Tarifa de ônibus. Não podemos ser superficiais

ônibus

Ônibus urbano. Tarifas são questão de Justiça Social. Por isso, as discussões não podem ser superficiais. É necessário criar mecanismos para que as passagens não sejam caras para os passageiros, mas que possam cobrir os custos dos sistemas. O transporte público beneficia a todos, mas nem todos colaboram da mesma maneira. Foto: Adamo Bazani

Tarifa de ônibus: uma questão social, que precisa ser discutida com inteligência
Toda a sociedade se beneficia com os transportes, mas nem todos colaboram com a mobilidade
ADAMO BAZANI – CBN
Com a série de protestos em todo o País e após o anúncio dos prefeitos de São Paulo, Fernando Haddad, e do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e do Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin sobre reduções das passagens, as discussões sobre as tarifas de transportes ganharam destaque até mesmo internacional.
Em São Paulo, os ônibus municipais, trens e metrô voltam nesta segunda-feira de R$ 3,20 para R$ 3,00. No Rio de Janeiro, os bilhetes foram de R$ 2,95 para R$ 2,75.
O que é necessário entender é que muito além de uma atividade econômica, e portanto, que precisa ter rentabilidade para que haja continuidade de investimentos e melhorias, o transporte coletivo é uma questão social.
Por ele, é que as pessoas têm acesso ao emprego, renda e serviços básicos como saúde, educação e lazer.
O transporte coletivo, no entanto, tem custos para ser operado. Estes custos vão desde as folhas de pagamentos, diesel, lubrificantes, pneus e outros que poderiam ser reduzidos de uma maneira mais ativa por parte do poder público, como os gastos indiretos com a falta de prioridade no espaço urbano (ônibus em corredores gastam menos e conseguem fazer mais viagens) e a alta carga tributária que incide ainda sobre o setor.
A situação do custeio dos transportes representa um grande desafio: as tarifas são realmente altas para os passageiros (e nem os empresários negam isso), mas ao mesmo tempo não cobrem os custos dos sistemas.
E aí que entra a questão da injustiça social que ocorre no tema e que é pouco discutida pela sociedade e até mesmo pelos responsáveis pelas manifestações em todo o país.
Os transportes coletivos beneficiam a todos, inclusive a quem não usa ônibus, trem e metrô. A poluição e o trânsito têm redução com os transportes públicos, o que ajuda inclusive quem se locomove apenas de carro ou moto nas cidades. A economia funciona com o transporte público: o empregador sabe que o funcionário vai chegar para trabalhar e onde há terminais ou pontos de ônibus, a movimentação no comércio é grande.
Mas ainda, grande parte da tarifa é paga somente pelos passageiros.
Os investimentos nas cidades ainda se concentram no privilégio ao transporte individual. O trânsito enfrentado pelos ônibus aumenta entre 20% e 25% os gastos com combustíveis, de acordo com levantamento da ANTP – Associação Nacional dos Transportes Públicos.
Quanto à carga tributária, a desoneração do PIS/COFINS trouxe benefícios, mas pelo caráter social dos transportes coletivos, é necessário fazer muito mais.E isso nas esferas Federal, Estadual e Municipal.
Não é justo que na passagem de ônibus esteja embutida uma carga tributária igual a roupas de grife ou veículos de luxo no caso de alguns impostos.
Desonerar os transportes é uma forma de todos colaborarem com a mobilidade urbana.
Caso não haja uma política tributária justa para o setor e para a sociedade, as reduções de tarifas podem até ocorrer, mas outras áreas de investimentos públicos, como saúde e educação, correm o risco de terem os custeios comprometidos.
Empresa de ônibus é para ter lucro? Claro que sim! É um negócio e sem lucro, não há como investir em melhorias. Os passageiros têm de pagar caro? Claro que não, o transporte é um serviço social. É certo quem usa carro e ocupa mais proporcionalmente espaço urbano e polui mais não contribuir em quase nada com o transporte coletivo? É óbvio que não. Isso é falta de democracia no espaço das cidades e nas políticas de tributos.
O que fazer? Proporcionar a Justiça Social nas tarifas. Reformular os tributos sobre os valores das passagens e privilegiar o transporte coletivo nas agendas de investimentos sem comprometer outras áreas são o começo para a que a questão seja tratada com seriedade são os primeiros passos.
O projeto de lei do regime especial de tributação dos transportes públicos, o Reitup, a ser analisado pelo Congresso Nacional, é algo que deve ser acompanho e cobrado pela sociedade, inclusive pelos integrantes do MPL – Movimento Passe Livre.
Mas é certo que as manifestações populares merecem todo o respeito por parte da sociedade. Sim, as milhares de pessoas que saíram às ruas e conseguiram mudar algo.
Quanto aos vândalos e políticos oportunistas, só a lamentar.
Inicialmente, criticamos as formas de vandalismo como se deram as manifestações e isso continua sendo repudiado.
Mas a sociedade soube mostrar sua insatisfação. Tudo pode ter começado pelas redes sociais, mas saiu delas e foi para as ruas.
Lamentáveis as atuações de vândalos, bandidos disfarçados e políticos e partidos oportunistas.
A ação policial? Lamentável em partes. Agredir jornalistas e manifestantes pacíficos é inadmissível. Mas também impedir massas de depredar ônibus, prédios públicos e patrimônio privado exige energia. Veja bem, ação com energia, não é truculência.
Há um temor. Todos os administradores falaram que as reduções podem comprometer investimentos em outras áreas.
È verdade que podem mesmo. Mas não podem ser também o pretexto que as autoridades precisavam para não fazer os investimentos que na verdade, nunca tiveram interesse em realizar?

OUTRAS REDUÇÕES:

Além de São Paulo e Rio de Janeiro, outras cidades anunciaram nesta quarta-feira reduções nas tarifas.
Em Guarulhos, na Grande São Paulo, onde a tarifa já passou de R$ 3,30 para R$ 3,20, o valor vai para R$ 3,00 na segunda-feira
Em Osasco, também na região metropolitana, depois de uma série de protestos que reuniu cerca de 5 mil pessoas, a tarifa será reduzida de R$ 3,30 para R$ 3,20.
Em Campinas, interior de São Paulo, a passagem será reduzida para R$ 3,00.
As prefeituras de Francisco Morato, Franco da Rocha e Caieiras também anunciaram a queda no valor das passagens para R$ 3,00.
No ABC Paulista, em 15 de junho, onde as passagens eram de R$ 3,30 foram para R$ 3,20 para se igualar ao até então valor de São Paulo, que oferece muito mais integrações e tem linhas maiores que as do ABC. Foram os casos de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Mauá.
Mas nesta quinta-feira, os prefeitos da região devem se reunir para discutir novamente o assunto depois dos anúncios de Haddad e Alckmin.

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

RECOMENDAMOS:
Tabela do site G 1 sobre as tarifas em todo do País:

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/06/tabela-tarifas-de-onibus.html

Comentários

Comentários

  1. Pedro disse:

    E bom as empresas ficarem espertas porque a passeata não era so contra o aumento das passagens era também contra o péssimo serviço prestado, o buraco e mais embaixo, agora e so melhorar e muito os serviços, para justificar os caros R$ 3,00 e claro e acabar com a carrução, o nosso ilustre prefeito Haddad e os demais tem que acordar, alo prefeito haddad a seu mandato já começou a 6 meses acorda!, cade o governo arco iris que o senho tanto propagou?. há ia me esquecendo ontem sumiu o secretrio Gilmar Tato, o tatu se escondeu no buraco.

  2. Roseli Souza disse:

    Bom dia!

    Ótima reportagem. Parabéns. Gostaria de lembrar das pessoas que possuem mobilidade reduzida. Você esqueceu de comentar. Abç

    1. Verdade. Assunto importantíssimo que merece destaque.
      Abraços

      1. Cleber Alves disse:

        SIM, ESPERO QUE OS PROTESTOS NO ABC ACABEM APRESSANDO E EMTU COM A LICITAÇÃO (QUE DE PASSAGEM, TÁ MARCADA PRA JUNHO), PARA
        QUE AO MENOS BENEFICIE OS DE MOBILIDADE REDUZIDA….

  3. Olavo Egídio de Souza disse:

    Achei perfeirto a reportagem. Eu acompanho o site faz tempo e este foi um dos artigos mais bem equilibrados.Não foi radical para defender os manifestantes, mas não criticou quem tinha razão. Mas também falou a verdade sobre os empresários. Eles lucram muito, é verdade. Mas prestam serviços, precisam lucrar. O que se deve é cobrar bons serviços.
    Gostei mesmo
    Um cidadão que participou de protesto em São Paulo
    Parabéns

  4. Hamilton disse:

    O problema de mobilidade em São Paulo (capital), é que as pessoas que projetam as linhas de ônibus não utilizam o transporte público. Vão para o trabalho de carro, até mesmo os que trabalham no sistema, é só você passar em frente as garagens para ver quantidade de automóveis estacionados em frente as garagens tendo até estacionamentos pagos.Até hoje eu não entendo por que a região nordeste da capital (area 3) com 2 terminais o Terminal A.E.Carvalho e Terminal São Miguel não tem linhas para outras regiões da cidade como as regiões Norte, Sul e Oeste. O morador ou trabalhador desta região que precisa se deslocar para alguma destas outras áreas precisa fazer varias conexões até parece vôo internacional. Por exemplo o usuário que precisa se deslocar para a região da V.Prudente,Mooca,Ipiranga Sacomã por um caminho mais objetivo (direto) tem que pegar um ônibus (para não utilizar o metrô que obrigaria mais conexões encarecendo ainda mais a passagem) se utilizando der uma unica linha (3459) descer no ponto próximo à Rua do Hipodromo caminhar um quarteirão até o ponto mais próximo e utilizar uma das linhas que sobem a Av. Paes de Barros. Se o usuário for para o Sacomã a caminhada é ainda maior porque ele terá que andar mais 2 quarteirões até o 1º ponto da Rua Cap. Pacheco Chaves, 891 para fazer a conexão com as linha que seguem para essa região. A linha 513L que é a única linha que liga as duas regiões parte sómente do bairro da Penha e parece passeio turístico dando voltas pelos bairros do Belém,Água Rasa, Mooca não sendo nada objetivo. Por essa e outras é que os 0,20 centavos foi a gota d água para os protestos que aconteceram com relação aos transportes em são Paulo

    1. Paulo Gil disse:

      Hamilton, boa noite

      Eu já pensei, como o senhor, hoje não penso mais assim.

      Apesar de não utilizarem o Buzão quem projeta as linhas do Buzão sabe o que faz e sabe muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito bem, tudo é projetado para dar lucro e muito lucro.

      E muito menos não tem ninguém loco.

      Faça um teste.

      Dê a eles dois pratinhos um com côcô e outro com nota de 100 Reais.

      Garanto que ninguém comerá côcô e muito menos rasgará a nota de 100 Reais.

      Alguém duvida ?

      Façam o teste.

      Só não contribuo com os 100 Reais.

      Abçs,

      Paulo Gil

  5. Marcos Soares disse:

    Eu ainda acredito que no passado as linhas ofereciam melhor mobilidade , ah erundina , lembro-me das linhas da V.Taboão , que fazia Pq. Bristol/Praça da República , a cada 5 minutos tinha um ônibus saindo , depois que fizeram o Terminal Sacomã estragou tudo , essas linhas já tinham o corredor exclusivo pois chegaram antes que os carros, muitas linhas desapareceram , realmente quem projeta os itinerários não usam transporte público , aqui no municipio de Mauá também vejo problema , tem trajetos que tem até três linhas enquanto outras , além de operar por uma empresa incompetente , só tem uma , é o caso do Miranda , essa linha é operada pela V. Leblon , a cidade de mauá também passa aqui nos melhores pontos , os demais fica para a Leblon , inventaram um tal de radial , e deram para a cidade de maua , onde eles passam era operada pela Leblon , também pega passageiros do Miranda , o que eu acho engraçado é que quando era a tal da januária eles não operavam , precisou a Leblon chegar aqui mostrar como é que se trabalha , mas isso ofendeu a prefeitura , então saiu diminuindo os intervalos da concorrente e aumentando os intervalos da Leblon ; tem lugares que a incompetente cidade , como fica sozinha na disputa , ela deita e rola e tem intervalos que chega a ser mais de trinta minutos , o que estou querendo dizer : – Onde tem a Leblon operando , a prefeitura enfia a barão de mauá , e onde só tem a barão de mauá a prefeitura não deixa a Leblon criar linhas alternativas para oferecer transporte de qualidade para a população , é o caso do Jd. Camila , a Leblon apresentou projeto de criar o Camila 2 , mas como passaria pela Av. Dom José Gaspar a prefeitura não deixou , isso abriria concorrência com a barão que é mal operada com exclusividade . Adamo me corrija se eu tiver errado.

  6. Nosso transporte é de PÉSSIMA qualidade. Eles falam em ter que reduzir gastos. Eu tenho a solução. Reduzir drasticamente, radicalmente, o número de deputados, sejam Estaduais, sejam Federais, inclusive a verba de Gabinete de cada Um. Se o Xuxu Alckmin diz que vai quebrar o Estado, pra que os Pedágios (LADRÁGIOS) então? E Controlar(ROUBOLAR) seu Salim Haddad?
    Amigos do Face, temos que nos mobilizar e também dar um BASTA nesse Controlar, fora Controlar e a redução de Pedágio desse Governo, que é muito caro demaIs, inclusive, a taxa de caminhões e carretas por eixo é uma VERGONHA, um ABSURDO. A taxa tem que ser cobrada por veículo, e não por eixo, pois passa caminhão, carreta e ônibus demais, o suficiente para o governo do estado arrecadar, e bem com esses pedágios.Alem de Cobrador de trólebus e busólogo, Eu também aprecio e curto caminhão. Adamo, parabéns pela EXELENTE reportagem. Pra finalizar; Maioridade Penal à partir dos 16 anos JÁ!!!

  7. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite

    Adamo, texto e matéria IMPECÁVEIS, PARABÉNS!

    A revogação da tarifa provou por A + B, que está tudo errado, pois se o Buzão de Sampa e do Brasil
    fosse gerido a sério a tarifa não seria revogada nunca.

    A borracha é que ia comer solta.

    Eu sou da opinião que temos de ter sempre um único gestor, assim teremos um único culpado e um único responsável.

    Afinal, o povo é que vai pagar mesmo, seja ele de qual classe for, ou paga na catraca ou paga no IPTU ou no IPVA ou no TOB, ou paga o pato nos hospitais, ou no Reitup.

    Portanto sugiro:

    1) Ou a PMSP assume tudo e pronto, ou

    2) A empresas assumem tudo e pronto.

    Asim acaba essa ladainha, o VAI OU RACHA

    Sabe qual a diferença entre o Taxa do Otário do Buzão – TOB e o regime especial de tributação dos transportes públicos – REITUP ?

    Independente do apelido o POVO é que vai ter de pagar, ou seja todos nós vamos “SEINTUBAR”.

    A VERDADE NÃO TEM VALOR ENQUANTO HOUVER A AUSÊNCIA DE VONTADE INDOMÁVEL DE TRANSFORMAR ESSA PERCEPÇÃO EM AÇÃO!

    Adolf Hitler

    Att,

    Paulo Gil

  8. Paulo Gil disse:

    Uma observação.

    Só descordo da foto, um Apachezinho Baleado, representaria melhor a matéria, além
    de contribuir para demonstrar a realidade diária a que somos submetidos.

    Att,

    Paulo Gil

  9. Júlio disse:

    Para nós a tarifa zero poderia desencadear todo um processo de mudanças… Primeiro por exigir mudanças substanciais na tributação dos transportes… Obrigando o governo a rever prioridades, deslocando o foco do transporte individual para o transporte público… Isso também exigiria um reforço do papel de supervisão do Estado no sistema, não só para a gestão das empresas funcionar, mas também em termos de planejamento, como organização de linhas, disponibilidade de veículos… Enfim, é uma bela lição de casa, que precisa ser acompanhada de perto pela população…

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