Marca Busscar também foi adquirida por sócios da Caio

Busscar Caio
Trólebus carroceria Busscar seguido de ônibus Caio, no ABC Paulista

Ainda não há confirmação se nome será utilizado em novos produtos.  Produção só começa depois de todos os trâmites legais

ADAMO BAZANI

O grupo de sócios da encarroçadora de ônibus Caio Induscar confirmou na tarde desta terça-feira, 28 de março de 2017, ao Diário do Transporte que também compraram a marca Busscar.

Assim, a arrematação por R$ 67,15 milhões, decretada pela Justiça envolveu a marca, os gabaritos dos modelos, equipamentos, ferramentas e as três unidades fabris da Busscar, encarroçadora de Joinville, fundada pela família Nielson, e que teve a falência decretada pela primeira vez em 2012.

No entanto, ainda não foi definido pelos investidores se a marca Busscar será utilizada quando os primeiros ônibus saírem das linhas de produção.

O grupo salientou também que os responsáveis pela compra foram os sócios-acionistas e investidores da Caio Induscar e não a encarroçadora em si, que tem sede em Botucatu, no interior de São Paulo.  Ou seja, formalmente, não é possível dizer simplesmente que a Caio comprou a Busscar.

Todavia, em nota, diz que a compra deve ampliar a atuação do Grupo Caio, tanto no mercado interno como nas exportações.

“A aquisição tem como objetivo ampliar a atuação do Grupo Caio Induscar, nos mercados interno e externo.

Ainda não há previsão para o início da produção, pois há etapas processuais que dependem da agilidade dos ritos legais, tanto em Joinville, como, eventualmente, no Tribunal de Santa Catarina.

O Grupo Caio Induscar, mesmo diante de uma das crises mais severas que o Brasil já enfrentou, acredita na retomada do crescimento de nosso país e do mercado de ônibus, para que possa gerar mais empregos.”

A compra foi homologada pelo juiz da 5ª Vara Cível de Joinville, Valter Santin Júnior, no dia 21 de março de 2017, por R$ 67,15 milhões.

O montante foi dividido em um sinal de R$ 9,4 milhões e mais 50 parcelas do restantepelos próximos quatro anos, compreende as unidades da Busscar em Joinville, Pirabeiraba e Rio Negrinho, assim como seus terrenos, edificações, maquinário e móveis, além da maca. As parcelas terão correção monetária.

A fabricação de ônibus rodoviários deve ser uma das metas do Grupo da Caio que hoje possui expressividade predominante no segmento de urbanos.

Entretanto, de maneira oficial, os investidores ainda devem definir as principais ações.

Entre os principais acionistas da Caio está a família Ruas, a maior operadora de transportes da Capital Paulista.

A falência e finalmente a compra da Busscar por um novo grupo foi uma das mais longas e angustiantes novelas do setor de transportes nos últimos anos.

A encarroçadora, fundada em 1946 pela família Nielson, foi uma das maiores do país e começou a apresentar os primeiros problemas financeiros e de gestão mais graves em 2008. No entanto, havia conseguido um empréstimo do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para se recuperar. Em 2010, ainda não havia conseguido se reerguer e abriu um plano de demissão voluntária. No mesmo ano, houve greve dos funcionários por causa de atrasos nos salários e benefícios.

Antes mesmo de sua falência ter sido decretada pela primeira vez, o mercado já estava de olho  nas movimentações da empresa. A própria Caio tinha apresentado uma proposta de compra do parque fabril e maquinário. O valor, na época, protocolado junto à 4ª Vara de Justiça do Trabalho de Joinville era de cerca de R$ 40 milhões, divididos em 10 parcelas. Não houve aprovação da Justiça.

BREVE HISTÓRICO:

A Busscar foi fundada oficialmente como Nielson no dia 17 de setembro de 1946, com iniciativa de Augusto e Eugênio Nielson que começaram uma pequena oficina em Joinville, atuando na construção de móveis e utensílios e fazendo reparos em carrocerias de caminhões e cabines. Em 1948, a Nielson fez seu primeiro veículo de transporte coletivo, uma jardineira – ônibus simples feito de madeira. O veículo da Nielson foi uma encomenda da empresa Abílio & Bello Cia Ltda, que fazia a linha Joinville – Guaratuba, em Santa Catarina.

Foi na época do surgimento empreendimento dos Nielson, que o Brasil começava assistir mais intensamente o crescimento das cidades e também das relações comerciais entre as diferentes localidades. Tudo isso demandava uma maior oferta de transportes. Assim muitos empreendedores compravam chassis de caminhão, como da Ford e da GM, e precisavam transformá-los em ônibus para enfrentar as difíceis estadas de terra e verdadeiros atoleiros. Nesta época, a Nielson & Cia Ltda. tinha o comando do patriarca da família, Bruno, e do filho Harold.

Em 1958, um dos marcos para a Nielson foi o projeto de estrutura metálica para os ônibus.

