OPINIÃO: Filtros, elementos essenciais para redução drástica das emissões cancerígenas do diesel

OLIMPIO ALVARES

Coloca-se sistematicamente em cheque, nos fóruns regulatórios oficiais – aliás, com uma retórica conceitualmente desastrosa – a capacidade de atingirmos em grandes centros urbanos brasileiros, em alguns poucos anos, os Padrões de Qualidade do Ar – PQArs recomendados desde 2005 pela Organização Mundial da Saúde – OMS, como se isso fosse absolutamente imprescindível. Alega-se, a meu ver, ardilosamente, que PQArs mais restritivos só deveriam vigorar oficialmente num prazo determinado, se houvesse absoluta certeza, por parte dos agentes reguladores, de que esses podem ser atingidos em todas as áreas urbanas do País. Absurdo! Esse mecanismo não funciona assim.

Muitas grandes cidades do mundo civilizado tem padrões em vigor bastante restritivos e …. atenção, ainda não atendidos. É o caso de Paris e Londres, só para dar dois exemplos. Isso lhes coloca nas costas a desconfortável e premente responsabilidade de deflagrar TODAS as medidas básicas e outras, que estiverem a seu alcance, para chegar nos PQArs o mais rapidamente possível – simples assim. Na verdade, o que importa é romper o duro gesso da gestão atmosférica a partir de uma precisa avaliação e comunicação pública do risco à saúde, descruzar os braços e arregaçar as mangas; atingir os PQArs da OMS é mera consequência – mais cedo, ou um pouco mais tarde.

Entretanto, ninguém coloca em cheque – de fato, e com consequência – a estranha e inaceitável resistência dos gestores ambientais e políticos, às medidas óbvias e baratas de controle de emissão de material particulado – MP, compostos orgânicos voláteis – COVs, óxidos de nitrogênio – NOx etc, tais como a inspeção veicular abrangente, obrigatória por lei há 20 anos; a adoção nos carros novos do ORVR (On-Road Vapor Recovery System) para controle total das emissões de abastecimento de COVs, presente desde 1996 (há 21 anos) nos automóveis americanos; a correção imediata do medíocre padrão brasileiro de durabilidade de catalisadores de autos e motos, cujo vazamento de emissões adicionais de CO, COVs e NOx na atmosfera é de grandeza gigantesca; a adoção imediata da tecnologia Euro 6 para os veículos pesados, que finalmente, substituirá a defectiva e cara tecnologia Euro 5 e ainda trará instalados de fábrica os filtros de partículas; e os retrofits – filtros adaptados nos veículos e motores diesel já existentes, entre outras medidas urgentes.

É oportuna e didática a matéria do link abaixo, para que se possa avaliar um caso concreto similar, e ter mais clareza sobre a importância sócio-ambiental da aplicação prática de uma das medidas emergenciais mais relevantes, que entidades representantes da sociedade civil estão propondo em sua estratégia de redução de emissão de material particulado cancerígeno, recentemente entregue ao Ministro do Meio Ambiente: os filtros adaptados em veículos ex istentes (o retrofit). O artigo apresenta a experiência de Indaiatuba com a coleta de lixo com caminhão elétrico. Trata-se efetivamente do adeus definitivo ao ruído ensurdecedor durante o processamento da carga e as acelerações, bem como às emissões cancerígenas e mal-cheirosas da fuligem lançada diretamente sobre os valorosos atletas da madrugada, nossos irmãos: os coletores de lixo.

http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/jornal-da-eptv/videos/v/primeiro-caminhao-100-eletrico-para-coleta-de-lixo-e-apresentado-em-indaiatuba/5415628/

Uma alternativa ao caminhão elétrico de emissões nulas (ou ao não tão caro caminhão movido a gás natural), que tem sido sistematicamente ignorada – por desconhecimento por parte dos gestores ambientais do que acontece no mundo e pela irreprimida ausência de boa vontade – são os retrofits. Esses tem praticamente 100% de eficiência (filtros de fluxo total) e limpam totalmente as emissões de escapamento de material particulado ultrafino cancerígeno dos caminhões de lixo. Esse “mimo salvador”, que pode durar 10 anos ou mais, quase não requer manutenção e custa em torno de 6 mil USD; é o mínimo que a sociedade pode oferecer aos nossos bravos, e abandonados à própria sorte, bem-feitores da limpeza urbana.

