Marcopolo tem queda de lucro e produção no quarto trimestre de 2021 e fala em recuperação em 2022
Publicado em: 25 de fevereiro de 2022

Já no acumulado do ano de 2021, o lucro líquido de R$ 358,4 milhões, que representa alta de 295,1% na comparação com os R$ 90,7 milhões apurados no decorrer de 2020
ADAMO BAZANI
Colaborou Jessica Marques
O lucro líquido na Marcopolo caiu 52,1% no quarto trimestre de 2021 na comparação com semelhante período de 2020.
O valor total foi de R$ 65,2 milhões.
O dado faz parte da divulgação de resultados da empresa produtora de ônibus e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) nesta sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022.
Já no acumulado do ano de 2021, o lucro líquido de R$ 358,4 milhões representa alta de 295,1% na comparação com os R$ 90,7 milhões apurados no decorrer de 2020.
Ainda no quarto trimestre, a receita operacional líquida alcançou R$ 1,084 bilhão, alta de 4,7% na comparação com quarto trimestre de 2020.
Mas no acumulado do ano de 2021, houve queda de 2,5%, sobre 2020, com resultado de R$ 3,499 bilhões.
Segundo a Marcopolo, os destaques do quarto trimestre de 2021 foram:
– A Produção Total da Marcopolo atingiu 3.031 unidades, 2,8% inferior ao 4T20.
– A Receita Líquida somou R$ 1.084,2 milhões, incremento de 4,7% ante o 4T20.
– O Lucro Bruto atingiu R$ 123,2 milhões, com margem de 11,4%.
– O EBITDA totalizou R$ 74,4 milhões, com margem de 6,9%.
– O Lucro Líquido foi de R$ 65,2 milhões, com margem de 6,0%.
PRODUÇÃO:
No comunicado, a Marcopolo mostra que teve queda na produção de ônibus, seguindo a tendência do mercado como um todo.
No 4T21, a produção brasileira de ônibus atingiu 3.256 unidades, redução de 23,9% em relação ao 4T20.
- a) Mercado Interno: A produção destinada ao mercado interno somou 2.455 unidades no 4T21, 25,0% inferior às 3.276 unidades produzidas no 4T20.
- b) Mercado Externo: As exportações totalizaram 801 unidades no 4T21, 20,2% inferior às 1.004 unidades exportadas no 4T20.
A produção consolidada da Marcopolo foi de 3.031 unidades no 4T21. No Brasil, a produção atingiu 2.196 unidades, 19,5% inferior à do 4T20, enquanto no exterior a produção foi de 835, 113,6% superior às unidades produzidas no mesmo período do ano anterior. A queda na produção no 4T21 na comparação com o 4T20 é explicada pela influência da pandemia sobre as vendas do 3T21, por um menor volume de produção voltado ao programa federal Caminho da Escola na comparação trimestral, bem como pela falta de determinados componentes, especialmente semicondutores e chassis. O destaque do trimestre foi o incremento de volumes produzidos nas operações internacionais, especialmente na Argentina e no México.
PARTICIPAÇÃO NO MERCADO BRASILEIRO
Ainda de acordo com a Marcopolo, sua participação no mercado brasileiro caiu de 56% no quarto trimestre de 2020 para 53,3% no mesmo período de 2021.
A participação de mercado da Marcopolo na produção brasileira de carrocerias foi de 53,3% no 4T21 contra 56,0% no 4T20. A queda da participação na comparação trimestral é explicada pelo ainda baixo volume de rodoviários pesados em detrimento de carrocerias para ônibus de fretamento, onde a Companhia possui menor market share, e pela postergação da produção associada à falta de determinados componentes, especialmente semicondutores e chassis. A produção de ônibus rodoviários pesados, com maior tecnologia embarcada, e de veículos para o programa Caminho da Escola continuará sendo afetada pela ausência de insumos no 1T22
PREPARADA PARA CRESCER:
A Marcopolo estima crescimento no mercado de ônibus após dois anos ruins por causa da pandemia.
