Teleférico do Alemão, antes símbolo de modernidade e turismo, convive com o abandono

Consórcio responsável pelo equipamento de transporte que atendia 14 favelas do morro do Alemão teria suspendido contrato há um ano por falta de verbas. Governo do Rio nega suspensão do contrato e diz que problema é de manutenção

ALEXANDRE PELEGI

Inaugurado em 2011, a um custo de R$ 253 milhões, dinheiro proveniente do PAC, o teleférico do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, teve seus serviços interrompidos em setembro do ano passado devido ao desgaste de um dos cabos de tração. Esta é a explicação oficial, que conflita com a informação de que o contrato com a concessionária que opera os serviços foi suspenso por falta de pagamentos do governo do estado.

Em agosto deste ano, portanto quase um ano depois, a Secretaria Estadual de Transportes afirma que o equipamento já foi adquirido. O cabo, feito sob medida para o Teleférico, tem previsão para chegar ao Rio ainda neste semestre.

O problema é que além da manutenção há outros problemas muito mais complexos, que podem inviabilizar a tão sonhada abertura do serviço de transportes que atendia à comunidade do Complexo do Alemão, conjunto de favelas da zona norte carioca. O fechamento do serviço de transporte prejudicou principalmente as crianças que usavam o teleférico para ir à escola, afirmam os moradores.

O Teleférico é operado pela concessionária Rio Teleféricos, e seus donos estão envolvidos na Operação Lava Jato. O equipamento consta como uma das obras sob suspeita de pagamento de propina na gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), preso na Operação Calicute.

CONCESSIONÁRIO NOTIFICOU SUSPENSÃO DO CONTRATO:

Em outubro do ano passado a Rio Teleféricos notificou o governo do Rio que iria suspender o contrato por falta de pagamentos. Alegando não receber os repasses mensais desde abril de 2016, o prejuízo atingia à época R$ 2,7 milhões. Os repasses eram feitos pela secretaria estadual de Transportes.

O Teleférico hoje é o retrato do abandono e da crise econômica do Rio de Janeiro. Algumas estações estão fechadas e abandonadas e os funcionários não recebem salários desde 2016.

Logo no lançamento, feito na época em que o Rio de Janeiro sonhava com os grandes eventos da Copa e da Olimpíada, o Teleférico do Alemão chegou a ser anunciado com ares de ufanismo pelo governo do estado como um renascimento da região formada pelas mais de 14 favelas, chegando a se tornar símbolo das UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora. A obra virou também um ícone turístico do Rio, chegando às telinhas como cenário de uma novela global.

Com 3,5 quilômetros de extensão e 152 gôndolas, o teleférico liga Bonsucesso à Palmeiras e na época da paralisação realizava 9.000 embarques por dia.

Foi o primeiro meio de transporte por cabos instalado no Brasil. Atualmente sistemas semelhantes são operados no México, Colômbia, Venezuela e no Chile, onde funciona, dentro do Parque Metropolitano, o novo teleférico.

Teleferico-de-Santiago-do-Chile

Teleférico de Santiago do Chile

VERSÕES

O governo do estado do Rio refuta a informação de que o contrato com a concessionária esteja suspenso. Confira a íntegra da nota:

“O serviço do Teleférico do Complexo do Alemão, administrado pelo consórcio Rio Teleféricos, foi interrompido em setembro do ano passado, quando foi identificada, durante a manutenção diária, a evolução atípica do desgaste de um dos cabos de tração, sendo necessária a paralisação preventiva do sistema, obedecendo às normas internacionais de segurança. A retomada do serviço depende da troca do cabo, fabricado sob medida no exterior, que já está em produção e deve chegar ao Brasil ainda no segundo semestre. Informamos, ainda, que o contrato com o consórcio está vigente”.

A Concessionária Rio Teleféricos, que assumiu o equipamento através de licitação feita pelo governo estadual, pertence à empresa do advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, ambos citados em relatório da Polícia Federal por envolvimento com corrupção ligado à empreiteira UTC Engenharia, uma das envolvidas no esquema de corrupção que agia na Petrobras.

O contrato do Teleférico é objeto de uma ação judicial movido pela empresa que perdeu a licitação do equipamento.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transporte

Comentários

Comentários

  1. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia.

    Olha ele ai de novo firme e forte.

    O EFEITO BARSIL.

    O pior problema que o Barsil tem, até pior do que a corrupção é o DESPERDÍCIO DO DINHEIRO DO CONTRIBUINTE.

    Mais um equipamento abandona e a população SEM o modal, pelos motivos que todos já conhecemos, A BURROCRACIA.

    MUDA BARSIL.

    Att,

    Paulo Gil

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