Dinheiro para mobilidade urbana tem, o que falta é direcionar melhor os recursos, dizem especialistas

Em painel sobre tendências, bases para políticas de mobilidade ganharam destaque nas discussões

Em Painel do Congresso Nacional de Mobilidade da ANTP, engenheiros, urbanistas e professores do setor de transportes acreditam que para que o Brasil siga as tendências mais avançadas, antes é necessário mudar a mentalidade de cidadãos e gestores

ADAMO BAZANI

Crise econômica, dificuldade de obtenção de recursos, desemprego e incertezas políticas são quadros reais vividos atualmente pelos brasileiros, mas que ao mesmo tempo acabam se tornando também desculpas para que não sejam feitos investimentos prioritários para melhorar a vida dos cidadãos, como na área de mobilidade urbana.

Independentemente de haver crise ou não, historicamente nunca o transporte coletivo recebeu a devida atenção no Brasil dos gestores públicos e o que ocorre ainda no país é uma inversão de valores quanto a investimentos e uso das cidades.

A ideia foi consenso entre especialistas no painel “O futuro da mobilidade urbana, tendências e apostas”, do 21º Congresso Nacional de Transporte e Trânsito, da ANTP- Associação Nacional de Transportes Públicos, que é realizado até o dia 30 de junho na capital paulista.

“A 40 km/h, aproximadamente, um carro ocupa na cidade em torno de 40 metros quadrados para transportar geralmente uma só pessoa. Já um ônibus com 70, 80 até 100 pessoas ocupa nessa mesma velocidade em torno de 100 metros quadrados.  Aí eu pergunto quem financia o que? Hoje são as 100 pessoas que estão no ônibus que estão financiando aquela que ocupa quase a metade do espaço dessas 100, só que sozinha. Há verdadeira distorção e precisamos inverter esse quadro, fazendo com que quem anda de carro financie quem estiver no transporte público. Um exemplo é o pedágio urbano, que já é realidade em vários países e aqui ainda causa espanto” – disse o presidente de ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos, Ailton Brasiliense.

“Muito se fala em financiamento do transporte público e falta de dinheiro, mas digo categoricamente que o problema não é dinheiro. Falta mesmo vontade. O problema é político. Já existem recursos que precisam ser melhor direcionados para o transporte coletivo, não é necessário criar grandes fórmulas tributárias. Enfrentávamos esse problema na Secretaria de Transportes em São Paulo e ainda persiste” – disse o engenheiro, ex-secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo e vice-presidente da ANTP, Cláudio de Senna Frederico.

O especialista esteve à frente do PITU 2020 – Plano Integrado de Transportes Urbanos para 2020, que prevê uma séria de ações para a mobilidade urbana no Estado. Entretanto, justamente pela questão de recursos e direcionamento político, as metas não serão atendidas.

CONFIRA:

A arquiteta, urbanista e coordenadora do livro – “ANTP 40 Anos – Sonhar ainda é preciso, Valeska Pinto, diz que também são necessárias mudanças culturais.

“É preciso que a sociedade, principalmente a parte da classe média que ainda não tem essa visão, entenda atual situação da mobilidade. Não precisamos mais falar que em breve as cidades vão parar porque praticamente já estão paradas. Todos têm de ver que esse atual modelo de cidades é insustentável e a situação só vai começar a mudar quando a população começar a cobrar, não dá para esperar dos gestores as mudanças, que têm de vir a partir da gente. Mas é verdade que nesse aspecto estamos evoluindo”

Veículos com tração elétrica são tendências no mundo. Brasil tem conhecimento, mas faltam políticas que estimulem produtores e frotistas

O engenheiro e diretor do Departamento de Tecnologia e Ciências Exatas, do Instituto de Engenharia, Ricardo Kenzo Motomatsu, afirmou que do ponto de vista tecnológico, o Brasil não está muito atrás das ditas nações evoluídas e que os ajustes são fáceis. O problema mesmo é a falta de concepção de políticas públicas.

“Vemos no mundo a digitalização dos processos e da operação gestão de toda a mobilidade urbana. Isso significa grandes avanços de eficiência, redução de custos e aumento de qualidade para a população. Mas essa é a fase mais fácil. Tecnologia nós temos e, para nos adaptar, desenvolver ou mesmo trazer esse conhecimento de fora, não é complicado. O problema mesmo é romper o atual modelo que está instalado no Brasil em que a mobilidade urbana ainda não recebe a prioridade é necessária. Nós temos excelentes profissionais técnicos e o que falta mesmo são condições para eles atuarem de maneira ainda melhor”

Os ônibus elétricos que reduzem as emissões de poluição e, ao ganharem escala de produção, podem auxiliar também em deixar os custos de operação menores, foram algumas das tendências também citadas no painel.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Lúcio Gregori disse:

    A forma de democratizar o espaço viários é com faixas exclusivas, corredores de ônibus, ciclovias, maior área para calçadas etc. Pedágio urbano é mercantilizar a rua que é “bem de uso comum do povo”. O classe média de SUV pagará pedágio e usará seu carro. O trabalhador autônomo e outros que usam o 1.0 não terão dinheiro para pagar os pedágios. Surpreendente que ainda não se fez essa discussão.E não faltam recursos para para TC? Então porque o grau de subsídio às tarifas em S.Paulo, que é o mais alto do país, com qualidade ruim dos transporte é da ordem de 1/3 de Paris/Pequim metade , praticamente, de Santiago do Chile e 1/4 de Buenos Aires?

  2. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite.

    Que tem recursos todo mundo já sabe.

    A mentalidade do cidadão não precisa mudar não o cidadão já tem mentalidade avançada.

    O que tem de mudar é a mentalidade do PUDER PÚBLICO TOTAL.

    Menos elucubração mental e mais ação.

    Basta lembrar das Estardas de Ferro Sorocabana e Santos a Jundiaí.

    Tem é de eliminar os Jurássicos, o resto á blá, blá blá.

    O passageiro só que e precisa ir do ponto A ao ponto B, muiiiiiiiiiiiiiiito preferencialmente EM LINHA RETA e sem zigzaguicaranguejado.

    Att,

    Paulo Gil

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