Estudo conclui que faixas exclusivas de ônibus combinam baixo investimento com altos ganhos ambientais e sociais

Relatório atualizado do IEMA observa que a combinação de faixas exclusivas com ônibus maiores e com tecnologia avançada pode potencializar a redução de emissões de poluentes e do consumo de combustível

ALEXANDRE PELEGI

Há muitas maneiras de se responder a uma pergunta, o que depende muito do ângulo do observador. E muitas vezes de sua visão de sociedade. Um bom exemplo são as faixas exclusivas de ônibus.

Se perguntarmos a um grupo de pessoas se elas funcionam, as respostas serão variadas. Para um motorista que usa diariamente seu carro para ir trabalhar, ele poderá dizer que as faixas lhe roubam um pedaço de rua que faz falta. Menos faixas para os carros circularem, menos espaço para compartilhar com outros motoristas, e em consequência maior tempo ao volante.

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Mas quando a pergunta refere-se a um bem coletivo, as respostas são mais objetivas.

As faixas exclusivas diminuem o tempo de circulação dos ônibus? Diminuem o tempo de percurso que tem toma ônibus? Mais pessoas são beneficiadas por elas?

Outra pergunta mais direta e que remete à questão ambiental: as faixas exclusivas contribuem para diminuir as emissões de poluentes na cidade?

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Como esperado, os veículos privados, que transportam o menor número de usuários, são os que contribuem de forma mais efetiva para estas externalidades. A Figura apresenta o consumo de combustível de cada modo e a participação de cada um deles nas emissões de poluentes

Um estudo do IEMA – Instituto de Energia e Meio Ambiente – feito nas ruas de São Paulo respondeu que sim a estas perguntas.

O estudo considerou avaliar todas as faixas implantadas na capital paulistana no período entre os meses de setembro do ano de 2012 e 2014. A proposta era identificar que mudanças poderiam ser percebidas na circulação dos ônibus em condições operacionais sem a priorização (sem faixas exclusivas) e posteriormente com as faixas em operação.

Convém lembrar que após junho de 2013, quando houve em São Paulo uma grande pressão popular contra o aumento das passagens, e também em prol de uma melhoria do sistema de transporte público, a prefeitura iniciou um programa de priorização do transporte público através da implantação de faixas exclusivas à direita em diversas vias da capital.

Logo, os anos que o estudo do IEMA abrange, de 2012 a 2014, consideram duas realidades distintas: um período sem faixas exclusivas, e outro com as faixas em operação.

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O estudo buscou compreender os benefícios da implantação das faixas exclusivas, e avaliou a eficiência desse tipo de intervenção com relação a três indicadores: a velocidade média dos ônibus, o consumo de combustíveis e a emissão de poluentes.

O IEMA observou que em média a velocidade dos ônibus aumentou 14% e que, nas faixas, eles poluem menos e gastam menos combustível. Logo, as faixas diminuem o tempo de viagem e melhoram a qualidade do ar da cidade.

O IEMA lembra que as faixas têm implantação e operação simples, o que significa dizer que custam pouco para um grande número de cidades. São necessários poucos recursos e também pouco tempo para adotá-las. Mas se os investimentos são baixos, na outra ponta os ganhos conquistados são enormes, afirma o Instituto.

Basta lembrar a opção já adotada por inúmeras cidades de inúmeros países, que perceberam que um dos mais importantes controles climáticos está no estímulo ao transporte público, ao mesmo tempo em que se desincentiva o transporte individual.

O estudo do IEMA afirma que “a segregação viária é uma opção de priorização que pode ajudar a promover maior velocidade operacional para o ônibus, reduzir o tempo de viagem dos passageiros, aumentar a confiabilidade no sistema, além de reduzir a frota necessária para o cumprimento das partidas previstas, a emissão de poluentes locais e também o consumo de combustível.

CRÍTICA AO PROGRAMA DE METAS:

O estudo critica diretamente o atual Programa de Metas da Prefeitura de São Paulo. Apesar de todas as evidências benéficas apontadas, o IEMA diz que “não há o compromisso de nenhuma nova faixa exclusiva, mesmo com o Plano de Mobilidade em vigor determinando mais 110 km até 2020! Hoje só 12% das ruas onde passam ônibus possuem faixas”.

