História

O DESAFIO DAS EMPRESAS DE ÔNIBUS PARA A VOLTA DO PASSAGEIRO

ônibus antigo

Propaganda da Itapemirm dos anos 70 mostra que as empresas de ônibus possuem há muito tempo ônibus luxuosos e experiência para oferecerem serviços diferenciados e atrativos. Acervo: Cláudio Catalano

Quando o País precisou se interligar mais ainda
Viagens rodoviárias de longa distância se tornavam mais freqüentes e ônibus deveriam oferecer conforto e segurança a um público mais exigente

ADAMO BAZANI – CBN

O cruzamento de dados da Anac – Agência Nacional de Aviação Civil – e da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres comprova que o número de viagens de longa distância, acima de 500 quilômetros, em aviões superou a dos ônibus.
É um grande desafio para o setor rodoviário que precisa reconquistar o público ou fazer novas formas de investimentos e rotas. Os custos de operação rodoviária são altos motivados pelas instabilidades do preço do óleo diesel e principalmente pela falta de estrutura que até hoje pode ser percebida nas estradas.
Vias esburacadas e até de terra, com atoleiros, fazem cm que combustível seja gasto mais que o esperado se a via tivesse condições e desgasta peças, além de aumentar os riscos de acidentes e tornar as viagens mais demoradas.
Promoções, salas vip, atendimentos comparados aos dos aviões e ônibus confortáveis são as apostas do setor rodoviário. A ANTT ao licitar as mais de 2 mil de linhas interestaduais e internacionais, no final deste ano, vai exigir das empresas de ônibus mais profissionalismo e também descontos em horários de menor demanda.
Por outro lado, o setor aéreo, que conta com a presença de empresários de ônibus, vê sua demanda crescer a cada mês. As passagens estão mais baratas devido a uma postura empresarial mais aguerrida: de popularizar o avião, pensando exatamente na demanda. O padrão dos serviços foi reduzido a um ponto aceitável porém diminuiu os custos. E foi um efeito bola de neve. Isso atraiu mais passageiros e a maior demanda conseguiu baratear ainda mais as tarifas o que atraiu mais demanda ainda.
Mas este fenômeno é recente.
Desde os anos de 1950, principalmente após a política rodoviarista e desenvolvimentista de Juscelino Kubitscheck de Oliveira, que incentivou a indústria automotiva no Brasil (não DO Brasil, pis a maior parte era e é multinacional) e ao mudar a Capital Federal para a Brasília quis distribuir melhor o desenvolvimento urbano e optou como artérias para esta distribuição, as estradas.
Obviamente que o desenvolvimento não foi igual em todo o País. A região Sudeste oferecia já mais infraestrutra, proporcionada pelo trem desde o século anterior, o mesmo trem que ficava em segundo plano nesta política. Isso fez com que a indústria e os negócios se concentrassem no Sudeste, em especial na Capital Paulista e ao lado, na região do ABC.
O Norte e o Nordeste ainda ficavam desprovidos do mesmo ritmo de desenvolvimento. Mas não pode-se negar que não houve nenhum tipo de crescimento, principalmente nas capitais destas regiões.
Mas não adiantava, o polo gerador de emprego e de renda era o Sudeste mesmo.
Nos anos de 1970, época do Milagre Econômico e da necessidade do Brasil se recuperar de problemas financeiros, inclusive alguns causados por instabilidades internacionais, mas muitos locais mesmo, o ritmo de viagens entre o Norte / Nordeste e Sudeste aumentava.
Se a indústria de fabricação de automóveis já tinha ganhado corpo, outra dependente dela ainda estava em expansão: a de autopeças.
Por outro lado, o número de viagens no sentido inverso, do Sudeste para o Norte e Nordeste crescia também. Não na mesma proporção, mas contemplava o turismo.
Muita gente que conseguiu ocupação na indústria ou em outros setores que pagavam melhor aproveitava para viajar. Isso mesmo, o turismo crescia no Brasil e as praias do Nordeste era um bom destino.
Isso sem contar quem veio da região, trabalhava no Sudeste, e passava as férias em suas terras de origem.
As linhas de longa distância era um excelente investimento para as empresas de ônibus.
Companhias tradicionais do setor começavam a entrar nestas ligações. Como foi o caso da Itapemirim.
Segundo a própria empresa, foi no ano de 1972 que ela começou a fazer rotas entre Sudeste e Norte e Nordeste.
E como nos aviões que hoje transportam muita gente, os ônibus também tinham suas classes. Veículos mais simples, que atendiam a demanda que ia para outras regiões em busca de empregos e oportunidades de negócios cruzavam nas longas estradas que se agigantavam com ônibus com serviços de alta categoria, eleitos por quem era de uma classe econômica maior e principalmente para o turismo.
E na mesma década que começou a operar rotas entre estas regiões, a Itapemirim lança uma propaganda interessante, que prova que para conquistar clientes e se firmarem no mercado, as grandes companhias de ônibus ofereciam ônibus diferenciados e luxuosos.
O título do anúncio era MOTEL DE 1º CLASSE. Motel se referindo a hospedagem, como antes era conhecido, não com o significado de motel de hoje em dia.
A empresa pretende passar que os ônibus eram tão confortáveis que viajar neles era como estar hospedado nos veículos. Além disso, enfatiza que os motoristas dirigiam descansados e faziam paradas periódicas reforçando algo que o passageiro leva muito em conta e que as empresas de ônibus não podem desprezar: a sensação de segurança que uma viação passa aos clientes. Diz o texto:

