Ônibus de Campinas perdem mais de 10 milhões de passageiros em 2017

Queda foi de quase 7% de passageiros registrados nas catracas

ALEXANDRE PELEGI

A notícia não é nova, mas os dados reforçam a gravidade do problema: as empresas de ônibus estão perdendo passageiros de forma sistemática.

Cada vez menos pessoas usam ônibus no Brasil. Um levantamento divulgado em agosto deste ano pela NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, que reúne em torno de 500 empresas de ônibus em todo o País, já dava números e dimensões para o fenômeno.

Em agosto, entre 2015 e 2016, o anuário da NTU divulgava queda no número de passageiros de 8,2%. Em números absolutos, segundo a associação, três milhões de pessoas por dia haviam deixado de usar ônibus em seus deslocamentos no Brasil. Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2017/08/24/onibus-no-brasil-perderam-3-milhoes-de-passageiros-por-dia-e-estao-ficando-mais-velhos/

Outras cidades têm divulgado a mesma tendência, com números maiores ou menores. É o caso de Campinas, cidade com cerca de 1,2 milhões de habitantes, que ocupa o 14º posto no ranking dos municípios mais populosos do Brasil. No estado de SP, ela fica atrás apenas da capital e de Guarulhos, e sua Região Metropolitana concentra 1,5% da população total do país (3.131.528 de habitantes).

O fato de Campinas apontar queda no número de passageiros do transporte público é, portanto, preocupante.

Pois foi o que aconteceu nos onze primeiros meses deste ano: o número de usuários pagantes nos ônibus da cidade caiu 6,7% em relação ao mesmo período de 2016. Os dados são da Secretaria de Transportes do município. De 162,4 milhões de passageiros registrados nas catracas em 2016 no mesmo período (janeiro a novembro), em 2017 este número caiu para 151,5 milhões, mais de 10 milhões de usuários que deixaram de andar de ônibus.

Os dados do primeiro semestre já sinalizavam esta curva descendente: queda de 5% no primeiro semestre do ano, em parte explicada pelos feriados, a greve geral deflagrada em abril e a crise financeira.

Mas para o secretário municipal de Transportes, Carlos José Barreiro, a crise econômica seguramente é uma das principais causas da redução do número de passageiros transportados.

Barreiro cita outro grande culpado para a perda de passageiros no transporte coletivo da cidade: os aplicativos de transporte individual, como Uber, Cabify e 99, roubaram muitos clientes que utilizavam o sistema de ônibus na cidade.

A Emdec – Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) aponta que houve queda de 5% de passageiros nos horários de pico, mas a maior redução (quase o dobro) ocorreu nos horários entre 9h e 16h30.

Em entrevista ao site G1 Campinas, o secretário Barreiro afirmou que a queda é maior acentuada “nas atividades não ligadas ao trabalho como escolas, consultas médicas e compras”, afirma Barreiro.

DADOS DAS EMPRESAS DE ÔNIBUS

Já os dados da Transurc – Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas, que se referem apenas aos dados das empresas de ônibus da cidade, a queda no número de passageiros é ligeiramente maior: ao invés de 6,7%, foi de 7% nos 11 primeiros meses de 2017.

Pelos dados da Transurc, o sistema de transporte urbano na cidade perdeu 1,9 milhões de passageiros pagantes por mês nos últimos cinco anos.

Essa queda, que tem reflexo direto na receita, é decorrente de vários fatores, segundo explica a Associação das empresas: o desemprego, o elevado número de gratuidades e os reajustes constantes nos preços dos insumos. Tudo somado, tem-se como resultado final um déficit mensal de quase R$ 2,9 milhões por mês.

Paulo Barddal, diretor de Comunicação e Marketing da Transurc dá mais dados:

“Neste ano, por exemplo, mensalmente os quase 1.000 ônibus das concessionárias têm transportado, em média, 6.780.001 passageiros econômicos. Em 2013, a mesma quantidade de veículos transportava 8.643.810 de pagantes por mês, ou seja, houve uma perda de 22%”.

Não bastasse a queda constante de passageiros ao longo dos anos, que impacta diretamente na receita, o transporte urbano por ônibus sofre com os reajustes diários nos preços do diesel, o que aperta no lado das despesas. Isso sem contar o aumento do custo da mão de obra, dos pneus, das peças e acessórios. Barddal dá números a essa pressão que só tem feito aumentar:

“Em 2013, por exemplo, considerado um bom ano pelo setor, o número de gratuidades em Campinas era de 31%. Hoje, é de 37%, ou seja, isso quer dizer basicamente que, de cada dez passageiros levados pelos ônibus, quatro não pagam a tarifa. Os idosos, que representavam 3,7% do passageiro total, hoje representam 5,3%”.

Traduzindo em miúdos – ou, melhor dizendo, em reais –, o sistema ônibus de Campinas custa R$ 37.295.833,92 por mês, embutidos nesse cálculo já todos os impostos. A arrecadação mensal, incluindo o valor do subsídio, alcança valor inferior ao custo: R$ 34.405.711,55. Fazendo as contas, Barddal demonstra que o sistema convencional de ônibus arrasta atrás de si um déficit mensal de R$ 2.890.122,37.

“As concessionárias têm recorrido aos bancos para honrar os seus compromissos com os funcionários e fornecedores. Mas a dificuldade é grande para fazer novos investimentos e manter os compromissos em dia”, argumenta o diretor de Comunicação da Transurc.

