Carris de Porto Alegre pode ser privatizada em 2018

Empresa pública acumula déficits nos últimos anos. Antes da privatização, haverá tentativa de corrigir falhas administrativas

ADAMO BAZANI

A companhia pública de ônibus de Porto Alegre, Carris, registra prejuízo anual de aproximadamente R$ 69 milhões nos últimos cinco anos. Com 150 anos história, pode acabar nas mãos da iniciativa privada.

É o que garantiu o prefeito Nelson Marchezan, em entrevista à Rádio Guaíba.

Marchezan afirmou que inicialmente vai tentar reformular a companhia, se não der certo, a iniciativa privada deve assumir a Carris.

“A Carris durante esse ano tem que mostrar alguma saída (para a crise). Temos três possíveis. Continuar pagando o prejuízo e isso não dá mais, pois temos déficit em áreas fundamentais. A segunda é ela ser organizada, o que está muito difícil. A terceira é vender a Carris. Que um empresário assuma e faça ela ser viável. Na estrutura pública, estamos fazendo o nosso máximo”

Entre os problemas na Carris, o prefeito de Porto Alegre cita o mau uso de recursos públicos, de insumos disponíveis para operação, excesso de número de pessoal e o que considera  uso político da empresa, como nas concessões de bonificações  aos funcionários.

Marchezan citou como exemplo uma bonificação dada em dezembro do ano passado aos 570 funcionários, mesmo sem o cumprimento das metas estabelecidas pela EPTC – Empresa Pública de Transporte e Circulação.

“O Sindicato fez um acordo em dezembro com a diretoria da Carris para os funcionários ganharem bônus. O cidadão pagou quase R$ 10 milhões para dar bônus pelas metas colocadas, algumas abaixo das colocadas pela EPTC. Inclusive, ela foi multada. Mesmo assim, os funcionários ganharam um bônus. Assinado no final de dezembro, pela diretoria passada. Eu chamo isso de calote no contribuinte. Muita coisa tem que ser reformulada”, declarou o prefeito.

Até os anos da década de 1990, diversas cidades brasileiras tinham suas empresas operadoras de transporte por ônibus.

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CMTC tinha 10,31 funcionários para cada ônibus em operação, enquanto as empresas particulares tinham pouco mais de cinco funcionários por veículo

Uma das maiores e mais emblemáticas foi a CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos, de São Paulo, criada em 1946 para organizar o sistema da cidade e que foi referência de operação, gerenciamento de linhas e até na indústria, ajudando no desenvolvimento de novos modelos de ônibus e trólebus. No entanto, a empresa também encontrou dificuldades financeiras e sofreu com mau uso de dinheiro público. Entre 1993/1994, o braço operacional da CMTC foi privatizado na gestão do prefeito Paulo Maluf. Em 1995, foi criada a SPTrans no lugar da CMTC para gerenciamento do sistema.

A empresa pública CMTC tinha 10,31 funcionários para cada ônibus em operação, enquanto as empresas particulares tinham pouco mais de cinco funcionários por veículo.

No ABC Paulista, por exemplo, houve empresas públicas em Santo André (EPT – Empresa Pública de Transporte);  em São Bernardo do Campo,  a ETCSBC (Empresa de Transportes Coletivos de São Bernardo do Campo) e, em Diadema, a ETCD (Empresa de Transportes Coletivos de Diadema). Todas também foram privatizadas após apresentarem problemas financeiros.

No Rio de Janeiro, em 1962 era criada a CTC – Companhia de Transportes Coletivos. Após problemas financeiros sucessivos, a empresa teve gradativamente suas linhas assumidas pela iniciativa privada até ser extinta em 1997.

Em Recife, a CTU  – Companhia de Transportes Urbanos foi  fundada em 1957 na gestão do prefeito Pelópidas Silveira. Após problemas de gestão, em 1999, foi desmembrada nas empresas Cidade do Recife Transportes (CRT), e a Companhia de Trânsito e Transportes Urbanos (CTTU), deixando de existir em 2000.

Diversas outras cidades tiveram suas companhias públicas.

DIMINUIÇÃO DE GRATUIDADES:

Marchezan também afirmou que outro objetivo para sanear as contas do sistema de transportes é reduzir as gratuidades. Por exemplo, no caso de estudantes, a administração estuda limitar o benefício a pessoas com renda de até três salários mínimos.

“Filhos de empresários ricos ou servidores com salários altos não deveriam ter transporte público gratuito. Então, a ideia é ter um limitador de renda familiar. (…) A princípio três salários mínimos. Os professores têm vale-transporte” – disse o prefeito

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite.

    Este post é de suma importância neste momento histórico que o Brasil está vivendo, e após sua leitura me veio a cabeça a seguinte questão:

    Para que serve o serviço público e a política no Brasil ???

    Será que pra nada ? Ou só para o Caixa 2 ?

    Oras bolas; como a empresa de buzão privada dá lucro e a pública não dá ??

    Já sei tem muita legislação e demais princípios que atrapalham muito, mas NÃO impedem de ser uma empresa saudável e útil.

    Não estou tratando aqui de gosto, de preferir público ou provado.

    Só estou conjecturando para que os leitores do Diário ajudem na construção de um raciocínio para não termos mais tantas aberrações.

    Eu duvido que a legislação determine que a empresa de buzão pública tenha 10 funcionários/buzão e a privada 5 funcionários/buzão.

    Eu divido que a legislação determine pagamento de bonus a funcionários de empresa pública de buzão que não cumpra a meta.

    Como um prefeito pode declarar”

    “Entre os problemas na Carris, o prefeito de Porto Alegre cita o mau uso de recursos públicos, de insumos disponíveis para operação, excesso de número de pessoal e o que considera uso político da empresa, como nas concessões de bonificações aos funcionários.”

    Prefeitos e o seu staff são eleitos e contratados para usar os recursos públicos de FORMA CORRETA.

    Gratuidade NÃO EXISTE, o contribuinte é quem paga essa conta.

    A eliminação da CMTC, na minha opinião, NÃO FOI LUCRATIVA para Sampa, pode ter sido para muitos, menos para Sampa.

    As “empresas” privadas pós CMTC geraram é um enorme passivo para a fiscalizadora, isso sim.

    Alguém tem o valor de quanto passivo a fiscalizadora já pagou por causa daquelas “empresas” que sublimaram ??

    Qual é o resultado operacional ANUAL da fiscalizadora desde 1995.

    Será que o Diário consegue estes dados com base na Lei da Informação ?

    A fiscalizadora gera Receita ou PREJUÍZO ???

    Como a Carris tem 150 anos de história e o Prefeito e seu Staff tem por obrigação mandatária e funcional fazer BEM o uso do dinheiro do contribuinte, que façam as correções necessárias e reergam a Carris.

    Não há entregue ao vento; afinal quem vai comprar um abacaxi desse, nem com caixa 2.

    O Poder Público afundou a Carris e o Poder Público tem o dever de reerguer a Carris,
    simples assim.

    Caso contrário abram mãos dos salários e reponham os prejuízos causados por vocês mesmos.

    Não é porque o mandato é só de 4 anos que pode entrar e sair na PIZZA.

    MUDA BRASIL, REPENSEM e PAREM DE ASSINAR ATESTADO DE BURRISSE.

    Prefeitos são eleitos para produzir e não para fazer política, afinal o contribuinte paga o salário do prefeito e todo o seu staff de A a Z’.

    Att,

    Paulo GIl

  2. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa tarde.

    Complementando;

    Vejam o Amélia da foto, depois de tantos anos, ainda tem um grande estilão.

    Observem o grau da curvatura da coluna do parabrisa dianteiro, um charme.

    Amélia, o buzão de verdade e da legítima CAIO.

    Esse buzão é imortal.

    Att,

    Paulo Gil

    1. luis adair bonacina disse:

      Prezados Senhores!
      Sou funcionário da Cia Carris há mais de nove anos, e nesse meio tempo pude observar como a empresa é utilizada como “caixa” suplementar das sucessivas administrações do município de Porto Alegre. Independente de sigla ou partido politico, ao longo desse tempo ocorreram pagamentos aos colaboradores de valores a titulo de participação nos lucros. Também ocorreram aquisições de veículos automáticos para melhorar as condições (ergonômicas) de trabalho dos mesmos colaboradores. Ainda ocorre a renovação periódica da frota, pois conforme Lei Municipal a vida útil de um ônibus é em torno de dez anos. Entretanto, os administradores nomeados (…indicação politica…) para os cargos na empresa e que foram indicados pelos vários prefeitos que passaram pela Prefeitura, em nenhum momento comprometeram-se com o crescimento da Empresa, apenas cumpriram calendário de acordo com o mandato eletivo do Sr. Prefeito. Desta forma, a cada 04 anos a Cia Carris troca de Presidente, por exemplo. Há necessidade urgente de uma auditoria geral, que deverá ser realizada por empresa externa e idônea, apurando assim as reais causas da alegada crise da Cia Carris.

  3. Paulo R Rodrigues disse:

    A Cia Carris realmente esta em dificuldade financeira,crise essa criada pela má administraçao que os prefeitos colocam no comando das empresas.Até 2004 a Carris era uma cia sustentável,desde então entrou em declínio.
    Hoje só o que ouvimos é que a Cia Carris sera privatizada,o atual prefeito fala que tentara reorganizar a Cia, mas já estamos no quarto mês do ano e não enxergamos uma mudança, seus atuais gestores estão contribuindo para uma real situação de falência da Cia.Em relação ao valor que o prefeito alega ter disponibilizado para bonificar os funcionários 10 milhões afirmo que esse valor não chegou aos mesmos.
    Sugiro que o Sr Prefeito peça uma prestação de contas, para saber do paradeiro dessa quantia.Nós colaboradores da Cia Carris estamos ansiosos a espera de uma mudança verdadeira na administração da Cia.

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