônibus fizeram parte destes sonhos e com exuberantes veículos, que exibiam as características de design de cada época, com suas latarias marcadas por frisos, rebites e cromados, cores vivas e desenhos simples, compunham o ambiente do terminal.

Num anúncio de 12 de janeiro de 1961, a administração da rodoviária, dias antes da inauguração, trazia a relação das empresas que passariam a operar no local:

– Viação Cometa S.A.

– Expresso Brasileiro Viação S.A.

– Empresa de Ônibus Pássaro Marron

– Viação Cidade Azul

– Auto Viação Joanópolis

– Empresa de Transportes Andorinha

– Viação Centauro

– Auto Viação Castro

– Domingues & Martins Ltda.

– Expresso Curitiba – Lages

– Empresa de Ônibus Nossa Senhora da Penha

– Empresa Reunidas Paulista de Transporte

– Rápido Serrano Viação

– A. Franciscato & Filhos Ltda.

– Alcides Baptista Bueno

– Viação Bizachi

– Rodoviário Atlântico

– Viação Jauense

– Viação Bonavita

– Auto Viação Bragança

– Viação Garcia

– Viação Minuano

– Expresso São Luiz Viação

– Expresso Boscatur S.A.

– Expresso Zefir S.A.

– Rápido Luxo Padroeira

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. MarcoV disse:

    Um detalhe:
    Na foto não é o Turbo Jumbo (CIFERAL Líder II sobre chassi SCANIA B110S), mas sim o Jumbo-B (CIFERAL Líder sobre chassi GMC Detroit Diesel).

  2. MarcoV disse:

    Desculpe-me, o correto é Jumbo-G.

  3. Marcos disse:

    Que pona faltam muitas empresas nesta lista,”Auto aviação bonfinense”,que fazia o norte—nordeste,que meu falecido pai trabalhou.

    1. blogpontodeonibus disse:

      Como diz a matéria, são empresas no momento de abertura da rodoviária, ok? Depois vieram mais viações

  4. Anderson Pereira da Silva disse:

    A extinta viação 9 de julho usava essa rodoviária na epoca?

  5. Wilson disse:

    Eu cheguei a conhecer esta rodoviária na época na década de 70. e a maioria das empresas já se foram pelo tempo.

  6. Alguém pode me informar a falta de empresas na lista, como Trancolin, Itapemirim,São Geraldo, Gontijo, Novo Horizonte etc? Se essas empresas ainda nao chegavam a São Paulo em 61, ou se utilizavam outra rodoviaria ou continuavam dando embarque em ruas?
    Obrigado!

    1. blogpontodeonibus disse:

      Estas empresas passaram a operar na rodoviária depois de alguns meses da inauguração. A relação é de empresas no momento da abertura do Terminal

      1. Grato por tirar essa dúvida.

  7. Romílio José da Silva disse:

    FOI UMA DAS SUAS MELHORES MATÉRIAS ADAMO

  8. Romílio José da Silva disse:

    vim conhecer esse terminal por fora em 79 nunca tive a oportunidade de entrar dentro dele mas era magnifico,queria ter tido a oportunidade de poder conhece-lo hoje só resta a lembrança

  9. Rodrigo Zika! disse:

    A parte colorida era muito bonita, uma pena que mudaram.

  10. Rogério Martins disse:

    Pena que não tem uma foto dessa rodoviária a noite.

  11. Alberto vieira disse:

    Quando criança morava em São Paulo e viajava para o interior de sp, me lembro bem, devia ter uns 7, 8 anos e tenho na memória até hoje os dizeres pelos alto-falantes “casas pernambucanas lhe deseja uma booooooaaaaa viageeemmm” espetacular!!!!!

  12. Roberto disse:

    Apesar da críticas que teve na época, como tudo tem os prós e os contras, mas foi magnífico, as viagens pra Santa Catarina e Minas Gerais deixaram boas lembranças.

  13. Fernando Araujo Rodrigues disse:

    essa franciscato e filhos,e a que virou expresso de prata?

