Pesquisa CNT completa 30 anos e mostra avanço nas estradas que sustentam o transporte coletivo rodoviário

Concessões concentram os melhores índices de qualidade justamente nos corredores que movimentam mais de 100 milhões de passageiros por ano no país

ALEXANDRE PELEGI

A Pesquisa CNT de Rodovias chega à sua 30ª edição em 2025 apontando uma melhora relevante no Estado Geral da malha viária pavimentada do Brasil — um avanço diretamente ligado à qualidade, à segurança e à competitividade do transporte coletivo rodoviário de passageiros. O levantamento, realizado de forma contínua desde 1995, avaliou neste ano 114.197 quilômetros de rodovias pavimentadas, o equivalente a mais de 52% de toda a malha pavimentada nacional.

Os dados mostram que 37,9% da extensão pesquisada (43.301 km) foi classificada como Ótima ou Boa, ante 33,0% em 2024, representando um avanço de quase 5 pontos percentuais em apenas um ano. Houve, ao mesmo tempo, redução da participação de trechos avaliados como Ruins ou Péssimos, indicando melhora gradual das condições de circulação.

Para o transporte rodoviário de passageiros essa evolução tem peso estrutural, afinal ele responde por cerca de 95% dos deslocamentos de passageiros no Brasil, considerando viagens urbanas, intermunicipais e interestaduais, segundo a Pesquisa CNT de Rodovias. Estradas em melhores condições impactam diretamente o conforto, a regularidade das viagens, a segurança operacional e o custo do serviço, elementos decisivos para atrair passageiros e manter o ônibus competitivo frente ao transporte individual e aéreo.

Onde estão as melhores estradas

A melhora observada pela CNT não está distribuída de forma homogênea. Os melhores resultados continuam concentrados nas rodovias concedidas à iniciativa privada, especialmente em corredores estratégicos do Sudeste e do Sul, justamente aqueles que concentram o maior volume de linhas intermunicipais e interestaduais.

Top 10 rodovias do Brasil: quem administra as melhores estradas

Entre as rodovias que figuram recorrentemente entre as melhores do país, segundo a Pesquisa CNT de Rodovias 2025, destacam-se exemplos emblemáticos. Importante observar que o ranking abaixo não indica ordem hierárquica absoluta. A CNT trabalha com classificações técnicas por trecho e variável; o box reúne exemplos que aparecem sistematicamente entre os melhores resultados nacionais.

  • SP-330 – Rodovia Anhanguera
    Concessionária: Autoban | Grupo CCR
  • SP-348 – Rodovia dos Bandeirantes
    Concessionária: Autoban | Grupo CCR
  • SP-280 – Rodovia Castelo Branco
    Concessionária: ViaOeste | Grupo CCR
  • SP-150 – Rodovia Anchieta
    Concessionária: Ecovias dos Imigrantes | Grupo EcoRodovias
  • SP-160 – Rodovia dos Imigrantes
    Concessionária: Ecovias dos Imigrantes | Grupo EcoRodovias
  • BR-116 – Régis Bittencourt (SP/PR)
    Concessionária: Arteris Régis Bittencourt | Grupo Arteris
  • BR-101 – trechos no RJ e SC
    Concessionárias: Arteris Fluminense / Arteris Litoral Sul | Grupo Arteris
  • BR-376 (PR)
    Concessionária: Arteris Litoral Sul | Grupo Arteris
  • BR-277 (PR)
    Concessionária: Ecovia Caminho do Mar | Grupo EcoRodovias
  • MG-050 (MG)
    Concessionária: Via Nascentes | Grupo EPR

Estradas melhores onde circulam mais passageiros

O cruzamento dos dados da CNT com estatísticas da ANTT ajuda a entender por que a melhora da infraestrutura é mais perceptível justamente nos eixos mais movimentados do país. Em 2024, o transporte rodoviário interestadual e internacional movimentou mais de 100 milhões de passageiros, sendo mais de 40 milhões em linhas regulares, com média diária superior a 110 mil pessoas.

Veja os corredores do transporte interestadual e estimativas de passageiros/dia

  • São Paulo – Rio de Janeiro (BR-116 / Via Dutra)
    Principal corredor rodoviário de passageiros do país.
    Estimativa: 25 mil a 30 mil passageiros/dia, somando linhas regulares, semiurbanas e fretamento.
    Concessionária: CCR RioSP | Grupo CCR
  • São Paulo – Curitiba – Florianópolis – Porto Alegre (BR-116 / BR-376 / BR-101)
    Eixo estruturante Sul–Sudeste, com alta frequência diária de ônibus.
    Estimativa: 30 mil a 35 mil passageiros/dia ao longo de todo o corredor.
    Concessionárias: Arteris Régis Bittencourt, Arteris Litoral Sul, Arteris Planalto Sul
  • Belo Horizonte – São Paulo (BR-381 – Fernão Dias)
    Um dos trechos com maior densidade de viagens interestaduais no Sudeste.
    Estimativa: 10 mil a 15 mil passageiros/dia.
    Concessionária: Arteris Fernão Dias | Grupo Arteris
  • São Paulo – Campinas – Ribeirão Preto – Triângulo Mineiro (Anhanguera/Bandeirantes)
    Forte sobreposição de fluxos intermunicipais, interestaduais e fretamento.
    Estimativa: 20 mil passageiros/dia considerando todo o eixo.
    Concessionária: Autoban | Grupo CCR
  • Curitiba – Foz do Iguaçu (BR-277)
    Corredor estratégico também para transporte internacional.
    Estimativa: 5 mil a 7 mil passageiros/dia.
    Concessionária: Ecovia Caminho do Mar | Grupo EcoRodovias

Esses eixos concentram parte expressiva da demanda nacional e coincidem com trechos que apresentam melhor pavimento, sinalização mais completa e geometria mais segura, segundo a CNT.

O que a Pesquisa CNT revela sobre o futuro do transporte rodoviário de passageiros

Pelos dados dados da Pesquisa CNT de Rodovias 2025 tem-se uma leitura cada vez mais clara no setor: a qualidade da infraestrutura deixou de ser um fator periférico e passou a ser central para a sobrevivência e a retomada do transporte coletivo rodoviário.

Os corredores que concentram os maiores volumes de passageiros são justamente aqueles onde a concessão avançou e onde os indicadores de qualidade são mais elevados. Isso não é coincidência. Estradas melhores reduzem atrasos, diminuem quebras, preservam a frota, aumentam a segurança e melhoram a experiência do usuário — fatores decisivos para convencer o passageiro a escolher o ônibus em viagens médias e longas.

Por outro lado, a Pesquisa também mostra que mais de 60% da malha ainda está entre Regular, Ruim ou Péssima, o que ajuda a explicar a dificuldade de expansão do transporte coletivo rodoviário em determinadas regiões. Onde a estrada é ruim, o ônibus perde competitividade, os custos sobem e a demanda migra para alternativas menos eficientes ou mais caras.

Ao completar 30 anos, a Pesquisa CNT deixa uma mensagem clara para o setor do transporte por ônibus intermunicipais e interestaduais: não há política de fortalecimento do transporte coletivo rodoviário sem uma política contínua de investimentos em rodovias.

A expansão das concessões, aliada à recuperação da malha pública que permanece sob gestão estatal, será determinante para definir se o ônibus seguirá como protagonista da mobilidade brasileira ou se continuará perdendo espaço em um país que depende, estruturalmente, das estradas para se mover.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

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