Nas análises e perspectivas, a empresa cita o mercado externo, o Caminho da Escola (ônibus escolares comprados pelo Governo Federal), o segmento de urbanos e a Geração 8.
Veja na íntegra:
Após 2021 ter frustrado as expectativas de recuperação de volumes, com o impacto de novas ondas da pandemia, a consolidação da vacinação no Brasil e a menor letalidade da nova variante da Covid-19, permitem à Companhia projetar crescimento de vendas e melhora do cenário de mercado para 2022. O retorno à normalidade com a convivência com novas cepas vem permitindo a retomada gradual do turismo, das viagens de longa distância e do transporte público urbano e escolar, setores especialmente afetados pela queda de passageiros. Mesmo com o aumento do número de casos, a Ômicron não foi capaz de paralisar o mercado de ônibus com a força vista nas variantes anteriores, e clientes seguem manifestando interesse de compra, indicando volumes crescentes. A Companhia não realizou as habituais férias coletivas que normalmente suspendem as atividades entre o fim de dezembro e início de janeiro do ano subsequente.
Nesse princípio de 2022, o maior desafio é a baixa disponibilidade de componentes para finalização dos ônibus, com faltas de chassis, headunits e monitores impactando entregas. O mercado de rodoviários, após dois anos de restrições, ensaia gradual recuperação a partir da mudança do mix de vendas. Rodoviários pesados, utilizados para viagens de longa distância e turismo, voltam a aparecer com mais frequência na carteira de pedidos.
O sucesso no lançamento da Geração 8 (G8) segue fomentando vendas e novos modelos da família serão lançados ao longo de 2022. O setor de fretamento continua representando os maiores volumes no segmento por enquanto, mas a expectativa é de inversão, cedendo lugar aos rodoviários pesados frente ao recuo da Covid-19. Nos urbanos, a criação ou ampliação de subsídios ao transporte público pelas municipalidades vêm incentivando o interesse dos clientes em renovações.
A atualização de custos associados ao transporte por aplicativos frente às tarifas de ônibus, mais competitivas, vem gerando um fluxo maior de usuários e a necessidade de complementação de linhas. O segmento também será beneficiado pelas entregas do programa Caminho da Escola.
O segmento de micros e Volares continuará apresentando boa performance, com incremento de volumes com o retorno do turismo e com a reabertura de escolas e universidades, setor paralisado pela pandemia. Vendas ao poder público e as entregas ao programa federal Caminho da Escola ajudarão o segmento.
Em 2021, a Companhia entregou 1.558 unidades para o programa Caminho da Escola, destes 517 micros, 259 urbanos e 782 modelos Volare (versus um total de 3.472 unidades em 2020). No 4T21, foram entregues 399 (201 urbanos e 198 Volares) das 3.900 unidades (2.500 urbanos e 1.400 Volares) relativas à licitação de 2021 vencidas pela Companhia, restando mais 3.501 unidades para entrega em 2022.
Um novo edital foi publicado em 25 de janeiro para realização de pregão em 09.02.2022 para compra de 3.850 veículos adicionais. O pregão encontra-se suspenso e sua retomada é aguardada a qualquer momento. As exportações foram especialmente afetadas em 2021 na comparação com o excelente desempenho de 2020.
As perspectivas projetam recuperação em 2022, como reflexo do enfraquecimento da pandemia nos mais diversos mercados e maturação de pacotes com volumes relevantes – inclusive de ônibus elétricos. A venda de rodoviários pesados deverá ser reforçada com maiores volumes de G8. Entregas para a renovação da frota para a cidade de Santiago e novas compras por parte de países africanos serão destaques positivos em 2022. As operações internacionais também deverão apresentar melhora da performance em 2022, com o arrefecimento da pandemia nos mais diversos mercados.
A Marcopolo México (Polomex) projeta a retomada dos rodoviários, com recuperação de market share no segmento a partir do lançamento do G8 naquele mercado. A perspectiva de curto prazo, porém, permanece desafiadora com o mix focado em veículos leves. A Marcopolo Austrália (Volgren) deverá se beneficiar dos resultados recentes de licitações de urbanos e da retomada do mercado paralisado durante a pandemia, aproveitando sinergias pelo ganho de escala em custos e eficiência fabril, após a reestruturação da operação. A unidade segue se destacando em modais alternativos de energia. A Marcopolo Argentina (Metalsur) buscará traduzir os excelentes volumes de urbanos que vem sendo entregues desde a metade de 2021 em resultados consistentes. Sinais de recuperação do segmento rodoviário também suportam vendas em 2022. A Marcopolo África do Sul (MASA), após um 2021 marcado pela recuperação de resultados, projeta um ano positivo a partir do crescimento de volumes no período pós pandemia. A Marcopolo China (MAC) experimentou uma reestruturação de suas operações em 2021 e prospecta vendas relevantes em 2022, com recuperação de volumes já nesse início de ano.
O desafio é superar as restrições de mobilidade que ainda afetam os mercados próximos. A unidade segue explorando oportunidades de exportação a partir do país. Entre as coligadas, a colombiana Superpolo deverá manter bons resultados a partir da recuperação do mercado de ônibus no país, também bastante afetado pela pandemia. A canadense NFI também deverá reportar resultados crescentes, após a recuperação de 2021, com o crescimento dos mercados da América do Norte calcado na aceitação do endemismo da Covid-19 e suas variantes ao longo de 2022.
Em 2021, a Marcopolo realizou novos ajustes relevantes à sua estrutura, com cortes ainda mais profundos de despesas, cautela adicional na realização de investimentos e início do aproveitamento das adequações promovidas em 2020.
O evento externo mais relevante é representado pela alienação do imóvel da Marcopolo Rio, cujos custos foram reconhecidos em 2020, mas que beneficiaram o resultado não apenas pelo montante obtido na venda, mas também pelos ganhos de eficiência e redução de custos relacionados. Com o crescimento de volumes esperado para 2022, a maturação desses benefícios será ainda mais evidente, com maior diluição de custos fixos e melhor utilização da capacidade fabril – inclusive com reativação de turnos. Esforços de contenção de despesas e racionalização da estrutura serão preservados em 2022. A manutenção da inflação em patamares ainda elevados pede cautela e impõe um desafio permanente quanto aos repasses de custos, em um mercado ainda relutante.
Olhando a frente, a Companhia segue perseguindo suas metas estratégicas de retornar às margens e rentabilidade desejadas. Mesmo durante o difícil ano de 2021, a Marcopolo realizou investimentos relevantes, com grande destaque para o lançamento da nova geração de produtos rodoviários G8. Protótipos de ônibus elétricos montados integralmente pela Marcopolo já rodam o Brasil, mostrando a força e capacidade da engenharia brasileira.
Em 2022, a Companhia seguirá apresentando novos produtos, não apenas como referência no mercado mundial de carrocerias para ônibus, mas também explorando novos horizontes. Após dois anos de mercado deprimido, a Marcopolo está ajustada, pronta para crescer. O recuo da pandemia, boas perspectivas para compras públicas, investimentos estimulados pela troca de motorização pela transição da nova fase do Proconve, o início de um novo ciclo com propulsões alternativas permitem projetar um ano de recuperação. Seguimos protagonistas, liderando a evolução da mobilidade por meio de inovações como carrocerias adaptadas para padrões menos poluentes de propulsão, novos ônibus elétricos, veículos para o transporte sobre trilhos, uma nova família de ônibus rodoviários com maior conforto e tecnologia embarcados. A Marcopolo se renova para fazer aquilo que sabe fazer de melhor: aproximar pessoas.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes