Bloqueios em rodovias: SP já aplicou quase 200 multas de R$ 100 mil, vai usar guinchos para tirar caminhões; Tropa de Choque na Castello e 1,5 mil viagens de ônibus canceladas de rodoviárias

Ônibus conseguem seguir na Castello Branco depois de Tropa de Choque liberar faixas

MP e Polícia Civil não têm mais dúvidas: são bolsonaristas e agora investigam possibilidade de locaute com empresários financiando os atos; caminhoneiros relatam ameaças por parte dos manifestantes

ADAMO BAZANI

A Polícia Civil de São Paulo e o Ministério Público já não têm mais dúvidas: os bloqueios feitos em rodovias do Estado são de responsabilidade de bolsonaristas, como são chamados os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas últimas eleições, o que estes grupos não aceitam.

Como tática, os bolsonaristas que antes ostentavam faixas e bandeiras com as imagens e nome do presidente, agora estão apenas usando bandeiras do Brasil, roupas verde e amarelo e até mesmo camisetas da seleção de futebol. Em grupos de WhatsApp, os bolsonaristas pedem aos demais simpatizantes a não usarem expressões e fotos que remetem ao presidente da República, cujo mandato vai até 31 de dezembro de 2022.

Nesta terça-feira (1º), depois de 44 horas do fim das eleições, Bolsonaro reconheceu a derrota.

De acordo com o procurador-geral do Estado, Mario Sarrubbo, uma das linhas de investigações é que parte destas manifestações seja bancada e ordenada por empresários, inclusive donos de transportadoras de cargas, o que configuraria locaute, que é proibido pelo artigo 17 da lei nº 7.783/89.

“Alguns caminhoneiros estão voluntariamente, mas muitos deles dentro de uma grande organização as vezes até por ordem dos proprietários dos caminhões, que são grandes empresas. Então empresariado, aqueles envolvidos, haverão de responder por estes fatos e por crimes graves como por exemplo organização criminosa, a lei do crime organizado que todos conhecem”, declarou o procurador-geral de São Paulo.

Enquanto isso, a população comum ainda sofre com as manifestações comandadas por pequenos grupos que ameaçam os demais caminhoneiros de acordo com a Polícia. Estes bloqueios foram decretados ilegais pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e por se tratarem de insurgência contra as eleições, também pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O Governo de São Paulo informou que 183 multas de, no mínimo R$ 100 mil, foram aplicadas aos caminhoneiros identificados como responsáveis pelos bloqueios. Houve também a aplicação de 212 multas de R$ 5,8 mil, conforme o Código de Trânsito Brasileiro, pela obstrução e vias.

A Tropa de Choque, por volta de 11h00 desta quarta-feira, 02 de novembro de 2022, começou a liberar a rodovia Castello Branco, nas regiões de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, um dos principais pontos de bloqueios no Estado de São Paulo.

O secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, Coronel Camilo, disse que serão usados guinchos para tirar os caminhões abandonados pelos manifestantes, outra tática destes grupos.

Quem depende de ônibus, ainda é prejudicado por estas manifestações.

Apesar da retomada para alguns destinos de forma parcial, muitas partidas ainda estão sendo canceladas.

De acordo com a Socicam, que administra os terminais rodoviários da capital paulista, cerca de 1,5 mil viagens deixaram de ser feitas desde segunda-feira (31) nos terminais Tietê, na zona Norte, e Barra Funda, na zona Oeste.

No Terminal Jabaquara, na zona Sul, que têm viagens de ônibus rodoviários para a o Litoral, segundo a Socicam, não há problemas.

Os serviços de ônibus urbanos começam a ser prejudicados em algumas cidades por causa dos bloqueios bolsonaristas.

Limeira, no interior de São Paulo, decretou estado de emergência. Apenas a Linha da Saúde, da empresa de ônibus Sancetur, operadora do município está funcionando por escassez de óleo diesel nesta quarta-feira (02).As vendas de combustíveis a cidadãos comuns são limitadas e carros de serviços públicos estão com as saídas racionadas.

HISTÓRICO:

Bolsonaristas inconformados com a derrota do presidente Jair Bolsonaro nas urnas realizam os bloqueios que causam transtornos. Bolsonaro ficou em silêncio desde a noite de domingo (30) depois de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ter confirmado oficialmente a vitória do adversário Luís Inácio Lula da Silva, até o meio da tarde de terça-feira (1º).

Em redes sociais e em emissoras de rádio, caminhoneiros dizem que em cada ponto de bloqueio são pequenos os grupos que causam os tumultos, mas os demais não seguem viagem porque têm medo de agressão ou de ter os veículos destruídos pelos organizadores.

São três fatos inéditos na história eleitoral do Brasil desde a redemocratização:

– Nunca um presidente que tentava a reeleição foi derrotado, como aconteceu com Bolsonaro;

– Nunca um Presidente da República se calou por tanto tempo depois das eleições – só falou depois de quase 48 horas.

– Nunca ocorreram protestos simultâneos contra um resultado de eleições.

O Diário do Transporte mostrou que passageiros de linhas de ônibus metropolitanos e rodoviários foram prejudicados.

As empresas de ônibus tiveram de cancelar diversas viagens.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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