Nova York quer que mais ricos banquem custos do metrô da cidade

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, em abril de 2015, tomou o metrô para ir até a Prefeitura, como parte de um esforço para aumentar a conscientização sobre a falta de financiamento para o transporte da cidade.

Enquanto isso… no Brasil já é comum os mais pobres pagarem caro para usar o transporte coletivo. As possibilidades que teríamos de baratear o custo desse transporte enfrentam histórica resistência dos setores mais ricos da sociedade

ALEXANDRE PELEGI

O prefeito de Nova York anunciou nesta segunda-feira (7) algo que já é comum nas principais metrópoles mundiais: os mais ricos, que são poucos, devem pagar para financiar o transporte dos mais pobres, que são muitos. O nome disso é justiça social.

Várias cidades do planeta têm criado taxas para desestimular o uso do transporte individual, e assim reduzir a poluição, e com os recursos arrecadados criam fundos que servem para financiar a melhoria do transporte coletivo.

Pelos cálculos do prefeito De Blasio, o imposto geraria até US$ 800 milhões por ano, e afetaria menos de 1% da população da cidade. Sua proposta seria aumentar de 3,9% a 4,4% a alíquota de impostos pagos pelos cidadãos com renda superior a US$ 500 mil por ano e pelos casais com mais de US$ 1 milhão.

A medida atingiria apenas 32 mil nova-iorquinos, ou apenas 0,8% da população.

O prefeito defendeu com clareza seu raciocínio: “Ao invés de passar a conta para as famílias trabalhadoras e os usuários de metrô e ônibus, que já sofrem a pressão de tarifas em aumento e um mau serviço, estamos pedindo aos mais ricos da nossa cidade que contribuam um pouco mais para ajudar a levar o nosso sistema de transporte ao século XXI”.

A decisão do prefeito veio em resposta à degradação dos serviços de transporte na cidade, especialmente do Metrô, a ponto de as autoridades locais declararem estado de emergência diante dos seguidos atrasos e incidentes que se multiplicaram no sistema metroviário.

O plano apresentado nesta segunda-feira por De Blasio propõe utilizar parte do dinheiro arrecadado entre os mais ricos em forma de abonos de transporte pela metade de preço, direcionados para até 800 mil moradores de baixa renda.

ENQUANTO ISSO, NO BRASIL…

No Brasil já é comum os mais pobres pagarem caro para usar o transporte coletivo. As possibilidades que teríamos de baratear o custo desse transporte enfrentam histórica resistência dos setores mais ricos da sociedade.

Um exemplo é o custo que é repassado disfarçadamente à tarifa por conta dos congestionamentos.

Muitos pagam mais caro para usar o ônibus por causa de poucos que se utilizam da rua, um bem coletivo, para trafegar livremente com seus automóveis. A apropriação indevida de espaço é gritante: uma pesquisa recente do IEMA demonstra que os carros em São Paulo ocupam 88% do espaço das vias, enquanto os ônibus usam apenas 3%. Enquanto os carros transportam 30% das pessoas, os ônibus transportam 40%.

Uma pesquisa feita pela ANTP, em conjunto com o Ipea em 1997 e 1998, calculou o lado perverso dessa soberania do carro nas cidades. O impacto causado pelo uso intenso do automóvel nas vias demonstrou que os congestionamentos causavam um aumento de 16% nos custos de operação dos ônibus na cidade de São Paulo. Hoje, chega a 25%. Mais carros nas ruas, mais caro o custo do transporte público – um caso típico em que a escolha de alguns penaliza a vida de muitos.

A injusta e incorreta divisão do espaço urbano – repetimos: um bem coletivo – tem efeitos péssimos não apenas para os mais pobres, que são obrigados a viajar espremidos, a esperar mais pelos ônibus, e a suportar uma tarifa mais injusta, como para toda a sociedade. Referimo-nos aos danos ambientais: levando apenas 30% dos passageiros, os carros são responsáveis por 72,6% das emissões de gases de efeito estufa do setor de transportes.