No início dos anos de 1960, ganhavam as estradas os modelos Diplomata, carroceria de dois níveis que lembravam os Flxibles norte-americanos que, quando foram importados pela Expresso Brasileiro Viação Ltda eram chamados de Diplomata. A Nielson então conquistava definitivamente o mercado.

Nos anos de 1980, Nielson cresce mais e no segmento de rodoviário travava disputa acirrada com a Marcopolo e no segmento urbanos, a briga era com a Caio, praticamente de igual para igual.

A linha Diplomata tinha recebido novas versões e o Urbanuss ganhava atenção dos frotistas.

Por uma estratégia de negócios, a Nielson mudou a marca para Busscar. Inicialmete a marca foi conhecida como Busscar-Nielson. Surgiram os rodoviários El Buss e Jum Buss  e os urbanos da linha Urbanuss.

Em 2002, a Busscar começa enfrentar dificuldades financeiras. A família Nielson alegava problemas motivados pela variação cambial e também dificuldades de créditos, mas já havia também erros administrativos internos. O BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social chegou a realizar empréstimos para empresa, que não foram plenamente honrados. A recuperação não foi plena, havendo novamente outro problema financeiro em 2004. A última crise da Busscar começou em 2008, quando a empresa começou a atrasar salários.

Em janeiro de 2010, a Busscar criou um programa de demissões voluntárias para redução de custos. Ainda em crise, a empresa atrasou salários e benefícios, o que motivou uma greve em 15 de abril de 2010.

Para saldar dívidas, os primeiros bens da Busscar foram leiloados em setembro de 2011. A expectativa era arrecadar R$ 1,5 milhão, mas só foi possível conseguir R$ 21 mil.

No dia 3 de novembro de 2011, o juiz Maurício Cavallazi Povoas, da 5ª Vara Cível de Joinville,  aceitou o pedido de recuperação judicial feito pela Busscar. No dia 31 de dezembro de 2011, a empresa apresentou o plano.

No entanto, não houve os resultados e o plano não se mostrou viável. Em junho de 2012, a Justiça determinou que fosse apresentado um novo plano.

Não houve resultados positivos novamente.

Depois de uma dívida que se aproximou de R$ 2 bilhões, contando juros, impostos e débitos com fornecedores, trabalhadores e bancos, a empresa teve a falência decretada em 27 de setembro de 2012 pelo juiz Maurício Cavalazzi Povoas. A decisão, no entanto, foi anulada em 27 de novembro de 2013, após recursos judiciais. No entanto, os recursos caíram em 5 de dezembro de 2013. A família Nielson chegou a apresentar um novo pedido de recuperação judicial, mas o juiz Luis Felipe Canever, de Santa Catarina, após negativa por parte dos credores, decretou no dia 30 de setembro de 2014, nova falência da encarroçadora de ônibus Busscar, que já foi uma das maiores do Brasil.

Os negócios continuam na América Latina com a atuação em parceira de outros grupos, com destaque para as operações na Colômbia.

A Busscar Colômbia foi formalizada no ano de 2002 sendo fruto de uma aliança entre a indústria local Carrocerías de Occidente, empresa fundada em 1995, e a Busscar Ônibus do Brasil, fundada pela família Nielson em 17 de setembro de 1946.

Foram várias tentativas de leilão da Busscar, três somente em 2016. Todas esvaziadas. A cada uma delas, o valor caía.

– Primeira tentativa: 15 de março de 2016, as três unidades fabris (Unidade Joinville SC – Fábrica de Carrocerias / Unidade Pirabeiraba – Joinville SC – Fábrica de Peças / Unidade Rio Negrinho SC – Fábrica de Peças)  custariam R$ 369.305.922,65 (trezentos e sessenta e nove milhões, trezentos e cinco mil, novecentos e vinte e dois reais e sessenta e cinco centavos)

– Segunda tentativa: 29 de março de 2016.  O valor seria de R$ 221,5 milhões (incluindo ativos reivindicados na Justiça, e incertos) ou, na prática, R$ 176,5 milhões (descontados os ativos) por todas as empresas do grupo. – 60% do valor do primeiro leilão

– Terceira Tentativa: No dia 8 de julho, terminou sem lance o terceiro leilão da empresa. Seria aceita oferta de quantia igual ou superior a 49% do valor da avaliação- do primeiro leilão.  R$ 133.151.088,11. Também sem propostas.

No final de outubro de 2016, foi apresentada uma proposta de compra por R$ 67,15 milhões por um grupo de investidores com o objetivo de retomar as produções em meados de 2017.

Em dezembro do mesmo ano, foi liberado um lote de R$ 18 milhões para saldar parte das dívidas trabalhistas.

Também em dezembro de 2016, dois grupos internacionais, o português a Imparável Epopeia UniPessoal Ltda e o chinês Liaoyuan Group demonstraram interesse na compra da Busscar.

Em 07 de janeiro de 2017 terminou o prazo para as empresas estrangeiras apresentarem a documentação exigida.

