OS BONDES TURÍSTICOS PELO MUNDO

onde Turístico de Buenos Aires, em operação no bairro de Cabalitto.Esse bonde integrou a frota do sistema do Porto. Foto: A. Camargo e Silva

Após a segunda guerra mundial, várias cidades do mundo todo, mas com maior intensidade na Ásia e nas Américas, passaram a se adaptar para a circulação do automóvel. Isso significava uma radical mudança na forma como elas se relacionavam com o transporte coletivo, em particular os bondes e sobretudo, com o espaço urbano.
O fim da guerra sugeria muitas coisas, entre elas , a liberdade, triunfo maior obtido sobre as forças do eixo. E na mobilidade, nada mais forte que o poder da sedução que o automóvel imprimia, na fantasia de poder escolher o próprio caminho, bem como o seu destino, na companhia que mais lhe agradasse. E nada mais contrário a isso do que a imagem de rigidez associada aos percursos do transporte coletivo, sobretudo aqueles sobre trilhos, que pareciam querer condicionar o caminho – e a vida – de todos na cidade.
Vão –se os bondes e num piscar de olhos, a cidade começava a ficar saturada com o numero cada vez mais crescente de automóveis. Mas como a gasolina era barata, parecia ser esse o preço a pagar por se gastar mais tempo com os deslocamentos, ainda que poucos anos antes os bancos duros dos bondes garantissem a todos muita mobilidade a preços bem módicos.
A crise do petróleo de 1973 põe em cheque esse modelo, sobretudo nos países mais pobres, e de repente, percebe-se que poucos anos antes tinham ido para o lixo grandes redes de bondes. No Brasil as desativações mais significativas foram as redes de Porto Alegre ( 1970) e Santos ( 1971).
Enquanto se discutia a insensatez que foi esse desmonte, as cidades mais ricas passam a formular projetos de reintrodução dos bondes no seu cotidiano, obviamente em versões sofisticadas e cravejadas de tecnologia. Desde 1980 foram implantados 136 novos sistemas de bondes, chamados agora de Veículos Leves sobre Trilhos ou Metrô-Leve. Em paralelo, muitas cidades passam a revalorizar os sistemas de bondes que um dia possuíram,propondo a implantação de pequenos circuitos turísticos, em geral associados a programas de reabilitação de áreas centrais, saindo a caça de bondes jogados em clubes, sítios, ou transformado compulsoriamente em playground de crianças ou algo similar.
Buenos Aires foi a primeira cidade a introduzir um circuito desse tipo, há pouco mais de 30 anos atrás .Para isso aproveitou um circuito de 2 km de extensão, implantado em ruas de um bairro onde se localiza uma oficina de trens de uma de suas linhas de metrô, que também fazia a manutenção das linhas de bondes da região,Esse circuito conecta a oficina á linha de metrô, permitindo que as composições acessem, pelas ruas do bairro, as oficias.

Com o circuito pronto, a entidade promotora da ressurreição dos elétricos importou da cidade do Porto, em Portugal, dois bondes similares aos modelos que trafegaram em Buenos Aires, inaugurando seu circuito histórico em 1980.Posteriormente, encontraram em outra cidade, esquecido, um bonde original da rede portenha, que se juntou á frota, que conta hoje com 5 bondes.
De 1980 para cá foram implantados aproximadamente 50 circuitos similares, em cidades que reintroduziram ou não seus sistemas de bondes. No Brasil temos uma linha pioneira, implantada no Parque Taquaral em 1972 pela prefeitura de Campinas, logo depois da extinção de seu sistema de bondes( ocorrida em 1968).Alem dela, temos a cidade de Santos que reintroduziu por duas vezes uma linha histórica, em 1984 e em 2000, da última vez com grande sucesso. Alem delas temos os trechos implantados em Belém, não totalmente consolidado ( 2004) e a linha do Memorial do Imigrante em São Paulo, já retirada.

Ayrton Camargo e Silva é urbanista e especialista nos modais ferroviários.

Comentários

Comentários

  1. Marcos Galesi disse:

    Amigo Ayrton Camargo

    Parabéns por mais este tesouro que veio enrriquecer ainda mais a história dos transportes. São Paulo já teve uma grande rede sobre trilhos, se os nossos mandatários do poder público tivesse visão de futuro, com certeza hoje teriamos um transporte de qualidade.

    É uma pena que estamos há anos com mandatários que agem até de forma INERTE para solucionar os problemas de transporte na cidade de São Paulo.

    Parabéns amigo Adamo, mais uma vez, estamos bem na foto.

    1. ayrton disse:

      Caro Galesi,

      Obrigado por sua atenção.
      Um abraço do

      Ayrton

  2. Luiz Vilela disse:

    Caro Ayrton
    Ótimo texto!
    Que a boa penetração do blog o faça chegar aos planejadores da SPTRANS e aos nossos governantes.

    1. ayrton camargo e silva disse:

      Caro Luiz,

      Obrigado pelo apoio.
      Um grande abraço,

      Ayrton

  3. neno disse:

    SE PARECE COM A EUROPA

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