Governo do DF adere a acordo de leniência firmado pela Andrade Gutierrez com o MPF

Foto: Wanderson Ferreira

Dentre irregularidades apontadas está a construção do BRT Sul, corredor expresso de ônibus que liga a região central do DF à divisa sul com o estado de Goiás

ALEXANDRE PELEGI

O Governo do Distrito Federal (GDF) anunciou nessa quarta-feira, dia 25 de julho de 2018, que aderiu ao acordo de leniência firmado pela construtora Andrade Gutierrez com a força-tarefa da operação Lava Jato.

A adesão permite que o GDF tenha acesso mais rápido aos documentos da investigação. Com isso, será possível acelerar a punição de empresários, agentes públicos e políticos envolvidos em irregularidades.

Um levantamento da Controladoria-Geral do DF concluiu que quatro grandes obras nas quais a Andrade Gutierrez tinha participação geraram um prejuízo de mais de R$ 207 milhões.

Dentre as irregularidades apontadas está a construção do BRT Sul, o corredor expresso de ônibus que liga a região central do DF à divisa sul com o estado de Goiás.

Desde o ano passado o Ministério Público Federal (MPF) vem investigando o BRT Expresso Sul, obra inicialmente orçada em R$ 587,4 milhões, mas que acabou executada por R$ 704,7 milhões.

As investigações ocorreram no âmbito da Operação Panatenaico, que investiga obras de grande porte em Brasília.

Segundo informações da EBC – Rádio Agência Nacional ao menos 9 empresas e 4 políticos são apontados como responsáveis pelas irregularidades que envolvem as quatro grandes obras. Os nomes não foram divulgados em respeito às cláusulas do acordo de leniência da Andrade Gutierrez, que inclui o sigilo.

De acordo com o comunicado do GDF, os documentos obtidos a partir do acordo “são de natureza sigilosa, e somente podem ser utilizados para a fundamentação de ações do Poder Executivo do Distrito Federal, havendo o expresso impedimento no compartilhamento do material com outros órgãos e esferas de poderes“.

Além da construção do BRT Sul, as outras três obras são: conjunto de moradias populares Jardins Mangueiral; Centro Administrativo, que após ser inaugurado nunca foi usado; e Estádio Nacional Mané Garrincha, o segundo mais caro do mundo.

HISTÓRICO

O processo da obra do BRT Expresso Sul atravessou governos do DF: o edital de licitação para construção do corredor se deu na gestão de José Roberto Arruda (PR), em 2008, e as obras começaram três anos depois, em 2011, na gestão do governador Agnelo Queiroz (PT), cujo vice era Tadeu Filippelli (PMDB), que chegou a ocupar o posto de assessor da Presidência da República com Michel Temer.

Em 2017 Arruda, Agnelo e Tadeu Filipelli chegaram a ser presos.

O consórcio encarregado pelas obras do BRT é integrado por Via Engenharia, OAS, Andrade Gutierrez e Setepla Tecnometal Engenharia. A Justiça Federal suspendeu os repasses de dinheiro para as empresas após auditoria especial da Controladoria-Geral do DF apontar que a construção do sistema de transporte expresso provocou prejuízo de quase R$ 170 milhões aos cofres públicos.

O dinheiro do BRT Sul saiu do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – Mobilidade Grandes Cidades. As delações da Andrade Gutierrez referentes ao sistema de transporte expresso estão sob sigilo.

Segundo relataram os empresários João Pacífico e Ricardo Ferraz, foi articulado um “acordo de mercado” entre várias construtoras. Por este acordo as obras mais caras eram divididas antes do processo licitatório. O BRT Sul teria sido supostamente executado sob esse esquema.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

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