ESPECIAL: Remuneração às viações sobe em um ano em São Paulo e sem ônibus, cidade gastaria R$ 750 milhões a mais por mês

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Sistema de ônibus em São Paulo é o maior do mundo em frota e demanda

Lucro bruto do sistema cresceu 14%. Redução de cobradores fez com que custos dos serviços caísse, diz SPTrans, em relatório

ADAMO BAZANI

As empresas de ônibus da Capital Paulista tiveram elevação na remuneração pelos serviços prestados no período de um ano.

É o que mostra um relatório da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes enviado ao presidente da Câmara, vereador Milton Leite, para justificar o reajuste das tarifas do sistema, que ocorre no próximo dia 7 de janeiro. A tarifa unitária passa de R$ 3,80 para R$ 4,00. As integrações com o Metrô e CPTM, as modalidades temporais do Bilhete Único e os bilhetes do Madrugador, Fidelidade e Lazer também têm reajuste. Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2017/12/28/integracoes-e-modalidades-temporais-do-bilhete-unico-terao-reajustes-em-janeiro-tambem/

Segundo os dados, na comparação entre dezembro de 2016 e dezembro de 2017, a remuneração às empresas de ônibus cresceu 1,37%, passando de R$ 616,45 milhões para R$ 624,87 milhões.

O valor se refere não ao lucro dos empresários, mas o quanto receberam para colocar ônibus nas ruas, além de pagarem funcionários e cuidarem dos terminais e demais itens de infraestrutura previstos nos contratos.

Segundo os dados da SPTrans, enviados à Câmara, por mês, as empresas de ônibus em São Paulo têm lucro médio de R$ 39,32 milhões, entre as companhias do subsistema estrutural (viações de linhas e veículos maiores) e subsistema local (ex-cooperativas, nos bairros)

Os dados ainda mostram que o lucro bruto de operação do sistema de ônibus entre dezembro de 2016 e dezembro deste ano cresceu 14,07%, passando de R$ 52,23 milhões para R$ 59,58 milhões. Os custos variáveis do sistema cresceram 10,68% na comparação entre os meses de dezembro, passando de R$ 163,19 milhões para R$ 180,62 milhões. De acordo com um estudo da Universidade Federal de Santa Catariana, de 2015, os custos variáveis de empresas de transportes correspondem ao custo operacional que varia de acordo com a quilometragem percorrida pela frota, como combustíveis, óleos e lubrificantes, peças e acessórios, e rodagem.

Em compensação, os custos fixos do sistema de transportes caíram 4,29% entre os meses de dezembro comparados.

Em dezembro de 2016, os custos fixos foram de R$ 385,59 milhões e, em dezembro deste ano, o fechamento previsto é de R$ 369,07 milhões.

Os custos fixos de uma empresa de ônibus são todos os custos que independem da quilometragem rodada, como salários, depreciação de frota, impostos, despesas administrativas e compra de ônibus.

No relatório enviado a Milton Leite, a Secretaria de Mobilidade e Transportes diz que a eliminação de postos de cobradores de ônibus nas ex-cooperativas (subsistema local) contribuiu para esta redução de custos fixos, mas que a partir de 2018 espera uma elevação por causa do aumento da frota de ônibus mais modernos, que são mais caros, com ar condicionado e wi-fi.

Vejam os dados:

Ainda segundo o relatório, entre dezembro de 2015 (um mês antes do último reajuste das tarifas) e dezembro deste ano, os custos que mais tiveram elevação foram preços dos ônibus que aumentaram 19,3%; salários de motoristas, que subiram 11,8% no período; e o preço do óleo diesel, que subiu 10,7% .

 

Estes itens têm impactos que variam de 2% (demais insumos) a 5,2% (salários de motoristas) nos custos gerais do sistema de transportes por ônibus na cidade de São Paulo.

QUEDA DE DEMANDA:

A SPTrans – São Paulo Transporte projeta uma queda de demanda de passageiros para 2018, o que interfere também nos custos dos sistemas.

A lógica é: quanto mais gente dividir o bolo do custo, menor será o pedaço para cada um.

A projeção, comparando o que foi apurado em 2016 e o que deve ser registrado em 2018, é que haja uma queda de 2,6% na média mensal de passageiros transportados, passando de 243,33 milhões de registros de passagens pelo sistema para 237,02 milhões.

A pasta credita a queda projetada ainda à crise econômica.

