OPINIÃO: Seccionamentos de linhas e aumento de baldeações preocupam às vésperas da licitação dos transportes em São Paulo

Audiências públicas regionais devem receber sugestões para cada área da cidade

ADAMO BAZANI

Antes mesmo do processo de licitação dos transportes coletivos por ônibus na cidade de São Paulo ser iniciado, desde janeiro a Prefeitura de São Paulo, por meio da SPTrans, eliminou 21 linhas de ônibus, sendo uma delas noturna. Outras 17 linhas foram alteradas, das quais cinco não circulam mais aos sábados e sete deixaram de operar aos domingos e feriados. Mais cinco linhas tiveram os percursos reduzidos obrigando os passageiros a fazer mais baldeações.

Muitas destas mudanças acabam causando desconforto para alguns passageiros que estão habituados a utilizar apenas uma linha para fazer seus deslocamentos diários.

O seccionamentos para evitar sobreposições de linhas, que são consideradas um dos problemas atuais em relação à eficiência e ao custo dos transportes, são normais e estarão previstos no novo edital de licitação, que deve ser lançado ainda neste semestre, de acordo com a Secretaria Municipal de Transportes e Mobilidade.

Entretanto, uma das preocupações tem sido sobre os critérios e os impactos destes seccionamentos em diversas regiões da cidade.

Até agora, algumas destas mudanças foram bem assimiladas pela população, mas outras acabaram deixando as viagens mais longas demoradas e cansativas, segundo relatos de moradores a diversos órgãos de imprensa regional e especializados, como o Diário do Transporte.

A falta de comunicação clara em relação a algumas alterações também foi alvo de queixas.

Deixar a malha enxuta e evitar que vários ônibus quase vazios façam o mesmo trajeto é algo considerado positivo. Afinal, veículos vazios rodando pela cidade representam dinheiro mal aplicado, deixando assim mais cara a passagem, não sobrando recursos para investimentos em qualidade e aumentando indiretamente a necessidade de subsídios.

Mas todos os cortes de linhas devem ser criteriosos e feitos com base na atual estrutura de transportes da cidade. Também devem buscar o equilíbrio entre o fator econômico e o papel social que o transporte coletivo tem. Muitas vezes, determinadas linhas não são lucrativas, mas servem regiões que necessitam do atendimento destes serviços.

Sobre o seccionamentos respeitarem a atual estrutura da cidade, a questão envolve inclusive a segurança do cidadão.

A rede de corredores de ônibus da cidade de São Paulo é pífia em relação à demanda. Os 130 quilômetros de corredores não atendem plenamente ao universo de quase 15 mil veículos de transportes coletivos que atendem, contando com as integrações, 9 milhões de pessoas todos os dias na capital paulista. Sem corredores suficientes, os ônibus estruturais perdem desempenho, velocidade e ficam presos no trânsito. Não adianta, assim, fazer com que uma pessoa desça num ponto de um bairro, espere o outro ônibus para seguir para o centro da cidade, sendo que esse coletivo estrutural está preso no trânsito e não consegue chegar até onde essa pessoa está. O resultado é maior tempo de espera no ponto. Isso implica inclusive na segurança desse passageiro, que estará mais suscetível a violência urbana, como os corriqueiros assaltos e até crimes sexuais que ocorrem atualmente nas paradas de ônibus.

É verdade que o ônibus que sai do bairro também ficará preso no mesmo trânsito se for para o centro, mas ao menos o cidadão estará dentro do  veículo.

Outro aspecto relacionado à infraestrutura é que também não adianta “jogar” o passageiro do ônibus em estações e linhas de metrô que já estão superlotadas e que teriam uma situação ainda mais complicada com aumento considerável da demanda.

Os terminais locais de ônibus também devem ter a estrutura observada antes do aumento do seccionamentos. Alguns desses espaços já estão próximos do limite, tanto para receber passageiros, como mais ônibus, sendo que os atuais já encontram dificuldades de manobras nas áreas embarque e desembarque.

Hoje com o Bilhete Único, que permite as integrações temporais, não é necessário deixar o passageiro em terminais. Mas largar o usuário em pontos escuros, perigosos, sem abrigo e sem calçada decente é algo desumano e deve ser pensado na licitação.

Os pontos de conexão devem ter boa infraestrutura.

Dentro ainda desse tema de estrutura para transportes, o aumento de seccionamentos também representa uma demanda maior nas linhas estruturais que ligarão as 21 centralidades regionais propostas nas diretrizes gerais da licitação até a região central de São Paulo.

Ocorre que para receber esta demanda a mais, serão mais necessários ônibus de maior porte, como articulados superarticulados e biarticulados, como inclusive indicam as propostas do certame.

Entretanto, para que esses ônibus tenham melhor desempenho, também necessitam de espaços preferenciais. Ônibus grandes vão muito bem e são indispensáveis em corredores, mas colocar estes gigantes com tamanhos que variam entre 18,6 metros e 28 metros de comprimento, no meio do trânsito comum e em áreas onde as curvas não suportam essas dimensões, acaba anulando todo benefício destes veículos grandes de grande porte.

Pelo que foi possível perceber na primeira audiência pública sobre a licitação dos transportes, que ocorreu na última quinta-feira, 1º de junho de 2017 e teve a cobertura do Diário do Transporte, em relação à malha de linhas de São Paulo, a concorrência não deve trazer grandes alterações em relação ao edital proposto na época da gestão de Fernando Haddad e que foi barrado pelo Tribunal de Contas do Município, em 2015, e liberado após observações no segundo semestre de 2016. O certame não teve prosseguimento por parte de Haddad, que entendeu que pela proximidade das eleições e a possibilidade de mudança de gestão, o que ocorreu, não seria prudente fazer uma licitação tão grande.

A atual licitação deve propor a criação de três grupos: subsistema local de distribuição – ônibus que circulam dentro das centralidades regionais; subsistema local de articulação – ônibus locais integrados ao ônibus estruturais ou rede de trens e metrô;  e subsistema estrutural – ônibus maiores que ligam as diferentes regiões até o centro da cidade.

O modelo é muito semelhante ao da licitação apresentada na gestão passada e, na época, se calculava alteração de quase 30% das linhas da cidade e aumento em até 40% nas necessidades de baldeações.

Baldeação não é ruim, bem pensada pé melhor que o atual sistema ineficiente. O problema é quando o passageiro é obrigado a fazer várias transferências no seu trajeto em redes que não possuem estrutura, tornando a viagem mais longa.

O cliente deve ter o direito de sair de um ônibus e embarcar no outro sem esperar muito tempo e também sem ser submetido a fazer “itinerários negativos”, ou seja, regressar no traçado de seu trajeto por causa do itinerário do segundo ou terceiro ônibus.

As baldeações devem permitir deslocamentos vetoriais, sem submeter os passageiros ao zigue-zague.

A Secretaria Municipal de Transportes sinalizou para a possibilidade de fazer audiências públicas nas prefeituras regionais. Será a oportunidade para discutir problemas de fato do sistema e não fazer discursos vazios e demagógicos.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Glaucio oliveira disse:

    Esses seccionamentos até concordo mas não entendo faze los nos horários de pico. Você trás a pessoa para o terminal em um bus lotado para colocar em outro igual. Aqui na minha região inclusive tem uma que faz isso 6450 51em um dos bairros com grande demanda divisa do município de itapecerica da serra. Até para dar conta dos passageiros do intermunicipal/ Emtu que a omissão do governo estadual os obriga a andar grandes distâncias.
    Os bairros com alta demanda parte dos articulados e super deveriam sair deles e ir direto a área central. Para equilibrar alguns dos que iriam até o terminal avançariam para algum polo de grande demanda no percurso do corredor. Atualmente nos corredores term. Capelinha estr. Itapecerica e term. Jd. Angela m’boi mirim as linhas que vem dos bairros e vão para santo amaro trafegam pelas avenidas dos corredores e os passageiros deles passam para as linhas do corredor ao longo do caminho. Já no terminal campo limpo onde todas as linhas para m no terminal o tempo que se perde na transferência é o suficiente para se chegar ao centro do município de taboao da serra polo de alta demanda. Aí boa parte dos passageiros migra para o intermunicipal mesmo + caro se for até pinheiros.
    E não consigo entender a lógica. Se eu faço + baldeaçao a prefeitura tem que pagar elas e se for só 2 já é maior do que o valor que descontou e tem linhas como a 477p que tem tempo de percurso de 3 h. Liga a divisa de são caetano a divisa de osasco. A rodovia Anchieta a raposo Tavares.
    Final de semana é outro martírio. Com os intervalos maiores em todas as linhas você chega no terminal campo limpo e quer ir para o corredor da Francisco Morato com várias linhas que saem do terminal. Qual vai sair 1º? Dependendo da sua escolha o tempo para sair é o suficiente para ter chegado lá. Aí a pessoa desiste de sair

  2. jair disse:

    Sem terminais a integração sempre será desconfortavel.
    O sistema ideal seria aquele que contemplasse aumento da velocidade com consequente diminuição do tempo de viagem, tendo corredores BRT com 2 ou 3 linhas no máximo em seu percurso básico, praticamente não existindo demora de espera pelo transporte, ligando por exemplo o centro da cidade com terminais onde haveria a troca de veículo. Nesses terminais com banheiros e outras opções básicas de conforto, onde os passageiros esperariam pela integração em melhores condições do que a espera em pontos comuns, pois as linhas alimentadoras tem intervalos grandes normalmente acima de 15 minutos.