  14. CHARLES disse:

    Rodoviária da Luz. Não é do meu tempo (quando fechou eu tinha 2 anos) mas pesquisei muito sobre ela. Quando abriu em 61, não era tão congestionada como dizem, isso veio acontecer só após 1972 quando a Prefeitura proibiu empresas de onibus Interestaduais de fazer embarque e desembarque em ruas comuns em outros pontos da cidade, e as empresas ainda resistentes a operar na rodoviária (justamente porque sabiam que não ia caber todo mundo lá) foram obrigadas a ir pra lá, algumas empresas ainda embarcavam e desembarcavam no Brás, na Av. Ipiranga e no Parque Dom Pedro misturadas com os ônibus intermunicipais locais. O caos foi total, no primeiro feriado prolongado após a unificação das linhas lá dentro, houve uma fila de ônibus que parou a Av. Duque de Caxias e a Av. Rio Branco quase de ponta a ponta, era preciso esperar que um ônibus deixasse as plataformas para outro poder entrar, o caos era grande por isso já que os passageiros ficavam esperando seu veículo na plataforma marcada e por imposição de espaço o carro ia estacionar em outra vaga, o motorista tinha que ir buscar seus passageiros para levar até o ônibus parado no lugar não esperado. Tentaram amenizar o problema transformando a baia de desembarque em mais uma plataforma de embarque em que cabiam 6 ônibus, nada resolveu. A bagunça era grande nas chegadas também, já que dependendo da hora que se chegasse lá para desembarcar (até em dias de semana), seu ônibus poderia ser obrigado a descer os passageiros na rua (uma ironia com a tentativa da Prefeitura de coibir essas práticas obrigando todos os interestaduais a irem operar para o terminal da Luz), há testemunhos de gente que teve que descer na Praça Princesa Isabel, e na calçada da estação da luz, nem a abertura da rodoviária do Jabaquara aliviou o barril de pólvora que se tornou a rodoviária, e em 77 a Prefeitura retirou os ônibus que faziam linhas intermunicipais para a Grande Sâo Paulo que até então faziam embarque e desembarque finais lá e os espalhou pelo centro, Correio, Pq. Dom Pedro, Praça Clóvis, Praça da República, Estação da Luz, linhas para Guarulhos, Cotia, Cajamar, Arujá, algumas linhas para Mogi das Cruzes também saíram (permaneceu só uma linha expressa via Dutra ainda partindo da rodoviária que depois migraria para o Tietê), mas nem isso resolveu, algum alívio só veio com a mudança de muitas linhas do nordeste para a improvisada rodoviária do Glicério. Quando o Tietê abriu em 82, enfim acabou o caos no embarque e desembarque rodoviário para viagens de longa distância partindo da Capital Paulista, mas, como nem tudo são flores, a região do Campos Elíseos, então um pacato e barato bairro residencial colado ao centro da cidade, se tornou um antro de atração de delinquentes, mendigos, desocupados, desempregados, aventureiros, de toda sorte, que tinham o lugar como ponto de chegada vindo dos mais remotos rincões do país (e chegavam com pouco ou nenhum dinheiro no bolso iludidos pelo mito de que em SP todos prosperam e melhoram de vida). A sina da região como local de chegada à Capital era e ainda continua tão forte, que mesmo após a saída da rodoviária e até hoje (2021), o lugar ainda é ponto de desembarque de ônibus clandestinos vindos de toda parte e até do exterior, e abriga a tão famosa cracolândia, que nada mais é que o resultado da degradação de décadas da região em virtude do movimento e da chegada e massa de pessoas num lugar que não tem condições de abrigá-las! Há pouco tempo, o governo do estado desapropriou o local da antiga rodoviária, que funcionava como um shopping de moda popular, sob o pretexto de fazer um teatro, que nunca veio, porque decidiu-se fazer um bizarro condomínio vertical de moradia popular em seu lugar.

  15. Roberto Polle disse:

    Lembro que na época eu era adolescente. Tinha uns batedores de carteira. Roubaram meu pai e passaram a gilete em seu braço. Ele teve que ser socorrido e perdeu a viagem, pois perdeu bastante sangue. O Maluf depois transferiu a Rodoviaria para o Tiete. Na época era um absurdo de longe, mas hoje vejo quao importante foi

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