Pelos técnicos da Transurc há maneiras para se buscar um reequilíbrio do sistema, mas para isso é necessário que algumas medidas, algumas delas impopulares, sejam tomadas pelos gestores:

“Entre as sugestões, a revisão do tempo de integração, que hoje é de duas horas; o reestudo da quantidade de gratuidades existentes; a redução da carga tributária, a começar pelos tributos municipais”, afirma Barddal. Ele ainda acredita que a cadeia produtiva também precisa ser desonerada dos impostos estaduais e federais, o que já é um debate complicado nos dias atuais.

Paulo Barddal reconhece, assim como os dados da pesquisa da NTU apontam, que essa realidade de desequilíbrio econômico-financeiro “não é exclusiva de Campinas. Hoje é delicado falar em reajuste no valor da tarifa e também no aumento do subsídio mas é necessário e urgente que sejam tomadas ações eficazes por parte dos gestores do transporte público. Do jeito que está, com a perda de passageiros, a conta simplesmente não fecha”, ele alerta.

CUSTO DO DIESEL: POLÍTICA DE REAJUSTES DIÁRIOS DA PETROBRAS TEM AFETADO O SISTEMA DE ÔNIBUS

O custo do diesel responde por quase 30% do custo total do sistema de ônibus em Campinas, informa a Transurc. E desde julho deste ano, quando a Petrobras passou a adotar a política de reajuste diário de preços no óleo diesel, a situação se agravou. De 1º de julho até 30 de outubro o aumento no preço do diesel B S10 na Base de Paulínia foi de 23,19%.

Para complicar ainda mais os custos do sistema de transporte público por ônibus, o decreto nº 9.101, lançado no dia 21 de julho pelo governo federal, determinou novas bases para o PIS/Cofins para os combustíveis, o que na prática impactou o óleo diesel em R$ 0,2135 por litro.

Essa medida do governo federal, segundo cálculos da NTU revelados logo após a decisão tomada pelo presidente Michel Temer, iria causar um impacto em torno de R$ 850 milhões por ano no segmento de transportes coletivos urbanos e metropolitanos.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transporte

 

A Transurc afirma ainda o número de passageiros vem caindo desde 2013, e o acumulado até aqui chega a 22%. No geral, contabiliza queda de 1,9 milhão de passageiros pagantes/mês.

Um dos motivos pode ser a gratuidade: o transporte de idosos, que representava 3,7% em 2013, subiu para 5,3%.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. EDSON PEREIRA DO PRADO disse:

    É bom lembrar que os gasparzinhos não entram nas contas. Caroneiros, vendedores de balas, pedintes dentro dos ônibus, idoso que mesmo podendo fazer Bilhete Idoso usa a Rg que não conta como passageiro registrado em catraca. Cada 10 idoso, 2 ou 3 tem o cartão roxo. Não pagam também amigos dos motoristas, vizinhos, conhecidos, ex funcionarios das empresas. Campinas está escrava do diesel por bobeira, aqui existe a montadora de onibus eletricos. Ela monta e vende para são Paulo, só temos 11 aqui que fazem linhas alimentadoras do Itajai e um Souzas ao Centro. A BYD em pouco tempo poderia suprir boa parte da frota. Poderia adquirir veículos a GNV e Etanol. Há alternativas para o combustível, talvez falte um pouco de bona gerencia.Além disso tem os vândalos que picham quebram os ônibus. Alguns motoristas que insatisfeitos danificam os veiculos, enfim, basta dar umas voltas de ônibus na cidade e verá barbaridades.

  2. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia.

    1) A NTU e a Transurc, estão “dormindo no ponto”.

    A crise econômica e as gratuidades é claro que influenciam, mas ao invés de só ficarem fazendo levantamentos numéricos, devem é fazer um estudo para saber outros motivos que levam a esta queda, afinal, conforme informado a queda vem desde 2013.

    “A Transurc afirma ainda o número de passageiros vem caindo desde 2013…”

    Há muitos outros motivos que levaram a esta queda brutal; devem parar de pensar em subsídios de impostos e começar a trabalhar tecnicamente na operação do buzão.

    Acho que a síndrome da CMTC contaminou o Barsil, vocês precisam é agilizar o buzao, só isso, pois o buzão como é operado hoje (falo ocm base no sistema de Sampa); ele não mais atende as necessidades do mercado na era do zap zap.

    2) “Os idosos, que representavam 3,7% do passageiro total, hoje representam 5,3%”.

    Isto é PREVISIVELLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL, basta as empresas acessarem o site do IBGE que há anos ele informa a previsão que a população do Barsil está envelhecendo, portanto essa choradeira em cima deste item NÃO COLA e depois tem mais, o idoso é o melhor passageiro, pois a sua gratuidade é paga pelas prefeituras locais.

    3) Quanto a variação diária do preço do diesel, o Paulo Gil já deu a solução; é só aplica a tarifa BZ$, assim o buzão real tem um valor diário e o débito no BU é feito pela cotação do BZ$ no dia face ao preço do diesel no dia.

    Esta questão não tem outra alternativa melhor, a não ser que queiram continuar a bater cabeça.

    4) Me desculpem, mas se o sistema arrasta um déficit de R$ 2.890.122,37/mês, as empresas já teriam fechado, nenhuma empresa de nenhum ramo consegue continuar operando com um déficit deste, ou tem alguém pagando ou ele não existe.

    As empresas de buzão de tem começar a usar a engenharia e a técnica para começarem a operar de maneira que atenda ao mercado, pois caso contrário o resultado já está sendo colhido.

    E este resultado está provando que as empresas de buzão estão operando o buzão de forma ultrapassada.

    Lembrando sempre:

    “A menor distância entre 2 pontos é uma RETA.

    Att,

    Paulo Gil

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