História

O “professor Pardal” do Transporte

Ronaldo Isaak e Quinho: experiência de uma época em que todos faziam de tudo nos transportes

Joaquim Francisco Machado, o Quinho, lembra das primeiras linhas da Leblon, em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba. Ele transforma qualquer peça que ia para o lixo em boa de novo

ADAMO BAZANI

As garagens de ônibus por todo o país são feitas de verdadeiros talentos que, além da especialização técnica e preparo em cursos específicos, desenvolvem na prática conhecimento e soluções para um setor extremamente dinâmico e que não pode parar um minuto sequer.

Muitas vezes, as respostas têm de ser rápidas e o ritmo do setor é bem diferente da burocracia, que só atrapalha.

Um dos exemplos destes talentos é Joaquim Francisco Machado, o Quinho, hoje no setor de controle de manutenção da Leblon Transporte de Passageiros, que opera nas cidades de Mandirituba, Fazenda Rio Grande e Curitiba, no Paraná.

O profissional que atua há quase 40 anos no setor de transportes de passageiros é chamado de “professor Pardal da Eletrônica”, referência hoje ao seu departamento.

Qualquer peça, placa eletrônica, chicotes, sistemas e equipamentos que parecem não ter mais jeito, Quinho senta em sua bancada, pensa, analisa o que pode ser feito e começa a experimentar. Quando menos se espera, a peça está novinha. Isso sem contar com soluções práticas que ele mesmo elabora e que, muitas vezes, os engenheiros das fábricas sequer enxergaram.

“Tem peças que não são mais fabricadas ou problemas com solução muito demorada. A gente tem de agir rápido, com criatividade e responsabilidade” – conta o profissional que ressalta que todas as adaptações e restaurações respeitam os parâmetros de segurança recomendados pelas leis, órgãos certificadores e fabricantes.

Quinho começou a trabalhar no setor de transportes nos anos 1980 e é um dos profissionais pioneiros da Leblon Transporte.

Ônibus Comil, enfrentando atoleiros e rua de terra

Ele já fez quase de tudo na empresa, foi cobrador, motorista, mecânico, atuou no tráfego. Era uma época que todos faziam tudo.

Um dos diretores da empresa, Ronaldo Isaak, filho do fundador Alfredo Isaak, lembra que enquanto era cobrador numa linha, em 1986, Quinho trabalhava em outro trajeto.

“Não tinha essa de só porque era filho do dono, ficava num escritório. Eu era cobrador da linha Dona Rosa/Tietê. Pegava a primeira viagem, às 04h35 e, na última, 00h35, já estava de volta ao ônibus. Eu dormia num hotelzinho barato para ficar perto da empresa.” – relembra-se Ronaldo.

Como Quinho morava mais perto, dava para ir para a casa, mas ele tinha também de pegar a primeira e a última viagem também.

Desta época, Joaquim e Ronaldo se lembram dos bairros atendidos pela Leblon, que foi fundada em 1983. As origens do Grupo Leblon são de 1951, quando Alfredo Issak começou a atuar nos transportes, inicialmente entregando leite Em 1965 tornou-se transportador de passageiros ao adquirir seu primeiro ônibus, um Chevrolet 51, na época denominado “lotação”, com o qual realizava o transporte escolar do Colégio Divina Providência, em Curitiba.

Santa Fé, Dona Rosa, São Francisco e Dona Lia eram algumas das localidades de difícil acesso que Ronaldo e Quinho se recordam.

“Íamos com uma enxada no ônibus. Caso atolasse, todos descíamos e cavávamos, Atoleiro era uma coisa normal. Não era bom, claro, mas não reclamávamos, o transporte ajudava muita gente” – relata Quinho.

“Além das estradas e ruas de barro, a serração era um problema. Se nem tinha paralelepípedo na rua, quanto menos iluminação. E a neblina e a serração eram fortes mesmo, não dava para ver nada. Então o que fazíamos? Enchíamos latas de tinta usadas com diesel e colocávamos fogo, eram nossos sinalizadores para sabermos onde eram os limites das ruas” – conta Ronaldo Isaak.

Ronaldo e Quinho também se lembram dos primeiros modelos de ônibus que trabalharam, todos com motor na frente para aguentar as más condições de tráfego. Tinha Caio Bela Vista, Caio Gabriela, Incasel e uns Caio Amélia que vieram usados do Rio de Janeiro.

Toda a vez que vinha ônibus novo, a alegria era grande, mas a aflição também.

Ônibus Mafersa trouxeram qualidade aos serviços, mas cuidado era grande em áreas de difícil acesso

Ronaldo lembra da chegada dos Mafersa, nos anos de 1990, estes já com motor traseiro e mais confortáveis.

“Esse modelo foi um salto de qualidade. Mas eram caros e mais complexos. Íamos com um carro na frente vendo as condições do caminho. Preferíamos bater e estragar nossos carros particulares a danificar aqueles ônibus” – conta Ronaldo.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia.

    Adamo parabéns, por mais uma matéria aula e histórica.

    É isso ai, operar buzão é igual a DINÂMICA.

    Sem DINÂMICA o buzão não roda, e ele só roda quando tem pessoas como a família Isaak e o Sr. Quinho.

    É quem gosta do buzão, da dinâmica e do cheiro do Diesel, por isso que o buzão roda.

    Pois se depender do puuuuder dos gabinetes, iriamos todos a pé mesmo.

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKk

    Parabéns LEBLON e toda a equipe.

    Att,

    Paulo Gil
    “Buzão e Emoção é a Paixão”

  2. Edson Profeta Ramos de Araujo disse:

    Ainda tem muito barro nesse Brasil de todos nós para esses verdadeiros mestres mostrarem suas habilidades. A maioria dos ônibus hoje tem muito plástico e fibra de vidro e não aguentaria o que os pioneiros aguentaram, por isso esses “professores Pardais” são imprescindíveis.

  3. CLAUDIO BOFF disse:

    Devo muito do que aprendi `a esses magos das garagens. Toda boa empresa tem pelo me nos um desses Artistas.

  4. antonio carlos disse:

    pena que os corruptos de Maua não deixaram perpetuar o grupo Leblon. Corrupto é corrupto, não tem jeito.

  5. Hebert Almeida disse:

    Parabéns pela matéria !!!

  6. Jackson de sousa leite disse:

    familia isaak sempre se empenhou pra oferecer o melhor chegaram à cidade de Mauá dando um salto na qualidade do transporte para um Vagabundo chamando Donisete braga cupixa da Máfia dos transportes instalada no ABC paulista retirar a |Leblon com justificativas esdruxulas como “a leblon ferudou o sistema de bilhetagem” e teve a cara de pau de falar que a frota da leblon era sucateada engraçado que tirou a leblon pra colocar a Suzantur com ônibus vindos do io de janeiro caindo os pedaços politico é a pior raça deste mundo deviam matar todos um a um…..

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