História

HISTÓRIA: Você já ouvir falar dos ônibus Zeppelin?

Ônibus-zepelin no Pará. Modelo inusitado foi sucesso de público, mas não de renda.

Veículos circularam ao menos em Belém do Pará, São Luís e Manaus

ADAMO BAZANI

Os dirigíveis zepelins, nome em homenagem ao conde alemão Ferdinand Von Zeppelin, considerado pioneiro no desenvolvimento de dirigíveis rígidos no início do século XX, despertavam fascínio pela inovação, para época, e também pelas formas e dimensões.

Alguns modelos passavam de 230 metros de comprimento.

Os primeiros zepelins operaram comercialmente pela Deutsche Luftschiffahrts-AG (DELAG) em 1910. Quatro anos depois, em 1914, a DELAG já havia transportado  10.000 passageiros pagantes em mais de 1500 voos.

Durante a Primeira Guerra Mundial, os militares alemães usaram os zepelins como bombardeiros. Apenas na Grã-Bretanha, o uso desses equipamentos para fins bélicos foi responsável pela morte de mais de 500 pessoas.

O nome de Zeppelin neste setor foi tão forte que todos os dirigíveis começaram a ser chamados de zepelins, independentemente da marca que os produziam.

Questões políticas, econômicas, técnicas e principalmente o desastre de Hindenburg em 1937, em Lakehurst, perto de Nova York, que matou 35 pessoas, abreviaram o fim da era dos dirigíveis.

Mas até então, os gigantes do ar eram pura sensação. A passagem do dirigível alemão Graf Zeppelin D-LZ127, em 1930 pelo Brasil, parou milhares de cidadãos estupefatos pela grandiosidade e beleza. A primeira passagem foi em 22 de maio, em Recife.

Em 1932, o Graf Zeppelin voltava ao Brasil desta vez nos céus do Rio de Janeiro.

Além de Rio e de Recife, o Zeppelin sobrevoou capitais como São Paulo e Curitiba.

Um dos fascinados pelo Zeppelin foi o empresário Joaquim Lourenço (Joaquim Português).
Segundo registros do Museu dos Transportes da NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, ele mandou construir carrocerias de ônibus com o formato dos dirigíveis no final dos anos 1940.

Frota de zepelins em frente à oficina. Construção era artesanal

Os primeiros veículos com estrutura de madeira revestida de chapas de aço sobre chassis de caminhão começaram em 1948 a circular por Belém do Pará.

Com o nome Dirigível Pérola, o modelo se destacava pelas formas bem diferentes dos ônibus tracionais. Feitos artesanalmente em oficinas de Belém, os primeiros ônibus-dirigíveis tinham faróis nos para-lamas, somente uma porta e as janelas não tinham vidros, apenas as cortinas.

Uma das primeiras gerações do ônibus-zepelin da Dirigível Pérola

Ônibus-dirigível da Pérola de geração mais nova e porte maior.

A empresa Viação Sul Americana, fundada em 1950, comprou cinco veículos, com dimensões maiores (13 janelas laterais enquanto o modelo anterior tinha 12) e operou na cidade até que em meados da mesma década, transferiu os ônibus para São Luís, no Maranhão.

Um dos ônibus-zepelin da Sul Americana, em Belém

Em 1955, uma pequena empresa de ônibus de Manaus encomendava em Belém cinco ônibus-zepelins. Os veículos eram maiores, com 17 janelas, todas com vidro de correr, e podiam transportar em torno de 70 pessoas sentadas.

Os ônibus-zepplins de Manaus eram maiores e mais luxuosos

Um dos ônibus da Sul Americana não foi parar em São Luís, mas continuou em Belém, por onde circulou até metade dos anos de 1960 pela Viação Triunfo.

Ônibus ficaram mundialmente conhecidos após reportagem da Life

A FAU – Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da Universidade Federal do Pará entrevistou em 2013, José Miguel Abrahão Filho, um dos proprietários do ônibus-zepelin de Belém. Ele contou que os ônibus eram sucesso de público, vendiam bastante passgens, mas tinham vários problemas técnicos, como peso excessivo, aerodinâmica inadequada e gasto demasiado de pneus.

As últimas unidades foram desmontadas e a madeira foi queimada em fogueiras nas festas de São João da cidade.

Os ônibus chamavam bastante a atenção. Tanto é que em 1957 foram temas de reportagens da Revista Life e de emissoras de TV internacionais.

 

Ferdinand Von Zeppelin considerado o pai dos zepelins

Zepelin sobrevoando Recife em 1930

Zeppelin sobrevoando o Rio de Janeiro em 1932

Embarque com glamour no Zeppelin no Rio

Zeppelin parece conversar com as belezas naturais do Rio de Janeiro

Zeppelin em São Paulo em 1933

Graf Zeppelin sobrevoando o Bairro Água Verde, em Curitiba, 1934

O desastre de Hindenburg em 1937 dá fim à era dos zepelins

Desastre também foi destaque na imprensa brasileira

Comparação de revista especializada entre zepelins e aeronaves atuais

Os veículos podem ter sido considerados equívocos operacionais, no entanto, mostraram a criatividade e o lado humano relacionado ao setor de transportes. Certamente, os ônibus-dirigíveis marcaram histórias e, mesmo que por vias não convencionais, também escreveram um capítulo na memória do desenvolvimento dos transportes no Brasil.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Jair disse:

    Nunca imaginei, embora tivesse
    já visto foto de um desses onibus, que tinham sido idealizados e construidos no Brasil dos anos 40.
    Mais uma vez obrigado Adamo.

  2. Que bacana, Adamo! Muito legal essa matéria.

    1. blogpontodeonibus disse:

      Opa. Valeu.
      Obrigado

  3. Licia Maria da Fonseca Rocha Kawase disse:

    Gostei muito das informações! Espero outras com respeito à tudo sobre Zepelin o TOUR AÉREO de ZEPELIN em Konstanz e o HOTEL E BALNEÁRIO dentro de UMA GARAGEM PARA ZEPELIN que existe perto 2horas de BERLIM ( já passei um dia lá com minha Filha e dois Netos.

  4. vagner-valani disse:

    Show de reportagem! Imagina hj ver um ônibus-Zeppelin circulando nas cidades, iria parecer um ônibus-OVNI, hehehe. Mas muito legal mesmo..
    Parabens!

  5. Vicente Sousa disse:

    Oi, boa noite, eu gostaria de saber pra que lado abre a porta do Zepelim dirigivel e se as rodas era raiada.

  6. Jose Roitberg disse:

    Ótimo artigo. Abrangeu tudo o que importa sobre os ônibus Zepelin. No Rio de Janeiro ainda temos o único hangar de Zepelin existente no mundo. Está na Base Aérea de Santa Cruz e é utlizado normalmente pela FAB. É muito, muito, muito grande. Abs.

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