A grande pergunta que não é feita no Brasil por puro egoísmo, já está sendo respondida em várias cidades mundo afora: por que o usuário do automóvel, que polui e consome mais espaço público, provocando acidentes de trânsito, não é penalizado pelos danos que causa?

No Brasil as poucas oportunidades que os governantes têm para reduzir os custos do transporte coletivo, o que permitiria mais eficiência para o sistema de transporte, além de produzir um transporte de qualidade, com mais conforto e a um custo justo, são historicamente desperdiçadas, para não dizer rejeitadas. Esse tema no Brasil é considerado tabu. Até a inspeção veicular, uma maneira de penalizar quem polui mais, foi posta de lado em São Paulo…

Um exemplo recente foi dado pelo governo federal com o aumento dos impostos dos combustíveis. Ao invés de usar um imposto sobre o transporte individual para mudar a política de mobilidade nas cidades, o presidente preferiu socializar o ônus da farra do dinheiro público com todos os cidadãos.

Um país que prefere garantir o privilégio de poucos, ao invés de zelar pelo bem estar da maioria, é um país inviável economicamente. Produz cidades anti-econômicas e caras, onde o exagerado tempo de viagem casa-trabalho é apenas um dos indicadores mais claros do desperdício de energia e dinheiro.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transporte

Comentários

Comentários

  1. Wilson Victorio disse:

    No Brasil, rico não utiliza o seu carro para trabalhar, utiliza helicóptero ou jatinho particular. Quem utiliza o carro em São Paulo é trabalhador que precisa resolver negócios, Alias o grande problema das grandes cidades no Brasil não é os veículos, mas sim a grande quantidade de pessoas, a falta de estrutura para abrigar um monte de indivíduos que querem morar nos grande centros populosos do Brasil. Sr Alexandre Pelegi com todo o meu respeito a sua pessoa eu acredito que o Sr não mora no Brasil. Eu tenho a minha residencia em um município que tem 110 mil hab, aqui não temos nenhuma montadora de veículos, mas como em todo o Brasil a minha cidade gera empregos que dependem da Industria Automobilística direta e indiretamente. Se tem crise no setor automobilístico tem desemprego, com o desemprego para a construção civil, comercio de veículos shopping tem queda nas vendas, empresas de RH deixam de contratar, para a terceirização, , transporte urbano fica ocioso, cai a venda nos supermercados, .retração na Industria de auto-peças, siderúrgicas, petroquímicas e etc………Brasil depende do veiculo automotores. Não adianta insistir o grande problema do Brasil é que todas as pessoas querem morar nas grandes capitais. Quer resolver o problema , então fecha todas as montadoras.

  2. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia.

    Está matéria é muito perigosa para o Barsil, pois tudo o que o puder quer é aumentar impostos para não trabalhar.

    Aqui antes de qualquer ação, o que realmente precisa ser EXTIRPADO no Barsil, não é a corrupção, e sim o DESPERDÍCIO DO DINHEIRO DO CONTRIBUINTE.

    A corrupção (ou a famosa “bola”) faz parte do “business”, e ela não acabará nunca; não sejamos falsos inocentes.

    Vamos ao cansativo exemplo, mas como ele não roda, tem de ser ele, mesmo que seja cansativo.

    E o Aerotrem de Sampa ?

    Roda ou Implode ?

    Quando ?

    Quem são os responsáveis por esta obra inacabada ?

    Serão punidos ?

    O prejuízo causado a sociedade por vários ângulos, será ressarcido ?

    Quando ?

    Até quando vai essa blindagem ?

    Todos se fingindo de mortos.

    E o metro laranja, já começou a apodrecer, afinal está é a $acada, poi$ na retomada da$ obra$ ai é que e$tará o lucro.

    Qualquer terráqueo já sabe disso.

    MUDA BARSIL.

    Att,

    Paulo Gil

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