A propósito, os filtros podem ser adaptados em dezenas de outros nichos adequados para sua aplicação, como fazem em outros países, onde há cerca de dois milhões de filtros adaptados em operação atualmente no mundo: ônibus urbanos, escolares, de fretamento, caminhões urbanos de entrega de carga em áreas e horários sensíveis, veículos que operam em reservas ambientais e balneários, portos e aeroportos, máquinas de construção civil, mi neração, moto-geradores (milhares entram em operação no horário de pico em grandes cidades), balsas etc. Grande parcela desses veículos e motores tem ainda um horizonte de 10 a 25 anos de operação nas áreas urbanas.

Os robustos filtros de fluxo parcial, por sua vez, com metade da eficiência (50% de redução do MP) dos filtros de fluxo total, custam de 2 a 3 mil USD e podem ser utilizados em aplicações onde não há garantia da qualidade do combustível (em termos do teor de enxofre) e/ou de boas práticas de manutenção dos veículos/motores.

Veja o exemplo icônico do potencial dos filtros: as grandes cidades da Alemanha solucionaram drasticamente na década dos anos 2000 o problema com a ultrapassagens do padrão de qualidade do ar de MP, com o programa nacional “Kein Diesel Ohne Filter” (Nenhum Diesel Sem Filtro), onde todos os diesel em circula&cced il;ão no país tiveram que instalar filtros.

Há uma gama enorme de mecanismos, incentivos, estratégias e oportunidades de desenvolvimento de programas disseminados de instalação de filtros em veículos diesel existentes. Trata-se de um verdadeiro parque de diversões para os agentes reguladores ambientais, de saúde e transportes; basta tirar o “calço da roda” no Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama e regulamentar um procedimento simples e expedito (conforme o modelo Chileno e Mexicano) de certificação dos filtros ad aptados, reconhecendo certificadores idôneos internacionais; viabiliza-se facilmente, dessa forma, a segura comercialização dos filtros no Brasil.

Nenhuma outra medida de controle conseguiria atingir esses impressionantes níveis de redução das emissões de MP, a um custo extremamente reduzido.

Olimpio Alvares é engenheiro mecânico pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1981, Diretor da L’Avis Eco-Service, especialista em transporte sustentável, inspeção técnica, emissões veiculares e poluição do ar; concebeu o Projeto do Transporte Sustentável do Estado de São Paulo, o Programa de Inspeção Veicular e o Programa Nacional de Controle de Ruído de Veículos; fundador e Secretário Executivo da Comissão de Meio Ambiente da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP; Diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades – SOBRATT; é assistente técnico do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental – PROAM; consultor do Banco Mundial, do Banco de Desenvolvimento da América Latina – CAF e do Sindicato dos Transportadores de Passageiros do Estado de São Paulo – SPUrbanuss; é membro titular do Comitê de Mudança do Clima da Prefeitura de São Paulo e coordenador de sua Comissão de Transportes e Energias Renováveis; membro do grupo de trabalho interinstitucional de qualidade do ar da Quarta Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (4CCR) do Ministério Público Federal; colaborador do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, Instituto Saúde e Sustentabilidade, Instituto Mobilize, Clean Air Institute, World Resources Institute – WRI-Cidades, Climate and Clean Air Coalition – CCAC e do International Council on Clean Transportation – ICCT; é ex-gerente da área de controle de emissões veiculares da Cetesb, onde atuou por 26 anos; membro da coordenação da Semana da Virada da Mobilidade.

Comentários

Comentários

  1. Paulo Gil disse:

    Olimpio Alvares, boa tarde.

    Gosto muiiiiito de ler seus artigos, sempre objetivos, técnicos, precisos e concisos.

    Ridículo, o puuuuuuuuuuuuder é Jurá$$ico e $empre pen$ando $ó no próprio bol$o.

    O retofit tem de vir por Medida Provisória, afinal é uma caso de MORTE.

    O samba dos veículos pesados elétricos no Barsil, ainda vai durar no mínimo 20 anos com essa encebação, fora o demorado acerto entre lucro e escala de produção.

    Principalmente quanto ao puuuuuuuuuder não querer remunerar de forma diferenciada o buzão verde.

    RETROFIT JÁ.

    Muda Barsil.

    Alçs,

    Paulo Gil

  2. Isso mesmo Paulo Gil, vamos pressionar os decisores ambientais e de transportes meio paradões até sair uma medida concreta em todos os níveis de governo. Aguarde novidades.

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