ENTREVISTA: Idec pede à prefeitura que passageiros de transporte coletivo voltem a ter prioridade total no viaduto Plínio de Queiroz

Vendo assim, parece que com ônibus viaduto é subutilizado, mas dados da própria CET mostram, segundo o Idec, que transporte coletivo atende à maioria das pessoas que passam no local. Foto: ALAN MORICI/FRAMEPHOTO

Para entidade, medida que liberou espaço novamente para todos os carros dá um passo contrário no que legislações e políticas de mobilidade modernas determinam para as cidades modernas

ADAMO BAZANI

Quem olhava o viaduto Dr. Plínio de Queiroz, na região da Avenida Nove de Julho, na época em que o espaço era apenas para os ônibus, poderia dizer “Vejam… poucos ônibus lá em cima e lá embaixo um monte de carro parado”.

Mas muitos se esquecem, entretanto, que não importa a quantidade de veículos e, sim, a quantidade de pessoas atendidas por esses veículos. E, no caso, os ônibus mesmo sendo minoria na região e aparentando estar num espaço subutilizado, atendem à maioria das pessoas.

É o que mostra relatório da própria CET, de 2015, que revela que naquele ano passaram pelo local 18 mil carros e 1581 ônibus nos horários de pico, o que levaria a crer que os ônibus são minoria e não precisam de tratamento especial no viário. No entanto, ao se considerar a demanda específica de cada modo do transporte, verifica-se que com uma taxa ocupação de 1,7 passageiros por veículo, os automóveis no local transportam uma ordem de 31 mil pessoas. Já os ônibus, com uma taxa de ocupação média de 34 passageiros por veículo transportavam 54 mil pessoas naquele ano, ou seja, os ônibus mesmo sendo minoria, transportavam 60% das pessoas e os, carros sendo maioria, só 35%.

idec-plinio-queiroz

Esses dados oficiais, entre outros, foram utilizados numa carta do Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor encaminhada nesta semana à CET -Companhia de Engenharia de Tráfego, à Prefeitura de São Paulo e à Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes.

A entidade quer que o viaduto Plínio de Queiroz, localizado na região da Avenida Nove de Julho, volte a ser de uso exclusivo dos passageiros do transporte coletivo.

No final do mês passado, o espaço voltou a ser liberado para todos os carros, mesmo sem passageiros.

Em entrevista ao Diário do Transporte, por telefone, pesquisador em mobilidade urbana do Idec, Rafael Calabria, criticou a medida da administração.

“A CET não apontou nenhum dado objetivo que mostra que a medida não prejudicará os usuários de transporte público. Pelo contrário, o que vemos é que agora os ônibus estão tendo mais dificuldades para circular com a faixa à direita. Os ônibus são obrigados no final ir à esquerda para continuar no corredor. Com o tráfego de carros, se faz um “X”, que atrasa a viagem. Não tem sentido um corredor ser interrompido no meio para dar prioridade ao carro. É um passo contrário a tudo que se busca de mobilidade urbana, como a Lei de Mobilidade Urbana e o plano diretor, que entre os objetivos , busca ampliar a eficiência da rede de transportes e proporcionar uma melhor redistribuição do espaço urbano. O transporte coletivo ocupa menos espaço e transporta mais pessoas” – disse Calábria.

O especialista também estranha o fato de esta revisão de espaço para transporte público ser naquela região específica.

“Acho estranho que a prefeitura tenha uma questão específica sobre este viaduto. Primeiro foram os carros compartilhados, depois a revisão de planos de viadutos e agora a liberação para todos os carros. É estranho somente nesse ponto da cidade, sendo que já está provado, com dados da própria CET, o benefício ao passageiro de transporte coletivo quando o espaço era só para ônibus”

A Prefeitura de São Paulo argumentou, quando anunciou a medida de liberação para os carros, que a liberação para veículos compartilhados, no início do ano, não prejudicou a velocidade transporte coletivo.