A proposta ficou somente pelo grupo da Caio. No dia 08 de janeiro, advogado da Caio esteve em Joinville e confirmou valor proposto de R$ 67,5 milhões.

Em 21 de março de 2017, o juiz da 5ª Vara cível de Joinville, Valter Santin Júnior, aprovou em sentença definitiva a compra da Busscar por sócios da Caio, encarroçadora de ônibus de Botucatu/SP, que tem como principal sócio o Grupo Ruas, de empresas de ônibus de São Paulo.

No dia 22 de março de 2017, os sócio-diretores da Caio/Induscar Marcelo Ruas e Maurício Lourenço da Cunha foram à Joinville, em Santa Catarina e assinaram o documento de compra da Busscar, na 5ª Vara Cível na cidade.

Em 28 de março de 2017, a assessoria de comunicação da Caio informou, em primeira mão ao Diário do Transporte, que na compra também envolveu a marca Busscar.

CAIO “NAMORAVA” HÁ MUITO TEMPO A BUSSCAR:

O namoro entre a empresa de Botucatu, atualmente especializada apenas em ônibus urbanos, e que não preenche o mercado de ônibus rodoviários, é antigo.

Em 2007, a Caio já havia procurado sócios da Busscar para uma fusão. As negociações não avançaram.

Em setembro de 2011, antes mesmo da falência da Busscar, a Caio já tinha confirmado interesse na encarroçadora de Joinville. Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2011/09/28/busscar-caio-fala-em-primeira-mao-com-blog-ponto-de-onibus/

Em outubro daquele ano, porém, a Justiça indeferiu a proposta da Caio que previa pagamento de R$ 40 milhões pelo complexo.

Em 15 de fevereiro de 2012 foi anunciada a criação de uma joint venture formada pelos acionistas das duas gigantes da produção de carrocerias de ônibus: Caio e Marcopolo.

A parceria envolve a Twice Investimentos e Participações, integrada por acionistas da Caio Induscar, e a controlada da Marcopolo, Syncropats Comércio de Distribuição de Peças Ltda.

Em 2013, a Caio voltou a apresentar outra proposta, desta vez para aluguel da Busscar.

Esta proposta também foi recusada pela justiça. Todas as propostas foram apresentadas em período anterior à crise econômica.

As empresas propuseram à Quinta Vara Cível de Joinville, que cuida do processo de falência da Busscar, o aluguel/arrendamento do Parque Fabril da companhia.

Para isso, pagariam um valor de R$ 300 mil por mês. – Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2013/02/28/caio-e-marcopolo-querem-alugar-a-busscar/

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. claudio disse:

    Um grande empresário de Joinville seria um dos sócios investidores?
    Que não teria nenhum interesse no ramo de carrocerias mas sim nos imóveis que não serão utilizados pela industria?
    Tem um dito que diz:”Um dia o corpo boia”, e então teremos a resposta.

    Torcemos para que haja sinceridade no proposito de reativar as linhas de montagem e que pelo menos 300/400 empregos sejam criados, aliviando um pouco os danos causados por toda essa trama.

    Que os novos proprietários retirem todas aquelas placas fixadas nos galpões que invocam o nome de Deus, Ele nada teve a ver com a desgraça causada pela má gestão do negócio.

  2. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite.

    O negocio foi profissional e como no Brasil falta tudo e tem espaco para quem e profissional, pau na maquina.

    Se em Joinville, Barra Bonita, Busscar ou Busscaio, a reativacao de uma planta industrial sera algo muito legal.

    O Brasil e uma potencia, basta esperar a morte das mentes jurassicas.

    Boa sorte aos futuros modelos Ruas e Estradas.

    De$ejo $uce$$o a BussCaio.

    Att,

    Paulo Gil

  3. Rubão disse:

    A falecida Busscar deixou uma legião de viúvas do Cláudio Nielson, que certamente estão torcendo pra que o negócio não se realize. Mas a marca é forte e tem presença no mercado. Com competência e seriedade a coisa vai fluir naturalmente. E como disse o colega acima, não se pode misturar negócios com religião. Isso foi um dos maiores problemas da empresa. Tudo era feito ou desfeito baseado em crenças religiosas. Isso foi o início do fim da Busscar.

  4. Zé Tros disse:

    Segundo o Márcio Cezar Janjacomo, advogado de Marcelo Ruas e Maurício Lourenço da Cunha, sócios da Caio, a empresa terá um novo nome e não será uma filial da Caio.

  5. Wagner Jardim dos santos disse:

    Creio que até para aliviar a perda de modelos que pararam a fabricação e já que a marca também é deles, seria bom que voltassem com as linhas El Buss, Jum Buss pelo menos.

    Gontijo por exemplo, agradeceria muito.

  6. Fabio disse:

    Bom dia, espero que a marca BUSSCAR seja mantida pois tem um nome é uma história muito forte no mercado interno e externo boa sorte espero ver nas ruas essas belezas que BUSSCAR fábrica

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