CUSTO POR PASSAGEIRO E EXTERNALIDADES:

Para transportar um passageiro na cidade de São Paulo, o custo é de R$ 6,66, daí as necessidades de subsídios, segundo a SPTrans,

Neste valor já estão incluídos os gastos operacionais, o lucro dos donos de empresas de ônibus e as integrações, por exemplo.

Os custos médios mensais do sistema de ônibus devem ser de R$ 686,5 milhões.

Os subsídios diretos aos passageiros, com as gratuidades e integrações, somam cerca de 30% deste valor de tarifa-técnica (custo por passageiro transportado). Por mês são R$ 258,2 milhões de subsídios.

Do total de gratuidades do sistema de transportes por ônibus na cidade de São Paulo, 33,21% são para idosos e pessoas com deficiência e e 30,1% para estudantes,

 

O lucro dos empresários corresponderá a 6% dos custos mensais pagos pelos passageiros e pela cidade: R$ 39,3 milhões.

Os custos com salários de motoristas, cobradores, fiscais, mecânicos, eletricistas, borracheiros, funileiros, vigias, pessoal administrativo, entre outros funcionários, correspondem, de acordo com o relatório a 40% da conta do transporte de São Paulo por mês, ou R$ 273,5 milhões. O segundo maior custo dos transportes de São Paulo é com fornecedores, o que inclui compra de óleo diesel, lubrificantes, peças, ônibus novos. Este tipo de gasto corresponde a 30% dos custos com o sistema de transportes, ou R$ 206 milhões.

Somente em impostos e encargos, o sistema de transportes terá de pagar em média por mês em 2018, R$ 106,1 milhões, o que corresponde a 15% do custo do sistema, segundo a Secretaria de Mobilidade Transportes de São Paulo.

Mas se os transportes por ônibus na cidade de São Paulo consomem, em média, R$ 258,2 milhões em subsídios por mês, trazem ao mesmo tempo uma economia de R$ 782,2 milhões. São as chamadas “externalidades”

A projeção foi feita pela Secretaria de Mobilidade e Transportes levando em conta um cenário sem os ônibus municipais. Este valor corresponde ao que os cidadãos de São Paulo gastariam a mais com combustível, tempo maior de viagem, com acidentes e poluição, especialmente com impactos na saúde pública.

O cenário ainda leva em conta que se fossem tirados todos os ônibus municipais de circulação e fosse mantida a atual capacidade da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos e do Metrô, seria necessário colocar nas ruas da cidade mais 1,3 milhão de carros para atender as viagens que hoje são feitas de ônibus.

DADOS DO SISTEMA:

Ainda de acordo com o relatório da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes de São Paulo, 63,01% dos passageiros do sistema usam algum tipo de integração, principalmente entre diferentes ônibus, índice que deve aumentar com a reformulação das linhas do sistema da cidade, com a licitação dos transportes que está em fase de consulta pública, já que haverá seccionamentos de itinerários para diminuir sobreposições.

A extensão média das 1343 linhas do sistema é de 16 quilômetros.

O IPK – Índice de Passageiro por Quilômetro é de 2,87. Levando em conta os passageiros pagantes, o IPK é de 1,35. O índice calcula gastos e ganhos parta transportar os passageiros por quilômetro percorrido.

O valor atual da frota e das garagens é de R$ 4,01 bilhões.

Em média, cada ônibus transporta em dias úteis, 672 passageiros.

A frota patrimonial das empresas é de 14.457 veículos, sendo que 13.537 são de operação e 920 da reserva.

Por ano, os ônibus em São Paulo percorrem 82,2 milhões de quilômetros nos 4,3 mil quilômetros de vias com linhas regulares. Cada ônibus roda, em média, 6 mil quilômetros por mês

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes.

Reprodução autorizada desde que com os créditos e com o link do Diário do Transporte

 

 

 

 

 

Comentários

Comentários

  1. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa tarde.

    Conforme consta no post acima:

    “Lucro bruto do sistema cresceu 14%. Redução de cobradores fez com que custos dos serviços caísse, diz SPTrans, em relatório”

    “As empresas de ônibus da Capital Paulista tiveram elevação na remuneração pelos serviços prestados no período de um ano.”

    Para mim essa conta não fecha; mas explica porque os articuladinhos trucadinhos batem lata aos sábados nos corredores 9 de Julho e Santo Amaro.

    Essa o Paulo Gil sempre falou, de graça nem Apache roda.

    São muitos dados e pouca contabilidade.

    Espero que o Presidente da Câmara, vereador Milton Leite, faça as seguintes perguntas:

    Por que houve evolução na remuneração pelos serviços do buzão ??

    Por que a tarifa vai aumentar ??

    Att,

    Paulo Gil

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