O pesquisador contesta.

“O número de carros compartilhados é pequeno. A maioria vai sozinha no próprio carro. A quantidade de automóveis aumentou e isso fatalmente vai influenciar na velocidade do transporte coletivo. O viaduto integra um dos mais importantes corredores de ônibus de São Paulo que dá acesso à zona sul”

A CET, no dia em que anunciou a volta de todos os carros no viaduto, usou como uma das justificativas, em nota, que a estrutura poderia ser melhor utilizada

No período em que o viaduto foi aberto para carro compartilhado, em 6 de janeiro, houve aumento de utilização por veículos com mais de um passageiro, sem que ocorresse prejuízo no desempenho do transporte coletivo. 

 A velocidade média dos ônibus ficou mantida em 26 km/h no pico da manhã no sentido Centro e em 23 km/h no sentido bairro no pico da tarde. Desde a liberação para a circulação de veículos compartilhados, o tráfego sobre o viaduto passou de 332 carros por hora para 879 carros por hora, no sentido Centro, no pico da manhã, e de 170 carros por hora para 595 carros por hora, no sentido bairro, no pico da tarde. 

 Por dia, cerca de 643 mil passageiros utilizam a via elevada, nos dois sentidos.

As análises apontam que ainda assim a capacidade do viaduto pode ser melhor utilizada para reduzir o trânsito no entorno da Avenida Nove de Julho e da Praça 14 Bis. Nesta nova etapa, o tráfego para carros no viaduto será totalmente liberado, sendo mantida a faixa exclusiva de ônibus à direita. 

Os ônibus ganharam exclusividade no viaduto da Nove de Julho, como é conhecido o viaduto Dr.Plínio de Queiróz, em 2015, durante a gestão do prefeito Fernando Haddad.

No dia 6 de janeiro de 2017, o viaduto foi aberto para carros com duas ou mais pessoas e, no dia 31 de março de 2017, liberado para todos os carros.

O pesquisador complementa dizendo lamentar o que chama de alteração de postura da CET diante da mudança de gestão.

“Vejo como fato negativo a mudança de princípios da CET, uma empresa que deve estar acima de qualquer convicção que não seja técnica, sempre que há mudanças de mandatos”

O pesquisador ainda diz que seus passageiros perceberem que as viagens estão mais demoradas e prejudicadas pela falta de exclusividade ao transporte no local, devem reclamar para a prefeitura, registrando a redução de velocidade dos ônibus e o aumento no tempo de viagem pelo telefone 156.

Carta Idec 113 2017 Coex (1)

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite.

    E desde quando o passageiro do buzão de Sampa é consumidor ou cliente ???

    Mas nem depois da promulgação do Código de Defesa do Consumidor.

    E olha que este já tem uma certa idade.

    Att,

    PAulo Gil

  2. Fabiano Vilar disse:

    Está difícil passar por ali agora, antes quando só os ônibus poderia passar a viagem era bem mais rápida. Os ônibus tem dificuldade em mudar de faixa.

  3. jair disse:

    Somente não temos a continuidade do corredor 9 de julho sobre o viaduto porque fizeram o ponto de embarque\desembarque de passageiros no lado direito do viaduto. obrigando os onibus a cruzarem da esquerda para a direta até o ponto e depois voltarem para a esquerda indo para o corredor novamente
    Basta termos soluções de engenharia e o problema poderia ser resolvido a contento.
    Alguem poderia levar a ideia adiante?

    1. Paulo Gil disse:

      Jair, boa noite.

      Corretíssimo.

      Fica tranquilo que a sua ótima ideia muita gente vai levar.

      Agora fazer não vai aparecer ninguém, afinal …

      A$ ideia$ que “ele$” go$tam, $ão a$ ideia$ lucrativa$$$$$$$$$$$$$$

      Forte abraço!

      Paulo Gil

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Diário do Transporte

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading