LICITAÇÃO DE 2 MIL LINHAS DA ANTT: INDÚSTRIA VAI DAR CONTA? ÔNIBUS VAI VOLTAR A SER COMPETITIVO?

ÔNINUS

Idade média da frota interestadual e internacional é de 14 anos. Pela licitação da ANTT, que deve ser concluída no início de 2012, os veículos não poderão ultrapassar 10 anos de idade. E é justamente essa a preocupação da ANTT. Será que a indústria terá capacidade para atender a todos os pedidos sem criar pressões econômicas e aumento dos preços de forma abusiva? Isso porque, dos 15 mil ônibus que operam esse tipo de transportes, 7 mil vão ultrapassar os 10 anos de idade no final de 2011 e a troca de veículos terá de ser intensa. Foto: Adamo Bazani.

Licitação de 2 mil linhas de ônibus interestaduais mexe com as indústrias e mercado deve ser concentrado

ANTT – Associação Nacional dos Transportes Terrestres admite que já conversa com fabricantes para ver se eles darão conta da demanda por ônibus novos. Hoje a média de idade dos ônibus interestaduais é de 14 anos

ADAMO BAZANI – CBN

A ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres – promete revolucionar o setor rodoviário de ônibus com a licitação de todo o sistema interestadual e internacional, que contempla pouco mais de 2.017 mil linhas aproximadamente.
A licitação já deveria ter saído do papel em outubro de 2008, mas pro pressão das empresas de ônibus e por erros admitidos pela própria ANTT em relação aos cálculos do tamanho do sistema, que foi minimizado, o certame, por meio de leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, foi passado para o ano de 2009.
Mas as empresas pressionaram novamente e agora, se não houver nenhuma interferência, as empresas poderão retirar o edital no final de outubro. A licitação, a maior da história dos transportes rodoviários do País, deve ser concluída em janeiro de 2012.
Além de regularizar o setor, que opera com ônibus velhos, descumprimento de horários e vários serviços clandestinos, agora a licitação se volta para revitalizar as viagens rodoviárias frente à concorrência com o avião que, além de ser obviamente mais rápido, em muitas rotas se tornou até mesmo mais barato. Esse cenário se deu por uma série de fatores em conjunto. Do lado da Aviação, as empresas mudaram a visão de atendimento ao cliente e começaram a oferecer o básico, sem perder a qualidade e ganharam demanda, o que fez com quer as tarifas aéreas baixassem ainda mais. Do lado das empresas de ônibus, muitas companhias precisam modernizar os conceitos e enfrentam sérios problemas que aumentam os custos, como concorrência com serviço clandestino, perda de demanda e más condições das estradas que aumentam gastos com combustíveis e manutenção.
VAI TER ÔNIBUS PARA TODO MUNDO?
O presidente da ANTT, Agência Nacional dos Transportes Terrestres, Bernardo Figueiredo, admitiu na semana passada que uma das preocupações da Agência é se a indústria brasileira vai dar conta da licitação que, de cara, vai exigir uma grande renovação de frota.
Ao jornal O Globo, Bernardo Figueiredo revelou que tem entrado em contato constantemente com as fabricantes para evitar pressões de mercado: falta de ônibus e consequente aumento dos preços dos veículos.
Nos cinco anos posteriores a licitação, a ANTT pretende reduzir a idade média da frota dos ônibus interestaduais que hoje é de 14 anos. A estimativa é que por conta da licitação, a idade média da frota caia para cinco anos.
E logo de cara, essa medida obrigará a substituição de 7 mil ônibus.
Isso porque, a idade máxima dos ônibus depois da licitação não pode ultrapassar 10 anos. De acordo com estimativas da própria ANTT, dos 15 mil ônibus interestaduais e internacionais que operam o sistema regular, até o final de 2011, quase a metade desta quantidade de ônibus ultrapassará os 10 anos permitidos.
A indústria, tanto de chassi como de carroceria, diz estar com condições de atender esta demanda e promete que não haverá oportunismos econômicos, além de algumas altas esperadas mas dentro dos padrões aceitáveis por conta do aumento da procura por ônibus.
EMPRESA FUINDO DE QUINTAL ESTARÁ FORA:

ÔNIBUS

Pelas maiores exigências técnicas e de viabilidade econômico financeira do edital para a licitação das cerca de 2 mil linhas de ônibus pela ANTT, muitas empresas pequenas ficarão de fora. Das 256 viações que hoje operam linhas interestaduais, somente 150 no máximo têm condições jurídicas e saúde econômica. As empresas vão assumir lotes e quem pegar as melhores linhas também vai operar serviços menos rentáveis para equilibrar o sistema. Foto: Adamo Bazani.

Uma coisa é certa, pelo maior nível de exigência da licitação das linhas interestaduais e internacionais, haverá uma concentração de mercado e as empresas menores não terão vez.
Bernardo Figueiredo disse claramente que o desejo é que operem empresas bem estruturadas, nada do que chamou de “fundo de quintal”
A licitação é um passo para a profissionalização. Não vai ter empresa de fundo de quintal. Não tenho ainda um mercado organizado, quero qualidade, dar confiabilidade ao setor – disse ao Globo.
No total, as linha serão dividas em 29 grupos. Cada um deles será comandado por três ou quatro empresas. O objetivo é criar um equilíbrio econômico e geográfico. Isso porque, uma empresa que assumir um lote rentável terá também de prestar serviços em áreas com menos lucro, cujo número de passageiros será menor e as condições de tráfego e acesso mais difíceis, o que implica gastos maiores. Cada lote terá linhas de características diferentes.
As empresas poderão criar consórcios para assumir lotes de linhas. O número de viações deve ser reduzido, já que elas vão ter de seguir às exigências maiores e comprovar viabilidade técnica e financeira.
De acordo com estimativas da ANTT, há 256 empresas de ônibus atuando no setor rodoviário de linhas interestaduais e internacionais. Deste total, entre 100 e 150 são consideradas financeiramente saudáveis ou possuem condições jurídicas.
A licitação, que ocorrerá por meio de pregão eletrônico, será vencida pelas empresas que apresentarem melhores propostas técnicas e menor tarifa teto (o valor máximo mais baixo para cada linha).
A licitação deve ser bem complexa.
O ÔNIBUS PODE VOLTAR A BRIGAR COM O AVIÃO:
Uma das intenções da licitação é deixar o ônibus competitivo novamente.
Assim, as empresas serão obrigadas a oferecer uma série de promoções de fidelidade e preços mais baixos em horários cuja demanda é menor.
Assim, além da tarifa-teto, as empresas de ônibus serão obrigadas a oferecer na entrega das propostas após o edital, uma tarifa média baixa.
A tecnologia, hoje presente somente nas viações de maior porte, deve chegar a todo o sistema.
E a internet vai ser a grande ferramenta para isso.
Além de comprar as passagens pelo computador, quem usa ônibus internacional e interestadual vai poder acompanhar os horários de saída e chegada dos ônibus em tempo real e as rodoviárias terão de apresentar telões com estas informações, como as telas que existem nos aeroportos.
Serviços diferenciados, como sala vip, presentes em algumas empresas já, serão incentivados.
A ANTT diz que vai ser rigorosa quanto à fiscalização da manutenção dos veículos e cumprimento dos horários.
Para Bernardo Figueiredo, hoje os transportes rodoviários estão em vários casos bagunçados e por isso perdem competitividade.
O edital terá indicadores claros e bem diretos de qualidade e inconformidades, assim como de punições.
Os reajustes de tarifas sempre serão anuais, com base no IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e na variação dos preços dos combustíveis.
De acordo com pesquisas da Fipe – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – , nos dois primeiros meses de 2011, o número de passageiros de avião foi 10% superior ao de ônibus em rotas interestaduais. Entre 2002 e 2010, o número de passageiros do setor aéreo subiu 115% e a quantidade passageiros de ônibus que ligam dois Estados diferentes ou mais caiu 31% no mesmo período.
Isso revela que muita gente do ônibus migrou para o avião e muita gente que não tinha o hábito de viajar começou a realizar viagens e, muitos, logo de início por aeronaves. Em 2010, as empresas de ônibus transportaram 66,7 milhões de pessoas segundo dados da Fipe.
O sistema conta com 19 mil pontos de origem e de destino.
A concessão vale por 15 anos.
Adamo Bazani, repórter da Rádio CBN e jornalista especializado em transportes.

Comentários

Comentários

  1. Gustavo Cunha disse:

    Bom dia à todos.

    Sobre o tema. Às vezes, ônibus novo não é sinônimo de qualidade, às vezes um ônibus com alguns anos de uso, mas com boa manutenção, é sinônimo de qualidade.

    No transporte de passageiros, ônibus, seja novo, ou, mais usado, não é tudo.

    Cuidado ! Nem sempre uma empresa de porte e com tradição, presta um serviço de qualidade.

    Boa reflexão.

  2. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite

    Mais uma oportunidade de disponibilização do edital ou um link para
    acesso ao Edital de licitação ou pregão.

    Porém quanto a eliminação sumária (mesmo antes do Edital) dos micro e pequenos
    empresários é no mínimo inconstitucional.

    Pra quem vai sobrar a operação nas BR´s do BARRO?

    Era para 2008, agora 2012, quem sabe 2014, depois da copa.

    Como será o serviço nesse mundão, fora do eixo RGSUL/SC/PR/SP/RJ/MG/BA ???

    Só quem já andou por ai sabe a diferença.

    Grato

    Paulo Gil

    1. Gustavo Cunha disse:

      Bom dia !

      Parabéns pelas palavras. Resumiram de forma séria, o pensamento de muitos.

  3. caros amigos ñ estou com fé q essa licitação saia do papel, mesmo pq ja foi adiada muitas vezes e tambem acho eu q governo ñ esta muito interesado nesse assunto…e se realmente ela sair tem um lado bom disso, acaba com onibus pirata ñ sei pq o governo nunca acabou com pirataria no transporte mesmo pq ele deixa de arrecada muitos imposto sera pq isso ñ da volto?? um grande abraço

  4. Heraldo disse:

    A licitação das linhas não interessa aos grandes empresários. Quanto mais tempo adiarem melhor pois os mesmos sabem dos problemas de suas empresas nas linhas em que operam. Que empresa vai querer perder uma fatia boa do bolo para uma concorrente? Mesmo com todas as reclamações de usuários? Para eles, interessa é do jeito que está. Enquanto isso, os melhores serviços são prestados por empresas que conseguem alguma linha via judicial, que são combatidas pela fiscalização da ANTT, as vezes até com abuso. Porque o governo não regulariza ESSES serviços, ao invés de ficarem gastando nosso dinheiro com brigas judiciais? Porque não regulariza ESSES serviços (cadastrados na ANTT) e os contratos das linhas regulares já vencidos mediante a cobrança de alguma taxa para a concessão? Daria mais resultado.

  5. Moisés Araújo. disse:

    Também concordo, sem contar empresas que nos vendem passagens de carros executivos e quando entramos estamos em um carro convencional, como por eemplo uma viagem que fiz de Mogi das Cruzes a Belo Horizonte no dia 10 de Julho pela empresa de onibus Util,comprei uma passagem de linha executiva no valor de R$106, pagando pelo serviço executivo,quando entrei no onbus me deparei com um carro de 46 poltronas e logo vi que não é uma configuração executiva haja que normalmente carros executivos sao no maximo de 42 poltronas, o mesmo nao tinha nem encostos para os pes,entao viajar a noite, imagina o desconforto para dormir,é um abuso,empresas nos vendem uma coisa e quando entramos nos onibus somos enganados na maior cara de pau e nao e a primeira vez,sem contar os serviços Golden de Itapemirim para o nordeste,entre outros é um desrespeito,sempre gostei muito de viajar de onibus,gosto de apreciar a viagem o momento mas confesso que se continuar desta forma nao irei mais viajar de onibus e olha que ja viajei muito por este pais ja rodei e conheço muitas empresas e confesso que torço para que essa licitação saia do papel,e o serviço torne-se competitivo,não adianta só ficar nos arquivos da ANTT o serviços devem ser fiscalizados,pois muitas empresas não respeitam e se não houver uma forte fiscalização do orgão regulador essa licitação só ficará no papel.
    Moisés Araújo.
    Suzano.

  6. Bruno José disse:

    Boa Noite a todos,

    Sou sincero a falar que essa licitação derrubara muitas empresas de turismo também sendo que as pequenas empresas que operam no turismo são as que possuem o menor preço do mercado comparado as empresas que possuem grandes frotas e nao ligam se ficara parada ou não na garagem. Esse tipo de ação levara aumento dos ônibus concerteza e apos isso o aumento das passagens, pois as empresas presisam tirar o dinheiro de algum lugar para poder comprar a nova frota.

    Alem tambem que todos temos o direito de poder abrir uma empresa e trabalhar sendo que seguimos as regras e mantemos a qualidade do atendimento, isso na verdade so ajudara os que são ricos e nao aqueles que querem chegar a ser igual a eles a um dia.

    abraços

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