MOTEL DE 1ª CLASSE

Equipado com geladeira, toilete, luzes individuais, música ambiente.
Fornece café, refrigerantes, água gelada, lanches.
Quando cai a noite mantas e travesseiros são distribuídos aos hóspedes.
E o motel anda. Vai engolindo os quilômetros com facilidade. Mas sempre em velocidades moderadas, porque o seu motorista é um homem descansado. A cada 250 km, uma parada para todo o mundo: os passageiros descem e o ônibus é entregue a uma equipe de mecânicos que o revisa cuidadosamente. Depois de vinte minutos, estrada de novo.
Assim são as viagens da Itapemirim. O equipamento é da Mercedes Benz e a pontualidade absoluta. O motel de primeira classe está a sua espera. Diariamente.
ITAPEMIRIM. Boa viagem do princípio ao fim.

Destaque também para as revisões que o ônibus era submetido durante a viagem, nas paradas e a chamada para a pontualidade, que ainda hoje é uma das maiores exigências dos passageiros.
O anúncio é uma prova que saber fazer a lição de casa, as empresas sabem há muito tempo. Se com o ônibus, que era excelente para a época, a Itapemirim e tantas outras ofereciam um serviço que deixava os veículos num nível de hospedagem, hoje, com carros mais modernos e espaços ainda, inclusive os Double Decker (dois andares), a oferta de conforto é maior.
Experiência e equipamento as empresas de ônibus possuem, há muito tempo, mas a concorrência com o avião é grande.
A solução desta equação está na criação de política pública para o transporte rodoviário. Obviamente que ele não tem a mesma agilidade do avião, mas tem vantagens, como poder atender origens e destinos que ficam distantes uma das outras e que não têm serviços de aviação por perto. E dentro dessa política, um plano para barateamento das viagens rodoviárias, o que passa por comprometimento das empresas e melhor estrutura viária.
Sendo assim, a licitação das linhas rodoviárias interestaduais e internacionais é um passo excelente, mas não é o único. Ônibus moderno também precisa de via moderna.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN especializado em transportes.

Comentários

Comentários

  1. salomao jacob golandski disse:

    na decada de 60 , realmente o Brasil estava engatinhando em materia de onibus ,
    tinhamos poucas fabricas de qualidade , enquanto nos EUA já tinha onibus com
    ar condicionado .este apareceu no Brasil mais tarde .
    na decada de 70 começaram então a revolucionar o transporte coletivo , com a
    fabricação de novos modelos de carrocerias , e também mais luxuosas .
    existe uma frase que diz
    Renovar ou Morrer
    vamos renovar , não podemos parar no tempo .
    hoje o passageiro está mais exigente , o onibus que não tiver ar condicionado , e
    outras mordomias a mais , é rejeitado .
    salomão

  2. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia.

    Só há um jeito, colocar “asas no buzão”.

    O mundo mudou e a velocidade também, portanto
    a perda de mercado pelos ônibus, no nicho de longas
    distâncias é irreversível.

    Só não acabou de vez porque não há
    infra estrutura aeroportuária, mas agora com
    a privatização, quem sabe ?

    Já estamos em 2011, se não pensarmos grande ou
    cairmos na real…

    Mais reflexões serão muito bem vindas.

    Muito obrigado

    Paulo Gil

  3. Bons tempos em que o transporte de longa distância priorizava o conforto. Hoje, temos empresas que visam mais o lucro do que o conforto ao passageiro. Tarifas altas para viagens estressantes e desconfortáveis.

    Uma idéia interessante seria a adoção de DD´s para viagens muito longas. Cidades do Norte e Nordeste não podem continuar tendo seus visitantes sendo transportados em Tribus e ônibus convencionais equipados apenas com WC.

  4. Roberto SP disse:

    Meu amigo cearense recentemente viajou no tal de Bombom da Itapemirim e jurou que nunca mais na vida dele utiliza o serviço por causa do aperto e desconforto proporcionado no ônibus. Mas assim vemos que na época a propaganda fazia sentido, pois era uma época diferente d hoje, temos hoje as viagens aereas como a grande novidade das chamadas classe C, por exemplo meu amigo cearense só não foi e voltou de avião porque tem medo de voar, assim como ele temos muitas pessoas Brasil afora, eu mesmo sou um deles, prefiro ir de ônibus, uma coisa que vejo é o fato de um mesmo veiculo percorrer longas distancias numa unica viagem de ida ou volta, não seria o caso por exemplo de haver conexôes de ônibus como ocorre nos aviões? Se isto já existe pode de certo modo melhorar o conforto e desmpenho dos veiculos assim como uma grande economia para as empresas, porém essas conexões poderiam absorver empresas regionais e de cidades médias através de acordos operacionais entre empresas por exemplo, São Paulo/Crato pela Gontinjo, poderia ser assim São Paulo/BH (Gontinjo) BH/Crato (Guanabara), calma só estou dando um exemplo do poderia ser, isso e´uma hipótrese do que estou pensando, acho que seria interessante em alguns casos e talvez cansativos em outros, mas seria uma maneira de diversificar um mesmo serviço em nosso território. Forte abraço a todos.

  5. Gustavo Cunha disse:

    Boa noite à todos, novamente !

    Parabéns ao Adamo pela matéria e ao Paulo Gil e Roberto, pelos sábios comentários.

    Penso que, à exceção de algumas rotas, famosas pinga – pinga, em municípios de pequeno e médio porte que, ainda podem ser interessantes para as operadoras, as restantes, são de quem tem asas.

    Conexões podem ser a saída, mas, haverá a necessidade de conciliar os interesses das empresas nacionais e regionais.

    Dialogar e somar forças, pode ser uma das soluções.

    Abraços.

    1. Paulo Gil disse:

      Gustavo, boa noite

      Parabéns pela sua colocação!

      “Dialogar e somar forças, pode ser uma das soluções.”

      De pleno acordo e espero que outras pessoas/empresas/poder público
      aceitem e apliquem este seu sábio ensinamento.

      Um exemplo real é o “Blog do Ponto de Ônibus”.

      Lembrando sempre que “duas ou mais cabeças, pensam mais do que uma.”

      Grato.

      Paulo Gil

      1. Gustavo Cunha disse:

        Oi.

        Ainda hoje, pela manhã, dialogando com um amigo e parceiro profissional, ele me disse exatamente a mesma frase.

        É o ideal, mas nem sempre é possível.

        Abçs.

    2. Luiz Vilela disse:

      Gustavo,
      Se esta conciliação não atende o usuário, ele procura quem atenda. Se achar, será difícil trazê-lo de volta.
      A Metra parece compreender isto particularmente bem.

  6. Marcos Galesi disse:

    o PIOR DE TUDO é que o Abilio Gontijo diz que quem quizer leito (conforto que só algumas empresas oferecem, o famoso ONIBUS LEITO) vai viajar de avião. Se as empresas de ônibus querem receber novos passageiros, então que possam fazer um bom corte de custos e investirem em ônibus mais confortáveis.

  7. É, Galesi! Deve ser por isso que muitos vão de avião pro Nordeste.

    Mas há um contraponto: Quem prefere ir de ônibus, sofre com o desconforto mas preza pela certeza de viajar sem muitos atrasos, o que é o oposto dos passageiros do avião que dependem de condições climáticas e de outras para ter um conforto a mais. Em suma: Se os empresários se conscientizassem das necessidades de seus clientes e se a infra-estrutura aeroportuária fosse mais organizada, talvez o passageiro pudesse optar por um ou outro sem se arrepender depois.

  8. Luiz Vilela disse:

    O Gustavo matou a charada: conexões! Conforto os DDeckers oferecem, mas o serviço completo, desde a compra do bilhete até a saída da estação, continua muito aquém do avião. Certeza: trajetos longos não são para ônibus, simples assim.

    Um exemplo pessoal – ninguém me contou – é gritante. Precisava ir de BH a Cotia de ônibus. Conseguidas as informações em site precário de famosa empresa de ônibus, tive que comprar – separadamente! – dois bilhetes, repetindo toda a sequência on line a aturando muitos erros (foram cerca de 5 tentativas). Liguei para a Companhia pedindo comprarem – para eu pagar! – bilhete de Metro que eu retiraria na Rodoviária Tietê para ir da Tietê à Barra Funda. Nada feito! Tive que entrar na fila grande de compra de bilhetes da Metro Azul Tietê e só pegar o ônibus a Cotiamais de 70 minutos depois.

    Como escrevi recentemente, é a diferença entre SUPRIR e ATENDER. Õnibus não atende como avião e tudo indica que as Companhias não fazem questão disto. O resultado é a queda de demanda, que acho justa.

  9. antonio disse:

    algun de vcs acredita q dessa vez sai mesmo a licitação?. depois de tantas vezes adiada

  10. Denis Bezzera da Silva disse:

    Olha, na minha opinião, é uma coisa muito relativa, pois as viagens de ônibus são apesar de cansativas, mais prazerosas no quesito paisagens, você curte a viagem conhece lugares lindos, porém, são demoradas, e perdemos muito tempo nas estradas, o interessante seria que empresas grandes, que fazem estes trajetos adquirissem linhas aéreas, e que trabalhassem apenas em localidades ainda não atendidas por aeroportos, mas que continuassem investindo na qualidade, pois a viagem aérea só traz a vantagem da rapidez, nada além!!!!!!.

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