  3. Keitaro Urashima disse:

    Sou contra muitos dos seccionamentos feitos pela SPTrans nos últimos anos. Alguns deram certo mas a maioria foi 6 por meia dúzia.
    No inicio de abril a SPTrans alterou alguma linhas na região do A.E.Carvalho, Z/L. 02 linhas que iam para o centro, a 2460 T.P.Dom Pedro e a 2325 T.Princesa Isabel foram seccionadas parando no T.A.E.Carvalho, onde segue-se peça 208V, agora com super-articulados. O problema é que não houve qualquer alteração no viário. São as mesmas viárias, com o mesmo trânsito, só que agora deve-se esperar por 2 ônibus. O tempo de viagem para quem não diminuiu em nada, e agora a 2460 trafega batendo lata (e torno de 1.100 passageiros/dia). Pelos dados da SPTrans não houve aumento de passageiros no corredor Celso Garcia, o número permaneceu estável (variação de 0,01% nas primeiras 02 semanas). Quem mora mais próximo dos finais das linhas seccionadas foi para Itaquera pegar o 4310, ou correr no 3459. Os demais são obrigados a pegar o 208V mesmo ou buscar o transporte individual.

  4. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite.

    E o que já não está no limite no Barsil.

    Esse negócio de audiência pública é a prova material de que quem fiscaliza o buzão de Sampa não entende nada.

    Nós pagamos nossos impostos, taxas, tarifas e o escambal para vocês trabalharem e resolver o problema do buzão.

    Se não tem capacidade técnica demite todo mundo e contrata gente com capacidade técnica.

    Pelo visto vai ficar tudo dantes como no quartel do Sr. Hadad.

    Hoje mais uma vez o “carro bota” estava presente passou o 8 1933 (8705) e em seguida o 8 1933 (8019).

    Ai eu pergunto:

    Pra que serve o GPS da fiscalizadora.

    Já dei a receita e vou repetir, a fiscalizadora precisa contratar um corpo técnico de matemáticos pós doutorados, para por em prática uma questão rudimentar que a Tia Cotinha ensinou a todos nós.

    “A MENOR DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS É UMA RETA”

    Infelizmente bom senso, nenhuma faculdade ensina, o problema é que a fiscalizadora, faz tudo mal feito e nada bem feito.

    A 8723 faz ponto inicial na faixa do buzão e do outro lado da via um buzão amarelo fica com o pisca alerta lugado em cima da faixa do buzão esperando não sei o que.

    Mais uma pergunta:

    Não foi o piloto que resolveu fazer o ponto inicial na faixa buzão, foi a fiscalizadora que autorizou, certo ? Certo.

    Diante disso nada mais a dizer, só a demitir por justa causa.

    Pois se qualquer um dos contribuinte parar seu carro na faixa do buzão para dar um embarque ou desembarque, vai tomar um “canetão” e mais uns pontinhos na CNH.

    Mas como foi a fiscalizadora que autorizou tá tudo errado, digo certo.

    O que o Glaucio Oliveira falou está corretíssimo, não vem buzão da fiscalizadora, vamos de EMTOSA mesmo, sem contar a 477-P Ipiranga Rio Pequeno, surreal.

    Pelo que tenho lido nos últimos posts, a PMSP está totalmente perdida e não sabe o que escrever no Edital, com relação a questão operacional.

    Então estive pensando esse dias e vou dar mais uma sugestão a lá Paulo Gil.

    Se fizerem a licitação total, vai dar outra káka de novo.

    PREVISIVELLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL.

    Façam o seguinte:

    Peguem uma região tranquila e façam uma licitação piloto.

    Neste piloto pode incluir um corredor; por exemplo o Rebouças com a linha
    Taboão da Serra – Sé – Taboão da Serra., mas sem buzão que vai pra vila no corredor.

    Ahhhhhh e tem mais enquanto fizerem terminais com entradas a 90 graus igual ao Terminal Buta e estação de metro sem estacionamento e sem área de embarque e desembarque, pode fazer o diabo nessa licitação que nada vai adiantar.

    Aproveitem e otimizem algumas linhas, retirem a 8012 e a 8022 do Terminal Buta, isso dará maior eficiência as linhas e à Av. Vital Brasil.

    A 8019, também não precisa entrar no terminal Buta é só perda de tempo, faz circular com descanso no final.

    Bom, do jeito que está num vai não.

    Façam a parte de vocês, afinal os contribuintes PAGAM para vocês trabalharem, mas parece que não querem ou não sabem.

    Essa bateção de cabeça com o samba do buzão de Sampa não cola mais e já deu o que tinha que dar.

    Mãos a obra, FAÇAM O QUE TEM DE FAZER CERTO QUE NINGUÉM RECLAMARÁ.

    Emprestem o acorde do saxofone da linha 4 amarela e coloquem no lugar daquela campainha maldita que tem no buzão.

    BÉEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEMMMMMMMMMMMM

    MUDA BARSIL ACORDA SAMPA.

    Nesse rítmo, nem em 3099.

    Att,

    Paulo Gil

  5. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia

    Corrigindo:

    Depois do 8 1933 (8705) passou em seguida o 8 1138 (8019).

    E com certeza, hoje o carro bota passará de novo.

    Att,

    Paulo Gil

Deixe uma resposta para Glaucio oliveiraCancelar resposta

Descubra mais sobre Diário do Transporte

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading