Barra do Piraí (RJ) lança concorrência do transporte coletivo por 20 anos após caducidade dos contratos anteriores

Viação Barra do Piraí foi contratada em caráter emergencial em junho de 2024

Prefeitura adotará remuneração por quilômetro rodado, com bilhetagem reversível; crise no serviço anterior motivou a medida

ALEXANDRE PELEGI

O município de Barra do Piraí (RJ) — localizado no Vale do Médio Paraíba Fluminense, com cerca de 100 mil habitantes e posição estratégica a aproximadamente 100 km da capital fluminense — publicou o Edital da Concorrência Presencial nº 001/2025 para a concessão do serviço público de transporte coletivo urbano de passageiros por 20 anos. A decisão ocorre após a caducidade dos contratos das concessionárias anteriores, decretada pela prefeitura em junho de 2024 em razão da má prestação dos serviços e condições inadequadas da frota, que vinha gerando prejuízos aos usuários e descumprimentos de obrigações contratuais.

Segundo o novo edital, a licitação será realizada em 26 de janeiro de 2026, na sede do Executivo municipal, e adotará o critério de menor valor da tarifa de remuneração por quilômetro rodado (TRKm) — sem estabelecer um valor-base de referência no instrumento. Isso significa que as operadoras ofertarão livremente o preço por quilômetro percorrido, observados os parâmetros técnicos do Manual da ANTP (2017). Propostas com valor inferior a 75% do estimado pela administração exigirão justificativas técnico-econômicas para não serem consideradas inexequíveis.

Histórico recente: caducidade e operação emergencial

Em junho de 2024, o município decretou a caducidade dos contratos de concessão do transporte coletivo, afirmando que as empresas — então responsáveis pela operação — prestavam o serviço “de forma inadequada, com total desprezo ao pleno atendimento dos usuários, sobretudo em razão da péssima condição da frota” e falhas em pontos essenciais como segurança, comodidade e atendimento a pessoas com deficiência.

Em sequência, a prefeitura firmou uma contratação emergencial com a Bamonte Transporte Ltda, por meio de dispensa de licitação, para garantir a continuidade do serviço até a conclusão do novo processo licitatório. A empresa passou a receber R$ 11,28 por quilômetro rodado e iniciou operação com frota nova equipada com ar-condicionado ainda em junho de 2024, assegurando a manutenção dos empregos e cronograma de transição

Investimentos e exigências técnicas

O edital da concorrência não apresenta um valor global de CAPEX para todo o contrato de 20 anos. Em vez disso, exige que os investimentos iniciais e continuados constem do estudo de viabilidade econômico-financeira e das planilhas de custos das licitantes. A própria prefeitura destacou, ao justificar algumas exigências de qualificação, que se trata de empreendimentos com “investimentos que superam os 20 milhões de reais”, motivo pelo qual vedou a participação de micro e pequenas empresas no certame.

São previstas obrigações robustas de qualificação técnica, como comprovação de operação de um número mínimo de veículos por período e produção anual mínima de quilômetros, reforçando o perfil de operadores com experiência em sistemas coletivos urbanos.

Bilhetagem eletrônica como ativo reversível

O edital dá destaque ao sistema de bilhetagem eletrônica inteligente, que deverá ser adquirido, implantado, operado e mantido pela concessionária. O município ressalta que o sistema de bilhetagem pode ser objeto de gestão centralizada de receitas pelo poder público no futuro e classifica esse sistema como bem reversível — ou seja, um ativo que retornará ao patrimônio do município ao fim da concessão, sem custo adicional, assegurando que a prestação do serviço público não dependa de ativos privados após o término do contrato.

Questões ambientais e tecnológica neutra

O edital adota postura tecnologicamente neutra. Não há exigência de ônibus elétricos, híbridos ou metas de sustentabilidade ambiental específicas. A redação prevê a operação com ônibus de diferentes portes e “qualquer outro modo que venha a ser implantado durante a vigência da contratação”, além de modernizações tecnológicas como sistemas embarcados de comunicação e monitoramento, sem foco mandatório em ecomobilidade.

Contexto regulatório e perspectivas

A nova licitação marca uma tentativa de superar anos de problemas crônicos no transporte coletivo de Barra do Piraí, substituindo um modelo que, segundo a prefeitura, deixou de atender adequadamente a população e suscitou medidas como a caducidade dos contratos de concessão. A operação emergencial com frota nova em 2024 foi uma resposta imediata, mas agora a expectativa é que a concorrência regulada em 2025 garanta estabilidade, investimentos e qualidade ao serviço urbano por duas décadas.

O edital completo está disponível no portal oficial da prefeitura e no Boletim Oficial do município.


Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

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