O IEMA havia divulgado em 2014 um estudo inicial, a que chamou de primeira fase, sobre a eficiência das faixas exclusivas, onde buscou avaliar os ganhos de velocidade e economia de combustível/redução de emissões na implantação deste tipo de intervenção.  Publicado em agosto de 2014, o estudo avaliou 3 corredores na capital, utilizando dados de GPS da frota referentes aos meses de Setembro de 2012 e 2013. O resultado final da análise mostrou ganhos de velocidade de até 22,1% (a depender da faixa) e reduções no consumo de combustível e emissão de poluentes. Confira os resultados no link: http://www.energiaeambiente.org.br/2015/09/impacto-das-faixas-exclusivas-de-onibus-em-sao-paulo/

Na época, o Diário do Transporte já havia noticiado os resultados preliminares.

O estudo final, que agora vem a público, foi estruturado de forma a permitir a comparação de dados de viagens de ônibus realizadas em períodos temporais distintos: num primeiro momento em que o sistema de transporte coletivo operava sem a priorização na via, e num segundo momento em que as faixas exclusivas já estavam implantadas. Para manter a isonomia da comparação foi adotado o mesmo mês – setembro –, para os três anos selecionados: 2012, 2013 e 2014.

Nesta análise, bem mais completa e abrangente, foram processadas informações sobre 64 faixas exclusivas, implantadas entre os meses de setembro de 2012 e setembro de 2014. O objetivo, novamente, foi obter uma estimativa das variações na velocidade média, consumo de combustível e emissão de poluentes. A partir daí, verificar se os resultados positivos encontrados no primeiro estudo se manteriam na análise de uma amostra maior e mais representativa do comportamento dos ônibus sujeitos a políticas de priorização no tráfego.

AS PRINCIPAIS CONCLUSÕES DO ESTUDO:

Velocidade. A análise da variação de velocidade média, considerando somente os trechos com faixas exclusivas, mostrou que no pico da manhã houve um ganho de 13,8%, enquanto no pico da tarde a melhora foi de 10,1%. Na média diária a velocidade aumentou 11,7% de 2012 para 2014.

Consumo e poluição. A análise do consumo de combustível e emissão de poluentes permitiu observar uma redução na taxa de consumo de diesel de 5,10% em decorrência da variação das velocidades entre os anos de 2012 e 2014. O mesmo resultado foi obtido para a emissão de poluentes locais e gases de efeito estufa, onde as taxas de emissão de óxidos de nitrogênio, material particulado e gases responsáveis pelo efeito estufa foram reduzidas em 7,33%, 6,07% e 5,06% respectivamente, indicando vantagens ambientais quanto à adoção de faixas exclusivas.

Observação. O IEMA observou que durante os anos do estudo houve uma significativa mudança na composição da frota de ônibus municipais em termos de tamanho e fase tecnológica. Após a análise, o Instituto constatou que as alterações na composição da frota, que teve um sensível aumento no porte dos veículos, resultou em um aumento de 0,45% no consumo de combustível por quilômetro, mas em contrapartida apresentou uma redução em 4,42% de emissão de material particulado por quilômetro.

O estudo conclui por fim que a implantação de faixas exclusivas, combinada com a evolução da tecnologia e o aumento do porte dos ônibus utilizados, pode potencializar a redução de emissões de poluentes e do consumo de combustível por passageiro transportado.

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Num momento em que a cidade se prepara para a licitação do sistema de ônibus, os dados do IEMA deveriam ser observados com atenção. Ainda mais quando o edital deverá definir metas de redução de emissões, sem estipular os tipos de ônibus que as operadoras devem comprar.

O relatório completo do IEMA pode ser lido pelo link: http://www.energiaeambiente.org.br/wp-content/uploads/2017/05/RE_Faixas_Exclusivas_Final.pdf

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transporte

Comentários

Comentários

  1. É necessário complementar este estudo de impacto das emissões e consumo dos ônibus que trafegam nos corredores, com a avaliação do impacto da implantação dos corredores sobre o trânsito de veículos em geral nas outras faixas de rolamento, que ficam mais congestionadas após a implantação dos corredores. O balanço desses dois impactos será o resultado da qualidade do ar para a população que respira o ar ao longo dos corredores.

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