História

Câmara aprova em primeira votação projeto que decreta o fim do Minhocão para os carros

Minhocão no início dos anos 70, pouco após a inauguração

Texto da lei cria o ‘Parque Minhocão’, que deverá estar plenamente em funcionamento em até quatro anos para uso da população paulistana

ALEXANDRE PELEGI

Parece que agora é para valer. A Câmara Municipal de SP aprovou nesta quarta (20), em primeiro turno, o projeto de lei que prevê a desativação gradual do Minhocão, principal ligação por carros entre as regiões leste e oeste da cidade.

O texto da lei cria o ‘Parque Minhocão’, que deverá estar plenamente em funcionamento em até quatro anos.

O vereador José Police Neto, um dos autores da Lei, realça que a determinação já consta do Plano Diretor, e que a única coisa que os autores do PL fizeram foi colocar a ideia em prática. “São cinco anos de debate aqui na Câmara. A sociedade está pronta para transformar esse monte de concreto em um parque definitivo”, afirma Police.

Para ter efeito de lei, a medida precisa passar por nova sessão de votação na Câmara, ainda sem data para acontecer. Caso aprovada, ela seguirá para sanção do prefeito João Doria.

Police Neto, um dos mais aguerridos vereadores paulistanos na luta por uma mobilidade urbana sustentável (é dele, por exemplo, o Estatuto do Pedestre), explica ao Diário do Transporte como se dará a desativação gradual do minhocão:

“A desativação gradual do elevado será combinada com a implantação do Parque Minhocão. Iniciaremos com a compatibilização dos horários ao rodízio. O uso da via Elevada para carros se dará exclusivamente das 7 h às 20 h de segunda à sexta-feira. O Parque Minhocão funcionará de segunda a sexta-feira após às 20 h, sábados, domingos e feriados integralmente. A segunda etapa será o fechamento da via para carros nas férias escolares. Ou seja, em Janeiro e Julho o Parque Minhocão será integralmente dedicado ao lazer, esporte e cultura, de todas as escolas do entorno. É bom lembrar que há mais de 25 anos o Elevado é espontaneamente transformado em parque, quando os carros são impedidos de circular. O próximo desafio será tornar o Parque Minhocão verde. Ricardo Cardim (Floresta de Bolso) e Nik Sabey (Novas Árvores por aí) já são parceiros”, diz Police.

MINHOCÃO: UMA CICATRIZ URBANA

O Minhocão, oficialmente chamado de elevado Presidente João Goulart, é uma cicatriz na paisagem urbana de São Paulo. Construído às pressas, mirando apenas nos proprietários de automóveis, ele reflete bem uma visão distorcida de transporte que durante décadas, e até hoje, persiste nas cidades brasileiras.

Prefeito à época, Paulo Maluf tratou o projeto como um dos grandes destaques de seu “jeito de governar”, à base de grandes obras viárias. Nomeado prefeito pelo regime militar, Maluf desdenhou das opiniões contrárias ao projeto. O minhocão, quando foi anunciado pelo prefeito no finalzinho dos anos 1960 (vídeo acima), já estava ultrapassado como solução viária nas principais cidades do mundo.

Se de um lado o elevado agradou aos proprietários de automóveis, de outro destruiu não só a paisagem urbana, como ignorou seus danosos efeitos sobre a qualidade de vida de milhares de paulistanos que moravam no entorno. O elevado, construído sobre as avenidas São João e General Olímpio da Silveira (além da Amaral Gurgel), ficou pronto em 14 meses, no início de janeiro de 1971.

Maluf o chamaria então de “a maior obra de concreto armado da América Latina”.

A Prefeitura de São Paulo, para a inauguração do gigante de cimento, fez publicar convite nos principais jornais paulistanos. Para homenagear seus padrinhos de poder, Maluf escolheu chamar sua obra faraônica de elevado Costa e Silva, “uma das grandes figuras da Revolução de 1964”.

minhocao_convite

O inferno urbano provocado pela intervenção tresloucada de um prefeito biônico passou a funcionar todos os dias da semana, 24 horas por dia. Somente em 1976, após inúmeras reclamações dos moradores da região, o Minhocão passou a ser fechado na madrugada, entre meia noite e cinco horas da manhã. Em 1989 a prefeitura puxou o horário de fechamento para as 21:30, impedindo a circulação de automóveis aos domingos.

Alexandre Pelegi, jornalistas especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. jair disse:

    Os prejuízos da construção do elevado já prejudicou seus moradores nos anos seguintes a construção (1971). Hoje quem habita seu entorno já entrou ciente de sua existência e talvez até se beneficiando do valor menor na aquisição.
    Assim, discordo da polemica sobre o elevado, 46 anos depois de sua inauguração, prejudicando o já caótico transito de São Paulo, numa ligação leste/oeste de grande importância.
    Para sua substituição seria necessário colocar os trens da CPTM em tuneis como metro construindo avenidas em seu lugar. Custo altissimo numa cidade carente de tudo.

    1. Paulo Gil disse:

      Jair, boa tarde.

      De pleno acordo com suas colocações.

      Abçs,

      Paulo Gil

  2. O.Juliano disse:

    Até que enfim!

    Poderiam derrubar pelo menos parte. Ou fazer o parque do tamanho dele por completo e não meia boca.

  3. IVAN disse:

    A 40 anos atrás, o minhocão com seus 3.4km de extensão foram construídos em apenas 14 meses.
    Atualmente, uma pontinha de 30 metros sobre um córrego canalizado demora 3 anos pra ser finalizada.
    E tem quem diga que o Brasil não regrediu.

  4. Acho bom assim, ele só serve deixar a cidade mais feia, e fica bem esquisito ali onde passa.

  5. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa tarde.

    Eu sou contra a demolição do minhocão, primeiro porque sua construção foi o caos à época, já deu prejuízo à muitas pessoas, a região e ao urbanismo, e hoje é peça fundamental na ligação leste oeste sem ter de usar a marginal.

    Também entendo que a câmera NÃO tem poder para tomar tal decisão.

    Portanto a demolição ou não do minhocão ou sua transformação em parque tem de ser submetida a um plebiscito com o referendo dos paulistanos.

    A maioria dos contribuinte decidem e não uma minoria do puuuuuuuuuder.

    FICA MINHOCÃO DE SAMPA.

    Att,

    Paulo Gil

  6. Ismael de Jesus Silva Mendes disse:

    O minhocão pode ser demolido sim por decisão de quem autorizou e aprovou a sua construção se o poder público errou ao aprovar sua construção eles devem corrigir esses e muitos erros viários que existem pela cidade afinal de contas eles foram eleitos para isso.

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